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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘Flica 2015’

Encontro de autoras pop stars encerra a Flica 2015

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Recebidas como verdadeiras princesas, a norte-americana Meg Cabot e a brasileira Paula Pimenta coroaram a última mesa da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), neste domingo (18). Com filas na porta do Claustro do Convento do Carmo, dezenas de fãs disputaram um espaço perto das escritoras pop stars da literatura juvenil. Em destaque, a leitura de entretenimento sob mediação do jornalista Mário Mendes.

“Eu acho que a pessoa tem que começar de algum lugar. Crescer com essa crença de que ler é não ajuda. Leitura de entretenimento tem um papel muito grande nesse sentido de despertar o prazer pela leitura. Depois, naturalmente vai procurar coisas mais profundas. A leitura tem esse papel. Eu acho ridículo quem diz: eu acho que você não deveria estar lendo isso, é uma porcaria”. A fala de Paula Pimenta, autora das séries “Fazendo Meu Filme” e “Minha Vida Fora de Série”, constata a importância do incentivo à leitura entre adolescentes dialogando com o universo vivido por eles.

flica 2finalPara Meg Cabot, dona do best seller “O Diário da Princesa”, todo tipo de leitura é importante e contribui para o desenvolvimento pessoal do leitor, principalmente o jovem. “Eu não gosto de julgamentos. Tudo que você lê você absorve e não sabe o que pode render daquela experiência. Se a leitura toca você, já é algo relevante”, afirmou. Com simplicidade e simpatia, a norte-americana e Paula Pimenta encantaram o público atento às colocações a respeito do processo criativo de cada uma, preferências literárias, literatura juvenil e o universo da ficção a partir de fatos cotidianos.

Como conselho para futuros escritores, Cabot disse que é preciso observar o mundo ao redor. “Não se pressione tanto em relação à leitura. Meu conselho principal é não fique todo o seu tempo ouvindo música, ouça seus amigos, eles vão fazer parte do seu livro. As vozes que você ouve ao seu redor são importantes. Os personagens vêm disso”, contou. “Escrever sobre o que você gosta também é importante porque os leitores sentem isso durante a leitura. Você gosta de ler romances? Ficção? Escreva sobre o que você gosta, sobretudo o que você conhece”, orientou Paula Pimenta.

Entre tantos momentos “cor de rosa” da mesa, a autora brasileira surpreendeu Meg Cabot ao ser questionada sobre o livro que gostaria de ter escrito. “O Diário da Princesa me marcou profundamente. Quando eu li esse livro, eu vi que os meus diários tinham muita história para contar. Poderia ser um livro que eu teria escrito. O diário da Mia é muito parecido comigo”, revelou durante o encontro.

Visivelmente emocionada com a declaração, Cabot retribuiu a gentileza afirmando que se fosse recomendar um livro, seria algum de Paula Pimenta. Em seguida, a norte-americana declarou que gostaria ter escrito a Bíblia. “O novo e o velho testamento. Todo mundo deveria ler um dia”, aconselha.

Sob aplausos e histeria do espaço lotado de adolescentes, o encontro das escritoras da literatura juvenil contou ainda com uma sessão de autógrafos. Com livros nas mãos, o sucesso da mesa “Entre Palavras e Princesas” desconstrói o preconceito com a leitura de entretenimento. (do G1 Bahia)

 

Encontro de gerações da literatura de fantasia na Flica

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Sobre anjos e morte, os escritores André Vianco e Ana Beatriz Brandão encerraram o último debate do sábado (17) na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). O encontro de gerações proporcionado pela escrita em comum: a literatura de fantasia. Processos de produção distintos, os escritores têm a paixão pela leitura e contação de histórias são motivações para obras de ambos.

Aos 16 anos, Ana Beatriz Brandão já possuía 16 livros, sendo dois publicados, e revelou a vocação para a escrita. “Eu nunca vou parar de escrever. Eu posso seguir esse sonho de escrever junto com outra coisa. Mas eu sei que sempre vou escrever”, contou. Para André Vianco, a carreira de escritor não é fácil. “O meu conselho se baseia em três ‘P’s: paciência, persistência e paixão. Quando eu fui descoberto, eu já tinha mais de cinco livros escritos. Independentemente de ser publicado ou não, eu continuava escrevendo. Eu preciso escrever. Eu passo mal quando eu não escrevo. Não desista que você pode conseguir publicar”, orientou o autor.

Leitores vorazes desde criança, como se autodefiniram durante o debate, Vianco e Ana Beatriz revelaram as preferências literárias e os primeiros contatos com a literatura. “Com sete anos, toda semana eu tinha que levar um livro para casa na escola onde eu estudava. Eu leio de tudo. Meus mestres não têm nada a ver com o terror que eu escrevo. Mas também já li muito terror. O cinema, quadrinhos, videogame, tudo isso se misturou e deu essa linguagem cinematográfica que tem na minha obra. Meu leitor se sente dentro da história”, relatou Vianco. “Leio muito, desde pequena, com cinco anos”, contou Ana Beatriz, que revelou já ter lido Capitães de Areia, de Jorge Amado.

Em destaque, a mediação de Aurélio Schommer proporcionou uma análise mútua das obras dos escritores. Enquanto Vianco analisou um trecho do livro de Ana Beatriz, a jovem escritora também expôs opinião sobre a obra do autor. “Ela tem essa característica de colocar a pessoa dentro do livro. Ela está dando elementos sensoriais e a pessoa consegue imaginar aquilo e essa é a grande graça da literatura de fantasia, é exercer essa influência sobre as pessoas, fazer com que ela possa imaginar. Ela tem futuro”, disse Vianco. “Tem presente”, brincou Schommer.

Antes de ler o trecho do livro de André Vianco, Ana Beatriz revelou que a obra dele serve como inspiração para ela. “Eu me identifico muito. O drama é necessário na literatura fantástica. Ela é mais sensível e toda vida tem um pouco de drama”, disse a respeito do trecho lido durante o debate.

Sobre histórias sem final feliz, a jovem escritora contou que adora um final trágico. Se considerar a morte como esse triste fim, André Vianco descreveu a fixação pelo tema. “Chico Anysio dizia que não tinha medo de morrer, que tinha pena. É isso. Meus livros são sempre um lembrete dessa nossa despedida,  de que um dia todos nós vamos embora. É uma coisa que une todos os meus livros, essa ‘finitude’. Em todos os capítulos e ações a gente acaba”, concluiu Vianco.

 

Unidade Móvel de Leitura atrai crianças na Flica

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Para incentivar a leitura de forma divertida e facilitar o acesso a diversos livros a preços populares, a Fundação Pedro Calmon (FPC), órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado (Secult), também participa da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no Recôncavo Baiano. Duas unidades móveis da FPC estão estacionadas na Praça do Canhão, ao lado da Câmara Municipal de Cachoeira.

leituraNo ônibus da Biblioteca Móvel, além dos mais de 600 livros disponíveis para consulta, neste sábado (17), houve contação de história para crianças e também adultos. Uma das histórias foi a da contadora e escritora Daniela Andrade, que apresentou um livro gigante feito com papel e tecido. A ilustração multicolorida foi produzida à mão por 15 bordadeiras. “Criamos estes livros [gigantes] para eles viajarem pelas escolas. Eles são alegorias dos livros normais, que são pequenos. São mensagens lúdicas para que as crianças possam se enxergar nelas”.

Já no ônibus da Feira Móvel de Livros da FPC estão sendo comercializados cerca de 400 títulos, com valores entre R$ 5 e R$ 20. De acordo com a coordenadora de articulação política da Diretoria do Livro e da Leitura da FPC, Neuza Martins, a proposta do Estado, por meio do Plano Estadual do Livro e da Leitura, é promover a leitura como uma prática social. “A partir deste objetivo, desenvolvemos estas ações, sempre com a proposta de integrar autores baianos, editoras baianas e mediadores da leitura”, explica a coordenadora.

 

Em debate na Flica, Livia Natália diz: ‘Eu digo como quero ser representada’

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Não há mais o que se contestar sobre a legitimidade da literatura negra. Duas mulheres, escritoras, negras, feministas e o desafio da militância em campos invisibilizados historicamente. De um lado, a poeta e professora baiana Livia Natália. Do outro, Sapphire, escritora norte-americana autora do clássico “Preciosa”, levado para o cinema. Duas vozes capazes de prender a atenção do público que lotou o Claustro do Convento do Carmo neste sábado (17), na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). A mediação ficou por conta do jornalista Mário Mendes.

“Estamos em um momento em que a literatura tem nome e sobrenome. Voz, elas sempre tiveram, mas não podiam se fazer ouvir. Por exemplo, a homossexualidade deixa de ser doença no final do século passado, assim como negros eram tidos como sem alma, que podem ser mortos. Infelizmente a polícia ainda não pegou isso, eles acham que ainda podem nos matar”. A fala de Livia Natália arrancou aplausos calorosos da plateia. Apesar de não se considerar militante como escritora, Sapphire destacou que a vida dos negros tem sido reduzida por causa do racismo.

Para Livia Natália, a formação acadêmica brasileira rechaça a literatura de uma das escritoras negras mais conhecidas da história, Carolina de Jesus. Enquadrada como uma literatura menor, a escrita visceral da autora em “Quarto de Despejo” foi ressaltada pela poeta no debate, reforçando o valor literário da clássica escritora da literatura negra.

“Tem uma intensidade, uma construção de um universo simbólico, formal, todo mediado pela fome. E ela escreve de uma outra forma por causa dessa fome. É uma mulher que vai do topo de uma carreira literária e morre no mesmo lugar de onde saiu, que foi a favela”.  Complementando a poeta baiana, Sapphire destacou a influência de Carolina de Jesus em suas obras.

“Todos os livros de Carolina que foram traduzidos para o inglês faz parte do que falei, escrevi. Tudo isso eu estudei”, revelou.

Entre outros assuntos, como processo literário, poesia, prosa, racismo, outro aspecto foi abordado pelas autoras. De acordo com Sapphire, a literatura escravagista foi a base dos primeiros livros dos afro-descendentes. “Antes não era algo muito popular. Entrou em discussão há pouco tempo, com o livro 12 anos de escravidão. Tem uma literatura fora da literatura, que são diários, cartas. Você tem que pegar a linguagem do povo mesmo, das ruas, a mulher afro-descendente busca essas cartas para criar uma voz que possa ser ouvida”, explica.

Nesse contexto, a poeta baiana defende o poder da palavra nas mãos dos sujeitos “invisíveis”. “Se todas as minorias se apossarem da palavra, a palavra é poder, eu digo quem eu sou. Eu digo como quero ser pensado, representado. Escrever é dizer quem eu sou e como eu quero ser pensada. Vamos continuar lutando, livre e simbolicamente. Literatura negra sim”, afirmou. (do G1)

 

 

Flica celebra centenário de Adonias Filho

adonias Flica 2A dualidade e complementaridade entre amor e ódio, vida e morte. A obra do autor baiano Adonias Filho, nascido na cidade de Ilhéus, em 27 de novembro de 1915, foi tema da segunda mesa da Festa Literária Internacional  de Cachoeira (Flica), nesta sexta-feira (16). Com mediação do escritor João Aguiar Neto, o jornalista e também escritor Carlos Ribeiro e a professora de literatura Silmara Oliveira relembraram a trajetória pessoal e literária do crítico, ensaísta, romancista e jornalista baiano Adonias Filho.

“Era uma figura de grande importância da história da literatura do Brasil. Homem público, mas, sobretudo, um grande ficcionista. O centenário é muito importante para lembrarmos isso. Vivemos essa lacuna, de pouca memória de Adonias”, reflete Carlos Ribeiro. “A condição humana e a universalidade permeiam a obra de Adonias. Tratar do amor, do ódio, da traição. Ser universal é se reconhecer naquela literatura em qualquer parte do mundo. Quem lê o texto de Adonias Filho não volta o mesmo”, destaca Silmara Oliveira, que também é coordenadora do memorial em homenagem ao escritor, que fica na cidade de Itajuípe. Com familiares do escritor na plateia, ele foi relembrado como um autor preocupado com relações humanas e com viés trágico da vida.

adonias flica 1Entre leituras de textos do autor baiano que completaria 100 anos em novembro de 2015, os debatedores divagaram a respeito de outras linguagens para a obra de Adonias Filho, como por exemplo, o cinema. Esse foi um dos questionamentos de Carlos Ribeiro, que destacou a dificuldade em transformar a obra do autor baiano em uma linguagem cinematográfica, ao contrário do que ocorreu com o escritor Jorge Amado, que tem diversas obras traduzidas para o cinema. Silmara discordou desse ponto de vista e destacou a semelhança entre a obra de Adonias com o teatro e a tragédia grega.

Regionalismo e Universalidade
Silmara Oliveira destacou o regionalismo de Adonias Filho, tendo como foco o indivíduo. “Adonias é regionalista, é do sul da Bahia, tem o diferencial territorial. A maior preocupação não era o regionalismo. Ele está na terceira fase do modernismo, mas ele parte para algo singular, da personalidade do indivíduo. O aspecto regional está inserido no indivíduo, não no aspecto físico”, conta.

“Ele tem o microcosmo, o sul da Bahia, mas ele é um universo de paixões, de sentimentos, de relações profundas. Se observamos a construção da linguagem, o tratamento que ele dá para a linguagem não é o coloquial, e isso é muito surpreendente, pois a fase da obra de Adonias é aquela fase anterior a de Jorge Amado, quando os centros urbanos não estavam prontos. Adonias vai tratar do desbravamento, por onde os colonizadores chegaram, no sul da Bahia. Os falares típicos, pitorescos. Mas Adonias dá um passo além porque ali é um recurso que se usa para esse ser humano”, completou Carlos Ribeiro.

Segundo destacou Silmara Oliveira, Adonias Filho tinha cuidado especial sobre o que escrever e como escrever de forma precisa, sincopada, objetiva e expressa de forma intensa e rápida, o que difere de muitos autores da época. “Ele não se preocupa com o detalhamento da história. Ele diz o que aconteceu e pronto. É sua preocupação desenvolver esse detalhamento”, conta Silmara.

Leitor da tragédia grega, toda escrita de Adonias Filho era pesquisada, nada era gratuito na obra dele, como definiu a pesquisadora. “Há muito que estudar sobre a obra dele. Adonias era um crítico literário dele mesmo”,  destaca Silmara. Ela ainda disse que o escritor é muito delicado para falar do sexo e do amor e também possui a marca regional do cacau, dos objetos da vida e do índio.

Contemporâneo de Jorge Amado, que o recebeu na Academia Brasileira de Letras em 1965, Adonias Filho apoiou a ditadura militar de 1964 e, segundo Silmara Oliveira, esse é um dos motivos para a obra do autor baiano não ser tão conhecida e valorizada como a de Jorge.

“A falta de espaços para ele também é política. Há retaliações. É um problema na vida do escritor. Ele era tímido, retraído. Jorge soube aproveitar a condição política de esquerda. Adonias, além da retração, tinha a retaliação. É preciso que a gente faça o reconhecimento da pessoa que ele foi. Homem simples, avô espetacular, metódico. Ele não era a pessoa que se divulgou”, defende Silmara. (do G1)

A poesia como instrumento de resistência e rebeldia

rita flicaAs poetisas Rita Santana e Clarissa Macedo falaram sob mediação do também poeta Roberval Pereyr sobre o tema Versos, diversos, na Flica 2015. Rita começou sua fala lendo uma das poesias de seu livro Alforrias e destacou sua produção literária como discurso que fala de uma identidade, a sua. Negra, grapiúna (nascida em Ilhéus) e feminina. “Minha poesia denuncia repressões, censuras e reclusões. Quando a faço, milito, mas, ainda assim, o que grita mais alto é a sonoridade dos versos”.

Clarissa falou da palavra, matéria-prima de sua poesia, como cúmplice do que enlouquece. Loucura esta a semelhança da terceira margem do rio, da qual fala Guimarães Rosa. E destacou ainda seu processo de criação. “Escrevo por necessidade, minha biografia entra de maneira sinuosa, afinal, não existe linearidade na poesia, apesar de ela carregar tanto discurso. Eis aí um paradoxo”.

Como não poderia deixar de ser, a condição feminina na literatura e, mais especificamente, na poesia, veio à pauta e ambas as autoras falaram sobre a dificuldade de ser mulher e escritora. Rita Santana contextualizou: “Desde o século XIX as biografias das mulheres são desvalorizadas enquanto escritoras”. Clarissa Macedo acrescentou: “Todos os dias essas urgências batem à porta. Ainda tem mais essa coisa de ter de sobreviver que é um inferno”.

A partir dessas contingências, a poesia de Rita e Clarissa é combativa, rebelde e desobediente. “Quantas estratégias políticas vem para desqualificar. Eu fui alfabetizada ideologicamente. Sou uma mulher política e esse veio aparece na minha poesia que é verborrágica”, afirmou a poetisa de Ilhéus.

Assim, a resistência pela raça, pelo sexo e pela classe social permeia a produção das autoras baianas sem perder o rigor estético e a sonoridade poética. Rita citou como exemplo um verso de seus muitos poemas que diz: “Roubei de uma casta a lira”, como uma analogia ao seu ofício de poeta comum à elite, nunca aos negros. Sua visão então mudou ao lembrar-se da poesia de Cartola, dos sambas de Pixinguinha, Noel Rosa e Paulinho da Viola. A lira não foi roubada, sempre esteve consigo, precisava apenas percebê-la.

As autoras falaram ainda de suas referências literárias femininas e da importância da alfabetização política dos professores em temas caros à sociedade, como homofobia e racismo. Hilda Hilst, Adélia Prado, Rachel de Queiroz e Carolina de Jesus foram alguns dos nomes citados.

Por fim, Rita e Clarissa destacaram a Flica como um espaço de legitimidade e reconhecimento coletivo. A literatura em si e debatida em múltiplas formas e sobre variados temas, muda pensamentos. Como concluiu Rita Santana: “Nós construímos pensamentos, enquanto construímos literatura”.

Flica movimenta economia de Cachoeira

flica economia 1A realização da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica)  abre oportunidades para moradores, empresários e comerciantes da região. Durante os cinco dias de evento, os cerca de 40 mil visitantes esperados pela prefeitura municipal e organizadores movimentam a economia local. O impacto já é percebido desde o início da semana e a expectativa é que a circulação de pessoas aumente até o próximo domingo (dia 18) na cidade de cerca de 34 mil habitantes.

Na rede hoteleira de Cachoeira e municípios mais próximos, como São Félix, já não é possível encontrar vagas. Muitos turistas e profissionais envolvidos no evento estão hospedados em imóveis residenciais alugados, gerando renda para famílias. Na maioria dos hotéis e pousadas as reservas se esgotaram a pelo menos 15 dias. É o caso de uma das principais pousadas da cidade, que tem os 26 leitos lotados. “Comparando com a época em anos anteriores à Flica, a procura aumentou 200%”, revela o gerente de pousada, Edson Pereira, que fatura também servindo mais de 50 refeições diárias no restaurante do estabelecimento.

A vendedora Ana Cláudia Oliveira espera ganhar R$ 250 em cada dia da Flica com a venda de brownies artesanais. “Um evento desta magnitude dá a oportunidade de que as pessoas tenham acesso ao seu produto”.

eco flicaJá o proprietário de uma pizzaria, Jorge Leite, conta que precisou contratar dois funcionários temporários para atender à demanda do evento, ampliando a equipe para sete pessoas. “Esperamos que seja bem melhor que nos outros anos”.

O otimismo é compartilhado por outros profissionais da cadeia turística da cidade histórica. “Estamos recebendo muitos pedidos de informação e de fechamento de pacotes, mas o movimento se intensifica mesmo durante a Flica”, informa o presidente da Associação de Condutores e Guias de Turismo do Vale do Paraguaçu.

A orientação ao turista conta com um balcão da secretaria estadual do Turismo (Setur) no Espaço Educar para Transformar, que funciona no prédio do Iphan, em frente à Câmara Municipal. A preparação para a Flica 2015 incluiu a realização de cursos e workshops voltados para a melhoria do atendimento e dos serviços turísticos. Promovidos por meio do Programa de Qualificação Turística (Qualiturismo), os treinamentos beneficiaram trabalhadores de hotéis, bares, restaurantes e comércio.

A qualificação reflete na experiência de turistas como a baiana Inaildes Amaral, que veio de Camamu. “Eu não conhecia Cachoeira, é a primeira vez e estou amando a cidade e o evento que tem um conteúdo muito bom”.

Patrimônio histórico de Cachoeira é atração durante a Flica

cacho 1Os participantes da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que acontece na cidade do Recôncavo Baiano até o próximo domingo (18), podem aproveitar para conhecer o patrimônio da cidade tombada como Monumento Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1971. Durante o evento que oferece uma extensa programação de debates, feiras e lançamentos de livros, entre outras atividades. Para possibilitar a visita de baianos e turistas, os principais monumentos e museus da cidade heróica funcionam em horários especiais com conforto e segurança garantidos.

A Igreja da Ordem Terceira do Carmo, a Igreja da Matriz, o Memorial da Boa Morte, o Museu Hansen Bahia e o Memorial da Câmara de Vereadores tiveram os horários de funcionamento ampliados – das 9h às 12h e das 14h às 17h, incluindo o sábado e o domingo.

Sede da Irmandade da Boa Morte, CachoeiraFoto: Camila Souza/GOVBA

Sede da Irmandade da Boa Morte, CachoeiraFoto: Camila Souza/GOVBA

A oportunidade de aliar literatura à riqueza histórica de Cachoeira surpreendeu a historiadora paulista Fernanda Trindade, que veio à Bahia pela primeira vez para a Flica com a família. “Está sendo uma surpresa  incrível conhecer está história e o papel da cidade na independência”.

A segurança nos pontos turísticos e em toda cidade conta com o reforço de 75 policiais militares do Batalhão Especializado em Policiamento Turístico (Beptur). O efetivo é treinado para atender à população do município e aos turistas e tem policiais fluentes em inglês. A ação foi articulada pelas secretarias estaduais do Turismo (Setur) e da Segurança Pública (SSP),  com apoio da Guarda Municipal de Cachoeira.

Cachoeira reúne  importante acervo arquitetônico em estilo barroco com casas, igrejas, prédios históricos que preservam a imagem do Brasil Império quando foi a vila era uma das mais ricas e populosas do Brasil nos séculos XV.

Para o professor Heitor Gomes, a Flica traz a oportunidade de conhecer a própria história. “Conhecer a arquitetura, a história do povo e das religiões que compõem o povo de Cachoeira é fantástico”.

‘A literatura desautomatiza a nossa percepção’, diz autora durante a Flica

terceira mesa flicaAutora do livro Divã, que virou filme, a escritora Martha Medeiros bateu um papo descontraído com Veronica Stigger, autora da obra que recebeu o nome polonês Opisanie Swiata (Descrição do Mundo, em português). O debate com o tema “Paisagens Múltiplas” encerrou a programação desta quinta-feira (15) da Festa Literária Internacional de Cachoeira.

Martha disse que é preciso desmitificar a chamada “inspiração” atribuída aos escritores. “Essa palavra inspiração é uma armadilha. Não existe isso. É um trabalho diário”, definiu a autora, que também escreve em colunas de grandes jornais do país. “Eu estou escrevendo todos os dias. Tem dias que tenho branco, então sempre preciso ter textos reservados para não deixar o jornal sem texto. Quando acho que tem uma qualidade mínima eu arrisco, mas acho que é algo instintivo”, explica.

“Ficção não é o enredo em que me saio melhor. Eu só tento escrever. Os personagens são descritos, mas nunca tem cenário. Descrevo o que os personagens estão sentindo e é um cenário emocional”, contou Martha. Ela diz que, apesar de o fato de ter muitos livros publicados dar a impressão que é uma escritora de sucesso, ainda se sente amadora. “Eu continuo tentando e aprendendo”, completou a autora.

Verônica também compartilhou que o processo criativo é fruto de histórias que ouve das pessoas que conhece. “As pessoas me contam histórias e acabo transformando isso em ficção. Tem várias coisas que me chamam atenção e acabam ingressando nas histórias. Todos os meus livros são textos que assumem formas diferentes, seja de conto ou romance. Vai depender da ideia que eu tenho, de que forma é melhor para contar essa história”, contou.

“Acho que a literatura, assim como a arte em geral, nos ajuda a ver melhor as coisas. A literatura ‘desautomatiza’ a nossa percepção. A arte nos ajuda a perceber as coisas mais efetivamente. Chama atenção para algo que está ali e nos faz perceber pela primeira vez. O livro nos inquieta por outras razões e abre um mundo paralelo, não no nosso plano cotidiano. É quase como viajar”, compara a autora.

Martha ainda falou sobre a dificuldade em lidar com a disseminação de textos da sua autoria na internet, o que acaba fazendo com que sua escrita seja compartilhada como se fosse de outro autor ou que sua autoria seja atribuída a textos de outros escritores. “Eu sei que a internet me ajudou a divulgar demais, mas fico feliz quando sou lida nos livros e jornais, porque sei que as pessoas estão lendo na fonte. É muito melhor”, admitiu. (do G1)

João Paulo Cuenca e Lima Trindade debatem a profundidade da literatura

flica segunda mesaO que há entre o profundo e o superficial na literatura foi tema de debate entre os autores João Paulo Cuenca e Lima Trindade nesta quinta-feira (15), na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). Os escritores discutiram sobre o aprofundamento de temas na literatura, através da mediação do poeta Cristiano Ramos, no palco do claustro do Convento do Carmo. A quinta edição da Flica acontece até o domingo (18), na cidade do Recôncavo Baiano.

Na discussão, Cuenca citou um dos seus livros preferidos, “O Brasil é bom”, do autor André Sant’Anna. “No livro ele pega discursos loucos, superficiais, que, no discurso literário dele, ganha profundidade tremenda. Ele faz caricatura usando uma linguagem, uma construção verbal e imagética superficial, tosca e vagabunda. A maneira que ele faz isso é genial. Isso é colagem. Você pode usar coisas muito superficiais e simples e transformar em um labirinto de signos”, defende.

O romancista carioca, que também publica crônicas em jornais, apontou que a crônica é um gênero aparentemente superficial, mas que tem o poder de aprofundar assuntos e provocar questionamentos. “O cronista vê as coisas superficiais e consegue transmitir o profundo através delas de uma forma muito elegante. É muito comum ler textos dito profundos que são superficiais, que têm uma linguagem acadêmica e não diz nada de forma muito profunda”, exemplificou Cuenca.

Lima Trindade defendeu que para o texto alcançar profundidade não é necessário apresentar dificuldade para ser entendido. “O texto profundo nem sempre é incompreensível. A gente escuta sobre o que é superficial ou profundo de uma maneira muito senso comum­. Você pegar um clichê e deslocar o sentido é muito difícil. A gente tem que tomar cuidado com o que diz que é profundo e superficial”, afirmou o escritor brasiliense.

Trindade acredita que não há uma tendência de superficialidade nos livros mais vendidos. “Acho que há espaço para tudo. Mas acho que querem que pensem que o leitor quer o mais fácil. Cabe ao leitor dizer que quer outros livros e comprar não apenas pela propaganda. Ele deve partir para uma experiência estética e vital”, aponta o autor. (do G1)





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