:: ‘violência’
Violência não simboliza Ilhéus.

Ilhéus (foto José Nazal)
Gerson Marques
A violência, tão presente em nosso país, impactou profundamente nossas vidas e nossa comunidade. Em Ilhéus, onde moro há 40 anos, recebemos turistas diariamente na fazenda Yrerê muitos deles encantados com a beleza e a cultura da cidade até planejam se mudar para cá, mas, naturalmente, perguntam sobre a violência. Minha resposta é sempre honesta: sim, enfrentamos problemas com violência, como outras cidades brasileiras, mas ela é majoritariamente contida, ligada a disputas pelo tráfico em áreas específicas, geralmente afastadas do centro e dos bairros urbanizados. No cotidiano, é seguro usar o celular e até andar a noite no centro, e casos graves de violência que extrapolam as periferias ou áreas mais vulneráveis são raros. Não se trata de mascarar a realidade, mas de apresentá-la com equilíbrio.
Criei meus filhos em Ilhéus e, em quatro décadas, nunca fomos vítimas de violência. Na fazenda Yrerê onde moramo por muitos anos, houve apenas um episódio isolado no segundo ano, sem maiores consequências, e nada mais desde então. Os episódios violentos deste fim de semana, embora trágicos e dolorosos são uma exceção, um ponto fora da curva, e não refletem o cotidiano da nossa cidade.
Fiquei profundamente triste com comentários, inclusive de pessoas ligadas ao turismo, em publicações de grande alcance nacional, que retrataram Ilhéus como extremamente violenta, exagerando nas tintas e distorcendo nossa realidade. Essas narrativas prejudicam a imagem da cidade e ignoram o contexto mais amplo. Pior ainda é a tentativa de politizar a questão. Especialistas que estudam a violência, como os do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Ipea, responsáveis pelo Atlas da Violência, apontam que ela não é um problema de cunho político, mas sim um fenômeno complexo, enraizado em fatores estruturais, históricos e culturais.
A implementação de políticas públicas assertivas é a única ferramenta capaz de fazer justiça as valorosas vidas de Mariana Bastos da Silva , Maria Helena Nascimento Bastos e Alexandra Oliveira Susart

Zuleik Carvalho
A violência contra a mulher continua sendo um problema mundial. Atinge as mulheres independente de idade, cor, raça, etnia, religião, opção sexual. predominando a tendência do menosprezo à figura da mulher, fazendo com que esta maioria seja tratada como minoria . . Estudos afirmam que a persistência da violência doméstica é de origem cultural e, também porque as pessoas envolvidas: vítima e agressor compactuam com uma com uma atitude de aceitação “ forçada” que são subjugadas através de violência psicológica reduzindo a autoestima.
Mesmo nascendo livres , como dispõe a Constituição Federal de 1988 os agressores , algozes de suas vítimas , se sentem donos destas , sendo considerado , essa relação , conforme alguns estudiosos do comportamento humano como uma reprodução , na vida adulta , do que enquanto crianças e adolescentes passaram no seio familiar A ( Balllone ; Ortolani ).
A questão, como se observa é estrutural, cabendo ações casadas não somente com o organismo público e privado, mas sobretudo, que sobressaia e dissemine no seio , da sociedade para ser compreendida a violência doméstica/feminicídio que deveria ser tratada como uma caso/demanda de Saúde Pública e Segurança Pública.
Precisamos mudar a cultura machista ainda predominante na sociedade, colocando como pauta / agenda nas escolas públicas e privadas, universidades, faculdades, empresas de pequeno e médio porte e as multinacionais palestras que somente são feitas hoje, no dia 8 de março. Urge quebrar este paradigma nefasto que tem prevalecido em nossa sociedade.
Galdino, Nega Pataxó e a chama que não se apaga
Daniel Thame
“Como esquecer daquela madrugada gelada em Brasília? Eu estava numa terra estranha, cercada de gente estranha, uns homens bem vestidos, que se diziam autoridades, mas eu sabia, aqueles sorrisos todos eram falsos, porque eles prometiam demarcar terras que eram nossas e que foram invadidas por fazendeiros, mas assim que a gente voltava para o Sul da Bahia, eles até esqueciam que a gente esteve lá.
As nossas terras em Pau Brasil e Itajú do Colônia tinham sido doadas a fazendeiros em troca de apoio político e o governador da Bahia naquela época que eu fui a Brasília era dono de tudo, acho que até da Justiça. E nada de sair a demarcação.
Mas a gente era de luta, uma força que vinha dos nossos ancestrais e que eu sabia, iria ser mantida pelos nossos descendentes.
O que eu não sabia é que a maldade dos homens poderia ser tão grande, e olha que ao longo dos séculos nós sempre sofremos com a maldade daqueles que invadiram as nossas terras e tentaram matar a nossa identidade.
Como eu disse, fazia muito frio naquela madrugada em Brasília e eu estava dormindo na rua, porque a gente não tinha dinheiro nem pra pagar hotel, quando de repente, eu senti um calor no corpo, achei que alguma alma boa tinha me oferecido um cobertor.
Mas não era um cobertor, era fogo. Isso mesmo, quatro meninos ricos para se divertir haviam ateado fogo no meu corpo. Eu senti uma dor imensa, até ver a lua se tingir de vermelho e ai eu não senti mais nada.
Quando meu espírito chegou aqui no ybaca, eu sabia que a nossa luta não iria parar.
De certa forma, minhas chamas seriam o fogo da esperança de que a gente pudesse produzir e viver em paz nas terras que, por direito, eram nossas”.
Índio pataxó Galdino de Jesus, queimado vivo no dia 19 de abril de 1997.
´Eu sou guerreira, mas meu trabalho é pra combater, eu entrego meu peito à lança, nossa batalha temos que vencer´.
“Quando eu cantei essa música num encontro de povos indígenas em Brasília em 2023 não imaginei que era uma premonição.
A gente avançou muito nos últimos anos, conseguimos a demarcação de várias áreas, nosso irmãos tupinambás hoje tem suas terras ainda que vivam sofrendo ameaças, mas mesmo assim é preciso lutar, porque existem muitas áreas indígenas que são ocupadas irregularmente pelos fazendeiros.
Dizem que Brasil nasceu aqui no Sul da Bahia em 1500. As vezes penso que quando o tal de Brasil nasceu o nosso povo começou a morrer.
E que só não fomos dizimados porque somos forjados na luta, não temos medo da batalha e porque nossa causa é justa.
Quando meu irmão Cacique Nailton Pataxó me chamou pra gente retomar uma área que por direito é nossa, lá perto do imenso Rio Pardo, eu aceitei, porque nunca fugi da luta e como eu mesmo já contei aqui, não tenho medo das lanças.
Eu só não esperava, nem contava com as balas.
A brutalidade dos homens não tem mesmo limite. Em vez do diálogo, eles dispararam tiros.
Muitos tiros. E naquela explosão de violência, em meio aos gritos de medo, só lembro de uma coisa me atingindo, uma dor no corpo e o sol se tingindo de vermelho de sangue.
E me lembro que quando meu espírito chegou aqui no ybaca o companheiro Galdino veio me receber.
Lá embaixo, na terra, nesse solo que pra nós é sagrado, eu sei que nem o fogo nem as balas vão calar a nossa voz.
Porque nós somos e seremos semente e sempre vamos germinar em cada indígena e em cada pessoa que ainda consegue se indignar e combater as injustiças”.
Maria de Fátima Muniz, a Nega Pataxó, foi assassinada no dia 21 de janeiro de 2024 num conflito com fazendeiros em Potiraguá, no Sudoeste da Bahia
(Dia dos Povos Indígenas são todos os dias)
Awei!
UNICEF capacita 122 municípios baianos para aprimorar a escuta de crianças e adolescentes que sofreram violência e evitar a revitimização

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) reunirá representantes de 122 municípios baianos com o objetivo de contribuir para a melhoria dos processos de escuta de crianças e adolescentes que já foram vítimas ou testemunharam violências. Os encontros fazem parte das capacitações do Selo UNICEF, que conta com 2.023 municípios de 18 estados. Na Bahia, eles acontecem em três municípios pólos: Feira de Santana, Salvador e Vitória da Conquista.
Em Vitória da Conquista, o evento acontece nesta quarta-feira, 07, das 8h às 16h, no CEMAE*, localizado Av. Olívia Flores, 3000, Bairro Candeias, e reúne cerca de 120 profissionais de 40 municípios, entre representantes do Conselho Municipal de Direitos de Crianças e Adolescentes (CMDCA), das secretarias municipais de assistência social e o/a articulador/a do Selo UNICEF nos municípios.
No encontro “Acolher e proteger: como promover espaços de escuta de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência”, o UNICEF e o Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), parceiro implementador do Selo UNICEF no estado, irão capacitar gestores e técnicos de municípios que participam do Selo UNICEF para a implementação da Lei da Escuta Protegida. Para isso, serão discutidos os passos necessários, a exemplo da constituição de um comitê, definição do fluxo e do protocolo para a execução da legislação. Além do suporte técnico, o UNICEF disponibiliza metodologias e ferramentas para a adoção municipal das medidas.
Vereadores Indígenas denunciam violência no Extremo Sul da Bahia
Reflexo ainda das ações prática contra os povos originários no Brasil, e as política anti-indígena do ex-presidente Bolsonaro, os povos indígenas do extremo sul da Bahia, voltam a ser violentamente atacados.
Nesta terça-feira, dia 17 de janeiro, pistoleiros assassinaram dois jovens do povo Pataxó . O caso aconteceu por volta das 17 horas na BR 101, próximo ao povoado de Montinho, no município de Itabela.
A União dos vereadores indígenas da Bahia – UVIBA, junto ao o Instituto dos Povos Indígenas da Bahia, Mupoiba, Fipat, Miba, e demais entidades que representam os povos indígenas do estado da Bahia, pedem providências urgente as autoridades competentes nas esferas governamentais e jurídicas, no sentido de garantir a paz entre os povos indígenas do estado, ressaltando a necessidade da demarcação dos territórios indígenas em toda a Bahia, para que casos como estes não se repitam.
A União dos Vereadores indígenas da Bahia, presidida pelo Cacique Flávio Kaimbé se solidarizou com os familiares, parentes e amigos das vítimas desse violento ataque, e oportunamente pedimos as autoridades responsáveis, que tomem as devidas providências, no sentido de apurar as mortes de mais dois jovens indígenas em nosso estado, e que os responsáveis sejam rigorosamente punidos.
Ainda não foi a tragédia, foi só mais um anuncio
Posterguei a escrita de um texto com a previsão do óbvio: mais dia, menos dia, teríamos vítimas da intolerância para enterrar. É devastador ser obrigado a admitir que palavras reunidas no texto mais contundente e profundo que se possa escrever sobre o pino da granada puxada em Foz do Iguaçu, são, a esta altura, completamente insuficientes.
Não apenas porque não trarão Marcelo Arruda de volta para a família e para a cidade que o tinha como bom filho. Família…
O mais devastador é saber da possibilidade, quase certeza, de lágrimas em torrentes. Futuras e bem próximas. Basta dar uma espiadinha básica no que se diz nas bolhas da intolerância armada, onde moderados patridiotas, relativizam o absurdo. Os moderados relativizam. Outros, não se sabe se maioria ou minoria, festejam e glorificam a barbárie.
Mas não é necessário visitar as tais bolhas, basta ver as declarações do “mito”. Dispensar o apoio de quem pratica violência contra opositores seria até um avanço, considerando que o inominável já recomendou metralhar petistas. Nas palavras do presidente da República, nenhum respeito a quem morreu.
Pior: o “mito” autoproclamado defensor dos profissionais da segurança mostrou mais uma vez que antes de gostar de armados, ele gosta dos “seus” armados. Depois de assassinado por um insano açulado pelo discurso do ódio, o guarda civil Marcelo Arruda é moralmente morto pela maior autoridade do país, ao ser nivelado ao celerado que o matou diante da filha recém-nascida.
Mas o “mito” vai mais longe. Mente, escarra na história e contamina o sangue derramado com seus perdigotos.
Metade do cinismo asqueroso dissimula o discurso da violência numa condenação tíbia. A outra metade da dose cavalar de cinismo é investida para açular a tribo a subir ainda mais o tom na disposição para o ódio.
Ingenuidade esperar ou pedir que o outro lado, em luto, não lute e simplesmente ofereça a outra face, oferecendo também outros corpos como alvos da disposição permanente para a violência. Nunca foi assim e, sejamos francos, nunca será.
Violência contra profissionais da imprensa no interior da Bahia preocupa a ABI

As marcas da violência
Mais um caso de violência contra a imprensa no interior da Bahia vai parar na delegacia, evidenciando o clima de insegurança que ameaça profissionais do setor, em todo o estado. A cidade da vez é Jeremoabo. O repórter Davi Alves denuncia que foi vítima de agressão física enquanto realizava uma reportagem no município da Mesorregião do Nordeste Baiano, a 378 km de Salvador. Alves atua na Rádio Alvorada FM, em um programa da ONG Transparência Jeremoabo, conhecido na região por fiscalizar a administração municipal.
No último dia 16, ele filmava uma obra no bairro José Nolasco, em Jeremoabo, mas teve a cobertura interrompida. O repórter alega ter recebido denúncia de que recursos públicos estariam sendo empregados em obras particulares. Já no local, ele flagrou um funcionário da prefeitura levando materiais para dentro de um imóvel. No vídeo ao qual a reportagem da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) teve acesso, Davi Alves pergunta à proprietária se poderia entrar e ela o convida. A partir daí a filmagem é cortada pela confusão.
“Ao realizar a filmagem, fui surpreendido pela agressão sorrateira do secretário de Infraestrutura e Obras, João Batista dos Santos Andrade, popularmente conhecido por Tista Andrade. Levei um soco forte na parte lateral da nuca. Quase desmaiei”, denuncia. “Ele me agrediu com socos e pontapés, inclusive pelas costas, impossibilitando a minha defesa. Funcionários se juntaram a ele nas agressões. Eu tentei me defender como pude. Ele tem que respeitar nossa imprensa, estamos em uma democracia”, relata Alves.
Crimes violentos diminuíram na Bahia
As mortes violentas caíram 9,7% na Bahia neste segundo semestre, até agosto, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Esse tipo de crime inclui homicídios, latrocínios e lesões dolosas seguidas e morte.
Nos meses de julho e agosto foram 727 casos, contra 805 no mesmo período de 2019. Por macrorregiões, a Polícia Civil registrou em Salvador 148 mortes violentas neste período, contra 156 no ano passado. Já nas 403 cidades do interior ocorreram 496 mortes violentas em 2020 contra 541 no ano passado.
Nas treze cidades da Região Metropolitana de Salvador também houve declínio. Foram 83 casos neste ano, frente a 108 registrados em 2019.















