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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘Ernesto Marques’

ABI-BA elabora guia de orientação para cobertura jornalística de feminicídios

A diretoria da Associação Bahiana de Imprensa recebeu  na sede da entidade, a vice-presidente do Sinjorba, Fernanda Gama e a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, para apresentar o “Protocolo Antifeminicídio: Guia de boas práticas para a cobertura jornalística”.

O documento, produzido pela entidade, tem como objetivo orientar os jornalistas na apuração e produção de notícias relativas a crimes contra a mulher, e tem o apoio institucional do Sinjorba e da Fenaj.

“Essa é uma importante iniciativa para a qualificação do jornalismo baiano e nacional. Para além de apenas apontar as falhas na cobertura da violência fatal contra as mulheres, a publicação se propõe a ser uma fonte de consulta rápida e propositiva para acabarmos com preconceitos e situações que revitimizam as mulheres”, declara Samira de Castro, presidente da Fenaj.

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2 de Julho: nós, por nós mesmos

Ernesto Marques

 

Como há 200 anos, neste 2 de Julho de 2023, a sociedade baiana oferece uma generosa lição de brasilidade ao Brasil. Mais uma vez este país-promessa renasce na terra-mãe de todos nós, onde nasceu, para reescrever a sina que nos ensina a viver Pindorama: onde houver luta, há esperança.

Sobretudo depois do 8 de janeiro de 2023, irmão natimorto do 7 de setembro de 2022, estamos a viver uma experiência histórica que faz deste Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, muito mais do que uma ephemeride.

A data é, sim, argumento definitivo na peleja para se compreender sua importância para viventes de qualquer parte dos mais de 8,5 milhões de km². Território mantido íntegro à custa do sangue mestiço derramado nas batalhas travadas nas temidas províncias do norte. Sim! As províncias do norte… Onde há luta, há esperança, ensina a história.

Uma das belezas deste Bicentenário é isso: enquanto defendemos o valor da data, lembramos também que não foi coisa só da brava gente baiana. Tínhamos um longo histórico de levantes contra todas as desumanidades do colonialismo, começando pela escravidão e o genocídio. Mas veio gente dos quatro cantos para a luta preparada desde antes do Ipiranga. Assim como lembramos e reivindicamos o devido reconhecimento para as batalhas duríssimas ocorridas daqui até o Pará.

Outra luz desta nossa efeméride é a reparação construída e conquistada em honra aos nossos ancestrais e ao legado de coragem de quem oferece sua propriedade mais valiosa, o próprio corpo, em oposição à iniquidade. Às pessoas heroicas de 2 séculos atrás, correspondem descendentes que certamente se sentem bem representados pelo mestre Luis Henrique Dias Tavares. O faro de jornalista comprometido com a precisão, talvez o tenha inspirado no rigor do método científico. O coração comunista talvez o tenha inspirado a enxergar mais lentes a cada primeiro dia de aula, por detrás dos olhares atentos ao professor.

Há pelo menos 2 gerações de discípulos de Luis Henrique, além de remanescentes de sua geração de incríveis na pesquisa histórica, todos com algum protagonismo nas batalhas de hoje. Esta própria edição histórica do Diário Oficial do Estado é parte da luta colaborativa para reescrever a nossa história em ato coletivo de reparação. Como há 200 anos, somos nós por nós mesmos.

Na reescrita, devolve-se o justo protagonismo a quem lutou e venceu, promovendo a precedente, o absurdo da história de uma guerra só agora mais conhecida e mais bem contada pelos efetivos vencedores. A reescrita coletiva mobiliza crias da geração de Tavares, e novas crias se formam a partir da leitura da sua produção acadêmica e literária.

Há uns poucos anos, um novo exército pacificador iniciou a marcha gloriosa, porque em glória a ancestrais que conquistaram a “vitória pelos mares e campos baianos”. Hoje, como 200 anos atrás, o povo estará nas ruas em justíssima auto-reverência. Festa da felicidade cívica, celebração da liberdade, como fazemos desde 1824.

Ainda estamos longe da realização do sonho de justiça que nos conduziu à vitória naquele 2 de Julho. Assim como as marcas da escravidão estão bem presentes. O país parido na luta insiste em ter esperança de fazer-se nação plena, e a reescrita da história da Independência do Brasil na Bahia é mais uma contribuição da nossa brava gente baiana – conceito que alcança quem nasceu e quem escolheu renascer aqui.

No próximo ano, outro bicentenário: o da celebração. Como há 200 anos, somos nós por nós mesmos.

 

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Ernesto Marques é jornalista e radialista

Lawand/Cid: já não se fazem mais oficiais como antigamente…

Por Ernesto Marques

 

“P” da vida com o perigoso Prigozhin e seus 25 mil mercenários do temido Grupo Wagner, até Putin admitiu: são bons soldados. Diga-se o mesmo do coronel Jean Lawand Junior, o dedicado e disciplinado soldado bolsonarista, dadas todas as provas de bravura e lealdade ao seu mito presidente.

Camuflado de civil, depôs na CPMI do 8 de Janeiro. Abusou do direito de produzir provas contra ele mesmo. Seguindo o exemplo do mito, mentiu. Mentiu muito e sem falsos pudores. Negou obviedades escritas, irrefutáveis. Produziu bons cortes de vídeo para alimentar a matilha, mas sem outra serventia.

Perdeu acesso ao generalato e o direito a um pijama com algumas estrelas nos ombros, junto com a oportunidade de ficar calado, garantida pelo garantismo do STF. Ao fim e ao cabo, a autoimolação do soldado, quase ex-candidato a general do Exército de Caxias, resultará inútil até para livrar a cara do destinatário do seu clamor golpista. Muito sacrifício em desonra própria e alheia. Resultado pouco e efêmero. Mais um na fila dos descartados.

A referência de oficiais como Lawand e Mauro Cid é um “mau militar”, no dizer do general Ernesto Geisel, prócer da geração de tenentes de 1922, que deu um golpe armado em 1964, e governou o Brasil com algum norte estratégico e sentido de nação. Um “bunda-suja”, segundo contemporâneos do então tenente Bolsonaro, até ser expulso por planejar atentados a bomba em quartéis do que chamaria de “meu exército”, décadas depois.

A referência de militar para esses oficiais graduados, nos quais o Brasil investiu muito dinheiro em cursos, treinamentos e correspondentes adicionais que lhes engordam os soldos, caiu na política de T-10 – paraquedas militar quase sem navegabilidade. Supostamente, para defender os interesses da família militar. Mas, no tocante a isso daí, das quatro vezes em que não “fraquejou”, nenhum de seus varões seguiu carreira nas Forças Armadas.

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ABC da Grapiunidade

Caboco Alencar

 

Ernesto Marques

Quando começou o confinamento, nas conversas com Daniel Thame, logo me preocupei: e o Caboclo? Quem é papa-jaca não tem dúvidas, mas incautos de outras paragens talvez estejam em dúvida se me refiro àquele em cujos pés, na Bahia, se recomenda que desconsolados chorem suas mazelas no centro da Praça 2 de Julho, vulgo Campo Grande.

 

E, claro, se a preocupação era com a vida, esse Caboclo não é de outro mundo. Não é monumento, como o da praça, mas é uma entidade que se pode resumir em bom baianês como uma autarquia; um patrimônio material e imaterial, também!

Sim, porque tem uma dose de ancestralidade infundida em conhecimento tradicional, personificada numa figura em carne, osso e, sobretudo, alma.

Uma combinação genuinamente baiana, dessas que compõem um personagem idiossincrático, dono de um carisma improvável, capaz de cativar séquitos de seguidos engajados e orgânicos, muito antes das redes sociais.

Muito antes de um tal de Zuckerberg criar o Face, o Caboclo já tinha criado uma rede social poderosa no Planeta Cacau. Aonde! A rede do Caboclo existe é de hooooooje, muito antes até do Orkut! E nunca houve plataforma melhor pra fazer um network em Itabuna.

Eu, forasteiro que venho lá do sertão, na primeira passagem por Itabuna, em 2004, trabalhando numa campanha eleitoral, percebi isso logo na chegada, levado pelo companheiro Rui Correia, o “senador da Bahia livre”, e jamais eleito.

Voltemos a falar da entidade, o Caboclo – a maiúscula, ou caixa alta, como dizem os jornalistas das antigas, não é simples reverência. É respeito à lei que manda grafar substantivos próprios assim. É nome de gente de carne e osso, com nome e sobrenome, também: Caboclo Alencar. Criador e mantenedor do ABC da Noite, uma verdadeira catedral de duas portas estreitas onde se reúnem infiéis de vários credos, partidos, etnias e extratos sociais.

Esse tipo ecumenismo sócio-etílico-religioso só poderia ter como endereço o Beco do Fuxico, logradouro cujo nome oficial nem itabunense conhece. Se você chegar na Avenida Cinquentenário, centro comercial de Itabuna e perguntar onde é a Travessa Adolfo Leite, dificilmente alguém saberá responder. Mas se você estiver em Ilhéus e perguntar onde fica o Beco do Fuxico, com certeza qualquer um vai lhe dizer do Beco, cuja referência certeira é o ABC da Noite, do Caboclo Alencar.

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O que foi e o que precisa ser o 11 de agosto de 2022

Ernesto Marques

ernesto marquesFoi, rigorosamente, como disse o ex-ministro José Carlos Dias, o momento histórico da união entre capital e trabalho em defesa da democracia. Sem dúvida alguma, um fato da maior relevância, sobretudo pelo pacto mínimo e explícito que o documento propõe, desde o seu precedente inspirador.

O capital muito bem representado por mais de uma voz e todas, no essencial, afinadas com os discursos das representações acadêmicas e da sociedade organizada. Sem dúvida, um momento alto e muito representativo de um outro BASTA! Equivalente, em significados, a outros grandes momentos.

Mas isso é pouco, e precisamos deixar isso muito claro. Incondicionalmente, quem assina a Carta se compromete com a defesa da ordem democrática. Isso significa prometer e cumprir aos subversivos de agora, a Constituição, não o pau-de-arara.

Não basta sentir saudades da democracia quando ela está ostensivamente ameaçada. É preciso comprometer-se com ela eternamente, sem que a vida ou a morte das instituições nos separe como limite da convivência naturalmente difícil entre as classes opostas por natureza.

Não se pode discutir a relevância histórica deste 11 de agosto, mas o precedente de 1977 só eterniza a conhecida e surrada máxima que justifica o absurdo. Assim como o golpe de 1964 exigiu anos de preparação, o processo “kaftiano” que levou cavalgaduras ao MEC e nulidades à Justiça, entre tantos itens da vasta coleção de absurdos parvocratas, não começou com aquela bisonha sessão da Câmara dos Deputados, de 17 de abril de 2016.

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O Brasil emparedado

Ernesto Marques

 

ernesto marquesNunca foi o idiota excêntrico subestimado ao longo de 28 anos de vida parlamentar, tendo como um de seus momentos altos, a confissão indecorosa de uso indevido do auxílio-moradia, privilégio de deputado federal, para “comer gente” como prova cabal da sua qualidade ética, como político e pai de família.
Não é o gênio diversionista que desacredita a imprensa e os poderes constituídos, enquanto maneja, sem falsos pudores, todos os recursos da comunicação digital – inclusive qualquer sordidez permitida na chamada deep web, ou internet profunda.

Atavicamente preso a tragédias, o país vive a pior de todas, porque personificada naquela figura hoje investida na faixa presidencial, símbolo do poder da República, delegado soberanamente pelo povo. República demolida a cada sigilo de 100 anos sobre a sequência de crimes ocorridos diante de largo conhecimento público – e quase em tempo real!

Das muitas provas cabais da destruição nacional iniciada no Dia da Confraternização Universal de 2019, o fato de sermos apenas 3% da população mundial e serem brasileiros e brasileiras, 12% dos humanos mortos pela covid-19.

Não é o idiota excêntrico, não é o gênio diversionista. Mas o erro de subestimá-lo enquanto cometia crimes contra o decoro parlamentar ofereceu aos criadores de tempestades perfeitas, uma espécie de “solução final”, diante do risco iminente de Lula e o PT voltarem ao governo em 2018.

A tal democracia burguesa à brasileira é obra muito mais das elites chucras que capturaram o poder político perdido pela monarquia, e que, na prática, vivem em eterna reparação pela perda do trabalho escravo. E mesmo a república torta, nascida do primeiro golpe militar da nossa história e renascida depois de enterrarmos (vivo) o último golpe fardado, já nos faz falta.

Sim, o comunista mais sectário, ativistas sem temor algum, caminhantes de muitas passeatas e manifestações; qualquer destes e destas, sente saudades das liberdades e direitos que se esvaem junto com o tempo perdido no retrocesso a ser interrompido, de preferência pelo caminho das urnas.

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Ainda não foi a tragédia, foi só mais um anuncio

ernestoPor Ernesto Marques

ernesto marquesPosterguei a escrita de um texto com a previsão do óbvio: mais dia, menos dia, teríamos vítimas da intolerância para enterrar. É devastador ser obrigado a admitir que palavras reunidas no texto mais contundente e profundo que se possa escrever sobre o pino da granada puxada em Foz do Iguaçu, são, a esta altura, completamente insuficientes.
Não apenas porque não trarão Marcelo Arruda de volta para a família e para a cidade que o tinha como bom filho. Família…
O mais devastador é saber da possibilidade, quase certeza, de lágrimas em torrentes. Futuras e bem próximas. Basta dar uma espiadinha básica no que se diz nas bolhas da intolerância armada, onde moderados patridiotas, relativizam o absurdo. Os moderados relativizam. Outros, não se sabe se maioria ou minoria, festejam e glorificam a barbárie.

Mas não é necessário visitar as tais bolhas, basta ver as declarações do “mito”. Dispensar o apoio de quem pratica violência contra opositores seria até um avanço, considerando que o inominável já recomendou metralhar petistas. Nas palavras do presidente da República, nenhum respeito a quem morreu.

Pior: o “mito” autoproclamado defensor dos profissionais da segurança mostrou mais uma vez que antes de gostar de armados, ele gosta dos “seus” armados. Depois de assassinado por um insano açulado pelo discurso do ódio, o guarda civil Marcelo Arruda é moralmente morto pela maior autoridade do país, ao ser nivelado ao celerado que o matou diante da filha recém-nascida.
Mas o “mito” vai mais longe. Mente, escarra na história e contamina o sangue derramado com seus perdigotos.

Metade do cinismo asqueroso dissimula o discurso da violência numa condenação tíbia. A outra metade da dose cavalar de cinismo é investida para açular a tribo a subir ainda mais o tom na disposição para o ódio.
Ingenuidade esperar ou pedir que o outro lado, em luto, não lute e simplesmente ofereça a outra face, oferecendo também outros corpos como alvos da disposição permanente para a violência. Nunca foi assim e, sejamos francos, nunca será.

 

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E a minha mãe desnasceu…

mae de ernestoErnesto Marques 

 

 

 

E de repente eu me vi menino, quase a mesma cena que me apavorou aos meus 5 ou 6 anos, quando um amigo-primo-irmão perdeu a mãe no mesmo acidente que quase matou a mãe de um outro amigo-primo-irmão. A minha mãe cor-de-rosa choque, como eu a defini no primeiro trabalho escolar de Dia das Mães, quando ainda havia pré-primário, não estava no carro e, portanto, não corria qualquer risco. Mas eu morri de medo.

 

 

ernesto marquesO meu amigo-primo-irmão chorando “minha mãe não morreu” foi uma lembrança que ecoou daquela infância até nascer o trigésimo segundo dente. Enquanto crescíamos juntos, ver a falta que a mãe lhe fazia trazia nítido aquele eco choroso e aquilo dava um medo que chegava a doer.

 

É a dor que me devastou por uma semana. Quase meio século depois, o medo se confirma e a dor volta como certeza plácida. Medo de cinquentão, claro, sem temer a orfandade como um menino de 5.

 

Estávamos em despedidas. A cada turno no hospital, não podia transmitir outra coisa senão a saudade mais sublime e grata que meus olhos conseguissem dizer aos olhos dela. Gratidão pela concepção, pelo ventre, pelo peito, pelo colo, pela doçura sem fim e pelo amor visceralmente incondicional pelos filhos. Por todos os filhos. Os que pariu e os que acolheu.

 

Como fiz tantas vezes, recorri mais uma vez àquele colo, agora tentando fugir dos olhos dela e esconder lágrimas. A mão castigada por tantos acessos venosos não conseguiu repetir o cafuné com aqueles dedos, testemunhas digitais das mudanças na minha cabeça. “Seus cabelos estão ficando todos brancos!” disse, ainda na casa dos meus trinta e tantos. Não, mãe, eles não estão ficando, estão indo embora!

 

Ela não cansou de ser mãe, e ao ver medo em nossos olhos, reagiria como qualquer mãe diante de qualquer coisa que amedronte sua cria. O “alemão” tirou quase toda a memória acessível ao que lhe restava de consciência, mas não apagou os afetos. Guardava ainda razoável consciência da sua situação até o final, e saber-se razão de lágrimas também a afetaria. É a mesma mãe que me pariu, 54 anos atrás.

 

Como é natural acontecer, mesmo sem abrir mão da sua majestade, foi ficando cada vez mais nossa filha. Especialmente da filha que mais se converteu em mãe da nossa mãe, e do vice-caçula – “o Predileto”, como nós, ciumentos resolvidos o chamamos. Sem marra.

 

De tão mãe, dizia arrepender-se apenas de não ter parido 14, em vez dos 7 gerados. Tão mãe, que é a segunda mãe de ninhadas de sobrinhos e ainda teve lugar pra extras, sob suas asas. Tão mãe, que uma gaúcha radicada em nossa Ipirá, amizade forjada em boas receitas de bolos, longe de casa, pediu pra colocar uma foto na parede da nossa antiga sala de jantar, onde a nossa árvore genealógica ampliada em dezenas de molduras tomava uma parede.

 

Em linguagem de hoje, não tivemos escolha, senão compartilhar nossa mãe. O resultado, também em termos contemporâneos, é que quando a vida dela esteve em risco, os cuidados foram colaborativos.

 

Vivemos em trabalho de desparto por uma semana. Sim, desparto. A minha criança amadurecida confessa o medo de seguir adiante, pelo que representa a partida de quem me pariu. Sem negar a obviedade, mas dada a naturalidade vivida por aquela mulher linda de quase 92 anos, prefiro dizer que a minha mãe desnasceu. Estamos a sofrer, como é natural, as dores de parir uma mãe em memória.

 

Aquele pequenino coração onde couberam tantos afetos honrou sua bravura sertaneja ancestral. As vezes disparava, como se tentasse compensar a insuficiência crescente a cada batida. Cada vez mais esforço, cada vez menos resultado.

 

A medicina seguiu o limite da família: intervenção mínima para manter o equilíbrio possível e tirar qualquer expressão de dor. A vida seguiu o curso natural, e, consumado o desnascer daquela mulher parideira, um cordão se parte em sete umbigos. É a nossa herança semente.

 

Em cada rebento gerado, uma semente possibilidade. Agora eu e meus irmãos entramos no corredor da vida. Já não somos filhos, agora somos tios, pais e avós. E a melhor possiblidade herdada e transmitida por aquela mulher-girassol é desnascer, em vez de simplesmente morrer. É fazer a passagem entre girassóis indicando o caminho da luz. Nas pegadas dela e do nosso velho, que desnasceu em casa, também cercado de cuidados e dengos, o roteiro para merecer tanta fortuna.

 

 

 

Se o presidente acha que pode prevaricar, jornalista é que não pode

Por Ernesto Marques*

 

Ernesto Marques

Ernesto Marques

Verdadeiro como uma nota de dezessete reais, Bolsonaro rezou o Pai Nosso mais mal rezado da história cristã para abortar uma entrevista. Antes, reclamou do jornalista que lhe perguntou se estava arrependido do ataque mentiroso ao presidente do TSE. “Depois falam que eu sou grosso!” Disse o Mitômano, como se as agressões diárias contra jornalistas fossem culpa dos próprios jornalistas.

Da grosseria ao ato grotesco. Como mandar repórteres calarem a boca durante uma coletiva, ou dizer que sua vontade era encher a boca de um jornalista com uma porrada, ou chamar uma repórter de idiota.

Conseguiu ser grosso e grotesco e, ao mesmo tempo, tentou inibir questionamentos sobre seus deveres com mais um arroto autoritário. Desta vez com requintes de crime e pecado.

Rezou o Pai Nosso com a mesma fé com que o comandante da Aeronáutica disse que homem armado não ameaça. Duas expressões de fé. Fé nas armas.

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Livre recomendar, é só recomendar

Por Ernesto Marques*

 

Ernesto Marques

Ernesto Marques

Sempre me incomoda ler/ver/ouvir de colegas de imprensa equívocos como: o Ministério Público “determinou”, “decidiu”, “proibiu”…

Se a imprensa é mesmo o quarto poder, não atentou para os riscos de tais equívocos colaborarem para criar um quinto – nem sempre independente, mas sempre autônomo. As redações banalizaram o erro no qual reincidem focas, editores, comentaristas e medalhões do jornalismo brasileiro. Não se trata de mera questão semântica e este episódio do “embargo” ao cumprimento da decisão da Comissão Intergestora Bipartite (CIB), incluindo comunicadores entre os grupos prioritários para a vacinação é só mais um sintoma do vírus do abuso do poder institucional que nós, jornalistas, ajudamos a instilar.

As aspas no termo “embargo” são propositais mesmo. O Ministério Público nada embarga. Não determina coisa alguma, a quem quer que seja. Nada decide, muito menos proíbe. O MP, no entanto, tem o poder de provocar quem, de fato e de direito, tem o poder de embargar, determinar ou mesmo proibir algo: a Justiça.

Do império até os estertores da ditadura militar, o MP não passava de mero apêndice mal resolvido, pendulando entre o Executivo e o Judiciário. Ganhou outro status com a Lei da Ação Civil Pública, de 1985. O então presidente Sarney vetou o artigo que dava ao MP o poder de atuar em defesa dos direitos difusos – conceito novo para o Brasil daquela época. Na conversa com Sepúlveda Pertence, seu procurador-geral e  articulador da nova lei, Sarney profetizou o perigo com a imagem do promotor hipotético de um lugarejo desconhecido: “imagina que amanhã ele entenda que o casamento do João com a Maria fere algum interesse difuso. Então essa não vou sancionar.” E vetou o artigo.

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