:: ‘Bahia Faz Ciência’
Jovens cientistas apresentam projetos na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
Popularizar a ciência ao destacar as potencialidades dos biomas baianos e valorizar os saberes dos povos originários e das comunidades tradicionais. Esses são os principais objetivos da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) na Bahia. O evento, organizado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), ocorre em várias regiões do estado até dia 18 de outubro. Nesta quarta-feira (16), no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC), aconteceu a primeira atividade na capital, que reuniu estudantes, professores, empreendedores, pesquisadores e outros públicos.
Ao longo do dia, o público teve a oportunidade de visitar a Trilha Bahia Faz Ciência, onde foram apresentados projetos inovadores desenvolvidos por estudantes da rede pública, utilizando os biomas para soluções criativas. O evento contou com rodas de conversa sobre “Saberes Ancestrais, Tecnologia e Biomas” e “Biomas, Saberes Tradicionais e Mudanças”. Além disso, os visitantes puderam explorar espaços sensoriais que destacaram a biodiversidade dos biomas Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado, que fazem parte do território baiano.
Estudantes do Sul da Bahia desenvolvem sabonete que acelera cicatrização
Na diversa vegetação que o Brasil possui, encontramos plantas que, além de terem características anti-inflamatórias, são cicatrizantes. Uma equipe do Centro Estadual de Educação Profissional Álvaro Melo Vieira, localizado em Ilhéus, Sul da Bahia, desenvolveu um sabonete a partir do óleo residual de duas dessas folhas com propriedades curativas, a babosa (Aloe Vera) e a penicilina (Alternanthera brasiliana) com intuito de beneficiar pessoas que sofrem com problemas de cicatrização lenta.
Segundo o orientador do projeto, professor Paulo Pires, o produto estimula a reparação mais rápida dos tecidos lesados. Para isso, o primeiro passo na fabricação do sabonete é extrair o óleo das plantas e, em seguida, combiná-los com base de glicerina, soda cáustica, água e aromatizantes em medidas adequadas, resultando em um produto com pH apropriado para uso e boa capacidade de formação de espuma.
Ainda de acordo com a equipe, o projeto ainda está em fase de aprimoramento. “A alternanthera brasiliana, conhecida por “terramicina”, “penicilina” ou “perpétua do mato”, é uma das plantas medicinais utilizadas no tratamento de diversas patologias, com ação curativa comprovada, porém o nosso produto, a partir do óleo residual da folha dessa planta, ainda não foi testado para o uso medicinal”, explica o orientador.
Estudantes de Ilhéus usam antenas parabólicas para construir fogão solar de baixo custo
O custo do gás representa uma preocupação significativa para inúmeras famílias. Segundo o Sindicato dos Revendedores de Gás da Bahia (Sindrevgas), os recentes ajustes de preços em 2023 elevaram o valor médio do botijão de 13 kg para uma faixa entre R$123 e R$125, o que impacta o orçamento de muitas famílias. A situação ressalta a importância de buscar alternativas seguras ao uso do gás. Por isso, os estudantes Alan Santos, Felipe Santos e Micael Marcelo dos Santos, do Centro Estadual de Educação Profissional do Chocolate Nelson Schaun, localizado em Ilhéus, orientados por Geraldo Porto, desenvolveram um fogão solar.
Segundo o orientador, o fogão solar opera com base em princípios fundamentais da óptica geométrica. “O equipamento concentra a luz solar por meio de uma superfície côncava e espelhada. Esse design permite que os raios solares sejam direcionados e convergidos para um ponto focal específico, onde conseguimos, no ponto focal, a temperatura de aproximadamente 400 º C, suficiente para o cozimento de alimentos”.
Para desenvolver o produto, a equipe usou materiais de baixo custo e que seriam descartados. “Utilizamos duas antenas parabólicas com um raio de, aproximadamente, 30 cm, que estavam sem uso e prestes a serem descartadas. Após a limpeza superficial nas duas antenas, lavamos e lixamos suas superfícies. O procedimento da primeira antena foi colocar uma manta espelhada em sua superfície fixada com cola adesiva. Já na segunda antena, polimos para que ficasse bastante reflexiva e espelhada, o que gerou melhor rendimento térmico”, explica.
Startup baiana cria revestimento comestível para proteger frutas e verduras
O desperdício de alimentos é um problema mundial. Com o aumento da população do planeta, essa situação pode contribuir para a insegurança alimentar de muitas famílias. De acordo com pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 2021, cerca de 20% das frutas e vegetais se perdem entre a colheita e a comercialização. Com objetivo de combater o desperdício, Jossimara Neiva, junto com uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), criou a startup BeeAction e desenvolveu um revestimento comestível que retarda o envelhecimento e protege as frutas e verduras durante o trajeto até o consumidor final.
O produto é a combinação da pectina cítrica, uma fibra solúvel encontrada naturalmente nas frutas e verduras, e a geoprópolis, que é obtida a partir da mistura de pequenas quantidades de solo e resinas vegetais coletadas pelas abelhas sem ferrão. “A pectina cítrica dá a base para o revestimento e a geoprópolis confere ao produto a capacidade de interagir com a superfície do fruto e, por meio de suas propriedades nutracêuticas, retarda o processo de envelhecimento dos frutos. Esse processo prolonga o tempo de prateleira, assim, o consumidor final irá adquirir produtos frescos, tudo isso sem uso de conservantes sintéticos”, diz.
Jossimara explica como o revestimento comestível, que ainda está em desenvolvimento, deve ser aplicado nos alimentos. “Os frutos a serem revestidos serão previamente higienizados e receberão o revestimento por imersão. Também temos a perspectiva de disponibilizar o produto para aplicação por spray. O produto é solúvel em água, desse modo, poderá ser retirado na higienização antes do consumo, mas, por se tratar de um produto elaborado com ingredientes naturais, poderá ser consumido”.
Professora baiana desenvolve novo método de estudo
No mundo no qual temos acesso a diversas informações, estudar, absorver e compreender os assuntos pode se tornar uma missão difícil. Ainda mais quando os conteúdos têm complexidade. Ao observar a dificuldade de alguns alunos, a professora Luciana Boeira, do Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (Cetens), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb), Campus de Feira de Santana, desenvolveu uma técnica chamada grafismo. O intuito é ajudar a melhorar a assimilação do conhecimento por meio da visualização das ideias.
A professora identificou que alguns estudantes tinham dificuldade para absorver os assuntos e decidiu elaborar essa técnica para ensinar como estudar. “Para criar a técnica, eu coloquei um arcabouço teórico de reconhecimento científico, que é dialética do conhecimento. No grafismo, por exemplo, se estuda a partir de desenho, fluxogramas, mapas mentais, mapas conceituais, textos ligados por setas nos quais se fazem associações de conteúdo, entre outras formas”, afirma.
De acordo com Luciana, ao estudar um novo conteúdo, uma grande parcela das pessoas não consegue fazer de imediato as associações. “Aquele conteúdo fica um tanto embaralhado no nosso pensamento e na nossa imaginação. Por isso, elas não conseguem visualizar aquilo que está passando na mente. Quando a pessoa começa a visualizar e fazer as associações, ela organiza e percebe o conhecimento. Esse perceber é naturalmente e ela identifica o sabor do saber. Esse sabor do saber leva-o a querer saber mais”, diz.
Estudantes de Ilhéus utilizam planta aquática para desenvolver bioplástico
A produção de lixo plástico tem atingido níveis preocupantes. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no ano de 2019, por exemplo, foram produzidas cerca de 353 milhões de toneladas de resíduos do material. Desse número, menos de 10% foi reciclado. Com o intuito de contribuir para a diminuição desse tipo de lixo no mundo, as alunas do Centro Estadual de Educação Profissional Gestão e Tecnologia da Informação Álvaro Melo Vieira, de Ilhéus, Marina Moura e Amanda Pereira, orientadas por Margarete Correia, desenvolveram o bioplástico à base de taboa.
A Thypha domingensis, conhecida popularmente como taboa, é uma planta aquática que pode ser encontrada em rios, manguezais e brejos. Segundo as estudantes, o processo de fabricação do bioplástico é dividido em etapas. Primeiro é realizada a extração do amido da planta, que é colhida, lavada, cortada e triturada no liquidificador com água. Após esse processo, o líquido é filtrado e passa por decantação. Na sequência, é produzido o plástico biodegradável com o amido e, por fim, é realizado o teste de espessura.
Segundo Marina Moura, a ideia de desenvolver o bioplástico utilizando como matéria-prima a taboa surgiu dentro da sala de aula. “Estávamos estudando sobre os plásticos convencionais e os problemas que eles vêm causando na natureza e, principalmente, nos oceanos. Descobrimos como alternativa o bioplástico, que é oriundo de fontes renováveis como celulose ou amido. Essa informação despertou o nosso interesse e realizamos pesquisas sobre plantas, até que encontramos a taboa”, destaca.
Para Amanda Pereira, o produto apresenta um grande diferencial em relação a outros existentes no mercado, pois elas utilizam como material principal um cultivo que é considerado uma praga. “Usamos uma matéria-prima nunca utilizada para essa finalidade, já que muitas pessoas a consideram apenas como uma praga presente nos rios, brejos e manguezais. Com o nosso produto, damos uma nova utilidade e agregamos valor à planta”, explica.
O projeto, que faz parte do Programa Ciência na Escola, da Secretaria de Educação, ficou em primeiro lugar, na categoria Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias, na 10ª Feira de Ciência, Empreendedorismo e Inovação da Bahia (Feciba). As jovens cientistas também contam com o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). A orientadora Margarete Correia ressalta que o produto está em desenvolvimento: “vamos realizar teste de tração, permeabilidade e solubilidade, e aprimorar o nosso material para que seja eficiente”.
Bahia Faz Ciência
A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e a Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) estrearam no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, 8 de julho de 2019, uma série de reportagens sobre como pesquisadores e cientistas baianos desenvolvem trabalhos em ciência, tecnologia e inovação de forma a contribuir com a melhoria de vida da população em temas importantes como saúde, educação, segurança, dentre outros. As matérias são divulgadas semanalmente, sempre às segundas-feiras, para a mídia baiana, e estão disponíveis no site e redes sociais da Secretaria e da Fundação. Se você conhece algum assunto que poderia virar pauta deste projeto, as recomendações podem ser feitas pelo e-mail comunicacao.secti@secti.ba.gov.br.
Pesquisadores baianos criam sistema que ensina programação através de narrativas interativas
Hoje o mercado de programação é uma das áreas mais aquecidas no país. Segundo a startup GeekHunter, as vagas no setor de tecnologia da informação (TI) tiveram um aumento de 310% só no ano de 2020. Apesar disso, aprender linguagem de programação não é uma tarefa simples. Por isso, os alunos Natália Pinheiro e Euler Lima, orientados pela professora Maísa Lopes, desenvolveram a Biblioteca de Programação NineJs, um sistema para ensinar a programar de maneira leve e didática.
O projeto, que tem o apoio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), une a programação com narrativas interativas. O intuito é fazer com que o estudante aprenda de uma forma diferente. “O objetivo é desenvolver uma história e depois programar para que o usuário possa interagir com ela, decidir o rumo da história. O legal é que saímos um pouco das atividades tradicionais de programar que envolvem apenas problemas matemáticos e mostramos a necessidade do pensamento lógico em todas as áreas da nossa vida”, explica Maísa Lopes.
A Biblioteca de Programação NineJs, que tem o Certificado de Registro de Programa de Computador, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), é focada no público iniciante. “Pegamos o JavaScript, que é uma linguagem muito popular e ensinamos programação. Então, o aluno não aprende uma linguagem só para fazer narrativas interativas, ele aprende o JavaScript. A pessoa pode usar o conhecimento para resolver outros problemas”, diz Natália Pinheiro.
Pesquisadoras desenvolvem dispositivo para curar candidíase sem uso de medicações
A candidíase, causada pelo fungo Candida albicans, atinge 3 a cada 4 mulheres. Segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), cerca de 52% da população feminina já teve a patologia. Para melhorar a qualidade do tratamento da doença, as alunas Mariana Robatto e Maria Clara Pavie, orientadas pela Drª Patrícia Lordêlo, com o apoio da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), do Pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Ensino de Pós-Graduação Stricto Sensu da Bahiana, Dr. Atson Fernandes e da coordenadora do Núcleo de Tecnologia e Inovação, professora Fernanda Ferraz, realizaram um estudo sobre o uso do LED como método curativo da candidíase. A partir desse projeto, foi desenvolvido um dispositivo para tratamentos vaginais sem uso de medicações.
Após identificar que não existia nenhum equipamento no mercado que resolvesse o problema, as pesquisadoras desenvolveram um protótipo. “O dispositivo utiliza um LED, chamado diodo azul, que emite uma luz de 405 nanômetros. A princípio, o método foi desenvolvido para realizar tratamentos da candidíase. Ele é colocado no canal vaginal e envolve toda a parte interna e externa da genitália feminina. A literatura afirma que o recurso faz uma implosão do vírus, bactéria ou fungo, causando a morte, através da porfirina, desse microrganismo patogênico. Entretanto, tenho a hipótese que melhoramos fatores da imunidade vaginal”, explica Patrícia Lordêlo.
Pesquisadores baianos desenvolvem aplicativo que calcula probabilidade de infarto
Cuidar do corpo é importante para manter a saúde. O coração, um dos principais órgãos do corpo humano, merece atenção especial. Uma pesquisa desenvolvida na Bahia é responsável por auxiliar a população com esse cuidado. É que o professor Luís Claudio Correia, da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, a partir da ideia do aluno João Victor Santos, desenvolveu um aplicativo que calcula, a partir da dor no peito, a probabilidade de ser decorrente de angina ou infarto.
A utilização de aplicativos para cálculo de probabilidade tem ajudado médicos com diagnósticos de diversas doenças. Para o cientista, ações como essa também servem para popularizar a ciência. “O aplicativo está disponível como uma forma de tornar mais aplicável o conhecimento científico. Ele é uma forma prática de utilizar um modelo de regressão para calcular probabilidade”, afirma.
De acordo com o professor, o estudo é uma maneira de ajudar no atendimento de pessoas que apresentem dores torácicas. “Já existem aplicativos com vários outros modelos para diferentes doenças. Isso é uma coisa vigente em termos de ciência médica e criação de modelos, porém faltava um modelo para dor torácica aguda e foi isso que a gente desenvolveu”, explica Luís.
Baiana inventa embalagens plásticas comestíveis para reduzir danos ao meio ambiente
O cuidado com o meio ambiente tem sido pauta ao longo dos anos na sociedade atual. O debate é diário para que as pessoas se conscientizem sobre o que pode acontecer, caso algumas das nossas espécies e elementos da natureza entrem em extinção causada pelo descarte incorreto do produto. Pensando em um futuro próspero e saudável para a seu filho, a baiana Kat Oliveira inventou um tipo de plástico descartável comestível que pode diminuir a quantidade de lixo que é produzida pelos habitantes do planeta. Só no Brasil, são cerca de 11 milhões de toneladas de lixo plástico ao ano.
O projeto da inventora de 37 anos, nascida na cidade de Feira de Santana, começou há dois anos. Ela afirma que sempre foi muito estudiosa e gostava “dessas coisas da natureza”, o que despertou o interesse pelo tema, estimulando mais pesquisas a respeito. “Desde criança, sempre gostei de roça e, quando virei mãe, vi a necessidade de reduzir esses materiais no meio ambiente. Em 2014, fiz gestão ambiental e com os avanços da tecnologia sobre as novas embalagens feitas de várias plantas, resolvi estudar o assunto e veio a ideia de fazer uma produção com as pancs”, disse, explicando que as pancs, ou plantas não convencionais, são utilizadas para fazer embalagens de plástico descartáveis e plásticos filmes.
A dedicação aos estudos ganhou força após o surgimento de novas embalagens sustentáveis. “Fazendo algumas anotações, percebi que o custo da produção ainda é muito alto. Então a minha ideia é que seja um produto mais barato. Além disso, a outra motivação que tive foi quando comecei a prestar serviços em uma cooperativa de resíduos sólidos. Percebi que um dos grandes problemas do mundo são os plásticos, porém ele não chega a ser o grande vilão, mas sim o modo como é descartado”, destacou.