:: ‘Andre Rosa’
Eu, André Rosa, Jorge Amado e o Cú do Mundo
Daniel Thame
André Rosa partiu para a Morada dos Homens Bons. Professor, pesquisador, escritor, grande ser humano, sua morte deixa uma imensa lacuna no setor cultural de Ilhéus e toda a região.
Alvo de merecidas homenagens de seus amigos, instituições e academias literárias, André Rosa agora é saudade e exemplo de vida.
Minha convivência com ele foi esparsa, um ou dois encontros ocasionais em Ilhéus.
Mas, vivemos juntos, ainda que de forma involuntária, um momento marcante, pelo inesperado e inusitado.
É com bom humor que quero homenageá-lo.
Em 2018 participamos juntos de uma mesa na Festa Literária de Itabuna, a Felita, para falar sobre a obra de Jorge Amado.
Ele por seu vasto conhecimento acadêmico.
Eu, ex-jornalista em atividade e escritor extemporâneo, por ter me atrevido a escrever um livro, Jorge100anosAmado-Tributo a um eterno Menino Grapiuna, homenagem ao centenário do escritor.
Cerca de 100 pessoas na platéia, boa parte delas composta de estudantes, levados quase à força por professores, para que os escritores não falassem para ninguém.
André esbanjando conhecimento.
Eu, cultura que não enche um pires, usando o empirismo que me permite estar beirando os 50 anos de jornalismo e já r com cinco livros publicados.
André falava com a bagagem de um estudioso sobre a obra de Jorge e eu indo pelo lado sarcástico do escritor, com seus personagens que são a cara do povo. Tipo ´toca a bola e se livra logo dela´.
Tudo ia bem, até que alguém na platéia pergunta porque o povo de Ferradas rejeitava Jorge.
André Rosa, do alto de sua sabedoria, craque que era, mata a bola no peito e responde:
-Um dos motivos é que em algumas de suas obras Jorge Amado se refere a Ferradas como o cú do mundo.
E eu, sutileza de zagueiro de time de roça, vou na canela:
-E cá pra nós, ele tinha razão. Ferradas é o cú do mundo mesmo.
O que eu não sabia e nem tinha como saber é que a maior parte daquele grupo de estudantes no Centro de Cultura veio de uma escola de… adivinhem, Ferradas!
Se tivesse algum jagunço na platéia, e felizmente não tinha, era tocaia, e das grandes.
Avisado pelo organizador da Felita, Gustavo Felicíssimo, tentei consertar, mas não havia o que consertar.
Lesse eu pensamentos e certamente captaria nada amadianas homenagens a senhora minha mãe.
Fecha o livro.
Longa vida eterna a André Rosa!
Obra e legado de Jorge Amado são destacados na FELITA 2015
A Feira Literária de Itabuna (FELITA), realizada pela Prefeitura de Itabuna, através da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC), teve uma mesa redonda que abordou a vida e obra do escritor grapiúna Jorge Amado, um dos nomes mais aclamados da literatura brasileira. O escritor André Rosa e o jornalista e escritor Daniel Thame, que conduziram o debate no espaço “Palavras por Palavras”, com a palestra “Uma Prosa Sobre a Obra de Jorge Amado”, com a mediação de Gustavo Felicíssimo.
Para Daniel Thame, “esta é a segunda vez que a FELITA cumpre seu papel de provocar um passeio sobre a obra do escritor grapiúna Jorge Amado. Amado por uns, mal compreendido por outros, mas filho de Itabuna e reconhecidamente um dos escritores mais brilhantes que o Brasil já teve. Isso ninguém muda! E um evento literário feito para promover os escritores regionais, deve assimilar seus expoentes mais genuínos”. E complementa: “Às vezes, as pessoas não compreendem que ‘o menino grapiúna’ cresceu e precisava sobrepujar sua cidade natal para dar vazão à sua capacidade criativa. Foi desse jeito que Jorge deixou Itabuna ainda criança e foi morar em Ilhéus”, explicou.
O professor Roberto José da Silva, presidente da FICC, disse que discutir Jorge Amado numa feira literária realizada em Itabuna provoca um paradoxo inevitável: “Itabuna, hoje, ao mesmo tempo em que é elogiada por ter a FELITA, é também criticada, pois nos grandes cenários culturais brasileiros, não se compreende os motivos pelos quais uma região tão rica literariamente ainda não tinha feito um evento com o ímpeto de incentivar a literatura. Na terra de Jorge, demorou-se muito tempo para se compreender a necessidade de se realizar a FELITA. “Finalmente, com muita sensibilidade, com muito afinco e com a justiça de sempre, colocamos a segunda edição da FELITA, uma festa literária, feita por pessoas de Itabuna para as pessoas de Itabuna, a disposição do grande público, homenageando Jorge Amado, Adonias Filho e todos os escritores regionais que temos na cidade e na região”, ressaltou Roberto José.
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