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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘Efson Lima’

Gumercindo Rocha Dórea, o editor ilheense mais importante na história da ficção científica no Brasil

gumeEfson Lima

efsonNas academias de letras, após o ingresso da pessoa para a confraria, a imortalidade é uma palavra – chave. O fenômeno vai se confirmando com a morte de cada um dos participantes, pois, a morte não confere fim a obra dessas pessoas que se imortalizam pela força da escrita, das artes plásticas, música, dança e dos saberes científicos. A imagem do acadêmico se perpetua para além do nosso tempo. A imortalidade física, do corpo, foi objeto de desejo entre diversas civilizações. Ela impulsionou o surgimento da química, desenvolveu técnicas de preservação dos corpos. Se a imortalidade física não pode ser uma constante entre os humanos, a imortalidade simbólica continua a toda prova, ela se confirma com a literatura, a música, o cinema, a arquitetura, a ciência entre tantas outras áreas da produção humana.

Tenho pesquisado sobre a Academia de Letras de Ilhéus (ALI) desde 2016. Alguns membros da ALI se notabilizaram no cenário nacional e internacional, outros de feição menos popular, entretanto, com enorme contribuição, mesmo que não recebam o devido tratamento em suas terras. Os motivos são diversos: alguns destes por estarem afastados da sua pátria regional, outros por não estarem sob nossos olhares. Afinal, reza a lenda que santo de casa não faz milagre.

Entre esses que fogem a nossa cabeça, podemos registrar Gumercindo Dorea, falecido em dia 21 de fevereiro de 2021. Ele era um dos membros mais velhos da Academia de Letras de Ilhéus, tinha 96 anos; ocupava a cadeira de n.º 40. Aparentemente desconhecido em sua terra, foi editor de celebridades nacionais. Talvez, sua postura de viés conservador, como apontou Sérgio Mattos, tenha colocado – o em um patamar de menor prestígio (não somos democráticos): “é um dos mais importantes editores nacionais, apesar de ser relegado e contestado devido às suas ligações com o integralismo”.

O editor Gumercindo Rocha Dorea contribuiu para o lançamento dos primeiros livros de autores consagrados na atualidade a exemplo de Rubem Fonseca, Nélida Piñon, Fausto Cunha, Gerardo Melo Mourão, Astrid Cabral e Marcos Santarrita. Ele foi fundador da GDR, uma editora pioneira na edição de livros de ficção científica no país.

No sul da Bahia, pouco repercutiu sobre a morte de Gumercindo Dorea, mas observei registro na  revista “Isto É”, “Horo do Povo” Publishnews, “Folha de São Paulo”,  Estadão, nos jornais de Minas Gerais e da Paraíba, portal Uol entre outros tantos canais de notícias. A ex – presidente da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon, em sua rede social, lembrou do seu editor: “Devo tanto a ele. Apostou em mim sem hesitação, com honradez, elegância moral”.

O escritor Sérgio Mattos exemplifica a importância de Gumercindo Dorea para vários escritores baianos ao lembrar das publicações empreendidas pelo editor, independentemente, de ideologias: Vasconcelos Maia, Castro Alves, Oleone Coelho Fontes, Ildásio Tavares, Ivan Dórea Soares, Sérgio Mattos, Jorge Medauar, Wilson Lins, Maria da Conceição Paranhos, José Haroldo Castro Vieira, Adonias Filho, Fernando Hupsel de Oliveira, Telmo Padilha, Cyro de Matos, Rubem Nogueira, Raymundo Schaun, Euclides Neto, Fernando Sales e Claudio Veiga. Sem dúvida, foram publicados com ele muitos notáveis baianos.

Coube à professora Maria Luiza Heine fazer o discurso da Sessão da Saudade da Academia de Letras de Ilhéus, ele foi seu primeiro editor. Por coincidência da vida, o presente articulista do Diário de Ilhéus vai suceder o editor Gumercindo Dorea, na cadeia n.º 40, na Academia de Letras de Ilhéus, a partir do dia 22 de abril do corrente ano.

As pessoas não morrem, elas permanecem vivas, no mínimo, nas memórias dos familiares e amigos. Outras além de permanecerem vivas no seio familiar, entram para a eternidade pelos feitos que fizeram em favor da coletividade. As letras, a ciência, as artes…agradecem. Gumercindo Dórea foi um dos gigantes da pátria ilheense e o editor mais importante na história da ficção científica no Brasil, conforme aponta a Science Fiction Encyclopedia.

Efson Lima – doutor, mestre e bacharel em direito/UFBA. Escritor. Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL) e eleito para Academia de Letras de Ilhéus. Professor universitário e  advogado.

As mulheres nas Academias de Letras: uma presença iniciada na Brasileira, da Bahia e de Ilhéus

Efson Lima

 

efsonPoucos sabem, mas a Academia Brasileira de Letras teve a participação de uma mulher na sua concepção, contribuindo para o nascimento do sodalício. Trata-se de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), ela foi indicada por Lúcio de Mendonça, um dos idealizadores da Academia Brasileira de Letras, para compor o quadro de fundadores. Entretanto, a sugestão não se confirmou. Era mulher e como mulher, entendia-se que não podia fazer parte do clube literário, então, decidiu-se pela participação do esposo.

 

A invisibilidade feminina parecia ser regra. Mas, em 06 de agosto de 1977, pela primeira vez, uma mulher foi eleita para pertencer ao quadro da Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz, projetando-a ainda mais no cenário nacional e possibilitando seus textos alcançarem um maior número de leitores.  Outras mulheres foram eleitas para o panteão da imortalidade literária brasileira: Dinah de Silveira de Queiroz; Nélida Piñon, que se tornou a primeira mulher a presidir a ABL, coincidentemente, no período do centenário; Lygia Fagundes Telles; Zélia Gattai; Ana Maria Machado; Cleonice Berardinelli; e a última a ser eleita para fazer parte do silogeu foi Rosiska Darcy de Oliveira em 2012. Portanto, até então, tivemos somente oito mulheres na ABL.

 

janeNa Bahia, a presença feminina foi registrada vinte um ano depois de fundada a Academia de Letras da Bahia, em 1938, com Edith Mendes da Gama Abreu. Muito tempo depois, marcando novo momento, a imortal Evelina Hoisel tomava posse, em 09 de abril de 2015, como primeira mulher presidente da Academia de Letras da Bahia, coincidentemente, como na Brasileira, na gestão de Hoisel foi comemorado o centenário da Casa de Arlindo Fragoso.  Em 2015, a Academia registrava oito mulheres. A presidência de Evelina chegou ao fim em março de 2019, quando a presidência do clube literário foi passada ao imortal Joaci Góes.

 

No interior da Bahia, precisamente, na Academia de Letras de Ilhéus, a presença feminina foi registrada pela primeira vez em 1984, naquele ano, Janete Badaró  (foto) foi eleita para a cadeira n.º 6. “Elas estão chegando”, Francolino Neto, um dos membros ativos da vida da Academia, assim prenunciava.  Foi essa advogada que mudou o curso da história do sodalício, tornando-se a primeira mulher a ingressar na ALI, demarcando novo momento no panorama literário da nação grapiúna. Em outro momento, tive a oportunidade de afirmar que Janete Badaró foi a nossa Rachel de Queiroz nas terras grapiúnas. Dois livros de sua autoria denotam a caminhada literária da mulher que ousou a ingressar em um espaço ocupado por homens.   É importante registrar a ativa atuação dela na fundação da “Ilhéus Revista” e os trabalhos desenvolvidos nesse periódico, consolidando assim a atuação literária da primeira imortal mulher na ALI.

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O adeus ao eterno mestre e professor Arléo Barbosa, sem pleonasmo

arleo (2)Efson Lima

 

efsonO professor Arléo Barbosa merece inúmeros adjetivos para qualificar suas ótimas características. Para além da amizade que desenvolveu com inúmeros intelectuais sul-baianos; ele foi um profissional exemplar nas relações de trabalho e formou uma geração de jovens grapiúnas, como eu. O professor Arléo Barbosa não lecionava, ele narrava a História como se estivesse vendo os fatos e com isso transportava-nos para a cena. Provocava-nos paixão pela disciplina e não importava quais fatos seriam estudados, ele conduzia-nos com tamanha maestria, cativando-nos, sem prejuízo da reflexão crítica. O quadro de giz estava sempre pronto, mas não para receber a sistematização conteudista, e, sim, as sínteses em forma de linha do tempo que passavam a fazer parte para sempre de nossas memórias.
Infelizmente, os humanos morrem e com a passagem para o além das linhas físicas, impõe-se uma enorme dor e uma saudade que misturada com sofrimento no primeiro momento vai sendo amenizada nos dias vindouros e vai deixando os melhores registros. Comentários maravilhosos não faltarão sobre o professor Arléo Barbosa. Certamente, inúmeros, centenas, milhares estão a aparecer. Lembro-me do dia 11 de setembro de 2001, quando ele me recebeu no Colégio Fênix para conceder uma entrevista sobre a História de Ilhéus; recordo – me também dele ter me recebido em janeiro de 2020 para conceder entrevista sobre a Academia de Letras de Ilhéus e a atuação dele na Academia. Professor Arléo não limitava tempo; não fazia cara feia e não faltava conteúdo para abordar em suas entrevistas, exposições e aulas.

 

arleo (1)Tive o prazer de participar do lançamento de uma das edições do livro “ Notícia História de Ilhéus”, sem sombra de dúvida, o primeiro lançamento em que fui na vida, estive acompanhando a então vereadora Marlúcia Paixão e Élvio Magalhães, assessor da edil naquele tempo. Quem não se lembra das revisões do professor Arléo Barbosa, no programa “Bahia Meio Dia”, da TV Santa Cruz sobre possíveis assuntos a serem cobrados no vestibular da UESC? Professor Arléo lecionou em dois momentos tendo eu na turma: um intensivo para o vestibular da Uesc e durante todo o ano de 2005, no Pré- vestibular Fênix.
O professor Arléo Barbosa vai deixar um império, não do ponto de vista físico ou financeiro, mas toda uma geração que lhe conheceu e lhe renderá tributo pelo compromisso em que sempre teve com a educação e com as pessoas. O professor Arléo foi o maior historiador da Nação Grapiúna. Nas entrevistas, humildemente, ele referendava uma estudiosa americana que havia pesquisado sobre Ilhéus. Professor Arléo juntamente com a professora Horizontina Conceição iniciou uma sistematização sobre a História de Ilhéus.

Na sequência, visando as comemorações dos 100 anos de elevação de Ilhéus à categoria de cidade, conseguiu arregimentar o livro “Notícia Histórica de Ilhéus”, que alcançou a 5ª edição. Na última conversa que tive com ele, o professor pensava em reeditar a obra. O livro se tornou uma referência para todos e continuará sendo. As obras dele ficarão eternizadas e continuarão a compor as referências de diversos cursos e obras. Mas elas precisam ser incorporadas na vida das escolas e em definitivo na vida acadêmica das universidades da Bahia. Não se pode falar de Bahia sem abordar a Capitânia de São Jorge de Ilhéus e sem tocar na Nação Grapiúna, e não significa ser bairrista, regionalista. Os fatos evidenciam a necessidade do conteúdo a ser tratado para compreender o chão baiano e a brasilidade que nos movem. Qualquer aspecto fora dessa linhas é tentativa de impor o cerceamento e contar os fatos pela metade.

 

A região merece fazer inúmeras homenagens ao professor Arléo Barbosa. Lamento profundamente ele não ter recebido o título de doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz, quiçá um póstumo? Mas, não choremos o leite derramado, avancemos: a Universidade pode criar em parceria com a Academia de Letras de Ilhéus concurso monográfico/ ensaísta para saudar esse grande mestre. Deixemos as nossas vaidades de lado para reconhecer o mérito daquele que foi gigante no seu tempo e continuará a ser.

 

Não se trata de favor, mas de obrigação e estímulo à promoção da Historiografia. Outras homenagens merecem ser articuladas, que tal Câmara de vereadores, a Prefeitura de Ilhéus entrarem em ação? O professor Arléo foi um defensor da memória regional e, portanto, agora, compete-nos fomentar a preservação da dele, consequentemente, preservaremos a da Nação Grapiúna.
As contribuições do professor Arléo são percebidas na nota da Editus, Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, que lamenta a morte do escritor e ressalta que ele “durante anos, se dedicou a pesquisar e ensinar a história regional. Atuou como parecerista da Editus por diversas vezes, sempre dedicado e prestativo. Era também integrante da Academia de Letras Ilhéus e nunca poupou esforços para compartilhar conhecimentos e saberes.”

O professor e jornalista Alderacy Júnior, um estudioso da literatura regional, exibiu nas redes sociais a primeira edição do livro “ Nhoesembé “, exemplar constante na Sala de Leitura Ruy Póvoas, na Casa Ouro Preto, em Ilhéus e para saudar a memória do professor Arléo Barbosa, ele perfilou “ Vou recordar do Arléo como um grande cidadão, uma pessoa que amava história e soube ser o historiador.” Ele ressalta ainda que ministrava cursos de Redação na Academia de Letras de Ilhéus, quando o professor Arléo Barbosa era o então presidente do sodalício.

O canal “Tupy no mundo”, no Instagram, gerenciado por Sophia Sá Barretto, fez uma homenagem ao professor Arléo Barbosa, cujo historiador esteve em uma live promovida pelo perfil e mediada pela professora Maria Luiza Heine. Na rede, elas entabularam as homenagens recebidas pelo eterno mestre em vida: “Cidadão Ilheense e detentor da Comenda de São Jorge dos Ilhéus por serviços prestados à cidade. Mestre em Educação na linha de História e Cultura. Membro da Academia de Letras de Ilhéus. Professor da UESC por muitos anos até sua aposentadoria[…]Um exímio Especialista em História Regional, História Contemporânea e em Educação Brasileira e foi Diretor Pedagógico do Colégio Fênix de Ilhéus”, concluiu o perfil no Instagram.
As homenagens ao professor Arléo Barbosa sucedem nas redes sociais, diversas pessoas e autoridades postam sobre o falecimento do professor Arléo Barbosa, mas, especialmente, evidenciam a contribuição dele para a formação de cada um e as relações interpessoais sólidas estabelecidas, bem como o vasto subsídio do educador para a educação e a promoção da História Regional.

Alcides Kruschewsky, em caixa alta no Facebook, exclamou “ARLÉO BARBOSA, IMORTAL!” e avançou para considerar que “Faleceu a maior referência viva da educação de Ilhéus, da cultura, do saber…Este era talvez uma das últimas excelentes referências incontestáveis na área educacional da nossa cidade, na nossa cultura. Um patrimônio invejável, um acervo inestimável, um talento inimitável, com uma ternura indispensável.” O ex-vereador em Ilhéus e colega de trabalho em uma repartição bancária não poupa adjetivos para qualificar a vivência afetiva de ambos. Sem dúvida, o professor Arléo Barbosa foi isso para quem o conheceu. Sem embargo, Nelson Simões, ex-candidato a prefeito em Ilhéus, na postagem do ex-vereador, diz o seguinte: “Será que existe um único cidadão ou cidadã em Ilhéus que tenha tido o desprazer de ter sido ofendido pelo professor Arléo? Não há! Meu professor de História em 73 e 74 no CEAMEV. Contava a História. Desde os primórdios a vivenciou. Um brilhante intelectual. Ilhéus mais pobre. Arléo Barbosa saí da vida e entra na História”, concluiu de forma brilhante a postagem.

 

O professor Ramayana Vargens, em áudio aos seus confrades da Academia de Letras de Ilhéus, disse que o professor Arléo Barbosa foi um ser “corajoso e empreendedor na educação. Excelente diretor de escola. Pessoa querida por todos que o conheciam. Um grande humanista”. Ainda Ressalta o papel desempenhado pelo professor na sistematização do livro sobre a história de Ilhéus, que reverberou para difusão da cidade no Brasil e no exterior.
Infelizmente, temos que oferecer adeus ao eterno mestre e professor Arléo Barbosa, mas é sem pleonasmo. Foi professor e mestre de diversas gerações.

Estava sempre com o conteúdo pronto e atualizado na mente, a didática nos dedos e no exercício performático da docência. Para além do império educacional que construiu, pois, sua obra segue em cada um de nós, ele buscou ter uma família generosa. Aproveitemos para agradecer a professora Cláudia Arléo por tão bem cuidar do homem público que foi o professor Arléo, igualmente, as generosidades dos filhos ( Roberto, Ronaldo, Renato, Rosana e Thiciano) e daqueles que compuseram o conceito ampliado de família.

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Efson Lima – doutor, mestre e bacharel em direito/UFBA. Advogado. Membro da Academia Grapiúna de Letras e membro-eleito para Academia de Letras de

100 anos depois ainda estamos em uma Semana de Arte Moderna

arte mEfson Lima

 

efson limaApós 100 anos da Semana de Arte Moderna o que temos é um Brasil que procura sua identidade. As inquietações permanecem e o país está “pluridiversificado”, tem-se uma plêiade de vontades e pouco foi feito até aqui. Uma coisa é certa: de lá para cá jamais fomos os mesmos. As coisas não ficaram no lugar. Deixamos de ser um país rural e adentramos na urbanização.

 

 

As cidades foram amontoando gente. Para abastecer toda essa gente, a agricultura foi maximizada e continuou a encher os bolsos de alguns. Nas cidades, os postos do setor de serviços são ocupados por aqueles que, supostamente, são os mais habilitados. A indústria se tornou pujante, cada vez mais tecnológica e empregando menos pessoas. Os nossos cabelos nos centros urbanos são depósitos para as fuligens, que se dispersam nas nossas carapinhas e se impregnam em nossa pele. Os rios se tornaram nossos esgotos, pois, conferem maior fluidez para as nossas sujeiras.
 

 

O Brasil de ontem é o mesmo de hoje quando o assunto são as castas e quem pode mais na república federativa. O QI ( Quem Indica) continua a desafiar os princípios republicanos e condena a nação no trópico. Cem anos depois uma elite continua a fazer a festa. Todos podem fazer arte, mas nem todos são valorizados. Apenas os bem “indicados” alcançam um patamar de visibilidade, esses são apresentados na TV e aparecem nos jornais impressos. As revistas fazem o arremate final com bastante tinta e brilho. Os quadros, leiam-se as telas, agora são usados para disfarçarem as propinas.

 

 
O Brasil continua sendo o país dos corpos. As pessoas malham e se exibem nas ruas e avenidas, que são vitrines. Sem falar nas redes sociais que potencializam e são senhas para as curtidas. Não vou me fazer de santo: eu adoro! Não sou pudico.

 

 
As músicas incentivam os tapas nas mulheres e as ofendem. Colocam-nas no porão da história. As bichas publicamente são esquartejadas. Os corpos negros caem nas ruas das cidades. Somos todos fiscalizados e monitorados no maior controle da História. Apologias a crimes contra a humanidade, constantemente, são defendidas por alguns em nome da liberdade de ofender minorias e tragédias humanas.
Sentimos saudade dos rebeldes com causa de 1922. Eles descortinaram nossa realidade e impuseram uma caminhada menos romântica. Seria trágico se pegássemos aquele caminho da pura idealização. O Brasil de hoje é plural e continuará a ser. Tem enormes desafios, cuja minha geração “já” fracassou. Precisamos recorrer à próxima geração para amenizar as angústias.

 

 
No contexto atual, as mulheres se rebelam, porém as regras estão bem delimitadas. Mas haverá de ser superadas. Os negros buscam quebrar as correntes, entretanto, há quem acha beleza em artesanato, com réplicas de pessoas escravizadas, para comercialização em aeroporto. Cem anos depois, ainda estamos em uma plena Semana de Arte Moderna, que precisa ressignificar nossa caminhada, quebrar o parnasianismo da elite e desmascarar uma gente que se finge de inocente.

 

 

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Efson Lima  é Doutor e mestre em Direito/UFBA. Professor universitário. Aprendiz de escritor. Advogado. Membro da Academia Grapiúna de Letras.

A partida de uma mãe: a griô e a superação das adversidades sob a ótica da engenharia social

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Efson Lima

 

Nos últimos anos, eu escrevi sobre as partidas de alguns intelectuais sulbaianos. Falei sobre a covid -19 e seus desafios, cuja doença impôs milhares de mortes no Brasil, comentei sobre o direito à saúde, busquei tecer sobre a saudade das pessoas comuns e dos imortais… abordei também os desafios para 2022, como encartei naquele texto de 31 de dezembro de 2021, naquela que seria a última sexta-feira de Maria Geni. Eu não imaginava que, nos primeiros dias deste ano, teria que escrever sobre a partida de minha mãe para o plano transcendental. De imediato, peço licença para falar sobre ela, leitor. Mas, os senhores observarão que ela está para além de nossa família. Ela foi mãe de nove filhos biológicos, teve inúmeros netos, bisnetos…. e foi mãe de tantos outros que se aproximaram.

 

 

Recentemente escrevi um poema em que busco conceituar o termo mãe. Para muitos, mãe é genitora, para outros é mulher criadora. No primeiro, encontramos o traço biológico, o DNA; no segundo a sociafetividade das relações que são tecidas seja para os que são da prole e seja também para os que são acolhidos e agasalhados pelo laço da ternura. “Coração de mãe sempre cabe mais um”, as mães sempre assim abordaram a ampliação da família. Estas correlações vão demarcando os caminhos de cada um e de cada uma.

 

 

efsoon (2)Hoje, estou na altura dos meus 37 anos. Tive a oportunidade de conviver com “mamys” durante 23 anos sob o mesmo teto, o destino nos separou fisicamente em 2007, precisei caminhar pelo mundo das oportunidades boas e ruins… fui estudar em Salvador. Na caminhada da vida, como sabido, nem sempre encontramos flores e rosas. Os espinhos surgem num lindo roseiral… ou pode ser colocado na esquina seguinte.

 

Mesmo diante da distância física, o sentimento era o mesmo quando nos encontrávamos, as ligações telefônicas acalentavam a saudade…. as perguntas delas sobre mim não exerciam controle moral, mas a preocupação da mãe em face do menino que havia se tornado doutor, em cuja manhã da defesa da tese, ela passou o turno todo orando. Passar o fim de ano era esperado, assim como o período da Semana Santa. Evangélica, ela precisou ser tolerante com as diferentes percepções sobre a fé de cada um. No Natal, eu decorava a área externa da casa, mas não me sobrava tempo para retirar o pisca-pisca, as bolas coloridas, o papai noel colocados sobre algumas dúzias de caqueiros de plantas… eu voltava para Salvador e ela retirava cada um daqueles objetos e embalava-os para o próximo ano.

 

Nesse último Natal, 2021, por coincidência, eu não coloquei a decoração do Natal. Chovia muito na região. Ela também não teria tempo para retirar os adereços decorativos. O destino não iria colaborar. Tive a sorte da aeronave aterrissar no aeroporto. O taxista disse: “ o tempo abriu para você”. Em casa, mão confidenciou-me: “eu estava orando para você desembarcar e não precisar voltar”. Nessa caminhada, só um Natal não passei em casa, o de 2013 para 2014. Eu lutava para não viajar no período. Natal tinha que ser em família sob o olhar atento daquela mulher.

 

Mulher no sentido pleno. Mãe no sentindo de guerreira. Educar 9 filhos para determinadas famílias é fichinha. Para uma mulher que não alcançou a quarta série do ensino fundamental foi um mega desafio. As condições financeiras não existiam. Levar-nos de Entroncamento de Itapé para Ilhéus foi contar com a sorte. Era mulher de fé. Foi católica fervorosa e nos fins dos anos oitenta se tornou evangélica. Ela sempre estava a aprender. Quando surgiu um programa de alfabetização no bairro, ela se matriculou.

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Nossa mãe foi uma griô. Uma contadora de causos, estórias e histórias. Tinha uma memória invejável. Narrava os fatos com os detalhes a justificar sentido para ela e para o ouvinte. Acompanhei minha mãe em inúmeras rodas de conversa. Competia-me apenas ouvir na infância; na adolescência, complementava as informações. Na vida adulta, tornei-me parceiro: ela contava, eu ouvia os fatos e os reproduzia nos textos, nos poemas, na minha vida cotidiana.

 

Não aprendi solidariedade e respeito na caminhada, mas em casa, dividindo o único ovo com os irmãos; compartilhando o sal com a vizinha… o sentido de comunidade a mim é pleno e o respeito às pessoas e à vida tem cada vez mais sentido. Não foram a UFBA, a UESC, a FIOCRUZ, a graduação, o mestrado e o doutorado, foram à labuta diária e o respeito às pessoas que precisávamos ter sempre. Essas instituições lapidaram conhecimento, ofereceram -me o técnico e a reflexão crítica.

 
Dignidade da pessoa humana é chavão na Academia. Difícil é no lugar árido da educação formal, onde muitas das vezes restam os revólveres para conferir sentido e dimensão à vida. Pegar ou largar sãos apenas os verbos oportunizadores de quem mora nessas áreas. O tráfico de drogas foi meu vizinho. As cenas que as televisões mostram, eu as via sem filtro. Pertinho, na minha frente, no meu lado. Na última vez, que subi na laje de casa, olhei para a imensidão do mar, mas vi também a imensidão de casas espalhadas pelos morros. Refleti: eu fui criado por uma engenheira social.

 
Mãe sempre creditou no milagre para superar as adversidades. Eu materialista convicto, percebo que ela se pautou na força da superação e no aprendizado direto das observações. Foi pragmática. Protestou quando teve sua barraca na Feira do Malhado desmantelada. Pescava uma vez por semana nos rios em Itapé; plantava pequenas roças nas propriedades alheias para alimentar-nos; contava-nos inúmeras estórias envolvendo cobras, das quais precisou se desvencilhar quando da colheita de tucum e uruba na estrada de Barro Preto. Fazia vassouras e peneiras para vender. Fez redes e jererés. Improvisou uma pequena granja no fundo de casa em Entroncamento. Correu da onça.

 

 

Foi mãe e criança. Brincou com os netos e viu os bisnetos chegarem. Contava cada um e uma. Era a forma de fazer a chamada. Seus cabelos brancos evidenciavam os desafios enfrentados e as batalhas vencidas. Percebendo os desafios vindouros, traçada que era ( forma pela qual foi chamada pelo genro e pela bisneta), partiu para o plano superior.

Não fugiu da luta, foi buscar proteção maior para todos nós, inclusive, para você, leitor. Ela sempre foi solidária. Só nos últimos dias, eu passei a compreender melhor os cadernos, os lápis e as canetas que comprava e dava aos rapazes que trabalhavam na feira com ela. Mãe sempre acreditou na força da educação para transformar as pessoas. Obrigado, mãe!

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Efson Lima – Doutor, mestre e bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Aprovado em primeiro lugar no exame da OAB na Bahia, que lhe conferiu a carteira de advogado. Escritor. Membro da Academia Grapiúna de Letras. Membro – eleito para Academia de Letras de Ilhéus. Articulista do jornal A Tarde. Professor universitário. Coordenador de Assistência Técnica e Inclusão Sócioprodutiva no Estado da Bahia. FILHO de MARIA GENI LIMA PEREIRA.

Chegamos ao fim de 2021. O que você fez? Renascem as nossas esperanças outra vez.

Efson Lima

efson limaO ano de 2021 começou impondo alguns desafios. A vacinação para COVID-19 no Brasil era um sonho. A aliviada na pandemia de COVID -19 surpreendeu todos na sequência, as imagens que eram transmitidas de Manaus causavam náuseas nos brasileiros que possuem algum sentimento de respeito pelo ser humano. A falta de oxigênio que é abundante na natureza não conseguia ser processado pelo organismo. Para outros restavam a indiferença. A caminhada só estava começando. As vacinas começaram a ser aprovados no país, iniciavam as fraudes provocadas por alguns que furavam a fila, falsificavam vacinas… na caminhada, os brasileiros precisaram superar as discórdias oficiais e os mitos da vacina que poderiam transformar humanos em jacaré ao serem tomadas. O Brasil passou a ter o seu primeiro genocida denunciado no Tribunal Penal Internacional.

A flexibilização com um ar de liberdade começou lentamente atingir as cidades. As pessoas começaram a circular em maior número nas praças, nas ruas, nas lojas, bares, praias… o novo normal se apresentou para nós. As máscaras permanecem. O ano se apresentou com desafios diários. Mas tivemos que caminhar.

Nas letras, registramos as escolhas de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil para Academia Brasileira de Letras; Maria Bethânia foi eleita para Academia de Letras da Bahia. Na Academia de Letras de Itabuna, perdemos Sônia Maron. As artes em Itabuna ficaram sem o sorriso em forma de rosa. Em Ilhéus, Gumercindo Dórea partiu para o plano superior. A literatura científica perdeu seu forte defensor. O Festival Literário Sul – Bahia se manteve virtualmente. Ele trouxe a força da diversidade e da mulher. Alcançou outros lugares. Misturou jovens e idosos. No plano nacional, a música perdeu o protesto de Marília Mendonça. O país chorou a morte de quem promovia empoderamento feminino por meio da música. Ela foi e continuará sendo resistência. Não adianta pedir para o ano passar “de pressa”. Ele segue o relógio do sobrenatural. E o ano ainda não havia acabado. Reservava mais dores, talvez, aprendizados. Afinal, aprendemos todos os dias.

Para nós do sul da Bahia, as enchentes que varreram as cidades de Itabuna, Ilhéus, Itajuípe, Itapé e tantas outras fez nos lembrar da Cheia de 1967. Para alguns, a de 1967 foi a maior. Para mim, a de 2021 trouxe impactos imensuráveis para nossa região. Vamos levar anos para se recuperar. Itabuna viu seu comércio forte derreter em poucas horas. Itapé registou mais de 5 mil pessoas desabrigadas e desalojadas. A Bahia quase toda foi impactada. Tornou-se a nossa maior tragédia natural. A indiferença do atual gestor do Governo Central se confirma como uma prática oficial. Ainda nem falamos do impacto na agricultura.

A sociedade civil respondeu à indiferença. Chegam toneladas de alimentos, água e medicamentos são solicitados. O Governo do Estado da Bahia tem articulado ações para enfrentar o desastre natural. As mortes infelizmente são registradas. E o número de pessoas que teve suas casas e móveis perdidos não para de subir. O Sul da Bahia não mais esquecerá do Natal de 2021.

O ano de 2021 ficará marcado na memória de cada brasileiro. As incertezas econômicas, a forma de como determinadas pessoas conduzem a coisa pública causa constrangimento em quem votou e em quem não votou em determinados agentes públicos. A inflação não para de subir. Ficamos mais pobres em 2021. Milhões de brasileiros foram impactados. As filas de osso e as pessoas comendo restos lançados ao lixo ganharam as páginas dos jornais, as redes sociais e os noticiários televisivos. Não que nunca tivemos pessoas em situação de vulnerabilidade, mas que agora alcançou um número sem precedente. O Brasil voltou para o mapa da fome.

Enfim, chegamos ao fim de 2021. É o que você fez? Reflita você mesmo. A certeza é que vão renascer as nossas esperanças outra vez. Que bom. A esperança não pode desaparecer de dentro de nós e em hipótese alguma podemos desestimular que os outros percam essa chama poderosa de colocar todos em ação. Portanto, esperamos renascer em 2022 com coisas boas, muita paz e prosperidade. Que a solidariedade continue sendo a nossa marca. Que a arte não solte nossas mãos. A arte é o alicerce da vida humana. É fuga para as nossas dores e reflexão para os nossos pesadelos diários, mas de forma leve.

Efson Lima – doutor e mestre em direito/UFBA. Membro da Academia Grapiúna de Letras. Professor universitário. Advogado e escritor. efsonlima@gmail.com

 

Representantes da economia solidária participam da Semana Jurídica da UESC

el e tfDialogando sobre a interação entre direito administrativo e direito do terceiro setor, representantes da economia solidária participam, nesta terça-feira (23), às 10h, da XXI Semana Jurídica da UESC. Gratuito e virtual, o evento é aberto às comunidades acadêmica e externa.

O diálogo terá condução do professor doutor Efson Lima, advogado e coordenador na Coordenação de Assistência Técnica e Inclusão Socioprodutiva (CATIS) na Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) do estado da Bahia e integrante do Conselho Estadual de Fomento e Colaboração (Confoco).

O coordenador no Centro Público de Economia Solidária (Cesol) Litoral Sul, Thiago Fernandes, também participa do evento. O convidado é mestrando em Ciências do Desporto (Universidade da Beira Interior/Portugal) e coordenador de Cacau e Chocolate no Slow Food Brasil.

Para ele, a iniciativa de apresentar a experiência da economia solidária do território é de suma importância. “Sem dúvida alguma será uma atividade proveitosa até porque é uma oportunidade de dialogarmos com a comunidade acadêmica e esta, por sua vez, também interagir com a sociedade civil conhecendo o trabalho do terceiro setor no Litoral Sul num aprendizado mútuo”, conclui Fernandes.

Festa na comunidade: a força da superação

Efson Lima 

efson limaNão vim do gueto, faço de imediato a advertência. Mas vim do planeta fome, do pau de arara e cheguei a Salvador com uma caixa de papelão. Essa minha história muitos já sabem, mas quero contar mesmo é a história de Tais Alves. A mulher que possui a força de Iansã , a beleza da vida e a energia criadora da superação. Não é todo dia que uma jovem da comunidade realiza sonhos; não é comum também que a sociedade abra alas para que jovens de bairros periféricos alcancem lugares estratégicos. Fomos forjados na força da disputa e da concorrência, mas também da solidariedade entre os pares.

 

 

 
A sociedade brasileira não está organizada em castas, mas sua estruturação pauta as gerações atuais e as seguintes. Sei que muitos jovens quebram as camisas de força e concretizam sonhos, pavimentam caminhos e abrem alas para outros passarem. Tais Alves é a força da superação.

 

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No dia 17/10, Tais Alves colou grau em direito pela Faculdade 2 de Julho. Ela é formada em Administração pela UCSal. Mora em uma rua sem saída no Garcia… A sua afirmação enquanto mulher negra, mãe e quem conhece de perto os desafios da vida não tomba nos embates da vida, mas articula os desafios para ser empoderamento permanente; ela não deseja ser exceção, deseja mesmo é que tantos outros possam concretizar sonhos. Negros, negras, pobres e tantos outros grupos precisam ingressar nas instituições universitárias e ter condições de se manterem. É uma questão de justiça. Nós professores precisamos estar conscientes de nosso papel de educador -transformador. Não podemos ser transmissores da desigualdade e verticalizadores das relações humanas.

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Na solenidade de formatura, a turma fez justiça ao distinguir o Professor Aquiles Mascarenhas como paraninfo. Para além da honraria, ele cercou seu discurso de cuidados, chamou a atenção de todos para a democracia, o amor, a tolerância e os desafios da caminhada e a força da coletividade. Certa altura, o professor foi evidenciando a qualidade dos formandos daquela noite, todos e todas possuem méritos, mas ressalto aqui a menção a bacharela em direito Tais Alves, feita pelo docente: “Tais, você não tem empoderamento, você é o poder! Você não é expressão de representatividade, você é a figura da representante! Você não é bela, você é a beleza! Sua linha não faz curva, é reta que vai até o infinito, de tão direta que és. Você não é de tretagem, você é a treta, a própria treta! Você não é diferenciada, você é a diferença! Diferente de tudo que já vi na vida! Você é de verdade! Você não tem força, você é a força!” Estava dito. As palavras ganhavam sentido, eram entrelaçadas em forma de poema e com a força da poiesis se tornar poesia.

 

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Por um país de leitores de mundo

Efson Lima

efson limaO acesso aos direitos no Brasil sempre foi uma constante nas diferentes discussões e ganha particularidade quando recortamos os temas. Por exemplo, seja na educação, saúde, cultura e de acordo com a classe social tais direitos são experimentados com maior ou menor qualidade.

 

No Brasil pertencer a determinado grupo significa ter mais ou menos acesso mesmo que esse serviço seja público e estejamos sob os mantos dos postulados da república e da igualdade. Se o desenvolvimento histórico estabeleceu roteiros, cenários e papeis bem delimitados para os atores, cabe aos cidadãos de hoje repensarem os caminhos que desejam trilhar nos próximos anos para que tenhamos um país de leitores de mundo e não sejamos coadjuvantes de nosso tempo. Propugnar pelo acesso à leitura de todos interessa a mim, é uma obrigação de todos desta República e um dever permanente do Estado brasileiro. Não só acessar, mas oferecer as condições.
Fazer esse debate na semana do dia Nacional da Leitura, dia 12 de outubro, é oportuno, pois, em uma sociedade onde 6,8% das pessoas são analfabetas absolutas e 21,7% das pessoas são analfabetas funcionais, os processos eleitorais e o estado democrático de direito estão em risco. Estes números violam consideravelmente os postulados da república e não oportunizam que seu povo possa ser plenamente considerado cidadão. O acesso à leitura é um direito humano para o desenvolvimento nacional, pois, um país de leitores, certamente, será um país de leitores de mundo.
Ler o mundo e compreender o mundo são pressupostos para o exercício da cidadania. Ninguém consegue se sentir bem sem saber ler e escrever. Assegurar o acesso à leitura de todos e permitir ler no sentido pleno é um dever do Estado e da sociedade. É fundante quando as pessoas conseguem enxergar o mundo com seus olhos. Melhor ainda quando os cidadãos interpretam a sua realidade. O dia Nacional da Leitura foi previsto na Lei nº 11.899, de 8 de janeiro de 2009, assim como estabelece a celebração da Semana Nacional da Leitura e da Literatura no Brasil.
Os processos eleitorais só serão bem-sucedidos quando tivermos um país de leitores de mundo. Assim a democracia sofrerá menos riscos, governos autoritários não se manterão e o populismo, certamente, será contido pela força da opinião pública qualificada. Apresentar propostas para um país de analfabetos funcionais é colocá-las em um vazio e, portanto, as comparações entre propostas estarão lastreadas nos valores de uma sociedade que teve o seu desenvolvimento pautado na expressão da desigualdade. Precisamos superar esse modelo e ir alimentando as chamas democráticas. Democracia só rima com inclusão social.

 

 

Efson Lima – doutor e mestre em direito/UFBA. Professor universitário, advogado e escritor.
efsonlima@gmail.com

Quem são das “letras”? Maria Bethânia e Fernanda Montenegro. A polissemia das palavras.

Efson Lima

 

efson limaA inscrição de Fernanda Montenegro para compor o quadro da Academia Brasileira de Letras tem gerado um debate interessante na sociedade brasileira. A pergunta “quem é das letras” surge repentinamente. Não obstante, o tema adquiriu maior relevância em terras baianas com a escolha de Maria Bethânia, na segunda-feira última (11/10) para compor a Academia de Letras da Bahia, cuja instituição já ultrapassou o centenário.

 

 

 
Na semana passada, uma figura pública baiana em diálogo comigo, informava que havia recusado o convite para pertencer a uma determinada Academia de Letras na Bahia. A pessoa não se sentia à vontade, pois, mesmo com publicações em periódicos não se encaixava no conceito das artes e das letras. Refutei, pois, o currículo da pessoa o credencia para as mais diferentes funções. Além de inteligente, uma figura humana dedicada ao que faz e exemplar gestora.

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De fato, a polêmica surge se mantivermos preso ao conceito estrito “letras”, mas essa não é o que preconiza os objetivos e as finalidades dessas Casas literárias. O termo deve ser compreendido no sentido amplo. Turva-se também , pois, muitos veem o termo “arte” como sendo inerente apenas das atividades artísticas. Em uma sociedade em que se debate os conceitos de “criatividade” e “inovação” tardiamente justifica a confusão, mas não permite a nossa caminhada enquanto estratégia de desenvolvimento.

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Surgem também outras polêmicas necessárias no caso da eleição de Fernanda Montenegro para Academia Brasileira de Letras, pois, a consideram uma mulher branca e de classe média alta. Recuperam rapidamente a figura de Conceição Evaristo, uma mulher destacada na literatura, mas segundo alguns foi defenestrada no processo eleitoral por razões raciais entre outras querelas. Considero uma injustiça à autora, pois, esquecem de destacar o currículo do concorrente: Cacá Diegues. Não avançarei nessa polêmica, quase todas as críticas levantadas são válidas, mas não podemos analisar somente a fotografia do momento sem considerar a série histórica de fotografias e o processo histórico de quem é fotografado e de quem fotografa. De fato, o tecido social brasileiro ainda não está representado em diversos espaços.

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