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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘Crônicas de um Golpe na UFSB’

Crônicas de um golpe na UFSB

Naomar Almeida Filho

naomarNa Carta Aberta, afirmei que, reiterando um padrão pessoal de gestão pública, ao assumir a reitoria da UFSB, concentrei-me em aspectos conceituais, políticos e pedagógicos do projeto, delegando a dirigentes de minha confiança a dimensão administrativa, particularmente o gerenciamento do cotidiano e a gestão de pessoas.

A iniciativa de descentralizar a gestão administrativa foi sempre meu estilo de gestor público, desde a criação do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, no início dos anos 1990. Foi assim que cumpri dois mandatos de reitorado (2002-2006; 2006-2010) na UFBA, tendo Francisco Mesquita como Vice-Reitor. Em total confiança, na UFBA, o Vice-Reitor se responsabilizava pela gestão financeira, patrimonial e contábil da instituição, além do gerenciamento do cotidiano burocrático coordenando a equipe de gestores das pro-reitorias e assessorias.

Na UFBA, aprendi que o ofício de Reitor demanda uma agenda fluida e flexível, com certa dose de quase-ubiquidade, onde as janelas de oportunidades se abrem e fecham com rapidez, em cenários definidores que se apresentam borrosos em distintos lugares e tempos. Para exercer esse cargo com o mínimo de eficiência e criatividade, é absolutamente imprescindível a capacidade de delegar poderes e tarefas, desse modo dependendo, em todos os aspectos, do fator confiança. Somente dessa forma, poderia ficar mais dedicado à governança política e à liderança acadêmica, livre para realizar estudos preparatórios, prospecção de ideias, concepção de propostas, organização de eventos, elaboração sobre aspectos conceituais e pedagógicos do projeto institucional, soluções de gestão acadêmica, representação institucional, contatos externos, busca de apoios políticos, captação de financiamentos, diplomacia universitária etc.

Na UFSB, não foi diferente. Tão logo começamos a exercer algum grau de autonomia administrativa perante a instituição tutora (que era a UFBA), deleguei plenos poderes de gestão à Vice-Reitora Joana Angélica Guimarães. Vejam por exemplo, em anexo, a procuração registrada na Superintendência da Receita Federal no início de 2015, essencial para a gestão financeira da UFSB.

À medida em que recebia autorização de senhas e chaves (chamadas tokens) necessárias para acessar os sistemas de gestão da rede administrativa federal, descentralizava atribuições e competências para membros da equipe central de gestão. Como Pró-Reitor de Planejamento e Administração, Francisco Mesquita responsabilizava-se pela gestão financeira, patrimonial e contábil da instituição. Além de apoiar a dimensão administrativa da gestão e estar a postos para me substituir em impedimentos e eventualidades, a Vice-Reitora Joana Guimarães se responsabilizava pela gestão de pessoal, principalmente redistribuições, nomeações, contratações e movimentação de docentes e servidores técnico-administrativos. Os outros pró-reitores – Raimundo Macedo na PROTIC (Pró-Reitoria de Tecnologia de Informação e Comunicação), Rogério Quintela, Joel Felipe e Fabiana Costa na PROSIS (Pró-Reitoria de Sustentabilidade e Integração Social) e Tereza Barbosa, Ricardo Kalid, Jeane Almeida, Márcio Florentino e Daniel Puig na PROGEAC (Pró-Reitoria de Gestão Acadêmica) – igualmente gozavam de plena autonomia para montar suas próprias equipes, preencher cargos, gerir processos, produzir soluções e atender demandas em suas respectivas áreas de atuação. Num clima ideal de confiança, essa autonomia se relativizaria no compartilhamento da responsabilidade, sendo o Conselho de Gestão a instância competente para dar a necessária consistência e harmonia ao trabalho coletivo da equipe dirigente.

Antes de concluir esta primeira crônica, devo fazer um comentário que julgo pertinente. Confiança aqui não se refere somente ao registro subjetivo, no plano moral individual, como elemento de uma ética pessoal, de certo modo equivalente a honestidade e integridade. Para mim, trata-se mais de uma questão de ética social e política; ética social porque implica comprometer-se ativamente com a melhoria do vínculo social que nos une e viabiliza nosso bem-viver; ética política na medida em que faz da confiança um importante elemento de transformação social e institucional a partir de projetos coletivos, efetivamente compartilhados.

Na sociedade brasileira atual, marcada por relações sociais e humanas sobredeterminadas numa estrutura econômica e política de raiz escravocrata, definida por desigualdades e injustiças, infelizmente parece predominar uma cultura de violência e intolerância. Esse contexto social condiciona diretamente a organização do serviço público, submetido a mecanismos de controle institucional e jurídico fundados numa lógica perversa de suspeição e desconfiança. Na concepção de gestão que me orienta (e que eu acreditava que nos orientaria), confiança constitui fundamento de cultura institucional imprescindível a uma nova eficiência, necessária à instituição pública baseada em criação e inovação, sobretudo quando se trata de fomentar novos modelos de gestão para consolidar novos modelos de universidade, o que seria o nosso caso.

Mas, infelizmente, não foi isso o que ocorreu…

Crônicas de um golpe na UFSB (1)

Naomar Almeida Filho

 naomarNo fim do mês de setembro de 2017, pedi exoneração do cargo de Reitor pro-tempore da Universidade Federal do Sul da Bahia. Escrevi uma Carta Aberta à Comunidade, explicando os motivos para esse ato.

Denunciei que o fazia para superar um golpe político interno, resultante de boicotes, sabotagem, intrigas e manobras insidiosas, em suma: uma conspiração engendrada por membros da nossa própria equipe de gestão. Expus com clareza que o golpe se manifestava na forma de uma convocação ilegal e ilegítima de eleições para a Reitoria. Ilegal porque desrespeitava normas institucionais vigentes para escolha de dirigentes, ilegítimo porque estava sendo conduzido por uma parte interessada em assumir o poder, com cartas marcadas e acordos prévios.

O golpe não era contra mim, mas sim contra o Projeto da UFSB. Afastar-me da Reitoria dessa maneira não seria apenas um movimento de exclusão pessoal, mas implicava a remoção de um dirigente representativo de um dado modelo de universidade, comprometido com um ideário afirmativo de territorialidade, compromisso político e integração social.

A repercussão da Carta Aberta foi extraordinária. Minha página do Facebook registrou nessa semana quase 135 mil alcances e mais de 700 compartilhamentos. A caixa de mensagens no meu e-mail ficou lotada. Amigos e amigas, colegas, companheiros de militância, importantes lideranças do meio acadêmico e científico nacional e internacional, pessoas que admiro, outras pessoas que não conheço pessoalmente, me enviaram mensagens de apoio, solidariedade e encorajamento. Essa resposta geral representa para mim grande incentivo, mas também significa uma oportunidade para repensar posições coletivas, refletir sobre a união necessária para superar as ameaças e retrocessos desse contexto político adverso.

Neste conjunto de anotações, apresentadas no formato de crônicas, pretendo detalhar pontos daquela carta, a partir de registros, documentos e notas quase-etnográficas. Trata-se de movimentos preparatórios para um texto analítico desse processo que tenho a intenção de elaborar no futuro, com o devido e esperado distanciamento dos acontecimentos. Devo expor momentos cruciais, recorrendo ao testemunho de colaboradores e companheiros. Muitos desses momentos foram públicos, tendo sido gravados, registrados em atas e documentos oficiais, porém alguns fazem parte da memória coletiva e infelizmente não sofreram registro sistemático. Outros episódios terão ocorrido em situação de maior privacidade, com a presença dos sujeitos mais de perto envolvidos na questão. Em todos esses pontos, buscarei parcimônia no relato e tentarei ao máximo exercer uma atitude analítico-crítica, aberta ao contraditório dos implicados.

Espero que essas anotações sejam úteis para informar aos/às interessados/as, particularmente aqueles que chegaram mais recentemente na instituição, sobre acontecimentos fundantes da história da UFSB. Realmente, a maioria dos docentes e servidores técnico-administrativos não estavam entre nós nos anos iniciais; mais de dois terços dos nossos estudantes ingressaram na UFSB depois de 2015.

As crônicas do golpe não seguirão uma ordem cronológica, até porque indícios, nexos, motivações, objetivos e registros de processos complexos, muitas vezes paralelos, ambíguos e contraditórios não podem ser entendidos por meio de aproximação linear, indicadora de um simplismo analítico a ser evitado. Pelo contrário, tentarei elaborá-las tomando como referência processos críticos e momentos de ruptura, numa perspectiva mais argumentativa que narrativa. Evidentemente limitado pelo meu ponto de vista, espero poder esclarecer eventuais dúvidas, explicar contextos e motivos de algumas decisões, além de compartilhar análises e interpretações, visando à compreensão de fatos, eventos e processos.

Eis a lista de crônicas que me proponho a compartilhar com leitoras/es desta página (algumas alterações poderão ser feitas na ordem e conteúdo dessa lista):
1 – Confiança
2 – Compromisso
3 – Concepção
4 – Apoio
5 – Construção
6 – Bloqueio
7 – Crise
8 – Território
9 – Boicote
10 – Diálogo
11 – Sabotagem
12 – Corrupção
13 – Conspiração
14 – Cisão
15 – Recuperação
16 – Traição
17 – Golpe
18 – Luta
19 – Esperança

As crônicas que serão doravante postadas se configuram como atos de resistência, críticos, firmes e leais, às vezes doloridos e decepcionados, mas sempre esperançosos. Em diferentes momentos, incluirei comentários e reflexões pessoais sobre elementos pontuais desse traiçoeiro processo político, infelizmente demarcador de uma triste conjuntura. Além de buscar contribuir para uma história institucional, ao escrever essas notas manifesto um sentimento de responsabilidade, preocupado com o futuro de nosso projeto político-pedagógico na possibilidade, espero que remota, de que os rumos da instituição passem a ser ditados por dirigentes pouco comprometidos com uma perspectiva de referência social radical para a universidade brasileira.

 





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