:: ‘guerra’
Neojiba recebe jovens ucranianas em ação de ajuda humanitária e troca musical
Cerca de dez mil quilômetros separam a Ucrânia da Bahia, onde estão as musicistas ucranianas Maria Sorokina, 16 anos, Vladslava Danyliuk, 20, e Olesia Matei, 27. As jovens tiveram suas trajetórias de vida interrompidas pela guerra com a Rússia. Longe da família e dos amigos, a carreira, os sonhos, o futuro, antes cheio de expectativa, tudo hoje é incerto. Neste momento tão difícil, veio dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba) a ajuda humanitária necessária para que elas possam se reorganizar pessoal, emocional e profissionalmente.
As musicistas receberam vistos de acesso, recursos para moradia, transporte, refeição, hospedagem, e ajuda social e psicológica, recursos disponibilizados na ação de ajuda humanitária . A expectativa é abrigar 10 artistas em Salvador por pelo menos seis meses. As inscrições permanecem abertas pelo e-mail neojiba.help.ukraine@gmail.com, com o pedido de envio de currículo, endereço, links de registros de apresentações musicais e informações sobre o aeroporto mais próximo.
Trajetórias interrompidas
Baiana integra grupo de voluntários que levam mantimentos e medicamentos para a Ucrânia e transportam mulheres e crianças para a Itália
A bordo de um pequena van da Associação de Voluntariado Chiara para as Crianças do Mundo, uma baiana, Adalgisa Silveira, e dois italianos, embarcaram em Roma para uma viagem até a fronteira da Polônia com a Ucrânia, invadida e bombardeada pela Rússia. Além de resgatar ucranianos e trazê-los para a Itália, a missão levou alimentos e medicamentos aos que permaneceram no país.
“Diz um dito popular da província romana que ´há mais para fazer do que para dizer´ e resolvemos entrar em ação”, declarou a baiana de Caetité, radicada na Itália e que sempre realiza ações humanitárias.
Numa conversa com seu parceiro, Emílio Giovannone, de 65 anos ela questionou: “porque não vamos levar ajuda humanitária diretamente ao povo ucraniano?” No dia seguinte já estavam preparando a van para uma viagem de cinco mil quilômetros de ida e volta.
A viagem foi divulgada nas redes sociais, permitindo a arrecadação de donativos para as vítimas da guerra no leste europeu.
“Em poucas horas ficamos impressionados com tudo o que havia sido arrecadado, incluindo medicamentos básicos, que as farmácias doaram com suas indicações, muitos alimentos longa vida de todo tipo, especialmente para crianças, e muitas coisas para higiene pessoal”, diz Adalgisa.
Um dia após o anúncio da missão, depois de ter selecionado, encaixotado, etiquetado e carregado, o amigo italiano, Roberto Bianchi, de 70 anos, ligou o motor da van em direção à Ucrânia.
Mesmo sem indicações precisas do roteiro, o caminho certo foi encontrado durante a viagem, em meio neve que acompanhou o grupo por um longo caminho, carregado de um frio intenso, que nem mesmo o pouco aquecimento do micro-ônibus conseguiu aliviar.
A SOLIDARIEDADE VENCE O MEDO
“Não podemos negar a preocupação, sabíamos que no lugar de ajuda humanitária, poderia ser o mesmo que alimentava a guerra com armamentos e aí tínhamos medo de represálias da Rússia, em função do grande número de soldados na região” ressaltou Adalgisa.
O grupo atravessou a Áustria e a Checoslováquia, percorrendo toda a Polônia, em direção ao ponto de chegada estabelecido, na cidade de Medyka, o mais próximo da fronteira entre a Polônia e a Ucrânia, onde foi organizado um ponto de recepção para aqueles que fogem da guerra, e esperam ser transferidos para lugares mais seguros e acolhedores.
Após uma longa fila, já anoitecendo, juntamente com voluntários locais, foram descarregadas todas as caixas de donativos com a ajuda de um polonês que já havia trabalhado em Roma e também atuou com uma espécie de guia e segurança.
A noite, para descansar da longa viagem, o grupo pernoitou, mesmo com riscos, numa pousada em território ucraniano, a 68 quilômetros da fronteira com a Polônia.
No dia seguinte o segundo objetivo, trazer pessoas em fuga da guerra, que neste ponto só poderiam ser mulheres, velhos e crianças, pois na Ucrânia, foi estabelecida a Lei Marcial, para que nenhum homem possa cruzar a fronteira, pois devem permanecer para combater.
AS MÃES E A ESPERANÇA
O grupo foi direcionado a um local onde havia pessoas que tinham interesses de ir para Itália, por terem parentes, já terem trabalhado, conhecer alguém e /ou falarem a língua. A escolha não foi fácil, diante da multidão que queria fugir dos horrores da guerra.
Adalgisa e seus amigos continuam sua história: “foram várias centenas de pessoas que pediram a carona da esperança, foi dada prioridade às mulheres com filhos e sobretudo às que tinham referências na Itália.
“Escolhemos e nos foram dadas em confiança três jovens mulheres, uma Médica acompanhando duas outras pessoas, uma delas grávida de meses, outra mãe com um recém-nascido, e mais duas crianças”, relata a baiana.
ACOLHIMENTO NA ITÁLIA
Partimos, lotados de carga de humanidade e esperança, em direção a Itália, com várias paradas, pois não podíamos esquecer que a bordo tínhamos uma grávida, fizemos última parada em Modena, já na Itália, onde os ucranianos puderam abraçar uma senhora, mãe da jovem médica, que já os esperavam”, conta . Dali os ucranianos foram bem recebidos e abrigados pela Itália, essa pátria acolhedora por tradição.
“Eram olhos e olhares cheios de gratidão, lágrimas e sorrisos misturados com tristeza e alegria e nunca deixaram de nos agradecer”, diz . A esperança de uma nova vida estava estampada nos olhos deles. Foi uma missão arriscada, mas da qual nunca esqueceremos, uma experiência inesquecível e a alegria de salvar vidas”, finaliza Adalgisa Silveira que pretende voltar à Bahia brevemente para visitar parentes e amigos.
A NARRATIVA DA VIAGEM DA SOLIDARIEDADE
NASCE UM UCRANIANO-ITALIANO
Deputado Robinson Almeida culpa Bolsonaro por aumento dos combustíveis: “os russos fazem a guerra e o presidente coloca o povo brasileiro pra pagar a conta
O deputado estadual Robinson Almeida (PT) criticou o novo reajuste no preço dos combustiveis anunciados pela Petrobrás na quinta-feira (10) e acusou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados pela disparada nos preços que torna a inflação real e o custo de vida no Brasil mais caro. O parlamentar petista disse que a privatização da Refinaria Landulpho Alves na Bahia, entregue ao grupo Árabe Mubadala, pelo Governo Federal, e a mudança na política de preço da Petrobrás, atrelando ao dólar e especulação internacional, deixaram o Brasil refém de interesses externos. Em Salvador, o litro gasolina chega a ser comercializado a R$ 7,39, enquanto no interior do estado há cidades que o preço do litro passa de R$ 8.
“Bolsonaro e seus aliados, inclusive aqueles camuflados da Bahia, que apoiam essa agenda econômica nefasta, são os grandes responsáveis pelo descontrole no preço dos combustíveis, por tornar a vida brasileira ainda mais cara e trazer o fantasma da fome de volta para nosso país. Bolsonaro e a turma do atraso na Bahia merecem uma banana do nosso povo”, disparou Robinson Almeida, em crítica também ao grupo político do ex-prefeito de Salvador ACM Neto.
O parlamentar disse que o Brasil, sob Bolsonaro, está à deriva, com a população sofrendo os efeitos da “ausência completa” de um governo que tenha compromisso com o país e a soberania nacional.
Crise Russia-Ucrânia: os EUA empurram a Europa e o mundo para uma nova guerra?
Conflicts Forum, Comentários, semana 25/7-1/8/2014
9/8/2014, http://www.conflictsforum.org/2014/conflicts-forum-weekly-comment-25-july-1-august/
“Há nova guerra começando na Europa” – disse ele. –
“Você realmente pensa que [a sentença de Haia no caso Yukos] tenha alguma importância?”
(Financial Times, 28/7/2014, citando fonte próxima do presidente Putin)
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O governo dos EUA anda expressando profunda satisfação. Afinal – contra as dúvidas, que persistiam semana passada – conseguiu empurrar uma relutante Alemanha a aceitar as sanções setoriais contra a Rússia e a unir-se à política para, claramente, isolar o presidente Putin. Sim, escrevi mesmo “Putin”, não “Rússia” – porque os políticos norte-americanos estão (outra vez!) convencidos de que, como resultado da ‘dor’ das sanções e de uma economia sob sítio, eles conseguirão induzir o povo russo a trocar o presidente Putin por algum outro presidente mais confortável e mais pró-ocidente. O presidente Obama chegou a manifestar abertamente o pervertido prazer de estar “desmontando décadas de genuíno progresso” na Rússia, e de ter tornado “uma já fraca economia russa, ainda mais fraca”.
E se Putin não cai, nesse caso uma ‘contenção’ de estilo iraniana tornará ‘impuro-intocável’ o presidente russo, e limitará a capacidade dele para desafiar a ordem global. E a Europa persistirá ancorada a Washington.
A liderança na UE, combinada aos seus profundos laços com a Rússia, significava que a Alemanha era o único estado que poderia reduzir ou conter a fúria dos anglo-saxões para impor sanções à Rússia e demonizar Putin. Em sentido importante, sancionar a Rússia tem tanto a ver com o futuro da Europa (particularmente com o futuro da Alemanha e de seu relacionamento com os EUA) e a manutenção da hegemonia dos EUA sobre a ordem internacional – quanto tem a ver com a Ucrânia e o voo MH17. Mas, sobretudo, é reafirmação do poder dos EUA, num momento de fraqueza visível – como a campanha de Suez o foi para Grã-Bretanha e França.
A vitória sobre a Alemanha (pelo menos, por enquanto), a imposição de sanções e de fato o gerenciamento de toda a imprensa-empresa sobre o caso da Ucrânia e a derrubada do MH17 (uma catarata de emoção ‘humanitária’ de horror, como meio de ação psicológica para impedir que algum eventual verdadeiro jornalismo investigasse o que realmente aconteceu ao avião malaio); e o uso desse contágio emocional para demonizar Putin como ‘bárbaro sem qualquer limite’ – é nada além de espetáculo-show do poder norte-americano, assumidamente ‘para impressionar’. Nada, aí, tem a ver com ‘realidades’ – como já foi deixado abundantemente claro na carta de ex-oficiais de inteligência dos EUA ao presidente Obama. Ainda não se sabe (oficialmente) o que aconteceu ao MH17.[1] É um espetáculo-show de poder: simplesmente isso.
O período mais recente, essencialmente, foi focado numa discussão profunda na Alemanha sobre sua alma germânica. Inicialmente, Alemanha adotou posição contra saltar depressa demais na trilha das sanções; mas pressões diretas dos EUA, e a matrix de influência indireta dos EUA que contamina tudo, sob a superfície europeia, afinal (por enquanto) prevaleceu. A questão e se isso marca algum ponto de virada na política europeia: Essa vitória dos ‘atlanticistas’ no caso das sanções contra a Rússia é vitória de valor meramente tático; ou tem valor verdadeiramente estratégico?
A questão envolve a alma germânica: imediatamente depois das duas guerras europeias, a Alemanha buscou desesperadamente reduzir-se, como um Gulliver – grudar-se naquele novo eixo ‘euro’ entre França e Alemanha — de tal modo que aquele conflito nunca mais voltasse e irromper. Consequência disso, o centro de gravidade da Europa depois da Guerra mudou-se claramente para os litorais atlânticos. Nem poderia ter sido diferente: a Alemanha emergiu da guerra como nação derrotada, com a indústria em ruínas e sob ocupação pelos Aliados.
Os anglo-saxões tendem a ver esse resultado (uma centricidade atlanticista) como nada além de seu direito legítimo como ‘vitoriosos’. Mas os alemães sabem – no fundo da alma – que a verdade é outra: que foi o Exército Vermelho quem, ao longo dos três anos antes do desembarque na Normandia, lutara contra a Wehrmacht e a derrotara. Os alemães perderam a 2ª Guerra Mundial na Batalha de Stalingrado – quando a maior parte dos sobreviventes do poderoso 6º Exército Alemão renderam-se aos russos, inclusive 22 generais.
19 meses antes, a maior força de invasão jamais organizada invadiu a Rússia por uma fronteira de 1.600 km. 3 milhões de soldados alemães; 7.500 unidades de artilharia; 19 divisões Panzer com 3 mil tanques; e 2.500 aeronaves deslocaram-se por território russo durante 14 meses. Em junho de 1944, três anos adiante, pouco restava desse exército descomunal. O Exército Vermelho mastigara os nazistas.
É essa história terrível partilhada de milhões de mortos dos dois lados que uniu Alemanha e Rússia, depois do fim do Muro (além da presteza com que a Rússia aceitou a reunificação da Alemanha). A Alemanha queria (ainda mais do que quisera em relação à França) unir as duas grandes potências da Europa de tal modo que aquela guerra nunca mais voltasse a ser possível.
A partir dali, a Alemanha deu-se trabalho gigantesco e sofreu muitas dores para cortejar os russos. Ofereceu sua força industrial e seu know-how para ajudar a Rússia em importantes projetos russos de infraestrutura e construção industrial. A Rússia aceitou e valorizou tais aberturas. Os dois estados, com a infraestrutura industrial dizimada pela guerra, compreenderam também o imperativo de que qualquer estado industrial tem de ter recursos energéticos – e compreenderam também que os EUA, depois da primeira Guerra Europeia, haviam-se assenhoreado das principais fontes de recursos de petróleo (e, claro, da política internacional muscular que vem com elas).
O relacionamento russo-alemão cresceu como massa indivisa, de fato, em torno dessa perspectiva partilhada da importância de a Europa não se prender em relações de dependência energética: quando o presidente Putin concebia a estratégia para a empresa Gazprom, concluiu que, se os EUA efetivamente controlavam as principais fontes de petróleo, então a Europa – a Rússia – tentaria controlar as principais fontes de suprimento de gás (a nova fonte de energia e de influência política). A Gazprom então se pôs agressivamente a comprar as principais fontes de fornecimento de gás na Ásia.
O ponto aqui foi que esse projeto que foi concebido como parte da ‘ligação’ que tornaria inconcebível a guerra – foi iniciativa conjunta russo-alemã. Veio à luz graças à cooperação de Hans-Joachim Gornig, um dos ex-vice-presidentes da Empresa Alemã de Petróleo e Gás Industrial, e que supervisionou a construção da rede de gasodutos da Alemanha Ocidental; e o primeiro presidente foi Vladimir Kotenev, ex-embaixador da Rússia na Alemanha (e o chanceler Gerhard Schroeder passou a trabalhar na Gazprom quando deixou o governo alemão em 2005). Todos esses laços, por sua vez, garantiram a segurança energética da Alemanha, mediante a conexão direta com o gás russo pelo gasoduto Ramo Norte [orig. Nord Stream].
Em resumo, ali o centro de gravidade da Europa inexoravelmente se moveu para o leste, na direção contrária aos litorais atlânticos. Na verdade, a jornada da Alemanha poderia ter parado ali (Rússia); mas a jornada manteve sempre a perspectiva (na mente dos russos, como na dos alemães) de que se poderia estender pela Rússia até Pequim e para uma aliança euroasiática que, pelo menos, ‘equilibraria’ o poder dos EUA.
O ‘pivô da história’ é conceito velho (proposto pela primeira vez por Mckinder em 1904), segundo o qual quem controla o ‘pivô’ (que se estende do Volga ao Yan-Tsé, e das montanhas Himalaias ao Ártico) controla mais de 50% dos recursos mundiais e assim, portanto, controla efetivamente o mundo. (Os EUA têm sido hostis há muitos anos a qualquer controle sobre as terras do continente eurasiano por qualquer desses dos países; também têm se oposto a a Alemanha depender de fontes russas de energia. Os EUA sempre preferirão que a Europa importe o caríssimo gás liquefeito, dos EUA).
Como, então, poderia a Alemanha, agora, esquecer uma Stalingrado inscrita para sempre em sua alma mais profunda, e embarcar num curso de ação que – com a extensão inevitável, até o fracasso, da missão já em curso – pode empurrar a Europa para muito perto da guerra?
Pyotr Akopov, importante analista russo, também está intrigado com isso:
“Moscou esperava que o ‘jogo’ dos EUA, de isolar a Rússia, acabaria por [paradoxalmente] catalisar a emancipação da Alemanha [da hegemonia dos EUA]. Com certeza, ninguém [na Rússia] contava com rompimento rápido – o objetivo de Putin era, de fato, obter uma neutralidade condicional da Alemanha (e também da UE como um todo), no conflito entre Rússia e EUA [pela Ucrânia]”.
“Para facilitar [o não alinhamento da UE], a Rússia estava pronta para fazer concessões substanciais – limitadas, é claro, ao interesse nacional russo. Mas [por essa via], ambas, a paz e uma Ucrânia não alinhada, poderiam ter constituído a base da cooperação russo-europeia nos próximos anos. Bastaria que a Europa estivesse preparada para abster-se de ‘pular dentro’ da Ucrânia, enfiando-se sob o guarda-chuva atlântico. Infelizmente, nem Bruxelas nem Berlin quiseram admitir o simples fato de que a Rússia em nenhum caso admitirá a secessão de parte do mundo russo – golpe que apareceu sob a mascarada de uma eurointegração”.
Quer dizer então que o jogo acabou? A Europa terá sido ‘puxada’ com sucesso para a iniciativa nos EUA para instalar em Kiev um regime pró-Europa, pró-OTAN e furiosamente anti-Rússia? Só o tempo dirá; mas não se trata de os europeus estarem apenas ‘desentendidos’, sem saber do que se trata.
Um importante intelectual norte-americano, Professor Wallerstein, escreveu que “o problema básico é que os EUA estão, já há algum tempo, em rota de decadência geopolítica. A coisa não agrada aos EUA. De fato, os EUA não ‘aceitam’ essa realidade, não sabem como lidar com ela e tendem sempre a minimizar o que os EUA estão perdendo. Assim, tentam restaurar o que já é irrestaurável: a ‘liderança’ norte-americana (leia-se: a hegemonia dos EUA) no sistema-mundo.”
Os resultados dessa resistência a ver a realidade, dessa negação dos fatos (veja-se, por exemplo, o discurso de Obama em West Point sobre o excepcionalismo norte-americano) têm sido muito visivelmente confusos; e não raras vezes perigosamente desestabilizatórios: os europeus, sim, estão ‘entendendo’ o que se passa – e veem, sim, que a Ucrânia pode ser, sim, mais uma aventura sem sentido, sem justificativa e muito perigosa.
Os EUA estão em declínio e a ordem global está com problemas: Nos anos 1990s, ainda poderia ter sido possível para os europeus convencerem-se eles mesmos de que a ‘ordem liberal’ reinava na maior parte do mundo; hoje, não mais. Na realidade, a ordem global está muitíssimo distanciada dos valores ‘liberais’. Foi gerenciada a golpes mais ou menos declarados e com revoluções ‘coloridas, ou por ações da habilidade unilateral dos EUA para excluir estados, expulsando-os do sistema financeiro global, ou pela manipulação da dívida. Isso é simplesmente impossível de manter, como mecanismo para o longo prazo; e Rússia, China e os BRICS já estão construindo um sistema paralelo.
Em outras palavras, a mudança do centro de gravidade no rumo da Eurásia tem sua própria dinâmica, seja em termos de política global seja como locus das últimas fontes de recursos energéticos de baixo custo. Está acontecendo. Está em aceleração. E a Ucrânia acelerará o processo, ainda mais. A Alemanha ter concordado com Washington, portanto, é mais evento tático, que estratégico: o mais provável é que a Alemanha mantenha, inalterado, seu jogo de longo prazo.
Putin já deve ter alertado Angela Merkel de que seus movimentos podem levar à guerra – guerra real em plena Europa, outra vez; mas evidentemente ela crê que a guerra será evitada e que conseguirá reencontrar a via para retomar o engajamento com o presidente Putin. (Até aqui, não se vê ainda como.)
E aqui está o ponto: Obama tem suas duras sanções; mas ficará nisso? As sanções obrigarão Putin a aceitar deixar-se ficar, impotente, enquanto Kiev vai suprimindo a ferro e sangue a resistência no Donbass (e em outras províncias)? E se Obama obtiver isso, ficará por aí? Ou, ou as sanções e exigências voltarão a morder, insistindo, então, que a Rússia tem de desistir da Crimeia? É possível que o presidente Obama suponha que as coisas não chegarão até lá. Angela Merkel talvez também suponha que não. Mas alguns no (e fora do) governo querem que as coisas cheguem precisamente até lá.
Será que alguém realmente crê que sanções porão de joelhos o presidente Putin, ou dobrarão a Rússia e a forçarão à submissão? Por que Obama mudou tão radicalmente, de posição em relação a quando, ainda candidato, “ridicularizou seu oponente Republicano Mitt Romney, que dissera que a Rússia seria a maior ameaça geopolítica para os EUA no século 21”?Será tudo, só, politicagem doméstica?
A seguir, ouve-se o que disse o Conselheiro Econômico do presidente Putin, avaliando os perigos. Absolutamente não significa que Sergei Glazyev falava em nome do presidente Putin; seus comentários, que são visivelmente pessoais e refletem perspectiva russa de raízes profundas, foram feitos durante uma mesa redonda sobre temas econômicos noMoscow Economic Forum dia 10/6. Aqui, foram parafraseados [o vídeo tem legendas em inglês e foi comentado longamente também no blog Vineyard of the Saker (NTs)]:
“Quanto às políticas de Kiev, permitam-me dizer o seguinte: Kiev está claramente perseguindo uma política de genocídio para eliminar a população do Donbass. Está destruindo a infraestrutura social; já destruiu o melhor e mais moderno aeroporto de toda a Europa (importante projeto de infraestrutura); destruiu hospitais, jardins de infância e escolas. O destino que estão preparando para o povo do Donbass é servidão – objetivo do qual não fazem segredo. Basta ouvir os ideólogos de Kiev, como Liashko. A posição de Poroshenko não é significativamente diferente. O pessoal está sendo furiosamente explorado também economicamente – o que visa a forçar condições para que o povo do Donbass deixe a região, que se transformem em refugiados.
Obviamente, os EUA controlam completamente Kiev, controlam Poroshenko pessoalmente e estão forçando o governo a prosseguir nessa guerra contra o Donbass – e até o fim. Sem limites. Usando todos os meios, até que toda a resistência tenha sido eliminada.
Por que o tempo não está do nosso lado? Os norte-americanos definiram um curso de militarização da Ucrânia, a construção de uma ditadura dócil e uma total mobilização do povo da Ucrânia contra a Rússia. Embora a população não abrace entusiasmada essa mobilização, analisem essas dinâmicas: em dezembro de 2013, havia 2 mil milicianos fascistas em Kiev; em fevereiro, 20 mil; em maio, 50 mil; no verão, haverá 100 mil. Em breve, haverá meio milhão de soldados armados. Estão distribuindo equipamento militar tirado dos quartéis. A Ucrânia já possuiu um grande exército, o qual está sendo ressuscitado. Tanques e blindados foram retirados de depósitos e estão sendo restaurados (não é trabalho difícil); o mesmo está acontecendo com os aviões: estão sendo restaurados em Odessa.
O objetivo deles é guerra contra a Rússia. Não é coisa a que possamos só assistir sentados. Ao perder o Donbass, teremos perdido também a paz. O alvo seguinte será a Crimeia. Não estou brincando: a Ucrânia será brutalmente empurrada para uma guerra contra a Rússia, sob o pretexto da Crimeia. Poroshenko já disse isso. Nuland disse claramente em Odessa que esperam que a Ucrânia entre em guerra para recuperar a Crimeia[negritos nossos]. Essa Armada de meio milhão de soldados invadirá a Crimeia. Disso, não há dúvida. Churchill disse certa vez: “Tiveram a chance de escolher entre guerra e desonra. Escolheram a desonra – e terão guerra.”
Falo aqui de guerra moderna – que não significa mandar nossos tanques contra Kiev. Mas temos o direito, nos termos da lei internacional de pelo menos deter o genocídio. Para tanto, basta fechar o espaço aéreo e usar o mesmo mecanismo para deter armas pesadas, que estão sendo usados contra o povo: como os norte-americanos fizeram na Líbia. Resultado daquela ação, o regime líbio não pode defender-se.
Ainda temos a chance de fazer isso. Dentro de meio ano, essa chance já não existirá. Lugansk e Donetsk estabeleceram dois parlamentos e autoridades que unem as duas repúblicas. A recusa de Kiev a negociar com elas é efeito de Kiev não ter qualquer independência. É vassalo dos EUA e, assim, é importante que identifiquemos claramente a Ucrânia como território ocupado – ocupado pelos EUA. Tão logo passemos a usar o quadro de referências correto, torna-se fácil ver o que temos de fazer. Temos de encorajar as outras regiões, não só a unir-se à Federação, mas, também, a se autolibertar da ocupação”.
A conclusão de Glazyev é que tudo sugere que os EUA estão deliberadamente tentando provocar um confronto militar entre as forças armadas da Ucrânia e a Rússia. Isso terminará em guerra. “Guerra europeia” – como ele prevê.
Depois que esses comentários foram redigidos, a resistência no Donbass conheceu vários sucessos na luta contra as operações militares de Kiev. Desde julho as forças de Kiev nada têm a exibir como sucesso militar (além de ter assumido o controle de Slavyansk, de onde as milícias da resistência fizeram uma retirada tática); consequência disso, estão recorrendo a armamento cada vez mais pesado, contra alvos civis. *******
[1] Mas extraoficialmente, sim, já se sabe de tudo [NTs].
A INSANIDADE DA GUERRA
Um soldado americano matou neste domingo 17 civis e feriu cinco durante uma incursão armada realizada de madrugada perto de uma base militar na província de Kandahar, no sul do Afeganistão, em um fato que está sendo investigado pela Otan. Segundo fontes militares disseram, o soldado foi vítima de uma crise nervosa.
Um membro do conselho administrativo local, Agha Lalay, informou à Agência Efe que entre as vítimas há mulheres e crianças, e que o militar americano abriu fogo contra as pessoas após deixar sua base, localizada no distrito de Panjwai, por razões desconhecidas.
A Força Internacional de Assistência para Segurança (Isaf, missão militar da Otan no Afeganistão) divulgou no começo da manhã um comunicado no qual lamentou “um incidente que causou vítimas afegãs” e expressou suas condolência às famílias dos envolvidos. A nota informou que o autor do “incidente” havia sido detido, mas não revelou o número de vítimas causadas por sua ação. O texto também não indicou o motivo que o teria levado a cometer o massacre, sobre o qual a Isaf anunciou que abrirá uma “investigação”. (do UOL)
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