Racismo: um problema estrutural e não um posicionamento moral

“Tudo que era negro, era considerado do demônio,
virou branco e foi aceito, eu chamo de blues, tudo é blues.”
Marynna Trindade
Ser negro no Brasil é uma tarefa quase impossível. Não falo apenas de cor de pele, mas de assumir uma identidade, uma cultura e uma história que nos foram negadas.
É aceitar que o cabelo crespo é um símbolo de resistência, é uma coroa, e por isso não deve ser tocado.
É entender que há pessoas que morrem apenas por terem um fenótipo diferente, por carregarem no corpo marcas que a sociedade insiste em associar ao feio, ao desarrumado, ao perigoso.
Quando criança, me ensinaram que a população negra havia sido escrava — e ponto. Como se antes disso não houvesse vida, reinos, sabedoria e cultura. Me disseram que o povo negro havia aceitado a escravidão sem resistência e que a princesa Isabel havia sido sua grande salvadora. Mas essa é a versão contada pelos vencedores.
Com o tempo, compreendi que a população negra foi escravizada, e não escrava — porque ninguém nasce para servir, mas foi colocado nessa condição pela brutalidade de outros.
As pessoas que chegaram ao Brasil nos navios negreiros não eram objetos. Eram reis, rainhas, chefes de tribos, homens e mulheres que tinham uma vida, uma história, uma cultura — tudo arrancado à força. O que restou foi o peso da exploração e a marca de um sistema que transformou o africano em mercadoria.
O racismo, portanto, não é apenas uma questão moral ou de opinião individual. É um problema estrutural, construído ao longo dos séculos para manter privilégios.
Mesmo que alguém diga “não sou racista”, isso não é suficiente, porque o silêncio e a inércia também sustentam a opressão.
As leis do passado confirmam isso. A Constituição de 1824 dizia que a educação era um direito de todos, mas ela foi negada às pessoas negras. A Lei de Terras de 1850 impediu que os libertos tivessem onde morar ou plantar. A abolição veio sem reparação, sem acolhimento, sem dignidade. Libertaram corpos, mas mantiveram as correntes na mente da sociedade.
Vivemos até hoje as consequências de um país que nunca reparou seus erros.
Um país onde a maioria da população é negra, mas é justamente essa maioria que é morta, presa, julgada e esquecida. Onde a mulher negra é a mais desvalorizada, a menos amada e a mais cobrada. A solidão da mulher negra é real — resultado direto de séculos de desumanização e de um amor que nunca foi ensinado a nos enxergar como inteiras.
A favela nasceu porque ninguém queria contratar mão de obra negra. E lá, entre becos e barracos, o povo negro construiu comunidade, arte, fé, resistência.
Mas o preço é alto: todos os dias, jovens negros morrem e são transformados em estatísticas. Quantas crianças negras ainda precisarão morrer para que a sociedade entenda que o problema não é o indivíduo, e sim o sistema?
O sistema é o revólver que aponta. É a fome que sentimos à noite quando não temos nada. É a resposta para por que tantos gênios negros morrem sem reconhecimento. É o medo do beco escuro, da rua deserta, até do homem fardado— porque nunca sabemos se ele vai nos proteger ou nos violentar.
Ser negro no Brasil é resistir. Estar vivo é um ato político. Amar a própria pele é um ato de coragem. E lutar todos os dias para existir é o grito que meu povo ainda carrega preso na garganta — o grito de quem foi destruído, mas ainda assim se recusa a deixar de sonhar.
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Marynna Trindade é ex-aluna do Colégio Estadual Democrático Anízio Teixeira em Potiraguá estudante na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, cursando o ll semestre de Engenharia Agrária, tem 18 anos e é sou filha, neta, irmã e afilhada de pessoas que pretende orgulhar. Seu objetivo é trazer mais equidade e visibilidade as lutas sócias e políticas e assim, transformar o mundo em um lugar melhor mesmo que em passos pequenos.












Maryna Trindade gosta de escrever sobre muitos temas principalmente os de cunho social. Matando as saudades das aulas de Projeto de Vida e Cidadania.
“Mary, estou muito orgulhosa de você. Sua dedicação, criatividade e coragem de compartilhar suas ideias são incríveis. Continue assim, você tem um talento especial e um futuro promissor pela frente. Você consegue conquistar tudo o que desejar!”
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