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A Abolição da escravidão no Brasil: uma suposta liberdade e a realidade de hoje
Alex Pantera
A escravidão no Brasil, que perdurou por mais de 300 anos, teve seu término formal em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Contudo, esta abolição é muitas vezes considerada uma “suposta liberdade”, uma vez que não trouxe a esperada dignidade e direitos para a população negra que, até então, havia sido submetida a décadas de opressão e desumanização. Enquanto os colonizadores portugueses foram agraciados com terras, casas e poder, os negros, após a abolição, foram deixados à própria sorte, sem abrigo, alimento, vestuário ou direitos básicos garantidos pela Lei.
A realidade enfrentada pelos ex-escravizados foi uma continuidade do abandono. Sem apoio e recursos, muitos foram forçados a viver em condições precárias, perpetuando ciclos de pobreza e marginalização social. O Estado brasileiro, que se beneficiou da mão de obra escrava por séculos, falhou em prover políticas públicas eficazes que garantissem a inclusão e a cidadania plena dos libertos.
Hoje, essa situação se agrava com a infeliz realidade do chamado “cacau sujo”, que envolve a exploração de trabalhadores em fazendas de cacau, muitas das quais praticam trabalho em condições análogas à escravidão. Investigações do Ministério Público do Trabalho (MPT), divulgadas pela Repórter Brasil, revelaram diversas violações trabalhistas em cadeias de fornecimento de grandes empresas internacionais, como Olam International e Barry Callebaut. A Cargill, outra gigante do agronegócio, também é mencionada entre as que se beneficiam dos abusos cometidos no campo.
Essas três empresas controlam 97% da moagem e torra das amêndoas de cacau no Brasil e fornecem matéria-prima para marcas renomadas como Nestlé e Lacta (Mondelez), famosas por seus produtos como os bombons “Chokito” e “Sonho de Valsa”. Entretanto, por trás da imagem saborosa das guloseimas consumidas, existe uma triste realidade que expõe a continuidade da exploração e das violações de direitos humanos.
PF resgata 10 venezuelanos em galpão de empresa em Itabuna
A Polícia Federal resgatou uma mulher e nove homens venezuelanos durante operação com a Secretaria do Trabalho, do Ministério da Economia, na manhã desta quinta-feira (18), em Itabuna. Os dez venezuelanos foram encontrados em situação análoga à de escravidão na empresa que, segundo informações, pertence a um brasileiro e um polonês. Os donos do negócio foram detidos e encaminhados para a sede da PF em Ilhéus.
Os venezuelanos estariam sendo explorados na empresa em Itabuna há mais de dois meses. Conforme denúncias, eles trabalhavam no galpão – uma oficina mecânica para veículos e equipamentos de lazer -, onde dormiam em colchões jogados no chão e sem água potável. As condições foram consideradas subumanas.
O galpão funciona ao lado do Condomínio Residencial São José, em Ferradas, às margens da BR-415, trecho que liga Itabuna a Ibicaraí. As primeiras informações são de que a mulher e os nove homens entraram legalmente no país e foram aliciados pela empresa pela internet com a promessa de emprego. (do Pimenta)
Flica debate história e desdobramentos da escravidão no Brasil
Na segunda mesa literária da Flica 2015, realizada da manhã de hoje, os historiadores Tâmis Parron e Cacau Nascimento falaram sobre a temática Etnias, resistências e mitos rememorando o período escravagista brasileiro e seus desdobramentos na sociedade atual. O curador da Flica e mediador, Aurélio Schommer, começou a conversa trazendo à tona a obra do historiador baiano João José Reis, referência da historiografia brasileira sobre os conflitos de resistência negra no Recôncavo Baiano.
De Cachoeira, Cacau Nascimento, lembrou a formação singular da cidade no período escravagista. Com território pequeno em relação às regiões vizinhas, Casa Grande e Senzala estavam muito próximas em Cachoeira, assim, as frequentes revoltas de escravos marcaram a história da cidade, com participação de segmentos específicos da sociedade, como as irmandades religiosas católicas.
Para Tâmis Parron, os ciclos de revoltas escravas influenciaram a forma como se definiu pela primeira vez a cidadania desracializada na constituição brasileira. Todo aquele que tinha carta de alforria e, portanto, podia ser negro, mulato ou mestiço, era considerado cidadão.
Laurentino Gomes: Camargo Correa, da escravidão à Lava Jato
Autor dos best sellers “1808”, “1822” e “1889”, que abordam a chegada da família imperial ao Brasil, a Independência e a Proclamação da República e já venderam mais de dois milhões de livros, o jornalista e escritor Laurentino Gomes prepara uma trilogia sobre a Abolição da Escravatura no Brasil, uma das manchas ainda não devidamente purgadas da história nacional.
Durante sua participação no lançamento da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica 2015) na Caixa Cultural em Salvador , ele revelou uma das curiosidades da obra, que por conta de uma rigorosa apuração histórica, só será lançada a parir de 2019.
Segundo Laurentino, a família Camargo Correa era dona de extensas fazendas de café no interior paulista, com centenas de escravos. O café, conhecido como ouro verde, era fonte de imensas riquezas à época. Com a abolição, os escravos, que tinham apenas números, passaram a adotar o sobrenome Camargo Correa, como era o costume de então.
É aí que, segundo Laurentino, entra a ironia da história: os Camargo Correa originais empobreceram e os Camargo Correa ex-escravos enriqueceram, com seus descendentes criando, entre outras empresas, a Construtora Camargo Correa, que está envolvida até o pescoço na Operação Lava Jato.
Pelo aperitivo, vem mais uma obra imperdível de Laurentino Gomes por aí.
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