:: ‘cacau’
Menos lero e mais ciência na cacauicultura
Walmir Rosário
Não existe qualquer ser vivente que registre hoje um só político visitando a Ceplac e as fazendas de cacau do Sul da Bahia. Faz muito tempo que a cacauicultura baiana começou a ser desprezada por alguns setores da sociedade. E quem inaugurou essa virada foi o segmento bancário, fechando as torneiras para os financiamentos de custeio e investimento.
E esse caso de desamor data do final da década de 1980, com a infestação dos pés de cacau com a vassoura de bruxa, doença que dizimou os cacaueiros e quase mata sem dó nem piedade a principal matriz econômica do Sul da Bahia. Sem recursos para honrar seus compromissos com os trabalhadores, o manejo das roças e, sequer, comprar alimentos para a sua sobrevivência, o cacauicultor foi banido do mundo produtivo, comercial.
Nesta data era comum o desembarque de um monte de políticos no Sul da Bahia, para cumprir um extenso roteiro, a começar pelas instalações da Ceplac, fazendas (principalmente as mais infestadas) e redações de jornais, rádios e TVs. Com o cenho franzido, analisavam a situação de penúria do setor cacaueiro e prometiam reverter a terrível situação junto ao governo federal.
Os políticos de situação semeavam esperança ao garantir as ações salvadoras e os oposicionistas culpavam o governo pela imobilidade que resultou no maior crime de lesa pátria contra a região cacaueira. Como sempre, se autointitulavam representantes da lavoura e cobravam uma votação expressiva para eles (claro), pois assim teriam força para eliminar a crise.
Cia. de Dança A-Rrisca apresenta “Cacau, memórias com gosto de chocolate” em Ilhéus
A Cia. de Dança A-Rrisca apresenta o espetáculo “Cacau, memórias com gosto de chocolate”, nos dias 3 e 4 de dezembro, no Centro de Convenções de Ilhéus.
O espetáculo mostra através da arte a história de Ilhéus através da cultura cacaueira e também busca promover uma reflexão acerca da realidade socioeconômica esperançando sobre um novo panorama e realidade que vem surgindo.
Os ingressos estão à venda na sede da A.rrisca, localizada na rua 4, 159- Jjardim Pontal e na Etc. e Tal (Rua Coronel Paiva, 59- Centro) com preço de meia entrada para todos até o dia 02/12.
Publicação valoriza produtos da cabruca para uso na alimentação escolar

Foto: Jônatas Soares_Ilume Agência
Promover alimentação escolar de qualidade é um compromisso do governo brasileiro. Por meio de programas como o Programa Nacional da Alimentação Escolar (Pnae), o governo promove o acesso de agricultoras e agricultores familiares a processos de compras públicas, proporcionando mercados para povos indígenas e comunidades tradicionais.
Para enriquecer ainda mais esse processo, acaba de ser lançada a publicação Cabruca à Mesa. A obra reúne receitas baseadas em produtos da sociobiodiversidade das cabrucas do Baixo Sul da Bahia com o objetivo de estimular o seu uso também na alimentação escolar. A publicação está disponível para download em https://bit.ly/cabruca

Foto Ed Ferreira
Na apresentação da obra, a secretária-Executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Fernanda Machiavelli, destaca a importância estratégica do Pnae. “O Programa é uma política pública que inspira pessoas em todo o mundo. O Programa articula quem está na escola, estudando, preparando alimentos e ensinando. Articula quem está no campo, em suas pequenas propriedades e em seus territórios, produzindo alimentos diversos e saudáveis. Articula cada região, ao trazer oportunidades de geração de renda e circulação de recursos, ao mesmo tempo em que estimula uma produção mais biodiversa, voltada para produtos tradicionais. E, desse modo, alimenta nossas crianças e adolescentes com comida de verdade, configurando uma das ferramentas mais importantes de garantia da segurança alimentar e nutricional em nosso País”.
Arte com ´alma grapiúna`: Carlos Santal retrata o universo do cacau e celebra Jorge Amado
Artista produz painéis em praça de Itabuna
Cantor, compositor, cineasta e artista plástico, radicado em Portugal desde 2007, o grapiúna Carlos Santal retornou a Itabuna, desta vez para uma estadia mais demorada, onde além de rever familiares e amigos, pretende mostrar sua arte em exposições que retratam a estreita ligação com o universo do cacau no Sul da Bahia, celebrizado mundialmente por Jorge Amado.
Recentemente, Santal participou da Festa Literária de Itacaré, onde exibiu oito obras, na exposição com o tema Cacau. “Foi uma experiência fascinante mostrar meu trabalho numa cidade que recebe milhares de turistas e poder abrir espaço para minha música e minha arte”.
ARTE NA PRAÇA
Convidado pela Prefeitura de Itabuna, Carlos Santal produziu dois painéis para a nova Praça Camacã (Otávio Mangabeira), que passa por um processo de requalificação, com previsão de inauguração em dezembro, e que deve se transformar num cartão postal da cidade.
Irmão Sol, Irmã Lua
Daniel Thame
Ele era trabalhador rural numa fazenda em Canavieiras, cidade que era o limite de seu mundo e para onde ia, todos os finais de semana, fazer a feira, composta de arroz, feijão, farinha, óleo, açúcar, sal e, de vez em quando, jabá, fato e chupa-molho.
Além, é claro, da garrafa de cachaça.
Ela era mulher de um trabalhador rural em Ipiaú, cidade que era o limite de seu mundo e para onde ia, todos os finais de semana, orar no culto na igreja evangélica que lhe oferecia o céu como compensação para a vida dura na terra.
Orava pela saúde do marido, cujo trabalho garantia o sustento da família, e por um futuro melhor para os três filhos.
Se essa fosse a vontade de Deus…
Quando vieram os sinais de que a crise provocada pela vassoura-de-bruxa era pior do que se imaginava, ele foi despedido da fazenda e mudou-se para Camacan, onde conseguiu um emprego de gari na prefeitura.
Como a bruxa não tinha limites e se alastrava por toda a região, o marido dela também perdeu o emprego. Tão logo chegaram a Ubaitaba, para onde se mudaram, ela conseguiu um emprego de doméstica. Meses depois, o marido a abandonou e sumiu no mundo, deixando-a sozinha com três crianças para cuidar.
Quando a prefeitura de Camacan, abalada pela decadência da cidade e com a arrecadação despencando, teve que demitir funcionários, os apadrinhados foram mantidos, ele, pobre gari, perdeu o emprego.
Foi tentar a vida em Itabuna, onde passou a viver de pequenos bicos e morar num barraco no Maria Pinheiro, bairro paupérrimo nas fraldas da periferia da cidade.
Em Ubaitaba, a patroa, empobrecida pela crise, não teve como manter a empregada. Penalizada, ainda deu o dinheiro para a viagem até Itabuna, o máximo aonde aquela pobre mulher poderia ir.
No mesmo bairro Maria Pinheiro, montou um barraco, misto de papelão e restos de madeira, e passou a trabalhar como lavadeira, ganhando o pão com o suor do seu rosto banhando as águas do Rio Cachoeira.
Os dois se cruzaram quando ele voltava do centro da cidade, onde acabara de ganhar 15 reais para limpar um terreno, e ela levava na cabeça uma imensa trouxa de roupas.
Ele se ofereceu para ajudar, ela aceitou.
No barraco, ele aceitou o café ralo que ela ofereceu.
Sorriram, escancarando os poucos dentes daquelas bocas que, na sequência, trocaram o primeiro beijo.
Dias depois, estavam morando juntos, dividindo a mesma cama sob um teto cheio de buracos em que, nas lindas noites de verão, podiam contemplar estrelas, distraídos.
A bruxa, que tantas vidas havia tragado, tantas tragédias pessoais e coletivas havia causado, abençoou aquele encontro mais do que improvável.
Virou, ainda que por linhas tortas, uma fada.
E eles, que nunca tiveram nada, juntaram o pouco que agora tinham e foram felizes para sempre!
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Conto extraído do livro “Vassoura”- a história que Jorge Amado não viveu pra contar- Editora Via Litterarum
Flicaré 2024 destaca cacau e chocolate na literatura sulbaiana
Festa Literária de Itacaré terá lançamento de livros, música,
artesanato e gastronomia
Será realizada de 24 a 26 de outubro, a 2ª Edição da Festa Literária de Itacaré, que acontece na Praça São Miguel. Este ano, a Flicaré tem como tema “Do cacau ao chocolate: histórias, leituras e oralituras de Itacaré”.
O homenageado da edição é um morador da cidade: Roberto Setúbal, definido pelos organizadores como “um proeminente guardião da memória de Itacaré”. A programação inclui mesas, contações de histórias, lançamentos coletivos e divulgação de autores e obras regionais, apresentações culturais, oficinas, exposição de obras de arte, apresentação musical de artistas locais e regionais, concurso literário entre outras atividades.
A Flicaré, promovida pela Prefeitura de Itacaré através da Secretaria Municipal de Educação, com o apoio do Governo da Bahia, e que tem como curador Rafael Gama, também terá um espaço para o público infanto-juvenil, com a realização da Flicarezinha 2024.

Rafael Gama
Cenário da novela ´Cacau`, exibida pela TVI Portugal e já comercializada para cerca de quinze países europeus, Itacaré é hoje um dos principais destinos turísticos do Brasil e do mundo e agora entra no circuito das festas literárias, que além de incentivarem a leitura, movimentam toda a economia da cidade.
PROGRAMAÇÃO DA FLICARÉ 2024
No Sul da Bahia, cacau também é símbolo de resistência
Alex Pantera
O sul da Bahia é uma região marcada por uma história de resistência e preservação cultural, protagonizada por comunidades quilombolas e indígenas que, por séculos, mantiveram vivas suas tradições e modos de vida. Um dos maiores símbolos dessa resistência é o cultivo do cacau, que se entrelaça com a história dessas populações e com a preservação ambiental. Atualmente, estima-se que existam cerca de 2.000 comunidades quilombolas certificadas no Brasil, sendo que aproximadamente 84 delas estão localizadas no estado da Bahia, com uma expressiva presença na região cacaueira. Somado a isso, os povos indígenas, como os Pataxós e Tupinambás, também desempenham um papel crucial na defesa da biodiversidade e da agricultura tradicional.
Essas comunidades têm sido guardiãs do cacau, em especial através de um sistema agroflorestal chamado “cabruca”, onde as árvores de cacau são plantadas sob a sombra da Mata Atlântica. Esse sistema permite a produção de cacau sem a devastação florestal, mantendo mais de 70% da cobertura vegetal original. A área preservada por esse tipo de cultivo na região sul da Bahia cobre aproximadamente 500 mil hectares, formando um verdadeiro cinturão verde em um dos biomas mais ameaçados do mundo. A preservação ambiental promovida pelas práticas quilombolas e indígenas não só protege a biodiversidade local, como também oferece um produto de alta qualidade que tem conquistado o mercado global.
O cacau produzido por essas comunidades tem se destacado no cenário internacional. Dados da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) apontam que, em 2021, o Brasil produziu cerca de 245 mil toneladas de cacau, com a Bahia sendo responsável por mais de 70% dessa produção. Dentre essa produção, o chamado “cacau fino” ou “cacau gourmet”, majoritariamente cultivado por pequenos produtores e quilombolas, tem alcançado preços até 300% superiores ao cacau comum no mercado internacional. Isso reflete o reconhecimento pela alta qualidade do cacau baiano, especialmente o produzido de forma sustentável e tradicional.
O cacau e o protagonismo negro na transformação do Sul da Bahia: uma história de sustentabilidade e resistência
Alex Pantera
O cacau é mais do que um fruto; é uma semente de transformação social, econômica e cultural para a Bahia. Desde o século XIX, quando começou a ser cultivado de maneira mais intensiva no estado, o cacau moldou a economia, a paisagem e a cultura do sul da Bahia, sendo responsável pela ascensão da região como um dos maiores polos cacaueiros do mundo. No centro dessa história, está o protagonismo da população negra, que desempenhou um papel fundamental na construção desse legado.
O Impacto Econômico do Cacau no Sul da Bahia
A cultura do cacau chegou ao sul da Bahia no final do século XVIII e, ao longo dos séculos seguintes, transformou a região em um dos principais produtores globais. Na década de 1980, o Brasil chegou a ser o segundo maior produtor de cacau do mundo, com a Bahia contribuindo com mais de 90% da produção nacional. Esse período de prosperidade econômica atraiu investimentos e impulsionou o desenvolvimento de cidades como Ilhéus, Itabuna e Uruçuca, que se tornaram centros econômicos e culturais do estado.
O cacau baiano não só gerou riqueza para os grandes fazendeiros, mas também proporcionou empregos para milhares de trabalhadores, a maioria negros, que foram a base da produção cacaueira. Esses trabalhadores, com seu conhecimento e suas técnicas, foram fundamentais para o cultivo do cacau em sistemas agroflorestais, que preservam a mata atlântica e garantem a sustentabilidade das plantações.
A Crise e a Reinvenção: Resiliência e Inovação da População Negra
Minha infância tem cheiro de cacau
Vânia Fagundes
Chamávamos de armazém o depósito onde as sacas de cacau eram empilhadas umas sobre as outras.
Àquela época, meu pai gerenciava uma empresa de importação e exportação de cacau. O que para ele era trabalho, para mim e o meu irmão era só diversão.
Nos sábados passávamos horas brincando de subir nas sacas até chegar ao topo delas. Parecíamos gatos praticando escaladas.
Saltávamos de uma pilha para a outra com tamanha destreza que nunca nos estropiavamos no chão. Acho que o nosso anjo da guarda sempre nos dava uma forcinha.
O empregado do armazém se via doido com a gente. Meu pai não podia ver as nossas peripécias pois o seu escritório ficava do outro lado da rua.
Dávamos cabriolas duplas e triplas, saltávamos de uma lateral para a outra, sempre competindo para ver quem era o melhor.
O cheiro forte da amêndoa escura dominava todo o ar do armazém. Até quem passava pela calçada sentia o aroma inconfundível do cacau.
Voltávamos para casa com as roupas impregnados daquele cheiro forte que ainda hoje mora em minhas lembranças.
Edital para venda de amêndoas de cacau arrecada mais de R$ 448 mil para estimular pesquisa e desenvolvimento da cacauicultura brasileira
O Ministério da Agricultura ePecuária, por meio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) lançaram edital para venda de dois lotes de amêndoas de cacau produzidas no estado da Bahia. De acordo com a Ceplac, a estimativa de arrecadação era de R$ 417 mil, no entanto o valor apurado foi de R$ 448 mil superando as expectativas sobrepreço de R$ 75,00 /arroba.
“O resultado foi melhor do que esperávamos, os recursos obtidos serão destinados diretamente às unidades geradoras, garantindo a manutenção dos projetos em execução”, comemorou a diretora da Comissão,
Lucimara Chiari. O próximo leilão será no dia 07/08, lote único de 1.200kg de amêndoas Tipo 1, geradas na Estação Experimental Filogônio Peixoto no Espírito Santo: Edital 010/2024 – Ceplac Espírito Eanto – Leilão virtual amêndoas de cacau. As amêndoas ofertadas são produtos excedentes dos projetos de pesquisa realizados nas Estações Experimentais da CEPLAC nos estados do Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Pará, Rondônia e Mato Grosso.
A iniciativa estratégica de vender amêndoas de cacau excedentes dos projetos de pesquisa pela Fundação garante recursos adicionais que são essenciais para a continuidade dos projetos inovadores da Ceplac. “Este edital reflete o compromisso das Instituições em promover a sustentabilidade e inovação na lavoura cacaueira do Brasil”, destacou Lucimara.