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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

maio 2024
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:: ‘Oscar D’Ambrosio’

Solo para Scoresbysund, de Pia Arke

pia

Oscar D’Ambrosio

Uma obra de arte pode ganhar novas conotações pelo lugar em que é montada. É o caso de “Jord til Scoresbysund” (“Solo para Scoresbysund”), de 1988, de Pia Arke, nascida na Groenlândia, em 1958, e falecida em 2007. A instalação nasceu com uma concepção, mas que, na Bienal de Arte de São Paulo ganha leituras ainda mais amplas.

A obra é formada por 151 filtros de café amarrados com cordões e dispostos no chão. A criação do trabalho está relacionada às estadias da artista em Scoresbysund, onde fica o maior fiorde do mundo e um dos mais extensos, que se estende por mais de 350 km, na costa oriental da Groenlândia.

Foi ali que Pia recebeu uma informação da cunhada: a borra de café deveria ser jogada pela janela para fertilizar o solo pedregoso da região. Era estabelecida assim uma relação entre um hábito cotidiano para combater o frio com a preocupação de ter uma terra que pudesse alimentar os seus habitantes.

No contexto de São Paulo, cidade cuja industrialização está relacionada ao capital gerado pelas plantações de café, o conjunto de filtros gera conotações como o cheiro exalado pela obra e a sua forma irregular, que evoca uma vista área da metrópole paulistana. Assim, o trabalho resiste ao tempo e se reatualiza, mostrando a capacidade da arte de se repaginar sempre.

Série Mata À VENDA, de Alice Shintani

alice shintani vf Oscar D’Ambrosio

 

oscar 2A série de pinturas “Mata À VENDA”, de Alice Shintani, na Galeria Marcelo Guarnieri, dialoga com a Série “Mata”, exposta na 34ª Bienal de São Paulo. A primeira, pintada com tinta acrílica sobre tela, está em um espaço comercial; e a segunda, feita com guache sobre papel, pertence ao acervo da artista.

Esses aspectos de local, tamanho (220 x 160 cm na galeria; e 75 x 55 cm, na Bienal) e técnica levantam aspectos de mercado e da institucionalização das artes visuais. No entanto, uma outra porta de entrada está na observação da imagem em si mesma. A obra visual que alude ao Guaraná que está na Galeria é, de por si, significativa.

Não se trata de uma imitação do real, de uma representação do fruto, mas de uma interpretação visual dele. Isso significa que as formas orgânicas que surgem, muito mais do que buscar as suas referências naquilo que entendemos como ser o mundo “verdadeiro”, são o resultado de pesquisas pictóricas.

O resultado pode ser lido em suas dimensões. Uma delas, horizontal, lida com os elos que a imagem estabelece com o mundo; outra, vertical, com os questionamentos internos da artista. No processo de escolhas de composição, linhas e formas, Alice Shintani oferece uma linguagem própria, de grandes proporções, técnica apurada e de ampla repercussão visual.

 

Facetas do Brasil, de Tatiana Fonseca

 

tatiana fonsecaOscar D’Ambrosio

Entender o que é o Brasil é um desafio nas mais variadas áreas do conhecimento. Não é diferente nas artes visuais. Mergulhar nas raízes nacionais constitui uma jornada de possibilidades, inclusive pela diversidade de aspectos que podem ser tratados em uma jornada de interrogações.

Tatiana Fonseca mergulha nessa proposta com algumas características imagéticas. Uma delas está na maneira como lida com a cor. As tonalidades intensas desvendam um caminhar pictórico que vai desse o carnaval a bares e desde o cangaço a às vendedoras de quitutes. Surge assim um retrato que não se propõe a ser exaustivo, mas sim representativo.

A presença de mulheres é muito importante nas telas, passando pelas mais variadas profissões. Elas surgem como protagonistas, com toda a coragem necessária para se impor em uma sociedade ainda machista. Em termos de pintura, são protagonistas fortes e decididas que desempenham diversos papeis, passando a imagem de que sabem o que querem fazer e dizer.

A identidade nacional surge das mais diversas maneiras, em atmosferas em que a alegria se destaca. Existe diversidade na maneira de mostrar a sobrevivência e a vivência, numa interação com diversos ambientes. O essencial está em manifestar como a pintura pode traçar um percurso vivencial mostrando a riqueza das múltiplas facetas de um país.

 

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

Sem FungibleZitos, de R.F. Bongarten

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Oscar D’Ambrosio

Dentro do universo NFT (tokens não fungíveis, ou seja, um tipo especial de token criptográfico que representa algo único), os artigos colecionáveis são atualmente uma tendência. O artista visual R.F. Bongarten, nesse contexto, criou os Sem FungibleZitos, uma série de artigos colecionáveis que terá 5880 personagens, sendo 30 integrantes por cada um dos 196 países do globo.

Parte do projeto, dentro do conceito de instaurar ideias e ações criado pelo artista visual com a denominação de Fábrica Poética, com curadoria do NAPstudio, está acessível em
https://opensea.io/collection/no-fungiblezitos-by-r-f-bongarten

O objetivo é estabelecer uma comunidade mundial da paz em que a liberdade do pensamento seja preservada acima de tudo. Os personagens do artista são metafóricos combatentes plásticos contra a opressão, a perseguição, o racismo, o fascismo e tudo que oprima os seres humanos.

R. F. Bongarten cria, com essa filosofia, três linhas simbólicas de ação de combatentes pela liberdade. A primeira é daqueles que, com base no pensamento crítico e na inteligência, têm um compromisso essencial com a espécie humana. A segunda, com formas mais circulares, aponta para a valorização do pensar como um caminho que conduza à fraternidade e a paz; e a terceira consiste no enfrentamento de tudo que leve alguns a acreditarem que tenham poder sobre outros.

O conjunto do projeto tem como ponto alto a divulgação por valores humanos que tornam cada indivíduo mais forte enquanto expressão de uma potência visual. Ao se observar as imagens, é possível mergulhar em uma alegre jornada do existir e em uma ampla variação de repertório do artista dentro dos parâmetros por ele estabelecidos para um projeto que busca desvendar novos parâmetros no entendimento do que seja a arte dentro de alguns princípios da imaterialidade do século XXI.

 

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

 

Os deuses visitam a Bienal

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Oscar D’Ambrosio

 

Ao percorrer a 34ª Bienal de São Paulo, encontrei doze deuses do Monte Olimpo. Cada um escolheu uma obra.

Zeus quis as poderosas pinturas do paraibano Antonio Dias, que se caracterizam pela síntese, com fundo monocromático negro e palavras pintadas em branco. Hera, que castigava as amantes do seu marido, gostou muito do vídeo “Evil.16: Torture. Musik”, do norte-americano Tony Cokes, que destaca o uso de da música e do som para fins de tortura.

Poseidon, deus dos mares, preferiu “Entrelaçado”, do artista holandês Melvin Moti, que lida com fotos de pedras sagradas e tecidos xamânicos de uma ilha de um arquipélago japonês. Atena, deusa da justiça, acompanhou de perto o trabalho de Jaider Esbell, artista e escritor Macuxi de Roraima.

Ares, deus da Guerra, se identificou com as esculturas de Hanni Kamaly, norueguesa que cria estruturas para homenagear vítimas de violência estatal. Deméter, ligada à filha Perséfone, preferiu o vídeo “Cópia Única”, de Hsu Che-Yu, de Taiwan, que reconta a história de dois irmãos que nasceram imbricados fisicamente e tiveram a separação devassada pela imprensa.

Apolo mergulhou nas pinturas geométricas racionalmente concebidas pela paulistana Daiara Tukano, povo da região amazônica. Ártemis, deusa da natureza preferiu as pinturas do colombiano Abel Rodríguez, que tem ambientes verdes e árvores como temáticas.

O coxo deus Hefesto quis saber mais sobre o áudio da portuguesa Luisa Cunha “1.680 m”, em que ela calcula, pelo tamanho do passo, o tempo que demoraria a percorrer o Pavilhão da Bienal vazio – e ficou pensando quanto ele demoraria. Afrodite se apaixonou pela performance coreografada “Dançarino do Ano”, de Trajal Harrell, dos EUA, em que ele reflete sobre as suas apaixonadas reações aos receber a indicação.

Hermes, deus da comunicação, preferiu os vídeos de Ana Adamovic, da Sérvia, que reinterpretam imagens e cantos de corais do passado. E Dionísio logo se interessou pelo “Bode Vermelho”, de Christoforos Savya (Chipre), patchwork que representa o animal sacrificado em seu nome antes do início das apresentações do teatro grego.

E você? Com qual deus e obra se identifica?

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

Lugares de fala na arte

 

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Oscar D’Ambrosio

Por que o mercado de arte gosta tanto de desigualdade social exposta através da arte? A simplicidade dos questionamentos no melhor sentido incomoda mais que o sofrimento? As perguntas do artista Clóvis Camargo (@clovis.cmrg) levam a reflexões sobre a arte e os seus vínculos com a sociedade.

Uma delas é que o ideal de uma “sociedade igualitária” passa hoje pelo debate sobre o “direito à diferença”. Como aponta Djamila Ribeiro, no livro “O que é lugar de fala?”, “O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”.

Há pessoas que historicamente tiveram e tem mais chances de falar e de serem ouvidas na sociedade, pois a hierarquia social faz que inúmeras produções intelectuais, saberes e vozes sejam tratadas de modo inferior e colocadas em um lugar silenciado ou mesmo proibido de se manifestar.

Ter consciência do próprio sexo, gênero, cor, raça, etnia, origem regional, religião e orientação sexual permite o salto das experiências individuais próprias, portanto, de cada um, para a reflexão coletiva. Perceber-se e pertencer-se, nessa ótica, significa fundamentar as próprias perspectivas de vida.

O conceito de “lugar de fala” tem como base, portanto, o conceito de oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo. Isso não significa, porém, calar o outro. O objetivo é abrir espaço para que as mais diversas vozes sejam ouvidas, consideradas e respeitadas.

O pressuposto primordial é ampliar a troca de ideias e discussões para que não haja a imposição de uma visão. Portanto, quem não faz de um grupo pode continuar expressando a sua opinião sobre ele, desde que entenda a importância de abrir espaço para aprender, entender e respeitar o que aquele grupo está tentando dizer.

Cabe ao artista, nesse contexto, explorar a sua técnica e a sua sensibilidade para conseguir realizar as pontes entre os diversos lugares de fala rumo a estabelecer discursos em que as conexões se realizem de modo que as diferenças e igualdades se façam presentes dentro de sua proposta estética e vivencial.

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

Morador em Situação de Rua 2, de Guilherme Ramos

 

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A arte é um universo de percepções que pode emocionar o observador das mais variadas maneiras. Não há fórmulas mágicas nesse processo, mas uma busca constante por procedimentos estéticos que permitam desenvolver uma interpretação do mundo progressivamente expressiva.
Guilherme Ramos, de Barueri, SP, em “Morador em Situação de Rua 2”, traz a sua contribuição para essa discussão por meio de uma imagem que revela justamente a importância dos detalhes na construção de uma visão poética da chamada realidade que não abandona o realismo e que consegue transportar o público para uma outra dimensão.
Temos uma imagem composta de dois pés calçando chinelos. Eles podem ser vistos descobertos logo abaixo de um cobertor que cobre possivelmente o resto do corpo. O piso sobre o qual eles se apoiam também auxilia a erguer uma metáfora dos caminhos que esse indivíduo percorreu antes de estar em situação de rua.

A obra aponta para a potência de uma imagem de trazer uma mensagem. Geralmente a sutileza e a delicadeza no mostrar um caminho estético funcionam melhor do que uma criação que aposta apenas na intensidade. Nesse sentido, Guilherme Ramos apresenta uma realização artística que se vale de recursos técnicos aprimorados para atingir nossa sensibilidade.

 

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

Todo dia termina com o mistério da noite, de Oreste Bonaldi

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Se existe um recurso que pode resumir a magia da fotografia, é a luz. Há nela uma multiplicidade de possibilidades que permite ao profissional da área manifestar os seus sonhos de múltiplas maneiras. Por meio daquilo que se deseja mostrar e como isso é revelado, as imagens ganham os mais diversos sentidos.

A imagem postada em @oreste.bonaldi com o texto “Todo dia termina com o mistério da noite” transmite justamente o conceito que a luz ocupa também um papel central quando se pensa nos significados do dia e da noite. É quando o sol começa a descer em direção à linha do horizonte que as luzes artificiais são acesas – e o mistério começa a ser instaurado.

Surge, sem a luz natural, uma nova luz, aquela captada pelo cérebro humano, seja a partir de uma fogueira, de uma chama ou da eletricidade. Perante essas novas formas de luz, o mundo adquire novas características. Podem ser inesperadas, inusitadas, poéticas, sombrias – diferentes.

O maior enigma da fotografia, além da composição do olhar do artista visual que a cria, está justamente nas maneiras de lidar e conceber a luz para desvendar novos mundos, sejam eles concretos ou simbólicos, aparentemente claros e visíveis ou sutilmente delicados e invisíveis.

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

 

I am not Murakami

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Oscar D’Ambrosio

O trabalho da artista visual Livia Passos intitulado “Meu mundo e nada mais” (53 x 32 cm), realizado a partir da reutilização de isopor, CDs e tampas de medicações, possibilita uma reflexão sobre a obra do artista japonês Takashi Murakami (1962), com atuação destacada principalmente na pintura e nas mídias digitais.

Ele realiza pontes entre as artes tradicional e contemporânea japonesas e a pop norte-americana. As flores com sorriso, muito presentes em suas obras, por exemplo, aludem aos estilos mangá (histórias em quadrinhos) e anime (desenho animado) japoneses. Essas referências levaram o artista a cunhar, para a sua obra, o termo “superflat”.

A denominação descreve manifestações visuais que tem como principal característica um resultado plano, próprio das artes gráficas, animações, da pop art e da arte japonesa em geral. Livia Passos, porém, em seu trabalho, se própria dos círculos e das carinhas de Murakami, representando-as com tampas de medicação.

Surge então uma manifestação visual que, por ter volume, é o contrário do superflat. Se o criador oriental alerta para a cultura consumista japonesa, levando as suas resoluções visuais para o animé, a pintura, a escultura, o desenho industrial e a moda, Livia Passos traz uma interpretação renovada com o uso de sobras do mundo industrial.

As tampas, que provém de remédios usados para combater a dor, sorriem. Se Murakami se apropria da cultura contemporânea japonesa e da influência ocidental sobre ela; a artista brasileira, como dizem os versos da música de Guilherme Arantes que intitula o seu trabalho, “Daria tudo por meu mundo/E nada mais”, faz o “superflat” ganhar o espaço tridimensional.

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

Recife de Corais

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Oscar D’Ambrosio

Carmen Lenartowicz, em “Recife de corais” (90 x 93 cm), realizado em 2021 com técnicas de crochê bordado, nós e franjas com fios barbantes, lã e talagarça, apresenta uma obra que tem como mote a defesa dos oceanos. Nesse sentido, existe um diálogo constante entre aquilo que vemos plasticamente e o assunto proposto.
A obra evoca os exoesqueletos calcários construídos pelos corais para a formação das estruturas rochosas conhecidas como recifes de coral, resultado de centenas de indivíduos que vivem em conjunto e se associam com as zooxantelas, algas que vivem no interior dos tecidos dos corais, realizam fotossíntese e liberam para eles compostos orgânicos.
O problema é que, quando as temperaturas das águas sobem, as zooxantelas são expulsas do corpo dos corais. Ocorre então o que se chama de “branqueamento”, porque, sem elas, os corais ficam pálidos. O mais sério, além da questão visual, é que eles perdem o seu principal fornecedor de alimento, o que os pode levar à morte.
Essa triste história é evocada pelo trabalho de Carmen Lenartowicz, em que a riqueza técnica alerta para a complexidade da formação dos recifes de corais; e a coloração indica como o aquecimento global pode resultar inicialmente no branqueamento e posterior desaparecimento de sua beleza estética e biodiversidade.
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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

 





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