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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘Oscar D’Ambrosio’

Paisagem, de Regina Silveira

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oscar 2Labirintos são locais de experimentação visual, em que o seu percurso, assim como os caminhos do cérebro, é mais importante que a saída. Construídos para desorientar quem neles penetra, podem assumir diversas formas. Quem mantém o foco chega ao simbólico centro e deve encontrar a saída.

O mais célebre é o Labirinto de Creta, que teria sido construído pelo arquiteto Dédalo para alojar o Minotauro, monstro que, com seu corpo humano e cabeça de touro, recebia, como oferendas, jovens que devorava. Teseu o matou e conseguiu sair da complexa estrutura graças ao fio de um novelo que desenrolou ao longo do percurso.

À luz da psicanálise, o labirinto é uma metáfora do cérebro. Graças ao fio da consciência, que tem em uma de suas pontas a apaixonada Ariadne, em meio à inconsciência (o percurso complexo), o herói encontra a saída. Nesse sentido, a cabeça do Minotauro representaria a inconsciência (o lado animal) e o seu corpo humano, a capacidade de superação.

O labirinto de Regina Silveira (1939), chamado “Paisagem”, traz novas discussões. Trata-se de uma estrutura metálica com placas de vidro que, pela sua transparência, não apresenta dificuldades de encontrar a saída. As intervenções realizadas, que trazem a ideia de estilhaços, porém, evocam fragmentação e violência em suas múltiplas facetas.

Quebrar uma parede de vidro pode ser uma maneira de atingir a liberdade e de dialogar com o outro, tocando quem está do outro lado. Seja pela aproximação visual que a transparência permite ou pelo isolamento que o vidro gera, percorrer a “Paisagem” proposta por Regina Silveira é um vencer distâncias internas e externas.

Originalmente usados como armadilhas para maus espíritos e para realizar rituais religiosos, os labirintos, na Idade Média, eram um caminho de peregrinação para chegar a Deus, que ficaria no centro da jornada. Na contemporaneidade, a simbologia se perdeu. No entanto, a artista recupera esse estímulo ao entender o local como um espaço externo de reflexão interior.

 

The Hardest Way, de Antonio Dias

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Oscar D’Ambrosio

oscar 2Paraibano de Campo Grande, mas tendo morado no Rio de Janeiro, Paris, Milão, Nova York, Berlim e Nepal, Antonio Dias (1944 – 2018) apresenta, na maioria dos seus trabalhos, um saboroso mistério. O seu pensamento visual se dá na esfera dos saberes que não são explicitamente retratados, mas criados com sutileza, de maneira a sempre nos surpreender.

“The Hardest Way”, pintada, em 1970, com tinta acrílica sobre tela (2 x 3 m), é um exemplo de uma série de trabalhos que dizem muito com um mínimo de elementos. Sobre um fundo negro, há um fino requadro branco, mesma cor em que são pintadas as palavras GOD e DOG. É estabelecida assim uma reflexão entre o sagrado (Deus) e o profano (Cão).

O animal é miticamente associado à passagem entre a vida e a morte, sendo guia das almas dos homens no seu percurso até ao paraíso ou guardião das portas do inferno. Daí a sua presença no universo das artes adivinhatórias. O célebre Cão Cérbero, por exemplo, com suas três cabeças, guardava a porta dos infernos e impedia a saída dos mortos.

Inquéritos do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), realizados com 200 informantes, distribuídos equitativamente por sexos, faixas etárias e níveis de escolaridade, ao perguntar “Deus está no céu e no inferno está…?, obteve 39 variantes, com predominância para diabo (33%), sendo cão (8%) o quinto mais citado, principalmente no Nordeste.

A Humanidade e o Brasil da ditadura dos anos 1960/70, portanto, surgem alegorizados como um denso universo de trevas entre duas alternativas: a salvação divina ou a danação eterna. Em inglês, o Deus e o Cão podem ser escritos com as mesmas três letras, invertidas, mostrando que tudo não passa de uma mesma opção. Depende de como cada um a vê.

Liberte-se, de Livia Passos

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Oscar D’Ambrosio

oscar 2“Liberte-se”, de Livia Passos, obra pintada com tinta acrílica sobre tela (20 x 20 cm), distribui diversos cubos roxos no espaço. No central, na face colocada para o alto, temos uma representação humana. A obra leva a, pelo menos, duas reflexões estéticas pela escolha da figura geométrica e pelas tonalidades de cor dos sólidos apresentados.

O cubo, que traz uma conotação de prisão da imagem pintada, devido à sua solidez, é associado à eternidade. Em algumas culturas, como a muçulmana, um Kaaba (cubo), erguido no centro da Grande Mesquita na cidade de Meca, guarda a Pedra Negra, que teria sido dada a Abraão pelo Arcanjo Gabriel e é considerada uma das relíquias mais sagradas do Islã.

Pode, portanto, ser visto como símbolo de estabilidade, sabedoria, verdade e perfeição. Mas todos esses atributos também aprisionam. Para o artista, sair do “cubo”, da popular “caixa”, pode ser um caminho de libertação do corpo e da mente em busca dos próprios ideais e das muitas conexões interrompidas com o universo.

A cor roxa, por sua vez, está ligada ao mundo místico, à magia e ao mistério. É vinculada, principalmente nos rituais cristãos, a uma percepção de tristeza e de introspecção. Estão vinculados a ela conceitos de contato com o mundo espiritual, purificação do corpo e da mente e, como mostra a obra de Livia Passos, de libertação de medos e outras inquietações.

Cartas para Ângela, de Juraci Dórea

juraci dorea_vfOscar D’Ambrosio

oscar 2A relação entre artista, obra criada, sistema institucional que avaliza e público é muito complexa. “Cartas para Ângela 1 e 2”, de Juraci Dórea (Feira de Santana, BA, 1944), trata dessas questões de uma maneira muito pessoal. São trabalhos de 1989, com carvão e PVA (acetato de polivinila) sobre tela que mesclam muitas referências.

Algumas dizem respeito ao processo criativo, em uma esfera mais conceitual, e outras são de caráter pessoal. A aparência remete a cartas de viajantes e existe ironia em relação a comissões julgadoras de arte, já que o próprio criador, em suas instalações do consagrado Projeto Terra, percebeu que era mais fácil fazê-las no sertão do que com apoio institucional.

Verificamos que as missivas, que impactam por seu tamanho desmedido (2,20 x 1,60 m) perante uma carta tradicional, são destinadas a uma certa Ângela. O nome desperta múltiplos simbolismos, pois provém do grego “Ággellos”, que significa mensageiro, e do latim “Angelus”, que quer dizer “anjo”.

A carta, que é uma mensagem, portanto, tem como destinatário um anjo. O tema envolve “engenho e arte” e comparações entre a Nona Sinfonia de Beethoven e o coaxar de sapos. O tom coloquial se mistura a míticos nomes da arte, como Duchamp e Picasso , considerados mortos em uma narrativa que encanta pela mescla entre a densidade e a leveza.

Objetos funcionais, de Fabio Menino

fabio meninoOscar D’Ambrosio

 

oscar 2Onde pode estar a arte? Reside nas tradicionais grandes questões gregas, como de onde viemos, o que somos e para onde vamos? Seguramente, mas encontrar como esses aspectos reverberam no cotidiano é um desafio permanente, ainda mais quando existe, por parte de criadores visuais, a preocupação e o desafio de olhar para o cotidiano.

“Liquidificador e batedeira”, pintada com tintas acrílica e a óleo, transfer de propagandas de jornal e fita adesiva sobre tela (200 x 150 cm), de 2017, obra que integra a exposição intitulada ”Objetos funcionais”, que está, até 10 de outubro, na Temporada de Projetos 2020 no Paço das Artes (@pacodasartes), em São Paulo, SP, traz esse olhar.

Fabio Menino (@fabiomenino) torna o cotidiano épico, tanto pelo tamanho das telas, que representam imagens de objetos aparentemente não artísticos, como pelo tratamento pictórico, que não cria um universo realista para esses eletrodomésticos, mas os coloca próximo ao dia a dia do jornal e de fitas demarcadoras de áreas.

O encantamento está no fazer. Aquilo que parece banal se torna especial quando é construído materialmente de maneira diferente e colocado em um novo contexto. Dessa forma, objetos do dia perdem a sua utilidade prática e ganham uma dimensão visual e estética, passando a nos levar por uma jornada extraordinária pelos mágicos e instigantes caminhos do cotidiano.

A Ganha-Pão, de Nora Twomey

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Oscar D’Ambrosio

“Levante suas palavras, não sua voz. É a chuva que faz as flores crescerem, não o trovão”. Essa é a máxima que sintetiza a animação “A Ganha-Pão” (“The Breadwinner”), que pode ser assistido pela Netlix. Indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro em 2018 e premiada em vários festivais, o filme ganha impressionante atualidade perante a situação do Afeganistão.

A diretora, a irlandesa Nora Twomey, leva sua história para 2001, quando o Talibã está no poder. As mulheres não podem fazer compras, estudar ou mostrar o rosto. As consequências incluem desde maus tratos a surras ou prisão. O medo e a violência se espalham em todas as facetas do cotidiano, seja para pegar um balde de água ou comprar arroz.

O filme tem como protagonista Parvana, uma menina de 11 anos que perdeu o irmão em uma mina, viu seu pai, professor, sem uma perna, perdida na guerra, ser preso na própria casa e a mãe ser espancada por andar na rua sem algum home da família. A única maneira que encontra para garantir a sobrevivência da família é trabalhar disfarçado de menino.

Um ponto alto da animação é o relacionamento da menina com o pai. Ele, mesmo nos piores momentos, a alimenta com histórias do orgulho do seu povo, deixando claro que o essencial para enfrentar as dificuldades e manter a esperança é preservar a fantasia. A chuva do pensar e do criar revigoram a natureza, enquanto gritos, tiros e ameaças só geram dor.

 

Estudo de Nivaldo Gonçalves

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oscar 2O que o artista visual Nivaldo Gonçalves, que desenvolve, além de uma produção autoral, um trabalho de pesquisa fotográfica sobre pichações e grafites urbanos na capital e cidades do interior paulista, e a suíça radicada no Brasil Mira Schendel (1919 – 1988), considerada um dos principais expoentes da arte contemporânea brasileira, têm em comum?

Nivaldo, foi apresentado pelo curador Sérgio Pizoli, durante uma reunião de um grupo de estudos, à sua colega de ofício, que vem ganhando nome cada vez maior no exterior, principalmente pela maneira como lida com os silêncios e relações entre a imagem e palavra, utilizando traços, letras, frases e signos nas suas composições, como na Série Toquinhos.

Além disso, ela construiu, ao longo da carreira, imagens plenas de indagações filosófico-religiosas que discutiam, de maneira mais ou menos explícita, de acordo com a situação, questões relacionadas a experiência corpórea e espiritual, além de reflexões motivadas por textos de Carl Jung, pai da psicologia analítica.

Um dos maiores interesses de Mira era o processo de individuação, a busca e o encontro do “self”, arquétipo amplamente estudado e entendido por Jung como o processo pelo qual uma pessoa torna-se inteira, indivisível e distinta de outras. Que a arte leve Nivaldo a encontrar cada vez mais Mira e a caminhar nessa direção…

Passagens, de Ilka Lemos

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Oscar D’Ambrosio

 

O que é uma passagem? Pode-se pensar inicialmente no efeito de “passar”, ou seja, de ir de um lugar para outro. Essa é uma das possibilidades de leitura da exposição passagem, de Ilka Lemos, na Rua 13, em São Paulo, SP. O que está em jogo inclui quem passa, como é feita a mudança e quais são os pontos de partida e de chegada.

Pinturas, esculturas e objetos caminham em uma mesma direção: a de conectar dois universos. O ponto de passagem ocorre justamente onde existem conexões. Essa é uma das magias da arte e da exposição, pois as simbólicas das telas escadas que conectam diversos pontos espaciais são jornadas da criadora visual pelo espaço das obras e da galeria.

Ilka Lemos utilizou, em 2007, a mesma denominação, “Passagens”, para um conjunto de nove painéis de 2,8 m x 2,15 m instalados na Estação Alto do Ipiranga do Metrô de São Paulo, SP. Naquele momento, a mobilidade das pessoas estava em foco. Agora, a transformação ganha protagonismo, pois “passar” é “mudar”, criando novos elos a partir dos antigos.

É a passagem que permite conhecer o novo, seja do universo, de uma sociedade ou de um indivíduo. Assim como estrelas morrem, países se transformam e pessoas se reciclam, as obras de Ilka Lemos se valem da matéria para provocar questões sobre o que do passado permanece no presente para construir o futuro, assunto atemporal a questionar e desafiar.

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.

Andar com Fé, de Livia Passos

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oscar 2A música “Andar com Fé”, de Gilberto Gil, é o ponto de partida da obra homônima da artista visual Livia Passos. Realizada com tinta acrílica sobre uma folha de papel tamanho A4, a obra constitui uma jornada plástica em que se vê em um corpo, da cintura para baixo, de pés descalços, se deslocando da esquerda para direita.

O detalhe do rosário carregado na mão aponta para a presença da fé. O crucifixo acompanha o movimento da perna e, portanto, da própria existência. As pinceladas rápidas e ágeis na parte inferior da imagem apontam exatamente para a dinâmica do andar em quaisquer cenários, sejam mais ou menos favoráveis de acordo com a situação.

Assim como a letra diz “Oh oh/Na luz, na escuridão/Andá com fé eu vou/Que a fé não costuma faiá olêlê”, a imagem transmite a necessidade de caminhar. Seja por áreas mais claras ou mais sombrias da existência, ela se faz no ato dinâmico de prosseguir e de buscar um futuro a ser construído.

Não existe um amanhã pronto a ser conquistado, mas um passo a passo que ergue aquilo que se deseja para si mesmo e para a sociedade como um todo. Nesse aspecto, a imagem de Livia Passos funciona como um estímulo ao próprio andar. Cada um carrega consigo aquilo que julga ter de melhor e de mais importante, pois a fé, seja naquilo que for, ajuda a continuar…

Vividas, de Jardélio Santos Alves

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oscar 2A exposição “Vividas – Narrativas Negras em Trânsito”, de Jardélio Santos Alves, no Centro Cultural da Juventude (CCJ), na Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, SP, trata de humanidades. O ponto de partida é a paisagem urbana da zona norte paulistana, mas há ali um mergulho no universo das cores que ultrapassa uma visão do cotidiano.

A discussão proposta ultrapassa a vida das pessoas representadas ou o território que elas ocupam. É possível encontrar nos trabalhos uma pesquisa permanente da luz com enquadramentos diferenciados, que geralmente buscam a dimensão das aproximações para extrair delas o máximo possível.

Não se trata de conceber a exposição somente em uma dimensão antropológico ou social. Essas camadas se fazem presentes, mas são superadas pela maneira como o pintar se realiza, como é possível observar no autorretrato utilizado no convite, no qual a luz se esparrama pelo corpo, penetrando nas esferas do pensar a criação como uma expressão do fazer e do sentir.

O céu, o urbano e os personagens, presente no conjunto de pinturas, traz uma reflexão sobre as múltiplas possibilidades da vida. Ser artista é uma escolha que traz implicações de temas e estilos a serem selecionados em uma gama ampla de alternativas. Jardélio Santos Alves opta pelo caminho do cromatismo, da composição e, acima de tudo, da sensibilidade.

Oscar D’Ambrosio





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