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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

fevereiro 2025
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:: ‘Alceu de Castro’

Onze contra dois (e o Evo Morales nem jogou…)

Daniel Thame

Rádio Difusora Oeste, Osasco (SP), 1985. Para quem trabalha em radio pequena, cobrir uma partida da Seleção Brasileira é a glória. Assim, até um jogo mulambento entre Brasil e Bolívia no Estádio do Morumbi, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1986, no México, ganhava ares de decisão.

O Brasil, dirigido pelo saudoso Telê Santana, já estava classificado e o time era recheado de jogadores do São Paulo, como Oscar, Silas, Careca, Muller, Sidney e um Falcão já em fase outonal. Enfim, a velha e boa média com a sempre exigente torcida paulista.

Para nós da aguerrida Difusora Oeste, era a chance rara de poder contar (como estou contando aqui) que cobrimos um jogo da Seleção Brasileira. Grande m…, dirão alguns, diante da maneira como o nosso time nacional foi banalizado e transformado em mercadoria para as cbfs da vida. Mas, naquele tempo a Seleção ainda era uma instituição quase sagrada.

 

Hoje com o assalto  que os  bolsominios fizeram à ex-gloriosa amarelinha,  é preciso um esforço hercúleo da Rede Globo e um golaço do engajado Richarlyson para que enfiam o pais comece  a respirar (de novo de máscaras por conta desse insistente virus hijo de puta e de milhões de brasileiros que se recusam a tomar a vacina) o clima de Copa do Mundo.

 

Voltemos a 1985…

A equipe da rádio para o jogo em questão tinha Alceu de Castro na narração, Carlos Roberto nos comentários e eu como repórter de pista. Os “famosos quem?”.

Alceu, como eu já contei neste blog, era um sujeito simplório, vindo do interior, que adorava imitar o Fiori Giglioti. Sem muito estudo, quando cismava com uma palavra bonita usava toda hora, mesmo que ela não fizesse o menor sentido na transmissão.

Ao receber a escalação da Bolívia, com aqueles nomes todos em espanhol, parecia que Alceu havia se deparado com a escalação de um time grego ou polonês, com seus nomes impronunciáveis.

Vendo a dificuldade do narrador, Carlos Roberto passou dica:

-Ô Alceu, pega uns cinco ou seis nomes mais fáceis e toca a transmissão numa boa.

Alceu acatou a sugestão, mas talvez empolgado por estar narrando um jogo da Seleção Brasileira, em vez de cinco ou seis, ele só guardou o nome de dois jogadores da Bolívia: Garcia e Vaca.

E era um tal de “Garcia toca para Vaca”, “Vaca lança para Garcia”, “Vaca faz falta feia em Careca”, recheados pelo “bola com o número 8”, “olha o número 5 avançando pela ponta”. E a gente sem querer ou poder “escalar” mais alguns jogadores da Bolívia, com medo de que Alceu chutasse o pau da bandeira e a transmissão desandasse de vez.

O fato é que, jogando “só” com Garcia e Vaca, a Bolívia encarou o Brasil de igual para igual e arrancou um heróico empate em 2×2. Naquele tempo, empatar com o Brasil merecia o apodo “heróico”.

Encerrada a transmissão, fomos todos tomar nosso fogo paulista (uma mistura de cachaça com groselha, verdadeira bomba, mas era o que o orçamento minguado permitia) em paz.

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Tempos de fogo paulista, pão com mortadela, calça velha azul e desbotada (porque só tinha uma). Não parecia, mas éramos felizes e só viríamos saber bem depois.





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