andreaGrande parte da população sabe que o sol pode ser sinônimo de perigo e provocar o desenvolvimento de doenças como o câncer de pele, mas ainda assim resiste a adotar atitudes preventivas para não prejudicar a própria saúde. É o que mostram os estudos, sobre comportamento populacional perante os danos que a exposição ao sol pode causar, da física Andrea Morégula, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Este tema tão importante é a pauta desta semana do Bahia Faz Ciência, série de reportagens lançada pela Secti e Fapesb, a fim de aproximar o cidadão da produção científica no estado.

 

Dados do Instituto Nacional do Câncer indicam que mais de 30% de todos os cânceres diagnosticados são câncer de pele não melanoma, causados pela exposição excessiva ao sol e sem proteção adequada, como explica Andrea. “Apesar dos benefícios que pode haver na nossa vida, ainda há um problema a nível mundial em relação à falta de cuidados na hora de tomar sol. O que acontece é que as pessoas acreditam que somente passar o protetor solar as deixam protegidas, e, por isso, não tomam nenhuma outra medida”.

 

O projeto consiste em primeiramente entender se a população da amostragem (757 pessoas, entre pacientes do SUS e estudantes), que se concentra no Sul da Bahia, conhece os índices de radiação solar e se adotam hábitos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A partir dessas informações, é possível gerar novas orientações para os órgãos públicos responsáveis revisarem a linguagem que utilizam para a população se prevenir contra doenças de pele, oriundas da exposição ao sol.

De acordo com Andrea, a prevenção aos raios ultravioleta (UVB) não pode ser feita de forma generalizada. “É necessário entender que a incidência do sol vai variar de acordo com o local que você está e as condições climáticas do dia e período em que se encontra. Além de um índice geral para medir a radiação solar que pode servir de indicação para toda a população baiana, não deve haver uma generalização em relação aos horários de maior incidência, pois em regiões como Ilhéus, o índice Ultravioleta (IUV) no verão alcança níveis extremos a partir das 8 ou 9h da manhã, e a pessoa já deveria evitar uma exposição excessiva ou sem proteção”, alertou.

 

A professora e pesquisadora da Uesc ressalta também que é importante fortalecer o conhecimento dos valores diários do IUV local e adotá-lo como um alerta para os períodos em que a exposição solar pode trazer danos à saúde. “O maior número de pessoas que não se previne adequadamente contra os danos causados pelo sol ainda está enquadrado entre as classes sociais mais baixas, devido ao acesso limitado à informação”, destacou.

 

O estudo, que faz parte do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), reforça a importância de ir além das campanhas de prevenção no verão e das informações mais básicas, como passar protetor a cada duas horas. “Muitos não sabem, mas a radiação ultravioleta é cumulativa, ou seja, o sol que você se expôs na infância tem impacto na vida adulta e é somado cada vez que você volta a se expor”, informou.

 

Ao fazer um balanço sobre as descobertas do estudo, Andrea destaca que foi uma surpresa o valor do produto não ter sido o maior indicativo para as pessoas que não usam protetor solar. Ela ainda traz um dado histórico acerca do tema. “Antigamente, a sociedade adotava como padrão de beleza a pele em seu estado original, sem o bronze. Com o advento da Revolução Industrial, e o aumento da classe operária que passava a maior parte do tempo em fábricas e sem contato com o sol, os nobres, com o objetivo de se diferenciar socialmente, passaram a adotar o bronzeamento como algo refinado, restrito somente a uma elite que tinha tempo de ficar ao sol, e consequentemente, ter a pele mais dourada”, finalizou.