O que a cacauicultura quer para o futuro? Essa é a questão que todos os elos da cadeia produtiva do cacau discutiram nesta sexta-feira (15), em Ilhéus, na sede do Sindicato Rural, iniciando o processo de elaboração do Plano Estadual do Cacau, que deverá ser lançado ainda este ano pela Câmara Setorial Estadual do Cacau. Ao abrir a reunião da Câmara, o secretário estadual da Agricultura, engenheiro agrônomo Eduardo Salles, afirmou que “nós queremos um plano operacional do setor, feito de baixo para cima, com ações imediatas e de médio e longo prazo, com a cumplicidade de todos os segmentos da cadeia, colocando as responsabilidades de cada um, como já fizemos com a cadeia da borracha natural e estamos realizando com a cadeia do leite”.

Salles destacou que “pela primeira vez reunimos todos os segmentos do cacau, congregando pessoas que pensam diferente, mas todas com o objetivo de buscar futuro melhor para o cacau, e esse fato é extremamente importante”. Ele explicou que “não será um planejamento feito pelo governo, mas pela sociedade organizada, que vai cobrar dos governantes seu cumprimento, de modo que quem assumir no futuro a pasta da Agricultura não poderá ignorar o plano.

“Se alguém tem que dar liga, é o Estado, que se não agir, nada acontece. O Estado tem que nivelar os interesses”, afirmou Wallace Setenta, presidente do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau. Ele parabenizou a Secretaria da Agricultura por criar 22 câmaras setoriais, e por estar estimulando-as a elaborar planos estaduais para cada setor.

A Câmara Setorial Estadual do Cacau criou um Grupo de Trabalho (GT), composto por representantes de todos elos da cadeia, que já se reúne na próxima quinta-feira (21), às 9 horas, no Sindicato Rural de Ilhéus, com a missão de elaborar a primeira versão do plano.

Membro do da Câmara e do GT, o chefe de Planejamento da Ceplac-Bahia, Antonio Zugaib, vai sistematizar e atualizar tudo que já foi proposto anteriormente em relação ao cacau, para apresentar nesta primeira reunião. “Não queremos reinventar a roda”, disse Salles, explicando que a sistematização que será feita por Sugaib visa aproveitar o que já existe e que pode ser incorporado ao plano, considerando os temas listados durante a reunião desta sexta-feira.

As discussões versaram sobre questões como: a quem se destina o plano, sua unidade coordenadora, diagnóstico do setor, políticas para o cacau, pesquisa e extensão rural, criação de um fundo para o setor, industrialização, turismo (rota do cacau), estradas vicinais, indicação geográfica, dívidas e novos créditos, importação, preço mínimo, escolas de cacau e chocolate, sustentabilidade e manejo ambiental do cacau cabruca e diversificação.

 

Desafio político

Respondendo à questão levantada sobre a necessidade de respaldo político para mudar a realidade do cacau na região produtora, o prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, que prestigiou a reunião, afirmou que “estou solidário a este plano e aceito o desafio da representação política”. Ele enalteceu a iniciativa da Câmara Setorial e da Secretaria Agricultura, e afirmou que “recuperar nossa economia é fundamental para nossa região”. O prefeito considerou que “o fato de estarmos reunidos aqui, pessoas que pensam de forma diferente, é um fato marcante, gerando uma energia que não podemos dispersar, nem permitir pessimismo”. Finalizando, o prefeito declarou-se solitário e comprometido com o plano, que vai ajudar a elaborar, através da secretaria municipal da Agricultura.

“O desafio da Câmara Setorial é fazer política pública exequível para o setor, sem o risco de sofrer solução de continuidade, em função das alternâncias de governo”, afirmou Vivaldo Mendonça, diretor executivo da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (Car), empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir). Ele enfatizou que “o cacau tem que ser para sempre, sob pena das regiões produtoras sucumbirem, mas o cacau só não resolve, temos que agroindustrializar, diversificar e dar sustentabilidade ao cacau cabruca”.

De acordo com Angélica Anunciação, presidente do Polo Sindical/Central das Cooperativas, a produção de cacau hoje está concentrada em 111 municípios de sete territórios de identidade, (Litoral Sul, Baixo Sul, Extremo Sul, Costa do Descobrimento, Vale do Jequiriçá, Médio Rio de Contas e Médio Sudoeste), envolvendo principalmente agricultores familiares. Para ela, a elaboração do plano é fundamental.

Para o secretário executivo da Câmara Setorial Estadual do Cacau, Isidoro Gesteira, “o governo do Estado, através da Seagri, já fez muito em relação às soluções para o endividamento do produtor, mas precisamos resolver definitivamente a questão das dívidas e de crédito novo para investimentos”.

Presidente da Associação de Produtores de Cacau (APC), Guilherme Pinto destacou que “sabemos que a região produtora estende-se por mais de 100 municípios, mas não sabemos qual a produção de cada um, que tem sistemas produtivos diferentes”. Ele relatou ainda que o último levantamento data dos anos 80, apontando que fazer o diagnóstico do cacau deve ser uma das tarefas da Câmara Setorial do Cacau.

Além de Salles, Jabes Ribeiro e Vivaldo Mendonça, participaram da reunião o presidente do Sindicato Rural de Ilhéus, Milton Andrade Júnior; Almeida Junior, diretor de Agricultura da Seagri; Isidoro Gesteira, secretário executivo da Câmara Setorial; Sérgio Murilo, pesquisador da Ceplac; Catarina Cotrin, técnica da Adab especialista em cacau; Durval Libânio, presidente da Câmara Setorial Nacional de Cacau, Joelson Oliveira, representante do Território de Identidade Litoral Sul, vereadores e secretários de Agricultura dos municípios da região, dentre outros.