TERRAS DAS MORTES SEM FIM
-Seu babaca, você não sabe nem atirar…
-Vou te mostrar que eu sei…
“Bum”!
Um tiro só.
E Débora Pereira de Jesus, de 27 anos, moradora do bairro Santa Catarina, em Itabuna, descobriu de forma trágica que Luiz Gonzaga Lima, de 18 anos, sabia atirar.
O disparo feito por Luiz foi tão certeiro e fatal que Débora morreu antes mesmo de ser levada ao hospital.
Contando assim, parece uma inocente crônica do cotidiano numa região marcada pela violência.
É sim, uma crônica do cotidiano, mas não tem nada de inocente, muito pelo contrario.
A polícia de Itabuna registra cerca de 2.500 ocorrências por ano, entre elas quase mais de uma centena de assassinatos. Ilhéus tem números idênticos e observem que está se falando aqui apenas das ocorrências registradas, visto que centenas, talvez milhares de ocorrências menores, deixam de ser registradas, já que as vítimas nem se dão ao trabalho de ir à delegacia.
Os homicídios representam 6,4% das ocorrências superando o roubo de veículos com 5,5% e do tráfico de drogas e dos assaltos a ônibus, com 3,9. Se bem que, vale lembrar, o tráfico de drogas está associado a vários outros tipos de ocorrências, daí que esse percentual deve ser relativizado.
Os números, divulgados durante o lançamento do mais do que necessário Pacto Municipal Contra a Violência em Itabuna, servem como retrato de uma situação calamitosa, que já passou de todos os limites suportáveis. Mas, tornam-se até dispensáveis, tão visível é a violência, escancarada em assassinatos, roubos, arrombamentos e agressões.
Assassinatos por motivos banais, como o que vitimou Débora Pereira de Jesus, tornaram-se corriqueiros. Mata-se por qualquer motivo ou mesmo sem nenhum motivo.
A violência é um misto de ausência de perspectivas, desequilíbrio pessoal, serviços públicos precários e um sistema de segurança pública que não consegue proteger o cidadão. É fato que boa parte das ocorrências, incluindo-se aí os assassinatos, poderia ser evitada caso houvesse uma polícia mais atuante e em condições de trabalhar de forma satisfatória.
A implantação de um Pacto Municipal Contra a Violência, envolvendo as policias Civil e Militar, o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Governo Municipal e entidades representativas da sociedade civil organizada; é uma boa intenção, mas tem que sair do campo do discurso e passar à ação e articulação no sentido de melhorar a segurança pública.
É preciso dar um basta à violência numa região celebrizada por Jorge Amado em romances de antologia como “Terras do Sem Fim” e que hoje se transformou na “Terra das Mortes Sem Fim”.