:: 10/jul/2009 . 17:43
TERRAS DAS MORTES SEM FIM
-Seu babaca, você não sabe nem atirar…
-Vou te mostrar que eu sei…
“Bum”!
Um tiro só.
E Débora Pereira de Jesus, de 27 anos, moradora do bairro Santa Catarina, em Itabuna, descobriu de forma trágica que Luiz Gonzaga Lima, de 18 anos, sabia atirar.
O disparo feito por Luiz foi tão certeiro e fatal que Débora morreu antes mesmo de ser levada ao hospital.
Contando assim, parece uma inocente crônica do cotidiano numa região marcada pela violência.
É sim, uma crônica do cotidiano, mas não tem nada de inocente, muito pelo contrario.
A polícia de Itabuna registra cerca de 2.500 ocorrências por ano, entre elas quase mais de uma centena de assassinatos. Ilhéus tem números idênticos e observem que está se falando aqui apenas das ocorrências registradas, visto que centenas, talvez milhares de ocorrências menores, deixam de ser registradas, já que as vítimas nem se dão ao trabalho de ir à delegacia.
Os homicídios representam 6,4% das ocorrências superando o roubo de veículos com 5,5% e do tráfico de drogas e dos assaltos a ônibus, com 3,9. Se bem que, vale lembrar, o tráfico de drogas está associado a vários outros tipos de ocorrências, daí que esse percentual deve ser relativizado.
Os números, divulgados durante o lançamento do mais do que necessário Pacto Municipal Contra a Violência em Itabuna, servem como retrato de uma situação calamitosa, que já passou de todos os limites suportáveis. Mas, tornam-se até dispensáveis, tão visível é a violência, escancarada em assassinatos, roubos, arrombamentos e agressões.
Assassinatos por motivos banais, como o que vitimou Débora Pereira de Jesus, tornaram-se corriqueiros. Mata-se por qualquer motivo ou mesmo sem nenhum motivo.
A violência é um misto de ausência de perspectivas, desequilíbrio pessoal, serviços públicos precários e um sistema de segurança pública que não consegue proteger o cidadão. É fato que boa parte das ocorrências, incluindo-se aí os assassinatos, poderia ser evitada caso houvesse uma polícia mais atuante e em condições de trabalhar de forma satisfatória.
A implantação de um Pacto Municipal Contra a Violência, envolvendo as policias Civil e Militar, o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Governo Municipal e entidades representativas da sociedade civil organizada; é uma boa intenção, mas tem que sair do campo do discurso e passar à ação e articulação no sentido de melhorar a segurança pública.
É preciso dar um basta à violência numa região celebrizada por Jorge Amado em romances de antologia como “Terras do Sem Fim” e que hoje se transformou na “Terra das Mortes Sem Fim”.
DE CABEÇA ERGUIDA
Esqueçam o deputado baiano José Carlos Araujo e seus alegados quilinhos a mais durante os excessos juninos. Isso é coisa menor, ínfima, diante do mais recente e deprimente espetáculo proporcionado pelo Congresso Nacional.
Como era previsível, o deputado Edmar Moreira, aquele do castelo avaliado em 25 milhões de reais não declarado à Receita Federal, que já havia escapado da cassação do mandato, escapou também de qualquer tipo de punição, já que até a sua suspensão temporária foi rejeitada pelo Conselho de Ética (sic).
Na prática, o processo contra ele acabou.
O resultado foi a impunidade.
O encastelado Edmar é acusado de usar a verba de mordomia, perdão verba de representação, de forma irregular, emitindo notas frias para embolsar o dinheiro.
A absolvição de Edmar Moreira não chega a ser uma novidade e nem causa surpresa. O corporativismo costuma ser prática corrente no Congresso Nacional e as cassações só ocorrem em momentos extremos, quando não dá para esconder a sujeira debaixo do colossal tapete onde tantas sujeiras são depositadas.
Moreira escapou da cassação, mas não escapamos de mais um espetáculo de cara de pau, de escárnio e desrespeito, transmitido pelas principais redes de radio e de televisão do país.
Não satisfeito com mais esse conchavo entre compadres que se protegem o deputado Sérgio Moraes, aquele que disse que estava se lixando para a opinião pública, resolveu esculachar.
Disse, em alto e bom som, que o colega Edmar deveria “andar de cabeça erguida” pelo Congresso Nacional e em qualquer lugar que fosse, porque não devia nada para ninguém.
E ainda tripudiou:
-No ano que vem, a gente se reelege e estará de volta em 2011…
Teve mais:
-Eu tenho certeza de que vou me reeleger.
Alguém ai se lembra o que é voto de cabresto?
O que o nobre deputado Sérgio Moraes disse durante o circo da absolvição de Edmar Moreira pode ser traduzido da seguinte maneira: danem-se (a expressão é outra, mas esse é um espaço pudico) a imprensa e a opinião pública, porque na hora da eleição tem um monte de otários que votam na gente e isso é o que importa.
O pior é que Sérgio Moraes está coberto de razão,
Eles podem desviar recursos públicos, embolsar verbas de forma irregular, legislar em causa própria, serem financiados por empreiteiros, industriais, banqueiros, etc., para depois defenderem interesses escusos; e continuarão de cabeça erguida.
Sabem que, além gozarem na plena impunidade, eles sempre voltam.
E voltam porque são eleitos, reeleitos, re-reeleitos
Voltam porque – é forçoso dizer e continuar repetindo porque o tema é recorrente- é o povo (ou seja, nós!) quem os mantêm lá.
É mais ou menos assim: a gente vota de cabeça baixa e eles voltam de cabeça erguida.
Sempre.
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