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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘Odilon Pinto’

Odilon Pinto, triste partida

odilon pinto

Por Emiliano José

Emiliano JoséEra nosso menestrel.

 

Andou por trilhas pouco conhecidas.

 

Por guerrilhas atrevidas.

 

Peleou ao lado de Manoel da Conceição no Pindaré-Mirim, no Maranhão.

 

Ao lado, também, naquela selva, de Oldack Miranda, andarilho vindo das matas do Jaíba, das Minas Gerais.

 

Andou por Salvador, morou na Ladeira da Ventosa, nos Pernambués, com Zanetti e Manfredini.

 

Foi pro cacau, lado a lado com Roriz e Zefa, e lá caiu.

 

Caíram vários, integrados à produção, todos de Ação Popular.

 

Calmo, no coletivo da Galeria F, na Penitenciária “Lemos Brito” em Salvador, nos anos 1970, era de ouvir, pouco de falar.

 

Cantar, aí sim, com ele.

 

Compor, era mestre.

 

“Sou comunista companheiro sou contra a fome e o cativeiro o camponês e o operário pagam foros e recebem salários são explorados pelos latifundiários pelos capitalistas é por isso que sou comunista” – tantas vezes cantamos isso, ele ao violão, roda de cantoria na prisão.

Produziu um verdadeiro cancioneiro revolucionário, com base das lutas no campo.

Passada a prisão foi estudar mestrou doutorou radialista contador de casos nunca perdeu ligação com os trabalhadores do campo.

 

Partiu quieto havia se recolhido e não queria barulho com sua morte.

 

Morreu no Sul da Bahia, pra onde voltara.

 

Não fossem suas músicas, tantas, há um disco, sei já não se chama assim, com suas canções, organizado por Anete Rabelo, mulher de Antonio Rabelo, os dois também já partiram, ela recentemente, não fossem elas, preciosidades, e ele cantava cantava nos fortalecendo naquelas catacumbas, ele se valia de Luiz Gonzaga.

 

E abria a voz setembro passou oitubro e novembro já tamo em dezembro meus Deus que é de nóis, triste partida…

 

Cantou e ensinou.

 

Viveu.

 

Deixou a marca da poesia e da serenidade.

 

 

E da coragem.

 

Odilon Pinto, cantador e lutador.

——

Emiliano José combateu a Ditadura Militar, é jornalista, ex-deputado estadual e autor de Lamarca, o Capitão da Guerrilha, com Oldack Miranda. Como Odilon, combateu  bom combate.

Vida na Roça, Vida no Céu

odilon pinto

Daniel Thame (para Odilon Pinto)

dt chapeu“Querido Odilon, essa carta chega até você molhada pelas lágrimas de saudade, mas também de gratidão.

Ah, Odilon. Você nem imagina quantas e quantas vezes nós sentava em torno do rádio, tomando o café, pra ouvir seu programa e principalmente o quadro Vida na Roça.

Eram histórias de amor, de tristeza, da vida dura no campo, mas também de momentos felizes que só você sabia contar. Porque você era um de nós, Odilon.

Nós só ia pras roças de cacau depois que seu programa terminava e já ficava esperando o dia seguinte.

A vida na roça nunca foi fácil para o trabalhador, mas nós vivia com dignidade, fome ninguém passava. E tinha as festas, de Reis, de São João, de Natal, o povo todo das fazendas se reunia e era uma alegria de dar gosto…

Uma vez no Natal eu levei um leitãozinho pra você lá na Rádio Jornal, você me recebeu na maior simplicidade e ainda me agradeceu na rádio.

E todo mundo ouviu, Odilon, porque não tinha fazenda nesse mundão de Deus que não tivesse um rádio só pra ouvir você.

Ah Odilon, que saudade desse tempo.

Depois veio essa desgraçada da vassoura de bruxa e tudo mudou pra pior. O cacau praticamente acabou, nós ficou perdido porque pra nós o cacau nunca iria acabar.

Odilon, muitos companheiros perderam o emprego, famílias inteiras ficaram sem rumo. Teve até Tonho, pai de cinco filhos, trabalhador retado, que mergulhou na cachaça e um dia se atirou no Rio Pardo, pra nunca mais voltar.

Teve Zeca, que pegou a família e foi pra São Paulo com quase nenhum dinheiro e não mandou mais notícias. Teve Maria, que foi abandonada pelo marido, se trancou em casa com os três filhos pequenos e passou a viver do pouco que nós conseguia levar.

Tanta gente que partiu, Odilon.

Odilon, eu fiquei na roça. De teimoso, porque aqui é meu chão. Virei meeiro, trabalho muito e divido os ganhos com o dono da fazenda. Pra você eu posso contar; dois filhos meus foram pra Itabuna. Um trabalha no comércio, casou, leva uma vida simples, mas é uma pessoa de bem.

O outro, Odilon, se meteu com uma tal de droga, já foi preso, vive em confusão e só de falar dá um aperto no coração. Minha véia é só que chora e ora o tempo todo pra Deus tirar ele desse caminho.

Odilon, acho que tô me alongando demais.

Quero encerrar essa carta dizendo uma coisa do coração.

Você nos deixou, a vida na roça tá em silêncio, mas nós tem certeza de que a partir de agora os anjos, santos e até Deus vão parar todas as manhãs pra ouvir você contando causos da Vida no Céu.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba)

Associação Baiana de Imprensa (ABI) Seccional Sul

 

Nota de Pesar

 

odilon pinto

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia e a Associação Baiana de Imprensa (ABI) Seccional Sul lamentam profundamente o falecimento do jornalista, radialista, professor universitário e escritor Odilon Pinto de Mesquita Filho, 72 anos, ocorrido no início da noite desta quarta-feira, 13 de janeiro, em Itabuna, vítima de infarto.

 

Odilon foi um dos grandes profissionais da história da comunicação grapiúna e também servidor público pela Ceplac. Durante anos, apresentou um programa rural na Radio Jornal de Itabuna, que teve como grande sucesso o quadro “Vida na Roça”, em que narrava de forma dramatizada histórias enviadas pelos ouvintes. O quadro deu origem à coluna “Coisas da Vida”, publicada no jornal Diário Bahia e transformada em livro editado pela Via Litterarum. Odilon Pinto deixa um exemplo de ética, companheirismo, seriedade e amor à profissão, legado para as atuais e futuras gerações de jornalistas e radialistas.

Aos parentes, amigos, colegas de imprensa e familiares, externamos nossos sentimentos de solidariedade.

 

 

Itabuna, 13 de janeiro de 2021.

 

 

 

As Diretorias

 

 

Aos 72 anos, morre professor e comunicador Odilon Pinto

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O professor e radialista Odilon Pinto faleceu agora há pouco, em Itabuna. Aos 72 anos, ele vinha lutando contra complicações da diabetes e escolheu viver recluso nos últimos tempos. Embora mantendo o gosto pela leitura e pela informação, deixou de exercitar a literatura, outro dos grandes prazeres dele.

Dono de uma criatividade reconhecida na comunicação regional, ganhou voz no rádio por décadas com o programa “De Fazenda em Fazenda” e até hoje é lembrado em toda a região. Nos bancos da faculdade, formou uma legião de profissionais, inclusive outros professores; escreveu livros; teve colunas no jornal Diário Bahia, surgido como Diário do Sul, em 1999. É sempre reconhecido como um dos grandes nomes que colaboraram com esta publicação.

Neste jornal ele escrevia sobre “Coisas da Vida”, onde colocava diversos temas em discussão através de personagens. Já em “Usos do Português”, tirava dúvida da nossa língua, defendendo inclusive a defesa da Linguística (ciência que ressalta a importância de as mensagens serem compreendidas, estando ou não nos padrões impostos pela Gramática).

O saudoso professor concedeu entrevista ao Diário Bahia em 2019, quando relatou sobre a prisão na época da Ditadura Militar, as concepções políticas que defendeu e a forma como enxergava o Brasil na atualidade (Relembre aqui).

Ainda não há informações sobre velório e enterro, mas todas as despedidas atendem aos protocolos de segurança neste período de pandemia.

Odilon Pinto supera 70 anos, em defesa da democracia e da cultura popular

por Celina Santos, no Diário Bahia

odilon pintoUm doutor das letras nos laços da cultura popular; um defensor da democracia, que literalmente sentiu na pele as marcas de não aceitar o que lhe era imposto. Eis as primeiras palavras que podem descrever o radialista, professor e pesquisador Odilon Pinto Mesquita Filho. Com 70 anos e 9 meses intensamente percorridos, ele nasceu em Teresina (PI), mas chegou a Itabuna ainda na juventude, trazido pela organização política Ação Popular.

O grupo arregimentava pessoas movidas pelo ideal de liberdade e contra a Ditadura Militar, cujos efeitos foram vividos no Brasil de 31 de março de 1964 até 1985. “Eu lutei muito! Eu e muita gente lutamos, arriscando a vida até. Eu estou vivo por sorte (risos contidos)”, recorda ele, que ficou anos preso.

Detido em Ibicaraí e levado para a Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador, Odilon Pinto experimentou o já tão relatado tratamento dispensado àqueles que não concordavam com aquele regime. Diante de nossa pergunta (um tanto óbvia, mas necessária) se ele foi torturado, o hoje grapiúna detalhadamente – embora sereno – contou:

“Fui! Todo mundo na época era. Eles queriam saber o nome dos outros. Prendiam você e, logo nos primeiros dias, ia torturar pra você entregar quem eram os outros. Choque, pancada, surra… E quando eles achavam que era perigoso, eles matavam mesmo. No meu caso, não. Porque quando me prenderam, eles já sabiam tudo. Em Panelinha, perto de Camacan, eu morava com um casal de companheiros e, quando eles prenderam o casal, eu fugi. Mas quando me prenderam depois, já sabiam tudo quem eu era, o que eu fazia, já tinham levantado tudo, investigado tudo”.

Aí perguntamos: e quem o senhor era? Ao que ele, mais uma vez serenamente, respondeu: “Eles chamavam de terrorista, mas eu acho que aquilo era só pra botar uma imagem negativa. Eu era militante comunista, militante revolucionário e ponto. Lutava pela democracia, eleição, essas coisas. Que as pessoas pudessem escolher quem governava, era isso que a gente fazia”.

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No Dia do Jornalista, um viva a Vily Modesto e Odilon Pinto

Vily Modesto, marcou época na Rádio Jornal de Itabuna, com o programa matinal das 7 às 9 da manhã, que levava seu nome. Músicas (com destaque para seu ídolo e amigo Roberto Carlos), notícias e entretenimento, em duas horas diárias do melhor que o rádio podia oferecer em termos de qualidade.

Odilon Pinto fez história,  também na Rádio Jornal, com um programa voltado para o homem do campo. Das 5 as 7 da manhã, a voz de Odilon ressoava por todo o Sul da Bahia, tendo como ponto alto o quadro “Vida na Roça”,  cartas dos ouvintes contando experiências de vida, que Odilon dramatizava e que depois se transformam em livro editado pela Via Litterarum e numa coluna fixa, “Coisas da Vida”,  no Diário Bahia.

Vily e Odilon, dois marcos e mestres da comunicação regional, se afastaram dos microfones e vivem, por opção ou necessidade, períodos de reclusão.

Fizeram história e fossemos mais cuidadosos em homenagear quem efetivamente merece, deveriam ser reverenciados inclusive pelos cursos de comunicação, tão desleixados que são quando se trata de olhar para o passado, de assimilar experiências extraordinárias.

No Dia do Jornalista, o Blog do Thame  celebra Vily e Odilon, dois grandes jornalistas que fazem falta, muita falta.

Viva Vily. Viva Odilon.

Vivam ambos, protagonistas e não meros figurantes nessa vida que a gente vive uma vez só.





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