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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

maio 2024
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:: ‘Mauricio Maron’

Memórias de um Dinossauro

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 O rapaz de Ilhéus e a moça do posto de gasolina

Primórdios da TV Cabrália, final da década de 80, início da década de 90.

Cena 1
Nestor Amazonas, mentor e então superintendente daquela aventura que era implantar no Sul da Bahia a primeira emissora de televisão do Norte/Nordeste do Brasil, me chama na sala dele e diz:

-Tá vindo aí um rapaz de Ilhéus, muito bem recomendado. Você coloca ele como editor do Jornal do Meio Dia ou do Repórter Regional.

O JMD e o RR eram, então, os principais telejornais da emissora. Mas com Nestor era assim que as coisas funcionavam. “Coloca ele como editor” e não se fala mais nisso.

Ou, se fala. Quando o “rapaz de Ilhéus” entra no departamento de jornalismo, eu vejo que se tratava de um quase menino. Indicado pelo Nestor, mas ainda assim bastante novo para aquilo que eu imaginava para a função de editor. Feitas as apresentações de praxe, resolvi o problema:

-Você não tem cara de editor, você tem cara de repórter. A partir de amanhã, começa a trabalhar com a equipe de externa, fazendo reportagens.

No dia seguinte, com uma reportagem sobre a precariedade da Guarnição do Corpo de Bombeiros em Itabuna, aquele rapazinho que pela minha intuição não servia para editor iniciava uma das mais brilhantes carreiras de um repórter na Bahia, com passagens pela TV Cabrália e TV Santa Cruz, e rompendo as fronteiras regionais até chegar a Angola, na África, onde trabalhou em duas oportunidades. Aventurou-se pelo marketing político e, além de Itabuna, atuou em Salvador, Aracaju, Recife, Curitiba, Macapá, Manaus  e outras praças. Virou blogueiro de sucesso e ate hoje penso onde poderia ter chegado caso permanecesse como profissional de televisão.

O nome desse rapaz é Maurício Maron, que dispensa apresentações.

Cena 2
Entro no estúdio da TV Cabrália,  levando o roteiro do Jornal do Meio Dia. Naquele tempo não havia computador e as falas dos apresentadores eram escritas numa máquina de datilografia especial, com letras grandes, que ficavam ainda maiores quando colocadas num teleprompter, equipamento que permite passar ao telespectador a impressão (falsa) de que o apresentador ou a apresentadora “decoraram” todas aquelas notícias.

Com o papelório nas mãos, tenho a atenção desviada pra uma moça loira, bonita, vestida com um macacão de um posto de gasolina, pronta para gravar o sorteio de alguns vales-combustível, uma promoção da TV Cabrália com o Posto Universal.

De novo movido pela intuição,quando a gravação do sorteio termina,  peço manterem acesas  as luzes do estúdio, ligar o teleprompter, pego aleatoriamente uma das folhas do Jornal do Meio Dia, entrego para a moça e decreto:

-Senta aí na banqueta de apresentadora e leia isso pra mim.

Ninguém entendeu nada, a moça menos ainda. Mas, foi lá e leu, meio sem graça, mas com firmeza.

Nem esperei ela se levantar da banqueta. Sai do estúdio e fui direto para a sala da superintendência.

– Descobri uma apresentadora da porra!!!

Autorização dada de imediato. Eram tempos em que meu cheque especial na Cabrália tinha crédito farto. Tempos depois, por artimanhas que rendem outra cronica, até minha rica história na tevê tentaram/tentam apagar.

O Posto Universal perdeu uma garota propaganda e a televisão ganhou uma apresentadora de primeira linha, que fez história na Cabrália apresentando o Jornal do Meio Dia e programas especiais (um deles de antologia, o dos 80 anos de Jorge Amado), passou pela TV Santa Cruz, trabalhou na TV Globo do Rio e de São Paulo e depois foi para a Rede Manchete/Rede TV, e hoje está na Band News, esbanjando talento e simpatia.

A moça do posto de gasolina atende pelo nome de Claudia Barthel, que como o ´velho´ e bom Maron, também dispensa apresentações.

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Nos tempos de hoje, em que a Uesc  e Unime despejam jornalistas aos borbotões todos os anos (alguns deles já se achando um Willian Bonner, um Clóvis Rossi, ou  uma Fátima Bernardes)  histórias como essas parecem lenda, delírios de um quase ex-jornalista.

Mas  foram reais, numa época em que havia menos formalismo e mais romantismo na profissão.

Se era melhor ou pior, quem sou eu pra dizer?

Nos 70 anos da televisão brasileira, a TV Cabralia, naquele delírio do Mestre Nestor Amazonas,orgulho de fazer parte de uma história ainda a ser contada

 

Olhemos por quem não é visto numa hora dessa

Cena  no bairro do Malhado

Cena no bairro do Malhado

Mauricio Maron

Cresce o debate e na mesma proporção cai o nível nas redes sociais sobre os caminhos que o País deve tomar a partir deste momento difícil que atravessa. Os lados discutem. A maior parte não mais debate civilizadamente. Muito provavelmente por conta do isolamento social, o tom tenha passado dos decibéis permitidos pelo bom senso. Ou até mesmo o raciocínio tenha saído do tom.

É certo que o virtual entre os eleitores termina sendo o reflexo do real entre os políticos.

Mas é preciso lembrar que enquanto promovemos isso do conforto de casa, de barriga cheia e de frente para o nosso computador, acomodado numa confortável cadeira, centenas de pessoas ainda hoje perambulam pelas ruas de Ilhéus sem destino, sem um olhar cuidadoso, sem um amparo legal.

Expostos, frágeis e à margem da dignidade humana.

Que na briga virtual entre um lado e outro, possamos lembrar que no meio desta disputa há esta realidade triste e desoladora.

Debatam, tenham lado – é sadio até – mas não esqueçam que no meio dedsta guerra há aquele que não tem vez nem voz. E precisa desesperadamente do afago e da força de nossas mãos.

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Pôr do sol na Baia do Pontal, em Ilhéus, pelas lentes de Mauricio Maron.

Pôr do sol na Baia do Pontal, em Ilhéus, pelas lentes de Mauricio Maron.

O Brasil de Adriana e o Brasil de Rafaela. De milhões de Rafaelas…

Mauricio Maron

 

maronO Brasil de Adriana Ancelmo é diferente do Brasil de Rafaela. Diferente e desigual.

A ex-primeira dama do Rio de Janeiro, acusada de integrar uma organização criminosa e roubar milhões de reais de recursos públicos ao lado do marido, Sérgio Cabral, já está em casa, cuidando dos filhos.

Um direito que a justiça lhe concedeu sob a alegação de que ela necessitava cuidar dos menores.

Rafaela mora no Pará. Tem três filhos. Um deles, autista.

Em 2009 foi presa acusada de furto em uma loja. Quatro anos depois, voltou a ser presa após uma tentativa de assalto. Na Páscoa de 2015, saiu para passar o final de semana em casa e decidiu não voltar. Ficou desesperada ao ver que o filho precisava da sua presença. Ficou foragida até novembro do ano passado e hoje cumpre pena em regime fechado.

Se Adriana, agora no aconchego dos filhos e da casa, por certo, sorri, Rafaela chora.

A justiça que concedeu o benefício à ex-primeira dama fluminense é a mesma que acaba de negar o mesmo direito à Rafaela.

Que fique claro que esta análise não revoga o dever de ambas em cumprir as penas a que estão condenadas. Uma é acusada de ter roubado milhões. Outra, acusada de tentar roubar.

As duas, portanto, devem à justiça e precisam pagar pelo que devem.

Bom também lembrar que no Brasil que a gente vive, há milhares de Adrianas.

E outras milhares de Rafaelas.

O que se questiona é o poder da balança em pender mais para um lado. Ela que é o símbolo místico da justiça, representa a equivalência e equação entre o castigo e a culpa. Na teoria traz como principais conceitos a equidade e a igualdade.

Mas na prática…

Se hoje a pena de Adriana Ancelmo é não poder falar ao telefone nem acessar a internet, a de Rafaela é estar longe de quem ama e de quem precisa dela.

A Defensoria Pública do Pará pediu que ela pudesse ir para casa cuidar dos filhos. O Ministério Público estadual concordou com o pedido. A juíza, no entanto, decidiu que não iria avaliar o pedido e adiou o julgamento.

Do sofá de sua casa, Adriana Ancelmo neste momento deve estar acariciando os filhos, alicerçada em um direito constitucional.

Rafaela está atrás das grades. Ela, solitária. Os filhos, idem.

Este País precisa urgentemente ser menos desigual.

 

(*) Mauricio Maron é jornalista no Sul da Bahia





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