:: ‘TV Cabralia’
A TV Cabrália e a ´fumaça preta´ (Habbemus Cannabis!)
Daniel Thame
Essa história de fumaça preta e fumaça branca para a escolha do novo Papa me fez lembrar de uma história nos primórdios da TV Cabralia, comandada por Nestor Amazonas, lá pelo final dos anos 80.
Um cinegrafista e seu auxiliar, cujos nomes não vêm ao caso, foram vistos à noite na torre da emissora, em Itabuna, expelindo uma inconfundível fumacinha de aroma igualmente inconfundível.
Nestor não era fiscal do Ibama, mas ao saber que estavam ´queimando mato` no horário de trabalho (bons tempos em que as tevês locais tinham duas equipes de reportagem pela manhã, duas a tarde e uma à noite), e chamou os dois à sua sala. Bastava confirmar e o máximo que receberiam era uma bronca.
Mas ambos negaram e ainda se disseram indignados com aquela acusação injusta.
Nestor Amazonas, a quem a comunicação sulbaiana ainda deve o merecido reconhecimento, não era dado a lero lero. Foi direto ao ponto:
-Se vocês não estavam fumando maconha tarde da noite na torre da tevê, então estavam trocando c…
E perguntou, didaticamente:
-Vocês preferem sair dessa sala como viados ou como maconheiros?
Ambos optaram pela fumaça preta.
E habbemus cannabis!
Nestor Amazonas, o cinegrafista e o pitú
Daniel Thame
Começo da TV Cabrália. 1988. Tempo em que as equipes de reportagem corriam atrás da notícia sem preocupação em economizar na gasolina ou na diária do repórter, do cinegrafista, do auxiliar e do motorista.
Hoje, a equipe se limita ao repórter e ao cara que acumula as funções de motorista/cinegrafista. Em alguns casos é a “equipe de um só”.
Voltando à Cabrália. A equipe saiu para fazer uma matéria em Ubaitaba e aproveitou para fazer outra reportagem sobre a situação precária da rodovia Ubatã-Ipiaú. Duas boas reportagens, veiculadas nos telejornais da emissora.
Até aí, nada demais. Boas reportagens eram marca da Cabrália, uma espécie de pré-faculdade de Comunicação no Sul da Bahia, tamanho o número de profissionais que formou. O problema foi a conta do almoço, que incluiu até pitú.
Nestor Amazonas, o mentor da TV Cabrália, um dos mais completos profissionais de tevê do país, era um cara legal, mas não era dado a exageros, porque a emissora tinha dono e dono não costuma rasgar dinheiro.
Quando Nestor foi questionar a despesa, o cinegrafista esperneou:
-Ô Nestor, qualé? Eu tô acostumado a comer bem na minha casa!
Nestor encerrou o assunto:
-Vou almoçar hoje na sua casa. Se tiver pitú, a tevê paga essa conta. Se não tiver, você paga.
Desnecessário dizer quem teve o salário desfalcado no final do mês.
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A TV Cabralia e o ´banho de Coca Cola`
Daniel Thame
A inauguração da TV Cabrália, em dezembro de 1987, não apenas levantou a auto-estima de Itabuna (afinal, tratava-se da primeira emissora de televisão numa cidade do interior do Norte/Nordeste, o que não era nem é pouca coisa), como produziu situações que hoje parecem lenda, mas que à época eram rotineiras.
Ainda não havia a global TV Santa Cruz, que só seria inaugurada um ano depois, e a Cabrália reinava soberana. E eu, que nem sabia como funcionava uma emissora de televisão, fui guindado à condição de gerente de jornalismo, pela extrema generosidade de Nestor Amazonas. Não sei quem foi mais maluco: ele, por me nomear, ou eu, por aceitar o cargo.
Segue o bonde…
Para se ter uma idéia do que a televisão representava, até eventos importantes eram marcados de acordo com a disponibilidade da equipe de Jornalismo fazer a cobertura, para a devida veiculação no Jornal do Meio dia e no Repórter Regional.
É claro que não faltavam pedidos inusitados, que a gente não sabia se achava graça ou se mandava o sujeito pra puta que pariu.
E não é que um pai cismou que a equipe da Cabrália teria que cobrir a festa de aniversário da filha? Era o presente que ele havia prometido à pimpolha e ligava todo dia pra perguntar se a gente iria mesmo.
Não adiantava explicar que aquilo era impossível, alegar que se cobríssemos a festa da filha dele teríamos que cobrir outros tantos aniversários e por extensão, batizados, primeira comunhão, casamentos, velórios e quetais.
Resolvi apelar e pra me livrar do sujeito disse que se ele enchesse uma banheira com Coca Cola e colocasse a filha dentro, a gente iria fazer a cobertura do aniversário.
Pronto, dessa mala estamos livres.
Livres?
No dia seguinte, véspera do tal aniversário, o cara me liga e diz que havia comprado Coca Cola suficiente para encher uma banheira e dar um banho de refrigerante na filhota.
Não sei se além de chato, o cara era um gozador e resolveu sacanear comigo. Ou se era só chato mesmo e realmente ia dar um banho de Coca Cola na filha, só pelo prazer de vê-la na telinha da Cabrália.
Na dúvida, preferi ficar na dúvida mesmo.
O aniversário, com ou sem banho de Coca Cola, permaneceu para sempre no anonimato.
TV Cabrália, ´Faculdade de Comunicação` e a moça do posto de gasolina
Daniel Thame
Quando a TV Cabrália, primeira televisão do interior do Norte-Nordeste foi implantada em 1987 em Itabuna, no Sul da Bahia, não havia faculdade de comunicação fora de Salvador.
E como gestor que deu vida a essa aventura épica, Nestor Amazonas, a quem essa região desmemoriada ainda deve o merecido reconhecimento, queria trabalhar profissionais de fora, a opção foi contar com mão de obra local.
Que mão de obra local, cara pálida, se a emissora, como se disse, era pioneira.
A primeira loucura-sana de Nestor foi me colocar como Gerente de Jornalismo, responsável entre outras coisas para montar a equipe de repórteres e apresentadores.
Jornalista com boa formação em mídia impressa e rádio, expertise de vida moldada por uma década de mochileiro nas quebradas de nuestra América, mas conhecimento de televisão, zero, zero, zero!
O fato que é, na base da intuição (e também fazendo muita merda, até que um dia Nestor decretou que a cota de merda estava encerrada), ao longo de uns sete a oito anos, acabei formando uma geração talentosa de profissionais de tevê, que se espalharam por Salvador, Feira de Santana, Conquista, Juazeiro, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo.
As tevês baianas Aratu, Itapoan e Rede Bahia se fartaram de contratar repórteres e apresentadores da Cabrália, sem que a gente pudesse desfrutar esses talentos por mais tempo.
Por esses acasos do destino e porque (como diria de novo el viejo Nestor, o que me faltava de talento sobrava de capacidade de trabalho, algo do tipo ´burrito, pero cumplidor`), acabei me tornando o que hoje a idade permite dizer sem ser cabotino, a primeira ´faculdade de comunicação´ destas Terras do Sem Fim.
Citei Jorge Amado, mas o fato que levou a esse bolodório todo é digno do realismo mágico de Gabriel Garcia Marquez.
Põe no ar:
Estava eu numa das ilhas de edição (um trambolho pré-histórico comparado à tecnologia de hoje) preparando as matérias do Jornal do Meio Dia, quando minha atenção é desviada para a ilha de edição ao lado, em que aparecia a imagem de uma moça gravando o sorteio de vales-gasolina, devidamente paramentada com o uniforme do Posto Universal.
(Antes que me acusem de um merchan descaradinho, eu nem dirijo e o isqueiro pra acender meus Cohibas é a gás).
Volta pra ilha de edição. Esqueci as matérias, fui pra outra ilha, a da moça do posto, e me bastaram três minutos.
Me dirigi ao estúdio com uma única folha do script do jornal, e diante de uma equipe que não entendeu nada, mandei parar a gravação do sorteio, coloquei a folha no teleprompter (uma máquina com umas letras imensas, onde os apresentadores leem as noticias), pedi pra moça (essa sem entender menos ainda) sentar na mesa de apresentação do telejornal e assim que eu desse o comando lá da ilha de edição, lesse a nota.
Leu uma, leu duas e nem precisou ler três vezes.
Voltei ao estúdio e ainda sem saber o nome dela, decretei:
-Moça, avisa o dono do posto pra ele arrumar outra pessoa pra fazer o sorteio de gasolina. Você começa a trabalhar com a gente amanhã.
A Nestor Amazonas eu disse apenas: “acabo de descobrir uma daquelas apresentadoras que vão fazer história”.
Nestor foi menos retórico:
-Contrata.
Com uma semana, a agora ex-moça do posto já estava apresentando o jornal do Meio Dia, depois dividiu comigo e com Eduardo Lins (esse é outra história ´gaboniana´) uma experiência fantástica chamada Jornal da Semana, espécie de precursor e primo pobre do Mosaico Baiano, passou pela TV Santa Cruz e foi brilhar na Rede Globo e na Rede Manchete, depois Rede TV, Jovem Pan , onde, nas idas de uma de minhas filhas, Hannah Thame, para especializações em Medicina Veterinária, não apenas a recebia em sua casa (eu a chamo de Mãe de Adotiva de Hannah em Sunpolo), como quando a apresentava ao pessoal das tevês sempre repetia a mesma história: “essa menina é filha do rapaz que me tirou do sorteio do posto e me transformou em profissional de televisão…
O nome dessa moça, hoje dedicada a viagens esotéricas mundo afora mas sem se afastar das comunicações, atende pelo nome de Cláudia Barthel.
Dona de um talento que não cabe nem na maior das telas e uma virtude rara nessa máquina de egos chamada televisão: gratidão.
No caso aqui, o grato sou eu!
E vamos aos nossos comerciais…
Jornalista sempre e para sempre
Daniel Thame
Do adolescente de 17 anos, recém expulso do seminário por questionar privilégios de alguns padres, que um dia adentrou a redação do jornal A Região de Osasco- SP com um texto escrito a mão e foi imediatamente contratado por um anjo chamado João Macedo de Oliveira, ao rebelde com causa que aos 27 anos aportou em Itabuna, após passagens pelo Diário de Osasco, Cidade Revista e rádios Iguatemi e Difusora Oeste, aqui recebido por outro anjo chamado Manoel Leal, lá se vão quase 50 anos de jornalismo.
Se A Região e a TV Cabrália, onde labutei por 13 anos em Itabuna (13!), foram as experiências mais fantásticas de uma vida em que o jornalismo está no DNA, não menos fantástica tem sido a experiência de mais de 20 anos na assessoria de imprensa de governos ligados ao PT.
Um jornalista com lado. E coloque ao lado também os sem terra, os indígenas, os catadores de recicláveis…
Ex-paulista, grapiúna de coração, Cidadão de Itabuna, Cidadão de Ilhéus, Papa Jaca e Papa Caranguejo.
Três coberturas internacionais, Cuba, Itália e França.
Ver o cacau quase morrer e ver o cacau renascer com o chocolate.
Reportagens de antologia no jornal A Região e na TV Cabrália.
Cinco livros publicados.
Histórias que vivi pra viver, histórias que vivi pra contar.
Jornalista sempre. E para sempre!
Luiz Viana Neto, TV Cabralia e um ´repirror´ em Ilhéus
TV Cabrália, metade da década de 1990. Depois de implantar e consolidar a emissora como a imagem e a voz do Sul da Bahia, Nestor Amazonas partiu para encarar novos desafios. Ramiro Aquino ocupava a superintendência e eu comandava o departamento de Jornalismo.
A liberdade que o dono da emissora, o Dr. Luiz Viana Neto, que já partiu para a Eternidade, nos dava era tamanha que perdia-se o anunciante, tipo prefeitura ou supermercado, porque uma matéria-denuncia ia ao ar, para desespero do departamento comercial, então comandado por Rui Carvalho, hoje boss da RCM, uma das melhores agências de publicidade da Bahia.
No espectro político, a TV era quase um apêndice do PT e dos sindicatos, numa época em que PT e sindicatos não eram propriamente bem digeridos.
Mas o Dr. Luiz sabia disso e nunca partiu dele um único ato de censura.
Até um belo dia (sempre chega o belo dia, e quase sempre prenuncio de tempestade), o Dr. Luiz convida Ramiro e a mim para um ´rapirror´ no Hotel Jardim Atlântico, então o mais luxuoso de Ilhéus.
Uisque vai, uísque vem (eu odeio uísque, adoro é uma cachacinha, mas não ia fazer desfeita ao doutor Luiz), desce um camarão aqui, um peixinho ali. “Como vai a família?”, “O cacau ainda tem futuro?”, “O Rio Cachoeira está muito poluído?” e outras amenidades.
E eu discretamente olho pra Ramiro como quem diz: “O Dr. Luiz não chamou a gente aqui pra comer e beber do bom e do melhor, nem pra esse lenga-lenga”.
Não chamou mesmo. Lá pelas tantas, as sutilezas foram jogadas ao mar.
Sem elevar o tom de voz, o Dr. Luiz se vira para mim e diz:
-Eu sei como você toca o Jornalismo da TV e respeito suas posições políticas. Mas eu sou de direita e se você quiser continuar fazendo esse tipo de jornalismo compre uma televisão pra você.
Comprar uma televisão? Só se fosse um aparelho nas Casas Bahia (olha o jabazinho aí!) e ainda assim a perder de vista no crediário.
Sejamos justos a esse extraordinário ser humano, que nem era tão de direita assim, mas um democrata conciliador que convivia bem com todas as tendências políticas.
O Dr. Luiz produziu uma frase de efeito, porque se dono ele era e as orientações eram claras, não foram poucas as vezes que essas ordens foram solenemente ignoradas e em vez de punição, recebi outra frase de efeito:
-Você tem um sério problema auditivo, só escuta o que é conveniente.
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Em tempo: a TV Cabrália foi um divisor de águas na comunicação regional, mas até hoje o Dr. Luiz Viana Neto não teve o devido reconhecimento nessas quase plagas grapiunas.
Se eu tivesse comprado uma televisão…
TV Cabrália mostra a tradição e irreverência da Lavagem do Beco do Fuxico
Reportagem exibida pelo programa Balanço Geral, na TV Cabrália apresentado por Tom Ribeiro, destaca a Lavagem do Beco do Fuxico.
A repórter Camila Morais entrevistou personagens num dos pontos mais tradicionais de Itabuna e mostrou toda a tradição e irreverência que marcam a maior festa popular da cidade que virou metrópole mas ainda mantem seu espírito acolhedor.
Assista:
Profissão Repórter-Memórias de um 22 de abril…
Daniel Thame
Entre as várias reportagens que diz ao longo desses mais de 46 anos de estrada, 37 deles no Sul da Bahia, nenhuma foi mais estressante do que a cobertura dos 500 anos do Brasil em Porto Seguro. O que seria uma comemoração, organizada a caráter para incensar Fernando Henrique Cardoso e ACM, se transformou num festival de pancadaria, perpetrada pela polícia baiana contra índios, negros, sem-terras e estudantes.
Na véspera do fatídico 22 de abril, tive que optar entre ficar em Porto Seguro, onde a festa estava preparada, ou seguir para Coroa Vermelha, onde o clima estava pesado porque os movimentos sociais não se contentavam em fazer figuração no teatrinho armado pelo governo.
Não tive dúvidas: fui a Coroa Vermelha e ao lado da equipe da TV Cabrália, testemunhei uma demonstração de truculência e insanidade que repercutiu em todo mundo. Não perdi nenhuma festa, até porque festa não houve, para desalento do então Rei da Bahia, que ali viu desmoronar o seu sonho de se tornar o Rei do Brasil.
A reportagem foi publicada no jornal A Região. A foto é de Lula Marques.
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Polícia barra povo e FHC
faz festa vip dos 500 anos
Dois episódios ocorridos na tarde-noite de sexta-feira, dia 21 de abril de 2000, ajudam a entender o festival de selvageria em que se transformou a festa dos 500 anos do Brasil, exaustivamente preparada para coroar o Governo da Bahia e, principalmente, catapultar o senador Antonio Carlos Magalhães para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Por volta das 16 horas, policiais militares fortemente armados bloquearam a rodovia que liga Eunápolis a Porto Seguro. Eles alegavam cumprir ordens da Defesa Civil, já que a cidade não comportava mais ninguém. Tudo perfeito, à exceção de um mero detalhe: Porto Seguro não possui Defesa Civil. O objetivo era evitar que os sem-terra, acampados em Eunápolis, entrassem em Porto. O bloqueio foi estendido a turistas e até aos moradores das duas cidades. Um turista que veio de João Pessoa, na Paraíba, exibiu as reservas de hotel e afirmou que seu direito de ir e vir, garantido pela Constituição, estava sendo desrespeitado.
A resposta do policial merece entrar para os anais da história do Brasil:
-Aqui na Bahia quem manda é o Antonio Carlos Magalhães.
Ou seja, pega a Constituição e…
Vitória da Conquista, TV Cabrália e os ´riconheiros´ intocáveis. Ou nem tanto…
Daniel Thame
Vitória da Conquista, final dos anos 80. A sucursal da TV Cabrália no Sudoeste Baiano dava os primeiros passos e lá estava eu, então gerente de jornalismo da emissora em Itabuna, na fase de ajustes da equipe local.
Tempos tão ´dinossauricos´ que as matérias eram enviadas de ônibus para Itabuna em fitas U Matic e editadas para entrarem nos telejornais.
Pré-histórico, mas ainda assim era inovador, porque a gente editava como se fosse ao vivo no Jornal do Meio Dia e no Repórter Regional.
Eis que num desses dias que em Conquista parece a Europa por causa do frio de congelar, o repórter Junior Patente chega da rua com a reportagem da prisão de quatro jovens, com uma senhora quantidade de maconha.
Fita pronta pra ser enviada para Itabuna, o então editor de jornalismo, cujo nome não vem ao caso (gracias Moro!), me diz:
-Essa matéria não pode sair, porque é tudo filho de gente conhecida.
Por “conhecida”, entenda-se, gente com grana ou com poder político.
Fui na jugular:
-E se fosse gente pobre, poderia sair?
O silêncio ensurdecedor do editor foi a resposta que eu esperava.
A matéria saiu e o editor demitiu-se logo depois, embora os jovens nem chegaram a sentir o gostinho da cadeia.
Afinal, em qualquer tempo, certas coisas definitivamente ´não vem ao caso`…
A TV Cabrália, o ´comunista´ e os santos bairros
Daniel Thame
Itabuna, anos 80. A IURD ainda estava engatinhando no negócio de televisão e a TV Cabrália, no Sul da Bahia, foi uma das primeiras aquisições.
Como numa espécie de ´laboratório`, diretores da emissora, geralmente pastores, começaram a conviver com um veículo que, a partir da compra da Rede Record, impulsionou a expansão da Igreja, hoje uma das maiores do Brasil e que se espalhou pelo mundo.
Mas, pulando os bolodórios, os diretores/pastores eram gente boa, bem intencionados, mas já influenciados por uma ojeriza a tudo o que fosse de esquerda, essa coisa de comunista que não acredita em Deus e faz churrasquinho de crianças.
Imagina então ter na direção do jornalismo alguém que mesmo não sendo comunista e acreditando em Deus, era filiado ao PT, defensor do MST e dos indígenas e para completar diretor do Sindicato dos Jornalistas, com imunidade que impedia a demissão.
Não pode demitir, vigia, porque (só pra dourar o texto), o diabo mora nos detalhes.
Em sendo assim, toda manhã eu tinha que passar a pauta do dia para o pastor e também o script dos telejornais.
Um dia, por falta de assunto, uma das matérias era sobre a precariedade no bairro São Lourenço (matéria de bairro é, sempre foi, é e sempre será a salvação dos dias em que nada de interessante acontece).
Quando pega o roteiro, o diretor, cujo nome não me lembro e não vem ao caso, perpetra:
-Nome de santo não pode! Coloca só bairro Lourenço.
Disfarço o espanto e explico:
-Mas pastor, não é o nome do santo, é o nome do bairro.
Ele deve ter pensado: ´esse moloque pensa quer me enrolar?` e foi taxativo: