:: ‘lula’
Vitória e derrota
Janio de Freitas, na Folha
A preocupação com a possibilidade de que militares oponham as armas ao voto encobre, mas não enfraquece, outra possibilidade negativa.
O juiz e os procuradores da Lava Jato, o tribunal federal da região Sul (o TRF-4), o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo já ganharam parte do seu confronto com a maioria do eleitorado, mas as pesquisas comprovam que há dificuldade para ir além. Lula ficou excluído das eleições, no entanto o PT e seu candidato mais do que sobrevivem. Meia vitória é, no mínimo, meia derrota.
Aquelas forças, que já foram chamadas de partido da justiça ou do Judiciário, há semanas mantêm-se como espectadoras. Não é um silêncio confiável, até por não terem experimentado sequer uma derrota nos seus quatro anos, e não se sabe como a receberiam agora. Ou como recebem a perspectiva de tê-la.
Comparados os anos recentes de militares e do sistema judicial, não é na caserna que se encontram motivos maiores de temer pelo estado democrático de direito. Os avanços sobre poderes do Legislativo e do Executivo, os abusos de poder contrários aos direitos civis, ilegalidades variadas contra os direitos humanos —a transgressão da ordem institucional, portanto— estão reconhecidos nas práticas do Judiciário e da Procuradoria da República.
Em tais condições, seria pouco mais do que corriqueiro o surgimento, nos dez dias que nos separam das eleições, de um petardo proveniente de juiz ou procurador para perturbar a disputa eleitoral, na hierarquia a que chegou.
Guitarras e fuzis
Jorge Portugal
Foi assim que eu vi as duas fotografias nas redes sociais – Bolsonaro na cama de um hospital encenando empunhar um fuzil, e Haddad fazendo um solo de guitarra, em êxtase – deu um estalo: O Brasil sempre adorou se dividir em blocos, torcidas e… Fla e Flu, Ba e Vi, coxinhas e mortadelas, e agora sugiro uma polaridade mais universal: guitarras e fuzis.
A guitarra me traz as melhores lembranças das minhas passagens, sendo a primeira aquela de Woodstock, quando Jimmy Hendrix, o maior guitarrista de todos os tempos, executou o hino nacional norte-americano, distorcido, e simulando sons de bombas jogadas sobre as cabeças dos norte-vietnamitas.Momento que deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz daquele ano; fuzis me recordam “aquele garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” e, quando de sua guitarra se separou foi morto na guerra do Vietnã por “um instrumento que sempre dá a mesma nota rá-tá-tá-tá”. Guitarras me trazem a imagem de George Harrison solando “Somithing”, nos Beatles e “My sweet Lord”, já em brilhante voo individual; fuzis me trazem a recordação do assassinato do poeta Victor Jara no Estádio Nacional do Chile.Guitarras progressivas do Pink Floyd, do Yes; do ACDC, do Nirvana; baiana de Armandinho tocando “Brasileirinho” ou Zanzibar, para os meus mais belos sonhos de juventude baiana; Fuzis também que pairavam como uma espada de Dâmocles- metaforicamente e não – sobre a minha cabeça de jovem poeta e músico na clandestinidade das minhas lutas santamarenses.
O período Lula foi pura guitarra. Solos alucinados para as cotas universitárias, para o Minha casa, Minha vida, para o salário mínimo real, para a agricultura familiar, para a política externa soberana, para o pré-sal. FHC e Temer foram fuzis disparados na Vale do Rio Doce e na legislação trabalhista de Vargas.
Haddad, Ciro e Boulos são guitarras; Bolsonaro é fuzil barulhento; Alkmin, fuzil silencioso marca Opus Dei. Super mortal. Marina já foi guitarra, hoje rendida ao fuzil.
E você?
No coração lulista, Haddad é só um número de nome Adraike, Radarde ou Alade
João Valadares, na Folha de São Paulo
“Não sei o nome não, mas estou grudado em quem Lula mandar. Ele é o filho de Lula, né? Escutei dizer que era”, pergunta o aposentado José Paulino Filho, 75, após ser informado pelo repórter que Fernando Haddad (PT) é o substituto do líder petista na disputa à Presidência.
Em Solidão, Quixaba e Calumbi, três cidades do sertão pernambucano onde, em 2006, Lula teve índice de votação em torno de 90%, Haddad é um número.
Mesmo oficializado desde o dia 11 de setembro, muita gente não sabe o nome, quem ele é, quais cargos exerceu e nem de onde veio. Alguns viram “passar no repórter”, mas não lembram muito bem.
No coração do lulismo, que se espalha por outras cidades do sertão nordestino, o grau de desconhecimento em relação a Fernando Haddad é exatamente do mesmo tamanho da disposição para votar nele.
Entre os mais pobres, faixa que representa a base do eleitorado lulista, onde o petista mais cresceu segundo as últimas pesquisas, uma minoria sabe o primeiro nome. O sobrenome difícil, “que a língua não consegue dizer”, ganha variações: Adraike, Adauto, Andrade, Alade e Radarde.
A embalagem publicitária do “Haddad é Lula e Lula é Haddad” é a mais visível tradução do sertão. A resposta mais frequente e veloz, quando questionados em quem vão votar, é uma só: Lula.
Caravana de Rui com Haddad e Manuela reúne dez mil pessoas em Jequié
“O povo quer ver novamente a parceria Bahia e Brasil pra gente fazer ainda mais e colocar o interesse dos baianos em primeiro lugar.” Com essa afirmativa, o governador Rui Costa, candidato petista à reeleição, encerrou a caminhada na cidade de Jequié, com discurso no Largo do Cedil. Mais de dez mil pessoas participaram da atividade que contou com a presença de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, candidatos a presidente e vice na chapa de aliança PT-PC do B. “Nestas três semanas que faltam pra terminar a campanha, todos os nossos dias serão dias de ‘correria’”, brincou Manuela, numa referência ao apelido do governador baiano, Rui Correria.
A comitiva da caravana Correria pela Bahia também teve a primeira-dama Aline Peixoto, nascida na Cidade do Sol, como é conhecida Jequié, os candidatos a vice-governador, João Leão (PP), e a senador, Jaques Wagner (PT), a esposa de Haddad, Ana Estela, além de candidatos a deputado federal e estadual dos partidos coligados e líderes petistas como José Eduardo Cardozo, Benedita da Silva e Lindemberg Cardoso. À tarde, ainda no território Médio Rio de Contas, a caravana vai visitar a cidade de Manoel Vitorino.
Uma síntese das ações realizadas por Rui no município de Jequié inclui investimentos na saúde, como a ampliação do Hospital Geral Prado Valadares, que dobrou o atendimento médico à população da região, com 600 mil habitantes. A construção do novo prédio de 6 mil m² recebeu investimento de R$ 38 milhões, com 276 leitos, 6 consultórios, 4 enfermarias e 6 salas de cirurgias. Em dezembro passado, a cidade também recebeu a quarta policlínica regional, que hoje atende 28 municípios, em 14 especialidades. Foram investidos R$ 22 milhões, entre obras e equipamentos.
Lula: “peço a todos que votem no Haddad”
O PT exibiu no horário eleitoral da noite desta quinta-feira, 13, seu novo programa com a participação de Fernando Haddad como o candidato a presidente no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva.
A peça emocionante conta com leitura da carta de Lula em que o ex-presidente anuncia a substituição de sua candidatura. “SE querem calar a nossa voz, estão muito enganados. Continuamos vivos no coração e na memória do povo.E o nosso nome agora é Fernando Haddad. Eu quero pedir de coração a todos que votariam em mim, que votem no Haddad para presidente”, diz Lula.