WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia

prefeitura itabuna livros do thame




Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

outubro 2025
D S T Q Q S S
 1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031  


:: ‘citação’

Filme: Nuovo Cinema Paradiso


Por Raquel Rocha

Salvatore Di Vita é um famoso cineasta que mora em Roma. A primeira cena do filme mostra sua mãe tentando ligar para ele para avisar que alguém havia falecido enquanto sua irmã diz que é inútil, que ele não se importa pois há 30 anos não retorna a Sicília, cidade em que nasceu. Seria Salvatore Di Vita um boçal que renega suas raízes? A noite o cineasta, ao deitar, recebe o recado que sua mãe havia deixado, comunicando o falecimento e o funeral de alguém chamado Alfredo. A câmera vai se fechando lentamente no rosto desse homem e acontece a magia do cinema.

Salvatore é então Totó, um o coroinha na igreja da pequena cidade. Após a missa o padre vai até o cinema assistir o filme do dia e censurar as cenas de beijos antes da exibição para o púbico. Totó vai junto escondido e se enfia na sala de projeção onde o projetista Alfredo exibe os filmes para o padre. Alfredo o expulsa mas ele sempre volta. Alfredo briga com ele mas ele sempre rebate. Ele olha Alfredo retirar os pedaços de filmes com as cenas dos beijos e pede-as para si. Alfredo não dá, diz que é material inflamável, perigoso. Mas Totó sempre rouba alguns pedados que encontra no chão.

Totó é um menino difícil, não se encaixa bem nos papeis que deveria desempenhar, como coroinha, como aluno e como filho. Seu pai não havia voltado da guerra e sua mãe vivia com dificuldade com duas crianças. A única forma de felicidade de Totó estava no mundo dos filmes, onde tudo era possível. Por isso não conseguia ficar longe da sala de projeção do Cinema Paradiso, mesmo quando foi terminantemente proibido após provocar um incêndio em sua casa com os pedaços de película que tinha furtado. A teimosia do pequeno cinéfilo é maior que a resistência do projetista e aos poucos Alfredo aceita aquele menino e divide com ele sua grande paixão.

Alfredo o ensina a projetar filmes mas sempre o incentivando a estudar, pois ele precisava ser alguém, se livrar do vício do cinema, para não acabar como ele, que passou a vida numa sala de projeção esquecido. Uma belíssima amizade nasce entre essas duas figuras tão diferentes, o menino e velho, unidos pelo amor aos filmes que são exibidos no Cinema Paradiso.

O filme conta uma história simples, sem grandes viradas, mas o roteiro é construído com tanta sensibilidade que o expectador fica duas horas encantado diante da tela, sentindo-se exatamente como Totó quando fugia para a sala de projeção.

A força do filme talvez decorra do fato de se tratar de um retrato autobiográfico do diretor Giuseppe Tornatore (La leggenda del pianista sull’oceano, La domenica specialmente) que conta sua história de vida com sutileza rara. O filme fala sobre amizade, sobre destino, sobre paixão e sobre o quanto uma pessoa pode se importar com outra. A cena final é umas das mais belas da história do cinema. Não só a cena, Cinema Paradiso é um dos filmes mais belos de todos os tempos, uma declaração de amor, uma verdadeira obra de arte.

______

“Alfredo: Vivendo aqui dia após dia, você acha que é o centro do mundo. Você acredita que nada vai mudar. Então você sai: um ano, dois anos. Quando você voltar, tudo mudou. O fio está quebrado. O que veio a encontrar não está lá. O que foi o seu está desaparecido. Você tem que ir embora por um longo tempo … muitos anos … antes que você possa voltar e encontrar o seu povo. A terra onde nasceu. Mas agora, não. Não é possível. Agora você é mais cego do que eu.

Salvatore: Quem disse isso? Gary Cooper? James Stewart? Henry Fonda? Eh?

Alfredo: Não, Toto. Ninguém disse isso. Desta vez é sou eu. A vida não é como nos filmes. A vida … é muito mais difícil.”

 

 

FICHA TÉCNICA
Gênero: Drama

Direção: Giuseppe Tornatore

Roteiro: Giuseppe Tornatore, Vanna Paoli

Elenco: Agnese Nano, Antonella Attili, Enzo Cannavale, Isa Danieli, Jacques Perrin, Leo Gullotta, Leopoldo Trieste,Mario Leonardi, Philippe Noiret, Pupella Maggio, Salvatore Cascio

Produção: Franco Cristaldi, Giovanna Romagnoli, Mino Barbera

Fotografia: Blasco Giurato

Trilha Sonora: Andrea Morricone, Ennio Morricone

Candelabro Italiano (1962)

 “Quanto se pode ser feliz?”

 Por Raquel Rocha

Prudence Bell é uma bibliotecária de New England que vive uma vida pacata e solitária. Ao emprestar um livro seu a uma aluna acaba sendo chamada atenção pela direção da escola que considera o material obsceno. Diante da situação Prudence se demite e declara: “Irei para onde sabem o que é o amor, para a Itália.” Embarca então em um navio para Roma, disposta a viver lá um grande  romance.

O filme não conta uma grande história. O óbvio acontece: em Roma ela encontra Don, um homem que acaba de ser abandonado pela namorada, está sozinho e sofrendo. Juntos eles exploram Roma e o interior da Itália, as artes e falam sobre seus sentimentos. É uma história romântica, inocente e bela na sua singeleza.

 O filme vale pelas lindas paisagens da Itália, pelos diálogos e pela música que nunca mais vai sair da sua cabeça “Al di la”. Por isso diferente do tradicional trailer, hoje deixo aqui a cena do filme que toca essa música e claro, a declaração a uma das cidades mais lindas do mundo.

 

“Roma não pode ser vista num dia, numa semana, num mês ou num ano”

 

 

Diretor: Delmer Daves
Elenco: Angie Dickinson, Troy Donahue, Suzane Pleshtte, Rossano Brazzi, Chad Everett, Hampton Fancher, Al Hirt, Constance Ford
Duração: 120 min.
Ano: 1962
País: EUA
Elenco

Troy Donahue ……. Don Porter
Angie Dickinson ……. Lyda Kent
Rossano Brazzi ……. Roberto Orlandi
Suzanne Pleshette ……. Prudence Bell
Constance Ford ……. Daisy Bronson
Al Hirt ……. Al Hirt
Hampton Fancher ……. Albert Stillwell
Iphigenie Castiglioni ……. Condessa

Os Miseráveis

 

Por Raquel Rocha

 

 Tous les Misérables

Antes de assistir Os Miseráveis que concorre ao Oscar resolvi rever todas as versões que já tinha visto no passado. A de 1935 de Richard Boleslawski, o filme de 1952 de Lewis Milestone, e a produção de 1998 de Bille August. Tive esse trabalho, por sinal muito prazeroso, como uma espécie de ritual preparatório para o que seria o Grande Filme a contar essa história que nunca ficará velha.

Minha expectativa não era gratuita, os motivos eram muitos, a direção de Tom Hooper de “O Discurso do Rei” que é um filme pelo qual tenho um apreço pessoal, o gênero musical que cai como uma luva nessa história, o elenco com nomes como Russell Crowe e Hugh Jackman; e a produção do filme que fez com que todos os atores cantassem ao vivo durante as gravações.

Mesmo com tanta expectativa ou por causa dela, terminei o filme com a sensação de que faltava algo. E ao analisar todos os detalhes que julgava terem ficado fora percebi que seria impossível um filme contar toda a história dessa grande obra prima de Vitor Hugo com quase 3000 páginas publicada em 1862. Descobri então que gosto mesmo é da história em si e por isso acabo gostando de todas as tentativas de contá-la, mesmo que no final fique sempre a impressão de que faltou algo.

Por esse motivo hoje vou falar mais da história de Les Miserábles escrita por Vitor Hugo do que sobre o filme que concorre ao Oscar no próximo dia 24. Porque, conhecendo ou relembrando essa história magnífica, todos os filmes sobre ela passam a ser mais que recomendados. E acreditem é uma história que vale a pensa ser lida/assistida quantas vezes for possível. Como escreveu Vitor Hugo (e Richard Boleslawski fez questão de colocar na abertura do seu filme de 1935): “Enquanto houver neste mundo que chamamos de civilizado um sistema em que homens e mulheres, mesmo tendo pagado as suas dívidas perante a lei e expiado suas ofensas, ainda sejam perseguidos onde quer que estejam, essa história não vai ser contada em vão”

A história se passa na França do século XIX. Jean Valjean, após procurar emprego e não encontrar, acaba roubando um pão para alimentar sua irmã e seu filho que passam fome. É levado a julgamento e condenado a 5 anos de trabalhos forçados na prisão de Galés que acabam se transformando em 19 anos devido as suas tentativas de fuga. Nessa prisão Jean perde sua identidade e passa a ser condenado 24601. O vigia Javert é seu carrasco, implacável seguidor da lei e da ordem parece não ter compaixão pelos prisioneiros.

Jean Valjean entra na cadeia como um homem bom que cometeu um erro mas é libertado com a maldade em seu coração, embrutecido, amargurado e envelhecido. Precisa se apresentar as autoridades mensalmente e se não o fizer ele volta pra prisão perpetua. Jean sai com a identidade amarela e o carimbo de ex condenado e por isso não consegue emprego, nem abrigo, nem comida apesar de carregar consigo um pouco de dinheiro.

O único que lhe dá abrigo é Don Bienvenu, o bispo de Digne que abre as portas de sua casa, o alimenta e o chama de irmão. Mas Jean não entende mais o que é a bondade, pois nos últimos 19 anos só conheceu seu oposto. Apesar do bispo ter-lhe estendido a mão Jean o rouba de madrugada e foge. Não consegue ir muito longe, policiais o prendem com a prataria do bispo e o levam de volta. Esse trecho é o ponto alto da história, todas as vezes que ela é contada. É aquela parte que da vontade de reler e voltar no controle remoto, pra ver se o que aconteceu realmente aconteceu.

O bispo ao ver os policiais entrando em sua casa com Jean detido ordena que o libere dizendo que deu-lhe a prataria de presente.. Olha para Jean, diz que ele esqueceu o mais valioso e entrega-lhe dois castiçais de prata. O gesto e as palavras do bispo são marcantes em todas tentativas de contar essa história.

“Eu que devo agradecê-lo, É quem dá que se beneficia mais, meu filho” (filme de 1952)

“Há muito tempo Jean, eu aprendi que a vida é doar e não levar. Permita-me doar.” (filme de 1935)

“O caminho certo Jean, sempre está aberto a você.”(filme 1935)

“Deus te tirou da escuridão” (filme 2012)

“Jean Valjean, meu irmão, lembre-se de que já não pertence ao mal, mas sim ao bem. É sua alma que acabo de comprar. Eu a furto dos maus pensamentos e do espírito da perdição para entregá-la a Deus.” (livro)

Jean sai da casa do santo bispo confuso, envergonhado mas já é um homem transformado, decidido a fazer pelo outro o que o bispo fez por ele. Para se livrar do estigma de ex condenado Jean muda seu nome para Madeleine. Enriquece, se torna dono de uma fábrica de cerâmica. Adorado por todos é nomeado prefeito da cidade. Tudo parece dar certo na vida de Jean até que ele se encontra com o inspetor de polícia da cidade, Javert, seu antigo carrasco em Galés. Javert acha a fisionomia do novo prefeito conhecida mas não o associa ao condenado 24601, que agora é fugitivo da lei por não ter se apresentado periodicamente as autoridades.

Um ato de generosidade denuncia Jean: um velho está preso embaixo de uma carroça, ninguém consegue levantá-la mas Jean entra embaixo e a levanta com as costas fazendo com que Javert desconfie de sua verdadeira identidade: “Até hoje, só conheci um homem capaz de fazer isso. Era um forçado das galés” (livro)

Vou parar a narrativa nesse ponto da história que é quando começa a saga de Jean, perseguido o tempo todo pelo inspetor Javert obcecado em prendê-lo para cumprir a lei. No entanto não posso fazê-lo sem falar um pouco sobre os personagens construídos por Vitor Hugo com uma profundidade comparável a de Dostoievski, com diferença que a ênfase de Vitor Hugo é na história de cada personagem, e cada dessas histórias daria outro livro.

Javert, o vilão, no fundo não é um vilão. É um menino que nasceu em uma prisão pois seu pai era um condenado. Javert aprendeu a dividir o mundo em duas categorias os que seguem e os que não seguem a lei. E ele é implacável com quem comente erros, inclusive consigo mesmo. Devido ao seu excesso de rigidez Javert não consegue compreender as atitudes benevolentes de Jean Valjean. “A lei não me permite ser misericordioso.” (Javert,  filme de 1998)

Fantine é uma moça que foi abandonada grávida pelo homem que amava. “Para o rapaz, Fantine foi só uma aventura. Para ela, foi seu primeiro amor. A ele se entregou completamente. Do romance, nasceu uma menina: Cosette.” Como sofreria retaliações por ser mãe solteira acabou por deixar a filha Corset em uma estalagem sob os cuidados de um casal e sai em busca de trabalho pra manter a filha. Fantine trabalha na fábrica do Sr. Madeleine até que seu segredo é descoberto e ela é despedida, indo se prostituir nas ruas pra continuar mandando dinheiro para que cuidem de sua filha.

Corset é a filha de Fantine. É uma criança e mora com os donos da estalagem que extorquem dinheiro de Fantine e maltrata a menina. É resgatada por Jean quando este descobre a situação de Fantine após ser despedida de sua fábrica.

O filme se passa em 4 fases: A primeira é a condenação de Jean pelo roubo do pão. A segunda é sua saída da prisão e o encontro com o Bispo. A terceira é quando Jean se torna próspero sob a identidade do Sr. Madeleine e a quarta é quando Jean tenta cuidar de Corset que se tornou uma bela moça. (Confesso que Corset é a personagem que acho menos interessante no livro e em todos os filmes.)

De volta ao planeta terra, Oscar 2013, Os Miseráveis de Tom Hoper é um filme sustentado pela força dos atores. Hugh Jackman consegue dar vida e passar verdade como Jean Valjean. Achei que assistiria o filme todo imaginando garras saindo de suas mãos mas.. que Wolverine que nada, o que a gente vê em Jackman é o olhar daquele que se torna bruto e depois se torna bom, o olhar de Jean Valjen. Segundo o ator esse personagem teria sido o maior desafio da sua carreira, e ele cumpriu bem a missão. Seu momento máximo no filme é quando ele sai da casa do bispo.

Russell Crowe como cantor é um excelente ator. A proposta do filme era realmente que as afinações não fossem perfeitas, pra passar emoção e verdade. Mas não funcionou com Crowe que manteve a postura e expressão do personagem mas quando começava a cantar não convencia. Helena Bonham Carter (Madame Thénardier e Sacha Baron Cohen (Monsieur Thénardier) fizeram uma excelente atuação mas achei que o clima das cenas deles destoava do filme. Amanda Seyfried não chamou minha atenção, mas talvez tenha sido pela minha falta de simpatia pela personagem Corset adulta.

A grande interpretação do filme, que realmente me surpreendeu foi a de Anne Hathaway. E não é porque ela emagreceu, cortou o cabelo e enfeiou (fórmula pra se ganhar o Oscar) foi porque ela conseguiu transmitir todo desespero de Fantine que tem sua vida devastada e precisa encontrar força onde já não existe. Foi uma atuação magistral, emocionante, cantando “I Dreamed a Dream”: “Mas há sonhos que não podem ser. E há tempestades que não podem passar. Eu tive um sonho que minha vida seria tão diferente deste inferno que estou vivendo”

Nunca é demais lembrar que esse é um musical e a recomendação é pra quem gosta de musicais. Porque esse é um musical na acepção do gênero, é cantado do começo ao fim, diferente daqueles filmes que o povo conversa aí para e da uma cantadinha, aí conversa de novo e para da outra cantadinha. Esse não tem conversa.

Bom Os Miseráveis de Tom Hoper é isso, mais uma tentativa de contar essa história de injustiça, coragem, sacrifícios e redenção. Uma tentativa imperfeita, como todas foram e todas serão, mas que tem seus méritos e merece ser vista  e sentida de alma aberta.

 

Trailer

 

Ficha Técnica

Elenco: Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Hugh Jackman, Russell Crowe, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Aaron Tveit, Colm Wilkinson, Ella Hunt, George Blagden, Daniel Huttlestone, Bertie Carvel, Isabelle Allen, Frances Ruffelle, Alistair Brammer, Evie Wray, Kerry Ellis, Tim Downie, Killian Donnelly, Alexander Brooks, Fra Fee, Sophie Ellis, Jean-Marc Chautems, Jonny Purchase, Lily Laight, Linzi Hateley, Scott Stevenson, Nathanjohn Carter, Dick Ward, Nancy Sullivan, Gabriel Vick, Catherine Woolston, Jaygann Ayeh, Paul Leonard, Gino Picciano, Olivia Rose Aaron, Jackie Marks, Julia Worsley, AlisonTennant, Josh Wichard, Sara Pelosi, Henry Monk, Adebayo Bolaji, Sammy Harris, Adam Nowell, Rosa O’Reilly, Stevee Davies, Robyn North, James Charlton, Alice Fearn, Kelly-Anne Gower, Iwan Lewis, Jos Slovick, Richard Dalton, Matt Harrop, Mary Cormack, Gary Bland, Adam Pearce
Produção: Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh

Roteiro: William Nicholson, baseado na obra de Victor Hugo

Notas

-As referências ao livro neste texto são da tradução e adaptação de Walcyr Carrasco.

-Os Miseráveis recebeu 8 indicações ao Oscar 2013: Concorre nas categorias de melhor filme, ator (Hugh Jackman), atriz coadjuvante (Anne Hathaway), design de produção, figurino, maquiagem, mixagem de som e canção (Suddenly).

-O filme não é uma adaptação direta do livro de Vitor Hugo mas de um musical da Broadway.

-Essa é um texto de opinião, todas as colocações aqui são convicções pessoais baseadas muito mais na experiência emocional do que em conhecimentos teóricos sobre cinema.

A Indomável Sonhadora

 

Por Raquel Rocha

Na corrida para assistir todos os filmes indicados ao Oscar antes da grande cerimônia de premiação me deparei com Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild). Filme de baixo orçamento, do diretor estreante Benh Zeitlin.

O filme é narrado sob o olhar de uma menina de 6 anos Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) que vive isolada numa ilha com o pai alcoólatra Wink (Dwight Henry). O lugar, que eles chamam de banheira, corre o risco de ser inundado a qualquer momento mas os moradores se recusam a sair de lá. Para piorar o pai de Hushpuppy está doente e não quer se tratar. Sabendo que vai morrer ele tenta explicar a filha o quanto a vida é dura e que ela precisa ser forte para sobreviver, ser forte quase como um selvagem. Mas a menina não ouve só as palavras duras do pai, ela tenta interpretar o mundo a sua maneira ouvindo os animais, as pedras e as plantas. “Sempre e em todo lugar, todos os corações batem e bombeiam e conversam de formas que não entendo.”

A ilha acaba sendo alagada numa referência a destruição provocada pelo furacão Katrina. Pai e filha permanecem lá, navegando num barco feito com a carroceria de uma camionete, a procura de outros moradores. Eles não pensam em sair da ilha alagada, nem se revoltam diante da catástrofe, simplesmente aceitam os fatos. Não era permitido chorar, apenas lutar para sobreviver.

É um filme surpreendente que foge do lugar comum das grandes produções mainstream. Denso na maior parte da narrativa com a câmera quase sempre em movimento dando ares de documentário a obra. Personagens reais, humanos até na desumanização provocada pela adversidade. Frequentemente vemos na TV notícias de regiões alagadas e junto com elas, notícias de saques a estabelecimentos comerciais, pessoas que não podem sair de suas casas por medo de roubarem suas coisas mesmo estando tudo embaixo da água. Em Indomável Sonhadora existe uma solidariedade incomum entre o moradores da banheira, que se ajudam e comemoram juntos a vida, por mais difícil que ela seja. Aliais, tudo nesse filme é incomum, principalmente a relação entre pai e filha, que por vezes parece rejeição, descaso, crueldade, mas que na verdade é uma relação de amor e proteção. “Todos perdem aquilo que os fez. É a lei da natureza. Os fortes ficam para ver, não fogem”

O filme recebeu quatro indicações ao Oscar 2013: melhor filme, diretor, atriz e roteiro. A pequena Quvenzhané Wallis agora com 9 anos é a mais jovem atriz a receber uma indicação ao Oscar, quebrando o recorde de Tatum O’Neal que foi indicada ao Oscar em 1973 com apenas 10 anos pelo filme Lua de Papel (Paper Moon) no qual ela contracenava com seu pai Ryan O’Neal. A diferença é que Tatum O’Neal levou a estatueta pra casa, coisa difícil de se repetir com Quvenzhané mas não impossível. De qualquer forma, com ou sem estatueta, a atuação da Indomável Sonhadora já é inesquecível.

Mais quotes/citação

“Os animais fortes sabem quando estão com o coração fraco.”

Ficha técnica: DIREÇÃO: Benh Zeitlin/ DURAÇÃO: 93 min /ROTEIRO: Lucy Alibar, Benh Zeitlin/ EDIÇÃO: Crockett Doob, Affonso Gonçalves/ FOTOGRAFIA: Ben Richardson

Elenco: Quvenzhané Wallis (Hushpuppy), Dwight Henry (Wink), Levy Easterly (Jean Battiste); Lowell Landes (Walrus); Pamela Harper (Little Jo)

 

 

Trailer

 

 

Django Livre- O novo filme de Quentin Tarantino

Por Raquel Rocha

Inspirado no western italiano da década de 60 também chamado Django do diretor Sergio Corbuccio, o filme de Tarantino faz jus ao gênero com muitos tiroteios, enquadramentos abertos, trilha sonora dramática e um herói com cara de mau. As semelhanças terminam por aqui.

O novo Django, interpretado por Jamie Foxx, é um escravo que depois de sofrer maus tratos e ser separado da sua esposa, acaba sendo comprado pelo caçador de recompensas Dr. King Schultz, (ChristophWaltz). De escravo, Django passa a ser amigo e parceiro de trabalho do Dr. Schultz. O doutor lhe dá a liberdade para juntos percorrem as fazendas do sul dos EUA matando procurados pela justiça e, nas suas palavras: “Quanto mais perigosos, maior a recompensa”.

O maior recompensa de Django não é dinheiro. Seu desejo é encontrar e libertar sua esposa Broomhilda (Kerry Washington) e ao final de várias caçadas eles chegam até a propriedade onde está a moça. O lugar pertence ao latifundiário Calvin Candie (Leonardo di Caprio) famoso por promover lutas de escravos até a morte. (Spoiler leve) Para conseguir comprar a escrava Broomhilda eles armam um plano que, claro, tinha que terminar em um desastre com muito sangue. Aliás, o sangue é uma marca presente durante todo o filme. Diferente de westerns onde os tiros levam a mortes rápidas e limpas, os tiros em Django Unchained levam a esguichos de sangue, miólos espalhados, buracos nos corpos e gritos agonizantes.

A violência é uma marca registrada de Tarantino que tem em sua biografia filmes como Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Kill Bill e Bastardos Inglórios, mas a violência nesses filmes de tão exagerada acaba se tornando irreal, quase plástica, quase bela, sobretudo em Kill Bill. Em Django a violência tem uma certa dose de crueza que incomodou alguns espectadores: cenas de torturas, chicotadas até um escravo devorado por cães. Para quem não gosta de filmes violentos Django não é uma boa indicação.

Por outro lado, para aqueles que não se importam com banhos de sangue vale a pena assistir a mais essa belíssima obra de Tarantino que foi brilhante em vários aspectos como a trilha sonora, com músicas selecionadas dos discos do próprio diretor, a fotografia incrível e interpretação dos atores, destacando-se Christoph Waltz, que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante em 2010 pela interpretação do Coronel Landa e nesse filme chega a ofuscar o próprio Django. Samuel L. Jackson, parceiro antigo do diretor faz uma interpretação irretocável do mordomo negro que parece odiar os negros mais que qualquer branco, e Leonardo DiCaprio na pele do cruel Calvin Candie, ator que está cada dia mais maduro, consegue surpreender a cada filme. Candie por sinal é o primeiro vilão que Tarantino confessou odiar, ele que sempre teve uma certa simpatia pelos seus vilões afirmou não encontrar nenhuma característica redimível neste. 

A película de 3 horas que aborda delicado tema da escravidão é cheia de diálogos memoráveis e mesmo com caráter sanguinolento tem uma boa dose de humor que faz com que as emoções de expectador se alternem.

Apesar do nome, o mérito da obra está mais no filme do que no personagem central que, talvez pelo sofrimento, seja frio e indiferente a tudo que não seja o resgate da esposa, diferente do Django de 1966 que conservava um certo ar de justiceiro. Mas essa questão do carisma do personagem (ou da falta dele) não torna Django Livre um filme menos sensacional, do que ele de fato é.  Sensacional, forte e polêmico, daqueles que você termina de assistir mas continua pensando nele. 

Ficha Técnica: Django Livre (Django Unchained). Direção: Quentin Tarantino. Roteiro: Quentin Tarantino. Ano: 2012.

Elenco: Django – Jamie Foxx, Dr. King Schultz – Christoph Waltz, Calvin Candie – Leonardo DiCaprio, Broomhilda von Shaft – Kerry Washington, Stephen – Samuel L. Jackson.

 

 

Raquel Rocha é Graduada em Comunicação Social – Rádio e TV pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com.br . Webdesign da Bahia