Daniel Thame

Vitória da Conquista, final dos anos 80. A sucursal da TV Cabrália no Sudoeste Baiano dando os primeiros passos e lá estava eu, então gerente de jornalismo da emissora em Itabuna, na fase de ajustes da equipe local.

Tempos tão ´dinossauricos´ que as matérias eram enviadas de ônibus para Itabuna em fitas U Matic e editadas para entrarem nos telejornais.

Pré-histórico, mas ainda assim era inovador, porque a gente editava como se fosse ao vivo no Jornal do Meio Dia e no Repórter Regional.

Eis que o repórter Junior Patente chega da rua com a reportagem da prisão de quatro jovens, com uma senhora quantidade de maconha.

Fita pronta pra ser enviada, o então editor de jornalismo, cujo nome não vem ao caso (gracias Moro!), me diz:

-Essa matéria não pode sair, porque é tudo filho de gente conhecida.

Por “conhecida”, entenda-se, gente com grana ou com poder político.

Fui na jugular:

-E se fosse gente pobre, poderia sair?

O silêncio ensurdecedor do editor foi a resposta que eu esperava.

A matéria saiu e o editor demitiu-se logo depois, embora os jovens nem chegaram a sentir o gostinho da cadeia.

Afinal, em qualquer tempo, certas coisas definitivamente ´não vem ao caso`…

 

PS-O que vem ao caso é essa PEC  que criminaliza o porte de maconha  de forma genérica.

Ficamos assim, branco, rico e de bairro nobre com ´trocentos´ quilos é usuário; preto, pobre e da periferia com dez gramas é traficante e cadeia nele.

E viva o Congresso Irracional!