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Os dois amigos chegaram à pensão modesta na cidade do interior paulista no domingo à noite.

Radialistas em início de carreira e, portanto,  escalados para as piores coberturas, iriam fazer reportagens sobre um encontro de prefeitos e vereadores.

Tanta atenção para uma baboseira daquelas, que desde todo o sempre serviu de fachada para que os políticos tivessem diversão garantida bancada pelos cofres públicos, só se justificava porque o prefeito era também o dono da rádio onde eles trabalhavam.

O dinheiro contado mal dava para as despesas. “Luxos”, só mesmo algumas doses de “fogo paulista”, uma mistura horrenda de pinga vagabunda com groselha, e uma visitinha ao puteiro local, ainda assim  contando com a generosidade de uma moçoila mais em conta, mais rodada e em, digamos, fim de carreira.

Porque as putas que valiam a pena, preferiam prefeitos, vereadores, assessores mais graduados e mesmo os caipiras com aqueles “errrrrrrrrrrrrrrrrrres” intermináveis, mas com dinheiro  no bolso.

Daí que, a dona de pensão, uma velhota lá pelos seus 65 anos, viúva contrita, que era um trombolho repugnante na noite de domingo, passou a ser uma pessoa legal na segunda-feira, simpática na terça-feira, agradável na quarta-feira e atraente na quinta-feira.

Na sexta-feira os dois, que eram amigos de dividir um prato de comida, quase estavam saindo no tapa para ver quem iria dormir com a dona da pensão, aquela delícia de mulher.

Ali era uma pensão familiar e não haveria espaço para briga, ainda mais uma briga entre amigos. Ela deu para os dois.

Um de cada vez, é bom que se registre, porque era uma senhora de respeito, com um enorme crucifixo sobre a cama e o retrato do saudoso falecido na penteadeira.

E ainda exigiu que fosse com a luz apagada, no que os dois amigos, donos de uma imaginação fértil, não reclamaram.

No dia seguinte, eles foram embora e ela foi à missa.

Comungou sem se confessar.

Entendeu aquilo não como um pecado, mas como um ato de caridade cristã a dois necessitados.