Pensando em ter um instrumento efetivo para interferir e ajudar a mudar a realidade de discriminação racial no Jornalismo, os jornalistas baianos aprovaram no sábado (18), durante assembleia estatuinte realizada no XI Congresso dos Jornalistas da Bahia (Conejorba), a criação da Diretoria de Reparação e Igualdade Racial.

Quis o destino que a aprovação da medida tenha ocorrido às vésperas do Dia da Consciência Negra. Hoje, a pasta que trata das lutas nessa frente inclui também as ações de gênero. Ao decidir separá-las e criar duas pastas, o Sinjorba objetiva exatamente ampliar o grau de importância dos temas e ter colegas dedicados para elaborar políticas e desenvolver ações específicas.

O presidente do Sindicato, Moacy Neves, diz que a mudança passará a valer para as próximas eleições do Sinjorba, em julho de 2025, mas a entidade não esperará até lá. “Vamos formar desde já nossa comissão de Reparação e Igualdade Racial para discutir e executar um programa de ação do Sindicato de combate ao racismo e discriminação racial no Jornalismo”, defende ele.

Dados

O presidente do Sindicato se refere à necessidade de combater uma realidade que é mostrada em números em vários levantamentos, produzidos por diferentes organizações.

Nesse dia 20 de novembro, por exemplo, Dia da Consciência Negra, o Departamento Inter-Sindical de Estatística e Estudos Socio-Econômicos (DIEESE) divulgou a situação do trabalhador negro no mercado de trabalho e a situação do jornalista negro não é muito diferente. Dados do segundo trimestre de 2023 da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua (PNAD Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica – IBGE) revelam que a população negra correspondia a 56,1% da população brasileira. E mostrando a vulnerabilidade econômica desta vasta fatia de brasileiros, mulheres negras e homens negros eram maioria entre ocupados, trabalhadores informais e desempregados.

Mulheres negras e homens negros representavam 54,5% dos ocupados, somando 53,9 milhões de pessoas. Cerca de 46,1% da população negra ocupada trabalhava na informalidade. Entre as mulheres negras, 46,5% trabalhava sem carteira assinada e não contribuía para a Previdência Social. Mulheres negras ganhavam 38,4% menos que mulheres não negras, 52 5% menos que homens não negros e 20,4% menos que homens negros. Homens negros ganhavam 22,5% menos que mulheres não negras e 40 2% menos que homens não negros.

Jornalismo

A pesquisa Perfil Racial da Imprensa Brasileira, conduzido pelo site Jornalistas &Cia, mostrou que a região Nordeste tem a maior concentração de jornalistas negros do país (38,9%), tendo a Bahia a maior concentração (6,2%) e ficando assim na quarta posição entre os estados brasileiros, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Existe maior predominância de jornalistas negros (21,4%) que trabalham em outro meio de comunicação em relação aos colegas brancos (18,3%) porque ocupam funções com salários mais baixos e são obrigados a ter outro trabalho para complementar a renda (vide dados do próximo parágrafo); pelo mesmo motivo, por ocuparem funções com menores salários e poderes, foram identificados mais jornalistas negros empregados assalariados (70,3%) que brancos (64,3%) e mais jornalistas brancos empreendedores/donos de negócio (23,7%) que negros (17,1%).

Segundo a pesquisa, cerca de 60% jornalistas negros (pretos e pardos) ocupam funções de repórter, redator, produtor, apresentador, entre outros. E apenas 40% do grupo ocupa funções gerenciais. Entre os jornalistas brancos, a maioria (62%) tem função gerencial, como editor, redator-chefe e diretor de redação.

Discriminação

Os números também evidenciam que o machismo e o racismo, quando combinados, afetam a vida profissional de 85% das jornalistas negras. Entre estas, 52,3% afirmam enfrentar descrença quando apresentam argumentos técnicos, um percentual de 20,5% sofreu assédio sexual e 15,9% denunciaram discriminação, disparidades salariais e obstáculos no avanço das carreiras.

No jornalismo, negros representam menos de 1/3 das redações, segundo o estudo realizado em 2021 pela Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a Retij (Rede de Estudos sobre Trabalho e Profissão), da SBPJor (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo), sendo 29,9% negros (pretos e pardos).

Outra pesquisa, intitulada “Perfil Racial da Imprensa Brasileira”, e divulgada agora pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), reforça, que ainda há desigualdade na profissão. O levantamento mostra que 61,8% cargos gerenciais das redações são ocupados por profissionais que se declaram brancos, e apenas 40,9% dos ocupantes dessas vagas ocupacionais são negros.

Profissionais da imprensa e coletivos negros têm pedido maior representatividade nas produções audiovisuais em várias áreas. Secretária de Gênero, Raça e Etnia da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Valdice Gomes, destacou na pesquisa de Jornalistas&Cia, realizada entre jornalistas empregados nos principais veículos de comunicação, que somente 20% dos profissionais se declararam pretos, demonstrando a necessidade do aumento da presença destes profissionais nesses veículos para garantir a produção de pautas que possam atender à necessidade de enfrentamento ao racismo estrutural em todos os segmentos.