Passado o momento crítico da pandemia, a crise na educação brasileira continua e acumula desafios urgentes. Estudos apontam prejuízos em todas as etapas da educação básica, indicando retrocesso de quase dez anos na qualidade de ensino do país. Para além do esforço emergencial para a recomposição da aprendizagem e combate à evasão escolar, os impactos na saúde mental dos estudantes também exigem atenção. Mapeamentos recentes do Instituto Ayrton Senna mostram que 49% dos estudantes de São Paulo se dizem nada, pouco ou medianamente capazes de ser persistentes, indicando a necessidade de se fortalecer em crianças e jovens as competências socioemocionais.

Para avançarmos diante desse cenário desafiador para a educação deixado pela pandemia e pelo fechamento das escolas por dois anos no país, será preciso uma grande reviravolta. De nada adiantará focarmos unicamente em conteúdo – será necessário promover também de forma intencional e planejada o desenvolvimento socioemocional dos estudantes, promovendo o foco, a determinação, a curiosidade para aprender, entre outras características, tal qual fazemos com as ciências ou com a matemática, diante do impacto comprovadamente positivo que ele possui sobre a aprendizagem.

Esse vem sendo o grande foco da atuação do Instituto Ayrton Senna, na produção de conhecimento e de práticas pedagógicas. Uma parte deste trabalho foi apresentada por Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, ao britânico sete vezes campeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Durante sua visita ao Brasil para o Grande Prêmio de São Paulo de 2022, Hamilton buscou o Instituto para conhecer mais sobre o trabalho que a organização não governamental tem realizado, desde 1994, com o objetivo de dar oportunidades a crianças e jovens por meio da educação.

Lewis Hamilton, que já declarou que o tricampeão de Fórmula 1 Ayrton Senna é seu maior ídolo e inspiração, participou de um evento promovido pelo Instituto Ayrton Senna e pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo na Escola Estadual Lasar Segall, na capital paulista, na manhã desta quinta-feira (10). O evento ainda contou com a presença de autoridades, educadores e estudantes.

A educação tem sido uma causa central para Hamilton. Durante a visita, ele teve a chance de conversar com as estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental, além de ouvir a história do jovem Marcos Ferrari, que atualmente atua como coordenador pedagógico na rede municipal de Pereira Barreto (SP). Marcos participou de projetos do Instituto Ayrton Senna quando ainda era estudante e falou sobre o incentivo que recebeu de sua professora nesse período, que o fez decidir ser professor.

Emocionado com as histórias, Hamilton comentou que, quando estava na escola e não tirava boas notas, ouvia das pessoas que não teria sucesso. “Então, é preciso acreditar em si mesmo para poder ser tudo o que quiser”, afirmou Hamilton durante a conversa com os estudantes. “Hoje, vejo que educação é realmente essencial para aumentar as nossas oportunidades de futuro. Ela é a ferramenta capaz de expandir nossas mentes e nos fazer acreditar que podemos conquistar tudo o que quisermos”, completou Hamilton.

Educação integral para redução das desigualdades

Transformar a realidade brasileira por meio de uma educação com mais significado e comprometida com a redução das desigualdades é a missão do Instituto Ayrton Senna. Há quase três décadas, a organização vem produzindo conhecimento de ponta e implementando ações voltadas à melhoria da qualidade da educação pública, em uma busca incessante por inovação. Ao longo deste tempo, milhões de crianças e jovens brasileiros tiveram suas vidas transformadas – o grande sonho de Ayrton Senna. Em 2022, a estimativa é que cerca de 196 mil educadores e 2,8 milhões de crianças e jovens de todo o país sejam beneficiados pelas iniciativas com foco em educação integral levadas pelo Instituto às redes públicas de ensino.

“O Ayrton sempre acreditou que o segredo do sucesso é a oportunidade. Ele me disse uma vez que não queria ser uma pessoa que dá certo em um país que não dá, e que queria dividir a oportunidade que ele teve com outras pessoas”, contou Viviane durante o encontro, lembrando que nem todas as crianças e jovens brasileiros têm a oportunidade de ter educação de qualidade no país. “Além de saber português e matemática, no século 21 é também preciso saber trabalhar em time, ter iniciativa, determinação, tolerância. Saber conviver e respeitar o diferente, independentemente da cor da pele, religião ou partido político”, completou Viviane Senna, lembrando que a educação integral é uma das mais importantes ferramentas para atingirmos esse objetivo.

A Escola Estadual Lasar Segall foi escolhida para sediar a ação por ser uma das unidades que promoveu o desenvolvimento e monitoramento de competências socioemocionais, inclusive durante a pandemia. O trabalho implementado pela escola contou com o suporte da parceria firmada pelo Instituto Ayrton Senna com a Secretaria da Educação para a implementação da política de educação integral no estado, desde 2019. O Instituto já atuava com diferentes modelos de parceria com a rede de ensino paulista desde 2003.

Atualmente, essa parceria vem se materializando em diversas frentes, desde a incorporação do desenvolvimento socioemocional em materiais de recuperação de aprendizagem, produção e revisão de materiais pedagógicos para o componente Projeto de Vida, formações de professores e gestores públicos e aplicações para monitoramento das competências socioemocionais com educadores e estudantes, além da formação para o socioemocional de professores. Até o fim do ano, o Instituto realizará ações de homenagem para mais escolas da rede paulista que também conseguiram implementar boas práticas para serem disseminadas para mais territórios.

 

FOTOS: KV Conteúdo/Instituto Ayrton Senna