basia pier 6 (foto Ana Lee)

Basia Piechocinska

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Estou escrevendo este artigo porque há um perigo.  Neste momento estamos no meio de uma tempestade e por isso pode ser difícil ter uma visão clara do que está acontecendo.  Quero que o número maior de pessoas tenha acesso a estas informações tratando de um contexto mais amplo, analisando o que está acontecendo nos tempos do coronoavírus, para poder refletir e tomar as medidas que achar adequadas.

Vamos lá.  Neste momento estamos no meio de uma crise mundial e há muito medo.  Toda vez que há medo a nossa visão fica menos ampla.  O nosso enfoque é a imanente sobrevivência e fica difícil visualizar perspectivas e contextos maiores.   Os pensamentos iniciais são do tipo “Aonde consigo alcool para me proteger?  Não tenho máscara!  A ajuda do governo já entrou?  Como vou sobreviver sem meu emprego?”  etc.  As reações de quem está com medo são previsíveis e como o enfoque da maioria é segurança fica mais fácil direcionar os pensamentos e a ações as pessoas.

Um exemplo do passado – 9/11


Dia 11 de setembro no ano 2001 houve os ataques às Torres Gêmeas em Nova Iorque. Isso gerou uma crise e muito medo, sobretudo nos Estados Unidos.  Os canais informativos nos Estados Unidos, todos os dias mostravam barómetros de quanto medo precisava ter naquele dia.  E realmente gerou-se muito medo que teve como enfoque “os terroristas”.

Por causa disso foi possível passar uma nova lei, chamada “The Patriot Act”, que tirou os direitos civis da população.  A promessa do governo era que assim o governo ia poder proteger os cidadãos dos terroristas.  E foi isso o que aconteceu?  As pessoas condenadas, usando esta nova lei, foram os terroristas?
Não.  A lei foi usada sobretudo para aprisionar os denunciantes, os “whistleblowers”, e grupos como veganos (como por exemplo membros de um grupo chamado SHAC 7 por postar vídeos de abuso de animais cometidos pela empresa Huntingdon Life Science).  Geralmente a lei foi usada quando uns ativistas estavam tendo sucessos na campania de ativismo.
Para explicar o contexto do que está acontecendo agora vamos usar um exemplo do passado para tudo ficar mais palpável.

Será que os direitos serão tirados só em situações extremas, como situações de críse e depois em outros momentos os cidadãos vão de novo usufruir dos direitos?  Pelo contrário.  No ano 2013 Edward Snowden, um “whistleblower”, demostrou que estamos sendo vigiados em forma massiva e que nossos direitos de privacidade estão sendo tirados.

Então, vemos como uma situação de crise foi usada para revogar os direitos das pessoas para em vez de os restabelecer num futuro pacifico abusar deles e revogar ainda mais do que se mostrava.

O presente – Coronavìrus

O que isto tem a ver com o coronavírus?

De novo estamos numa situação de crise com medo rampante.  Mas o que resta para tirar?  Agora trata-se do nosso direito ao nosso corpo.  Trata-se de privacidade e da privacidade do seu corpo.
O cenario mas provável agora vai ser que por medida de segurança (ler “controle”) vamos começar a passo a passo renunciar da nossa privacidade corporal.  Já veremos exatamente como vai acontecer, mas há várias opções.

Dentro de pouco talvez haverá uma vacina e quem sabe será obrigatória para certas pessoas.  Se você quiser poder trabalhar nos encargos aonde interage com outras pessoas precisa tomar a vacina.  Ou, talvez, se você quiser entrar numa certa cidade, ou se você quiser viajar num avião cheio de pessoas vai ter que mostrar que foi imunizado.
De início isso tudo pode parecer bom e vai ter pessoas correndo para tomar as vacinas.  Mas não vai parar aqui.

Nestes tempos estão sendo desenvolvidas muitas tecnologias que integram a saúde.  Por exemplo, temos uma empresa que trabalha com inteligência artificial e emoções.  Neste momento está sendo usada em pacientes no espectro do autismo.  Uns óculos registram e interpretam as expressões de quem está na frente e falam para o paciente como a pessoa na sua frente está,  “A pessoa na sua frente está triste.  Ou, ele está com raiva.  Ou, ele está chateado, etc”.  Neste momento esta é uma pequena empresa, chamada Affectiva, e os donos se recusam publicamente a usar a tecnologia para outros meios.

As empresas de Elon Musk estão desenvolvendo neuro-chips com inteligência artificial que conectam-se diretamente com os neurônios dentro do cérebro.  Eles vão começar testar os chips deles nas pessoas deficientes para restaurar a capacidade de se movimentar mas o objetivo é criar uma tecnologia que aumenta nossas capacidades em geral e nos conecta diretamente com a rede mundial.  Já somos cyborgs, com o nosso celular e acesso as informações pela internet, mas este é mais um passo para virar um cyborg integrado.  Na opinião do Musk, expressada uns dias atrás na entrevista com Joe Rogan, este tipo de chipe vai estar disponível dentro de menos de cinco anos.

Várias outras empresas oferecem monitoramento de funções fisiológicas.  Podemos medir os nossos padrões de sono, a variabilidade do nosso batimento cardíaco, a nossa temperatura, etc.  E algumas destas empresas, como a Kinsa, disponibilizam os dados para pesquisadores.  Durante os tempos do coronavirus podemos entrar nas páginas deles e ver aonde está tendo temperaturas aumentadas, ou seja, aonde estão as pessoas com febre.

Estes são só alguns exemplos de tecnologias que existem hoje e estão sendo aperfeiçoadas.

Estes avanços tecnológicos podem ser ótimos, ou não.  Vejam o que está acontecendo simultaneamente.

Agora mesmo estão tentando passar o “EARN IT Act” nos Estados Unidos.  Esta é uma lei que mandaria colocar uma porta traseira em todas as plataformas para o governo ter acesso aos dados.  Isso significa que não importam as intenções das empresas que desenvolvem as tecnologias.  Para as empresas funcionarem, vão ter que deixar acesso aos dados para o governo.

Mas qual é o perigo?  Se eu não sou um criminoso, o que importa se o governo sabe aonde eu estou e que temperatura corporal tenho?

Neste momento talvez não passe nada.  Na fase da implantação só vão ser mostradas as vantagens.  Mas imagine se o que você está fazendo agora num futuro vai ser contra a lei e você vai ser punido por causa disso.  Ou imagine se você estiver assistindo o grande líder na televisão e todos os dados corporais, com as micro-expressões faciais indicam que você não está de acordo com o que ele or ela fala?

Na China já existe o sistema que da uma pontuação a cada cidadão dizendo se é um bom cidadão e neste ano ele fica obrigatório.  E quando o número de pontos cai o cidadão perde direitos, como direito a transporte público, etc.

A privacidade é o direito base para todos os outros direitos.  Sem privacidade não existem os outros direitos.  Por isso é essencial defende-lo, mesmo não sendo um criminoso.

O que pode-se fazer?

A primeira e mais importante parte é perceber o que está acontecendo.

O coroniavirus é a fase necessária para poder implantar consenso e as leis necessárias para o acesso aos corpos dos cidadãos.  Este é o contexto maior do que está acontecendo agora.  Perda da privacidade significa perda se liberdade e de todos os direitos.  Exemplos históricos mostram que a prioridade do governo é manter o poder e controle mesmo ao custo dos cidadões, e não protejer e agir a favor dos cidadãos.

Sabendo isso e em base a isso podemos refletir e fazer as nossas escolhas.

Por exemplo, já faz mais de 10 anos que novas tecnologias permitem formas de organização que não estão baseadas na hierarquia.  Nestas formas não um centro de poder, são descentralizadas.  Elas não são nem organizações, nem empresas, nem governos.  Qualquer ser pode optar a usa-las, ou não.  Elas podem ser feita de forma que protege a privacidade.  Um exemplo são algumas formas de criptomoedas, como o bitcoin.  Estas tecnologias descentralizadas em base a blockchain podem ser usadas para outros fins, não só dinheiro.  Elas representam opções de saída dos sistemas centralizados.

Seria interessante procurar estas opções, pedir que sejam desenvolvidas e compartilhar o conhecimento da existência delas para que outras pessoas possam escolher usa-las ou não.   Por exemplo, se você estiver procurado uma tecnologia para monitorar suas funções corporais pode procurar este tipo de opções descentralizadas, aonde há privacidade.

Mas o fundamental é ver o contexto maior para poder refletir e fazer suas próprias escolhas.