:: 9/ago/2020 . 11:32
Crônica de 100 mil mortes anunciadas
Antônio Prata
Cem mil mortos: ontem, hoje ou amanhã. Cem mil mortos e seguimos contando os corpos que não podemos velar. Mais de mil por dia. Dez vezes cem, da manhã à noite. Cem vezes mil, de março a agosto.
Era óbvio, mas segue sendo surpreendente que um presidente eleito hasteando a bandeira da morte nos entregue, vejam só, a morte. Prometeu 30 mil cadáveres para resolver o Brasil, nos entregou três vezes isso em meses: e seguimos contando os corpos. Cem mil de Covid, outras dezenas de milhares de bala, de acidente de carro, de burrice, de séculos de descalabros culminando nos desvarios de um ser humano decrépito apavorado com a sombra da própria masculinidade. Um eunuco existencial arrotando priapismo.
O erro da ditadura foi ter torturado e não matado, ele disse. Agora nos tortura e nos mata diuturnamente. Contra o delírio de um complô mundial de foice e martelo, oferece a foice, somente, ceifando. Nossa bandeira jamais será vermelha. Claro que não. Será preta. Já é preta. Não como Preta Gil ou “Preta, Pretinha” ou “um negro norte-americano forte”. Preta como a noite, a floresta carbonizada por Ricardo Salles, os dedos dos pés dos mortos por asfixia na “gripezinha”.
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