*Luiz Conceição

 

luizEsperei passar um pouco o tempo nesta pandemia que parece não ter fim, para lembrar de quem se foi de março até julho desse ano que deveria ser da graça de 2020, mas se provou o contrário. Ao longo do tempo, com dor e sofrimento, aprendi que a vida se completa com a morte, passagem para ainda muito dorida para muitos de nós.

 

As reflexões que fiz nesse distanciamento social necessário levaram-me de volta à sala de aula da disciplina Introdução à Filosofia, na Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna (Fespi), embrião da atual Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

 

Nos idos de 1983, pelo menos duas vezes, a cada semana, ouvia a professora e poetisa Valdelice Soares Pinheiro falar sobre as distintas escolas filosóficas. Iniciava o curso de Direito. Na sala de aula, tínhamos incentivo e estímulo para ler, aprender e fazer reflexões sobre Filosofia e o Direito. A primeira, como a arte de pensar.

 

O segundo, como algo inalienável às pessoas a qualquer tempo, sempre subordinado às correlatas obrigações. Como diziam os romanos: “Jus et obligatio sunt correlata”, traduzido ao português: “A todo direito corresponde uma obrigação.”

 

Vibrei quando a mestra certificou meu acerto sobre o que seria a vida. À sua indagação a respeito do que seria esta, disse-lhe: o espaço entre o nascer e o morrer. Filosoficamente, pouco importa a mortis causa. A vida é exatamente esse hiato, denso de emoções, desejos e aflições.

 

Neste instante entre as tribulações do presente surge a provocada por um vírus que uns tolos desejam rotular, colorir, desafiar como se fossem sobrehumanos. E que ao mesmo tempo faz pesquisadores debruçarem-se sobre estudos e ensaios científicos em todos os quadrantes da Terra na tentativa de se dispor de vacina.

 

Aliás, nos tempos desafiadores que vivemos, tornou-se móvel de competições geopolíticas descobrir o imunizante contra o Sar-Cov-2. Em vez da cooperação, disputa renhida, até certo ponto inacreditáveis! Quanto tolos  somos ainda em pleno século XXI, depois de desperdiçar o século anterior com duas grandes guerras que mataram milhões e quase ameaçaram a vida no planeta.

 

Pois, àqueles que se foram uma prece, em vez de lágrimas. A Língua Portuguesa tem palavra única para a expressar o vazio, a lacuna e a tristeza de quem não mais poderemos ver, amar, interagir: Saudade. Para reconforto a familiares e de amigos de quem se foi sempre nos restará a eterna Saudade.

 

* Jornalista