juvenal(Do Diário Bahia)- Ao longo de sua gestão à frente das duas principais cadeiras da Ceplac – a Superintendência Bahia e a Direção Brasília –, Juvenal Maynart sempre insistiu na mudança de paradigmas na cacauicultura. Como órgão indutor, a Ceplac deveria também transformar-se, para que não fosse atropelada pelos acontecimentos. “Os novos paradigmas são inevitáveis, basta ver o que está a ocorrer no mundo, no Brasil, em todas as áreas”, dizia, citando o pensador Gilles Deleuze.

Pois essa tal pós-modernidade chegou. A Ceplac virou “Centro de Excelência das Políticas para Lavoura Cacaueira”, sob o paradigma dos sistemas agroflorestais (SAFs), hoje em evidência no Ministério da Agricultura. Como cacau e Ceplac remetem à mesma ideia – desenvolvimento sustentável –, o negócio cacau também se renova, a partir de uma nova mentalidade que leva antigos produtores a repensarem a forma bicentenária de produzir amêndoas, e passam – acompanhando o novo paradigma introduzido pela nova geração – a beneficiar a matéria-prima, produzindo chocolates finos e gourmets.

Juvenal comemora o que considera outra de suas previsões: “haverá uma mudança de narrativa”, dizia, nas reuniões e nos corredores da Superintendência, há 5 anos. “A missão provar – por meio da cadeia produtiva – uma meta de duplicar a produção nacional em 10 anos e colocar novamente o Brasil no cenário mundial do cacau é mais que uma nova narrativa, é um atestado de capacidade ao produtor brasileiro. O mundo hoje acredita”.

cacauHá até pouco tempo, a narrativa era outra, o trinômio dívida-crédito-vassoura. Juvenal diz que tudo isso ainda é importante, e a Ceplac trabalha em cima dos três problemas, que são um grande impeditivo para o desenvolvimento da cacauicultura baiana, principalmente. “Mas esses problemas deixaram de ser uma cantilena, embora persistam, e os produtores passaram a acreditar no cacau, no negócio, numa visão ampliada”.

Evento mundial

Para ele, a confirmação do novo momento é a realização, pela primeira vez na América Latina, de evento da Fundação Mundial do Cacau (WCF), nos dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo. Nesses dias estará no Brasil toda a cadeia produtiva mundial, discutindo o negócio cacau. “São ações que garantem o crescimento da atividade, com certeza”, observa Maynart.

Em outra frente, 7 mil famílias de assentados serão atendidas com o primeiro financiamento produtivo em SAF-Cacau. Esse processo, junto com o projeto Rotas do Cacau, acordo de cooperação Incra-Ceplac, são as garantias de desenvolvimento local. “Projetos de PSA – pagamentos por serviços ambientais – são novos desafios da realidade de SAFs em planejamento por bacias hidrográficas.

Ainda no entendimento dele, há grandes desafios, que não invalidam o que diz sobre o momento atual. “A lavoura na Bahia precisa desatar o nó do manejo da Cabruca e equacionar o endividamento do não-resoluto Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira da Bahia. Parafraseando Padre Antônio Vieira: ‘os produtores não estão a pedir pedindo, mas protestando e exigindo, pois não estão a pedir favor, e sim, justiça’”.