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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 7/abr/2010 . 16:45

Rio de Janeiro, águas de abril

“O Rio todinho debaixo d’agua – vergonhoso – onde já se viu uma cidade deste tamanho sumir debaixo d’agua? Está parecendo New Orleans, nos Estados Unidos após a passagem do furacão Katrina. Os pobres nadando e os ricos lá longe nas suas chácaras. Estão falando em 2000 desabrigados. E a multidão que já estava morando na rua? Foi parar onde? Vi crianças descalças sendo enxotadas do metrô para o dilúvio. Aqui em casa a luz vai e vem – vai baixando, baixando até quase apagar, aí vai subindo como se o dia tivesse amanhecendo. As linhas de telefones estão todas congestionadas, fora do ar. Silêncio completo, nem um ruído de trânsito – parece o interior – um cão latindo, o grito de alguém. Bizarro. Um imenso silêncio diante das provas mais contundentes da falta de qualquer investimento na infra-estrutura da cidade”.

O relato acima é de cineasta inglesa Vik Birkbeck, que há 30 anos mora e trabalha no Rio de Janeiro, e reflete a indignação com as seguidas tragédias que se abatem sobre a Cidade Maravilhosa, a mais recente delas o dilúvio de proporções bíblicas que deixou mais de 100 mortos e instalou o caos numa das maiores metrópoles brasileiras.

Um Rio de água, lama, deslizamentos de morros, barracos e casas destruídas, trânsito parado, vôos cancelados, energia interrompida, serviços urbanos suspensos e mortes, muitas mortes.

Um Rio que se orgulha de ser a sede dos principais jogos e da final da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, mas que, paradoxalmente, não consegue evitar, ou ao menos reduzir, os estragos e as mortes causadas por tragédias mais do que previsíveis e que vem se repetindo com espantosa freqüência.

O que ocorreu nas últimas 48 horas no Rio de Janeiro foi uma quase inacreditável conjunção de fenômenos naturais, que resultou no maior temporal sobre a cidade em quatro décadas.

Mas não se pode, nem se deve imputar a culpa à natureza.

A tragédia que atingiu o Rio de Janeiro e seus habitantes é fruto da falta de planejamento urbano e da ausência do compromisso de suas autoridades com obras de infra-estrutura, que raramente resultam em votos, ao contrário das chamadas obras faraônicas, de muito impacto visual e pouco efeito prático.

A explosão demográfica, a escalada irrefreável rumo aos morros, a ocupação desenfreada de áreas de mata, a destruição de florestas e a completa ausência do poder público criam todas as condições para que o impacto dos fenômenos naturais se multiplique, gerando mortes e destruição em larga escala.

O homem, muito por conta dos homens que ele elege, acaba sendo vítima daquilo que ele mesmo provoca, numa reação de causa e efeito.

Não raro, um efeito devastador.

O Rio de Janeiro que afunda e se afoga nas águas de abril, é um pouco do retrato do Brasil, em que planejamento e prevenção parecem palavras perdidas no dicionário das autoridades, que só se mobilizam quando a catástrofe já é um fato consumado.

Diante das próximas chuvas, no Rio de Janeiro e em tantas outras cidades brasileiras, a dúvida é saber quem serão as próximas vítimas.

Lições de imprudência e despreparo


Maysa Cordeiro Macedo, de 18 anos, estudante, moradora de Ibicui, pequena cidade encravada entre o Sul e Sudoeste da Bahia, é mais uma vítima da violência.

Na madrugada do último sábado, Maysa levou um tiro de escopeta, quando viajava de carona numa moto.

Ao contrário do que é praxe nessa escalada de violência insana e sem limites, a jovem não foi morta durante uma tentativa de assalto, por um desses marginais para quem a vida não tem valor algum.

Maysa foi vítima de um misto de imprudência e despreparo, baleada mortalmente por um policial que, em tese, deveria justamente protege-la e proteger os demais cidadãos de bem.

Imprudência e despreparo, sim, posto que a morte de Maysa pode ser incluída no rol das evitáveis, não fosse a conjugação desses dois fatores.

O motorista da moto em que a jovem estava passou diante de uma blitz realizada pela polícia. Como estava sem habilitação e com os documentos do veículo em situação irregular, em vez de parar, decidiu seguir em frente.

Um dos policiais que atuavam na blitz, optou pela pior maneira de fazer o motoqueiro parar: atirou. Segundo ele, para acertar um dos pneus da moto.

Se acertou o pneu, isso é irrelevante, diante da tragédia que sucedeu.

Estilhaços do tiro de escopeta atingiram a estudante, que ainda foi socorrida com vida, mas faleceu antes de chegar ao Hospital de Base de Itabuna.

O policial agiu no melhor (ou pior) estilo “primeiro atira, depois pergunta”, praxe que há muito deveria ter sido extinta da cartilha de procedimentos, mas que infelizmente não chega a ser uma exceção durante as abordagens.

Óbvio que vai se alegar que ocorreu uma lamentável fatalidade.

Óbvio também que o policial não teve a mais remota intenção de atingir Maysa.

Mas, ao agir com a imprudência com que agiu, amplificou as chances de que isso viesse a ocorrer, como de fato ocorreu.

Um pouco mais de cuidado com a capacitação e com o tipo de policial que se coloca nas ruas certamente irá contribuir para evitar que uma simples blitz se transforme numa tragédia pessoal e familiar.

Para Maysa, que pegou uma carona sem volta, será tarde demais.

SANGUELATE

“Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim, um ovo, dois ovos, três ovos assim?”.

Esqueçam a ingenuidade das canções de Páscoa.

A Semana Santa em Itabuna teve cinco assassinatos, quatro deles envolvendo jovens entre 18 e 24 anos de idade.

Em vez de chocolate, sangue.

Em vez de ressurreição, morte mesmo.

E o coelhinho da Páscoa que trate de correr, antes que sobre pra ele também.

Um tiro, dois tiros, três tiros assim…





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