:: ‘Diario de Osasco’
Homem Bomba
Diário de Osasco, inicio dos anos 80. Eu e Cláudio Cruz, amigo-irmão que Deus levou prematuramente em 2017, trabalhávamos como repórteres, recém iniciados no jornalismo e escalados para funções que os veteranos sempre consideravam coisa menor: a cobertura nos bairros e as sessões de esportes e de polícia. Na verdade, eram as grandes escolas para quem estava começando e onde a gente fazia de um limão, uma limonada.
Ou de um cachorro quente um banquete, naqueles tempos difíceis, mas, hoje reconheço, felizes.
A nossa produção jornalística não deveria andar lá essas coisas (não que faltasse assunto: Osasco tinha problemas típicos de uma cidade industrial encravada na Grande São Paulo com bairros sem infraestrutura e a violência era assustadora), porque resolvemos diversificar as atividades e nos embrenhar por outras áreas.
Com a luta armada brasileira nos estertores e a Revolução Cubana distante demais, decidimos explodir latas de lixo do bairro Presidente Altino, onde ficava a sede do jornal, com aquelas bombas típicas de São João, ´tamanho GG´.
Não me perguntem o que uma coisa tem a ver com a outra, porque não tem nenhuma mesmo. É apenas pra dar um certo charme ao texto.
O plano (!) era esperar o fechamento do jornal, lá pelas onze da noite, e sair detonando as latas de lixo que encontrássemos pela frente. Como havia bombas suficientes para explodir Presidente Altino e adjacências, achei que uma bomba a mais, uma bomba a menos não faria diferença.
E então, sorrateiramente, enquanto Cláudio revisava compenetrado uma de suas matérias, coloquei uma das bombas embaixo da sua cadeira e… BUM!
Jornalista sempre e para sempre
Daniel Thame
Do adolescente de 17 anos, recém expulso do seminário por questionar privilégios de alguns padres, que um dia adentrou a redação do jornal A Região de Osasco- SP com um texto escrito a mão e foi imediatamente contratado por um anjo chamado João Macedo de Oliveira, ao rebelde com causa que aos 27 anos aportou em Itabuna, após passagens pelo Diário de Osasco, Cidade Revista e rádios Iguatemi e Difusora Oeste, aqui recebido por outro anjo chamado Manoel Leal, lá se vão quase 50 anos de jornalismo.
Se A Região e a TV Cabrália, onde labutei por 13 anos em Itabuna (13!), foram as experiências mais fantásticas de uma vida em que o jornalismo está no DNA, não menos fantástica tem sido a experiência de mais de 20 anos na assessoria de imprensa de governos ligados ao PT.
Um jornalista com lado. E coloque ao lado também os sem terra, os indígenas, os catadores de recicláveis…
Ex-paulista, grapiúna de coração, Cidadão de Itabuna, Cidadão de Ilhéus, Papa Jaca e Papa Caranguejo.
Três coberturas internacionais, Cuba, Itália e França.
Ver o cacau quase morrer e ver o cacau renascer com o chocolate.
Reportagens de antologia no jornal A Região e na TV Cabrália.
Cinco livros publicados.
Histórias que vivi pra viver, histórias que vivi pra contar.
Jornalista sempre. E para sempre!
Jornalista para sempre!
Abril de 1977. Lá se vão 46 anos desde que o menino tímido e inseguro adentrou no jornal A Região, em Osasco, com um texto escrito a mão e foi recebido pelo dono do jornal, João Macedo de Oliveira. Não era o dono, acho que era um anjo, que me contratou na hora, talvez por bondade, talvez porque ali houvesse se dado a Epifania.
Naquela tarde chuvosa (como esquecer o tempo, tanto tempo depois?) me transformei no que já era desde os séculos e séculos amem. Jornalista. A Região, Diário de Osasco, O Batente (meu primeiro flerte com a imprensa de esquerda), Radio Iguatemi, Radio Difusora Oeste, Cidade Revista, esta ultima um projeto visionário com João Palma e Celso Villari, abatida por um cruzado. No caso o Plano Cruzado.
Em 1987, Alah sabe bem os motivos, o Sul da Bahia. Parecia um salto no escuro. Era a Luz. Por 13 anos, a TV Cabrália, pela intuição de Nestor Amazonas, e A Região (o mesmo nome outro anjo, que fingia ser demônio, mas era anjo), Manuel Leal. Minhas razões de viver e no caso de A Região, quase de morrer. Coberturas internacionais em Cuba e na Itália, reportagens memoráveis nos 500 ano do Brasil, a descoberta da fraude no Vestibular da Uesc, tráfico de crianças, a inacreditável história de Ferreirinha e Yolanda, o tráfico de crianças, a máfia dos cartões de crédito, um inesquecível programa especial nos 80 anos de Jorge Amado, e uma locomotiva com centenas de vagões de outras histórias.
O diretor de jornalismo que se transformou em Faculdade de Jornalismo. F..-se a modéstia!
Cansado de guerra, mas não de luta, o mergulho na assessoria de imprensa. Primeiro, Prefeitura de Itabuna, depois os Governos de Wagner Rui, Jerînimo. Esquerda volver. O indescritível prazer de fazer o que gosta com algo que se identifica.
Impossível resumir 47 anos de jornalismo num texto tão curto.
Daria um livro, que a propósito escrevi cinco, mas isso é outra história.
Combati o bom combate, evitei os atalhos para seguir o caminho muitas vezes tortuoso, mas que eu acreditava (e acredito!) ser o mais correto.
O futuro?
Nesses sombrios tempos onde o futuro pode se encerrar nos próximos segundos, reitero o que já escrevi uma vez, parafraseando um certo Tiradentes:
-Se mil vidas eu tivesse, em mil vidas seria jornalista…
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