Daniel Thame

 

O Brega de Sônia é um desses patrimônios imateriais (ou seria imeteriais?) de Itabuna.

 

Célebre nos tempos  áureos do cacau, em que reunia damas dadivosas vindas do Rio, São Paulo e até das Oropas, para deleite dos milionários do cacau, o mítico local já enfrentava tempos de decadência,  muito por conta da vassoura de bruxa,  quando comecei a frequentá-lo.

 

Academicamente é bom que se explique.

 

Explico:  no meu trabalho de  conclusão do curso de Filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz, mui pretensiosamente intitulado “Karl Marx quem diria acabou em Arataca”, com a genialidade literária que me é peculiar (pqp, que modéstia!) fundi (eu escrevi fundi) marxismo, sem terras e prostituição.

 

O fato é que mesmo com as damas de outrora já substituídas por escassas operárias regionais, Sonia (que inclusive mereceu destaque num Globo Repórter em que a primeira versão de Renascer era o tema principal) não perdia a pose nem o humor ferino, este cultivado com cálices diários de veneno.

 

Numa dessas noites em que o movimento era escasso e o capítulo final da nobre instituição grapiúna estava sendo inevitavelmente escrito, Sonia parece ter lido meus pensamentos.

 

Perpetrou, ferina:

 

-Menino, você acha que a vassoura de bruxa está acabando com meu negócio não é? Está e não está…

 

E concluiu, de forma definitiva:

 

-Com essas meninas aí dando  de graça quem é que vai pagar pra f…

 

Rimos e bebemos uma cervejinha bem gelada, não a preço de cliente, mas de amigos que nos tornamos.

 

Pouco tempo,  depois Sonia montou num cavalo alado (não resisti à licença  poética) e se tornou uma bem sucedida empresária do ramo de pousadas  no litoral sulbaiano, onde vez ou outra pude revê-la, desta vez em torno de uma cachacinha de alambique, vício que até hoje cultivo com muita pompa e pouco zelo.

 

E vida a vida enquanto vivos estamos!