José Carlos Teixeira*, no Alo Bahia

“Vou dar um pau nas piranhas lá fora
Vocês vão ver, elas vão ter que entregar”

(Tragédia no Fundo do Mar, samba

de Zeré e Ibrain, também conhecido

como “Assassinaram o Camarão”)

teixeiraComeçou a temporada das pesquisas eleitorais. A cada semana somos apresentados a uma nova, às vezes duas, apontando as intenções de voto do eleitor hoje para uma eleição que só ocorrerá em outubro, daqui a oito meses.

Até lá, sabemos, muita coisa pode acontecer – e vai acontecer, tenham certeza. Sobretudo porque teremos uma eleição diferente. Dessa vez não haverá coligação partidária nas eleições proporcionais. Ou seja, cada partido vai disputar as cadeiras na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal com as próprias pernas. E é aí que vamos saber quanta farinha cada um tem no saco.

Tudo isso significa que ainda não dá para vislumbrar como cada time entrará em campo – inclusive porque daqui a um mês, em 3 de março, será aberta a janela partidária, período de 30 dias em que parlamentares poderão mudar de partido livremente, sem correr o risco de perder o mandato. Ou seja, hoje sabemos qual a legenda de cada deputado, mas não sabemos em qual partido ele estará ao fim da janela do troca-troca.

Mas, enquanto isso, temos pesquisas eleitorais em profusão para animar as discussões nas redes sociais – ou nas mesas de bar, para aqueles que os frequentam, desafiando a covid-19 – e para alimentar as manchetes da imprensa. Uma enxurrada delas.

Antes, é preciso dizer que as pesquisas de intenção de voto são ferramentas importantes para o planejamento e acompanhamento das campanhas eleitorais. São retratos de momento que oferecem indicativos para o estabelecimento de objetivos e a condução das ações em cada fase da campanha.

Não são infalíveis. Mas com questionários adequadamente elaborados e aplicados corretamente, com os resultados processados de forma irrepreensível, as pesquisas são peças importantes que podem influir positivamente no resultado final de uma campanha – ou negativamente quando os parâmetros corretos não são seguidos e elas apresentam conclusões falsas.

Há pesquisas e pesquisas. Há as realizadas corretamente e as manipuladas para apresentar resultados diferentes da realidade. Da mesma forma, há institutos de pesquisas sérios, com anos de tradição na área e profissionais de primeira linha, e também há os de ocasião, que se prestam a falsear dados para apresentar resultados de acordo com os interesses de quem os contratou.

Vai aqui uma indicação: sempre que se bater com uma pesquisa assinada por um instituto desconhecido procure saber o endereço dele e confirme. Já vi, em mais de duas décadas de atuação no marketing político, muita coisa estranha nessa área.

Em uma campanha no Maranhão nos deparamos com uma pesquisa, exibida e propagandeada pelo candidato adversário, que invertia completamente os resultados das demais. Uma rápida investigação revelou que no endereço do suposto instituto de pesquisa funcionava, na verdade, um açougue.

Fosse hoje, com as redes sociais funcionando a mil, renderia um divertido meme. O pesquisador dizendo: é chuleta, mas considerando a margem de erro, pode-se dizer que é filé.

Quem atua na área conhece um velho aforisma que diz: “estatística é a refinada técnica de torturar os números até que eles confessem o que se deseja que eles digam”.

Pois bem, caro leitor, gentil leitora, a campanha eleitoral sequer começou e já tem muita gente por aí torturando os números das pesquisas.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.