jorge a

Efson  Lima

efson limaNo ano passado, publiquei esse texto, mas não no Blog do Thame. Entretanto, volta e meia o assunto é retomando e muito tem se discutido a importância de Ilhéus no cenário literário nacional. Sem dúvida alguma, a cidade de Ilhéus e o sul da Bahia são um polo de produção literária. Temos alguns escritores consagrados, assim como também temos um grande contingente de novos escritores.

 
Recentemente, tenho acompanhado algumas lives mediadas por Luh Oliveira, membro da Academia de Letras de Ilhéus e escritora com oito livros publicados. Na live última, de quarta-feira, dia 22/07/2020, ela recebeu o professor Ramayana Varges, também membro da Academia de Letras de Ilhéus, um mestre da literatura do sul da Bahia. Afinal, quem não lembra dos aulões do estimado Rama, às vésperas do vestibular da UESC? Era motivo de romaria a Ilhéus e ao Instituto Nossa Senhora da Piedade.

 

 
Registrei algum tempo, que fui destacado para ajudar na Antologia Bardos Baianos, Litoral Sul, precisava-se identificar 50 poetas. Rapidamente, os cinquenta poetas foram alcançados. Alguns deles poetas consolidados e uma outra plêiade enorme de novos poetas, que publicaram em livros pela primeira vez. Que as bençãos literárias os guiem para portos seguros. O Bardos Baianos é um projeto da Cogito Editora, que cobrirá todos os territórios de identidade da Bahia. Salve, salve!

 

Então, para além da cidade de São Jorge de Ilhéus ser conhecida internacionalmente pelas belezas naturais e pela História, outras características demarcam a cidade mãe do sul da Bahia. A Princesa do Sul também chama a nossa atenção, a dos visitantes e a de diversos interessados pela literatura. Não nos reta dúvida que o campo literário é construtor do imaginário da cidade de Ilhéus.

 

 

Além das lives de Luh Oliveira, temos também a live da “Viadestinos”, uma agência de viagens, que tem promovido lives e um dos convidados foi o professor André Rosa, que de forma significativa, ele foi apresentando brilhantemente a cidade de Ilhéus pela via literária. Trouxe também a gastronomia e os espaços físicos para além dos Centro Histórico da Cidade. Nessa senda, vários são os espaços físicos, as ruas e os alimentos que nos tocam pela literatura. A literatura oriunda das terras de Ilhéus até pode ser considerada de cunho regionalista, mas foi universalizada e alcança o mundo.

 

 

 

Aproveito, com a devida vênia, para sensibilizar alguns, que Ilhéus pode aproveitar a qualidade de cidade literária para fazer parte do projeto da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) batizado de Rede de Cidades Criativas. Salvador integra no campo da música. Ilhéus pode fazer parte do clube pela via da literatura. Certamente fará um bem enorme a Princesa do Sul e a literatura regional. Certa vez, o escritor Adonias Filho perguntado sobre o que Ilhéus produzia, além de cacau, ele respondeu – escritores, conforme vaticinou a professora Maria Luiza Heine, no Diário de Ilhéus, certa vez.

 
A Rede de Cidades Criativas foi criada pela UNESCO em 2004, cujo objetivo é promover a cooperação com e entre as cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável. A rede também está comprometida com o desenvolvimento da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 e estão entre seus objetivos são o estimulo e o reforço as iniciativas lideradas pelas cidades-membros para tornar a criatividade um componente essencial do desenvolvimento urbano por meio de parcerias entre os setores público e privado e a sociedade civil.

 
É e transformador para os apaixonados por livros aos caminhar por cenários de obras e lugares onde viveram escritores. Pode se vislumbrar uma experiência romântica, alvissareira, transformadora ou até mesmo alfabetizadora… os sentimentos são os mais diferentes. Afinal, a literatura nos leva a diferentes lugares, deixa-nos curiosos para conhecer e Ilhéus desperta esse fascínio internacionalmente.

 
A literatura pode ser instrumento de emancipação. Lembro até hoje da minha primeira obra lida – Capitães de Areia, de Jorge Amado. Como não agradecer a professora Ana Maria, do IME. Nunca mais fui o mesmo. Obrigado!
Para uma cidade ser considerada literária, a UNESCO impõe algumas exigências: que ocorram eventos literários, como festivais, a existência de bibliotecas, livrarias e centros culturais, públicos ou privados e que tenham por fim último a promoção da literatura.

 
A cidade de Ilhéus é também uma urbis literária pelos aspectos tão comuns ao campo literário. A cidade pertence a grandes escritores, como Jorge Amado, Adonias Filho, Sosígenes Costa, dos contos de Hélio Pólvora. A cidade foi parar nos livros e se transformou em cenário e enredo. É a cidade também dos hai-kais de Abel Pereira. É a terra de coração do historiador Arléo Barbosa, personagem vivo e encantador, com seu beste seller regional “Notícia Histórica de Ilhéus”.

 
A cidade também é celeiro de jovens escritores como Fabrício Brandão, Gustavo Cunha, Marcus Vinicius Rodrigues, Geraldo Lavigne, do paulista Gustavo Felicíssimo, às vezes, alguns deles com origem extra Ilhéus, mas que burilam os textos a partir deste lugar. A cidade também é lugar privilegiado para a literatura popular. Aqui merecem registros os cordéis da Mestra Janete Lainha e a sua xilogravura, que tanto abrilhanta o mundo da literatura e nos insere neste lugar de destaque.

 
A cidade é palco da Festival Literário de Ilhéus (FLIOS), que alcançou a quarta edição em 2019. Vida longa! Então, fica um desafio aos organizadores para realizar de forma virtual. Vamos ocupar as redes. Fazer as mesas literárias. Assegurar o concurso literário ( Prêmio Sosígenes Costa).É lugar da Mostra Jorge Amado de Arte & Cultura. Esses eventos demarcam o lugar da literatura. A cidade é cenário para diversas obras literárias. É cidade de novela – isto soma e enriquece o aspecto literário, ampliando para as fazendas de cacau. Afinal, a novela Renascer continua viva na memória afetiva dos brasileiros.

 
A cidade possui a Academia de Letras de Ilhéus, que completou 60 anos em março de 2019, cujo lema de “Servir à pátria cultuando as letras” não deixa dúvida da qualidade destes abnegados que insistem e nos alimentam com a chama literária (André Rosa, Pawlo Cidade, Maria Schaun, Maria Luiza Heine, Ruy Póvoas, os já mencionados Luh Oliveira, Ramayana Vargens e tantos outros, que injustamente vou deixando de citar). Este é locus importante para a formação e promoção da cultura regional. A UESC pode contribuir para o projeto. Em seu seio está a Editus, que muito tem contribuído para as obras de escritores regionais. A própria Universidade tem desenvolvido seminários e inserido os estudos da literatura regional em seus cursos.

 
Não obstante, o Programa Estratégico da Cultura – Cultura 500, da Secretaria de Cultura de Ilhéus, traçou um cenário para a cidade nos próximos 15 anos e lançou as estratégias para Ilhéus chegar aos seus 500 anos, sendo um município referência na área da Cultura, portanto, Ilhéus, Cidade Literária é um caminho. Espero que não desapareça. Ilhéus pode transformar a Soares Lopes em um parque literário. Pode também aproveitar a expertise do Teatro Popular de Ilhéus e transformar os galpões do antigo Porto em um polo cultural com teatro, gastronomia, artes urbanas e integrar com o visual e o mundo virtual. A Ilhéus pode mais. Seus filhos merecem. Os seus filhos adotivos, como eu, agradecemos. Os visitantes vão melhor ver a cidade.

 
Por tudo isto, Ilhéus deve perseguir o título de Cidade Literária da UNESCO. Ainda não há cidade brasileira na área de literatura. Assim como Florianópolis foi à primeira cidade brasileira a conquistar seu espaço na rede UNESCO de Cidades Criativas pela área de gastronomia, em 2014, a Princesa do Sul merece que seu povo se reúna e a confirme como CIDADE LITERÁRIA. De fato, Ilhéus já é literária. Mais que um título, é a confirmação de sua contribuição para a literatura e mais uma porta para a consolidação do turismo e da cultura local. A literatura, a História de Ilhéus com suas estórias e as belezas naturais da Terra de São Jorge encantam a todos.

 

——–

Efson Lima é Coordenador – geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho. Doutor, mestre e bacharel em Direito pela UFBA. efsonlima@gmail.com