
Diário de Ilhéus: 20 anos de efetiva comunicação
Efson Lima
O Diário de Ilhéus alcança 20 anos de publicação constante, precisamente, neste 24 de julho de 2019, com 3.357 edições. A fundação ocorreu em 1999 e surge após a extinção do Diário da Tarde, que funcionava desde 1928 na Princesa do Sul. O professor Arléo Barbosa considera o “DIÁRIO DE ILHÉUS – Um símbolo da resistência da imprensa escrita da nossa cidade.”
Nesse período as mudanças foram enormes. Tornamo-nos uma sociedade mais conectada, os computadores chegaram as nossas casas, a internet alcançou um maior número de residências e estabelecimentos. Os celulares se tornaram instrumento de trabalho e comunicacional. Certamente, o Diário de Ilhéus sofreria esses impactos.
O Diário de Ilhéus foi das páginas pretas e brancas às coloridas. Diversas foram às alterações no número de páginas: quatro, oito, doze… Teve período que só havia um caderno, após, alcançou dois cadernos aos sábados, com um deles assumindo a feição da área cultural. O Diário de Ilhéus foi da era tipográfica, confeccionado quase que artesanalmente. Da confecção artesanal passou para offset, alterando o aspecto completamente e avançou com a aquisição maquinário moderno, que possibilitou maior dinamismo. Os desafios são enormes manter uma redação e a circulação. Infelizmente voltou a ter um caderno. Bom mesmo foi acompanhar o auge do jornal e ser um leitor permanente.
Tive o prazer de fazer a leitura das colunas da professora Maria Luisa Heine, do professor Josevandro Nascimento, assim como os artigos publicados na página dois do DI, como carinhosamente é chamado e tantos outros textos de colaboradores diversos. Como gosto de apreciá-los. A escrita oferece sentido. A interpretação outra possibilidade.
O Diário de Ilhéus registrou fatos marcantes da região. O afastamento do prefeito Valderico Reis pela justiça em 30 de julho e publicado na edição do dia 31 de julho de 2007. O campeonato baiano de 2006 quando o Colo Colo foi campeão. A morte do cidadão do mundo, Jorge Amado. O assassinato de Pedro Farias, no bairro do Basílio – ao perdemos um pai, como estampava a manchete e a multidão que seguiu o cortejo quando do sepultamento.
A equipe do jornal caprichava nos cadernos especiais de comemoração do aniversário de Ilhéus, do Natal. Quem não se recorda do caderno especial que registrava os nomes dos aprovados no vestibular da UESC? Era motivo de orgulho. Guardava-se como se guarda o convite de formatura.
Teve um período em que passei a trabalhar na feira do Malhado e, aos sábados, fazer a leitura do Agora (quando semanal) e o Diário de Ilhéus era uma devoção de fé. Eu era um mero estudante de ensino médio. Antes, eu já havia iniciado com as leituras dos jornais descartados, aqueles que serviam para embalar o dendê vendido em litro de vidro. Ambos os jornais foram meus professores. Ofereceram-me formação de mundo, permitiram-me sair do morro e alcançar o mundo. Somaram-se a outras variáveis para possibilitar meu gosto pela leitura e escrita. Gratidão!
O Diário de Ilhéus deu matéria, notícia, Sinal Fechado, Faixa Livre a quem precisa. Foi voz dos oprimidos e dos desalentados. É voz. É lugar dos escribas regionais, das colunas sociais, da opinião. Registra os fatos, os eventos, o tecido social e o cultural, as ações educacionais das instituições de ensino superior, das escolas e dos colégios e as campanhas do comércio. Exemplos para evidenciar a importância desse periódico que não pode passar despercebido. Talvez, sim, esquecemos ou buscamos esquecer rapidamente. O registro ajuda. O DI oferece sentido a grupo social. Mantém viva a nossa chama de cidadania. É ar que respiramos. Possibilita-nos oxigenar nossas vidas. Permite-nos deixar acesa a chama da democracia. É o ver coletivo. A página policial envergonha-nos. Não é o jornal, mas a violência que mata homem, mulher, criança e sepulta a esperança de melhores dias.
Falar do Diário de Ilhéus e não registrar seus criadores e negar a criatura. Portanto, celebramos a memória de Marcos Correia, que nos deixou neste ano e registramos com todo entusiasmo o esforço dos demais sócio fundadores do Diário de Ilhéus, Damiana Gomes, Getúlio Pinto e Carlos Moura Makalé. Incorporou-se a equipe, pelo que se observa no expediente, Juliana de Moura, Ivo Coelho, Alberto Carlos, Gutemberg Pires Maciel, Ana Virginia Santiago, Maria Luiza Heine, Alberto Carlos, Heckel Januário, Gustavo Kruschewsky e Ader Oliveira articulados, agora, com a editoria de Jonildo Gloria formando o conjunto de sócio fundadores, colaboradores e funcionários.
Poderia ser uma data qualquer, mas a imprensa escrita e, inclusive, a televisiva vivem dias desafiadores. Certamente, desafio que é enfrentado diariamente pela equipe dos fundadores do Diário de Ilhéus e colaboradores. A comunicação tem mudado é verdade. Pode até bater a saudade, mas são mudanças que seguirão o curso. Mas, manter vivo o Diário de Ilhéus é contribuir para a afirmação da cidadania e da nação grapiúna. É insistir no campo da comunicação como meio necessário à democracia. É um dever coletivo. É nosso!
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Efson Lima – coordenador-geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho, coordena o Laboratório de Empreendedorismo, Criatividade e Inovação, além de ser doutorando, mestre e bacharel em Direito pela UFBA. Advogado. Organizador de seis livros no Projeto Conviver/UFBA e autor do livro “Textos Particulares”.