livro ze ibrahimA jornalista brasileira radicada na França, Mazé Torquato  Chotil,  lançando hoje (27), no Colégio Ceneart, em Osasco,   o livro “José Ibrahim, o líder da primeira grande greve que afrontou a ditadura brasileira”. A obra é composta por quatro capítulos:  A construção do homem, 1968, O exílio e A volta à pátria.

José Ibrahim, era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco quando, aos 21 anos, liderou a greve de julho de 1968, afrontando a ditadura militar implantada no Brasil em 1964. Esta greve é um marco na história do sindicalismo brasileiro. A greve era uma atividade proibida, mas o arrocho salarial e as más condições de trabalho empurraram os trabalhadores para a decisão de cruzar os braços, para chamar a atenção dos patrões. Principal líder dos trabalhadores, num momento em que a maioria dos sindicatos estava nas mãos de homens postos nos cargos pelo governo, os chamados “pelegos”, o jovem sindicalista, juntamente com sua diretoria eleita, foi cassado pelo governo militar que declarou a greve ilegal.

 

ze ibCom o desejo de continuar a luta contra o autoritarismo, considerando que não havia alternativa naquele momento, Ibrahim vai para a clandestinidade e ingressa no grupo de esquerda VPR – Vanguarda Popular Revolucionária. A organização faria a opção pela luta armada em seguida. Acabou preso, torturado e banido do país em troca do embaixador norte-americano no ano seguinte, 1969. O Brasil e o mundo voltavam a ouvir falar de Ibrahim como uma referência de um “novo sindicalismo”, que mostrara o caminho da resistência num momento em que o país caía na escuridão do regime militar. Resistência que dez anos mais tarde ganharia nova visibilidade na região industrial do ABC paulista, encabeçada por Luiz Inácio da Silva, o Lula. Ibrahim volta do exílio antes da anistia, justamente para forçá-la a se tornar realidade, se junta aos movimentos de esquerda que clamam por democracia, se integra às lutas, ajuda a criar o PT e a CUT.

Termina saindo dos dois, sentindo o espaço estreito face à estrela Lula. Foi para o PDT, em seguida para o Partido Verde. Por três vezes se candidatou a deputado federal, sem conseguir se eleger. Saindo da CUT, ajudou a criar a Força Sindical antes de passar para a UGT. Foi criticado pelos que enxergaram nesses movimentos uma instabilidade, ou, ainda, “um homem de esquerda passando para a direita”.

De acordo com Mazé, “personagem contraditório para uns, um herói esquecido do sindicalismo brasileiro para outros. Militante de grande importância para o país, José Ibrahim não tinha biografia em março de 2015 quando encontro-me com nosso grande especialista em biografias, Fernando Morais, no Salão do Livro de Paris, numa mesa redonda. Quando lhe falei do trabalho que estava findando sobre o exílio de trabalhadores brasileiros durante a ditadura, incluindo figuras como José Ibrahim e seus companheiros osasquenses, e a vontade de escrever uma biografia, ele me diz: — Por que não a de José Ibrahim? Efetivamente, por que não? Como jovem estagiária na imprensa em Osasco em 1979, encontrei com Ibrahim no seu retorno ao Brasil. Por outro lado, tinha entrevistado-o sobre o período de banimento para o livro Trabalhadores exilados”.  “No mesmo ano de 2015, encontro Elena e Gabriel, respectivamente sua última companheira e seu segundo filho, na apresentação do meu livro sobre os trabalhadores exilados na Unidade de Sociologia da Educação da USP, em São Paulo. Conversando, soube que o jornalista Walter Novaes tinha feito uma série de entrevistas pensando justamente numa biografia. Infelizmente, após a morte de Ibrahim, em 2013, Novaes também veio a falecer, em 2014. Tomei a decisão de trabalhar no projeto”.

“Gabriel me passa cópias das entrevistas e revelou-me um baú de documentos dos arquivos do pai: fotos, cartas, caderneta de escola… Começo a explorar o material, a pesquisar e a escrever estas linhas em final de 2015. Como disse, Ibrahim já nos deixou, o que vai dificultar o trabalho. Seus pais, já “maduros”, quando o tive¬ram, também se foram, assim que seus irmãos Jamil e Luisinho; sua primeira esposa, Tereza Cristina Denucci Martins, mãe do seu primeiro filho, Carlos Eduardo, também. Muitos companheiros da greve, do exílio e de outros momentos, pelo mesmo motivo, não poderão falar da relação que tiveram juntos: José Campos Barreto, Carlos Lamarca, José Groff, Orlando Miranda”, destaca.

Mazé Torquato Chotil é jornalista, pesquisadora, doutora em ciências da informação e da comunicação pela Universidade de Paris VIII e pós-doutora pela EHESS. É autora de “Trabalhadores Exilados: a saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985)”; “L’Exil ouvrier” em Francês; “Ouvrières chez Bidermann : une histoire, des vies”; “Minha Paris Brasileira” e três outros sobre aspectos da colonização da região da CAND no Mato Grosso do Sul: “Lembranças do sítio”, “Lembranças da vila e “Minha aventura na colonização do Oeste”. A biografia de José Ibrahim é seu 8° livro Vive em Paris desde 1985, onde se casou com o poeta e compositor francês Bernard Chotil.

AGENDA DE LANÇAMENTOS

– 27 de abril de 2018, às 11h: Auditório da EE Antônio Raposo Tavares (Ceneart)

– 28 de abril, às 15h: CASAVIVA, Av. Maria Campos, 252, Centro, Osasco- SP

– 2 de maio às 18h30: Sindicato dos metalúrgicos de Osasco, Rua Erasmo Braga, 307, Presidente Altino, Osasco- SP

– 4 de maio às 14h: CBAE – Colégio Brasileiro de Altos Estudos. Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro – RJ

– 7 de maio, às 18h Escola do Legislativo da Assembléia de Minas Gerais. Rua Rodrigues Caldas, 30 Santo Agostinho, Belo Horizonte, MG

– 10 de maio, às 19h, Câmara municipal de Osasco, Av. dos Autonomistas, 2607, centro, Osasco-SP

– 11 maio, às 18h30 Editora Alameda. R. Treze de Maio, 353 – Bela Vista, São Paulo, SP