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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

abril 2025
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:: ‘Osasco’

O pastor, as ovelhas e ´el Mensajero del Diablo´…

 

Daniel Thame

 

1981, Radio Difusora Oeste, Osasco. Nas emissoras do interior, a Equipe de Esportes é uma espécie de faz tudo. Cobre de eleição a velório. Carnaval, então, é quase uma obrigação.

E lá estávamos nós cobrindo o Carnaval, que em São Paulo é (ou era) nos clubes e não ao ar livre, como na Bahia.

Se já é um porre cobrir carnaval de rua, imagine-se nos clubes fechados, transmitindo aquela barulheira insuportável e entrevistando bêbados que não diziam nada com nada.
A transmissão começava as 10 da noite, parava as 11 e retornava meia-noite, avançando pela madrugada.
A parada de uma hora nada tinha a ver com descanso. Naquela época, as igrejas evangélicas já viam no rádio um excelente veículo para difundir a fé cristã e aumentar o rebanho. E aquele horário era comprado por uma dessas igrejas.
Ocorre que, não contente em divulgar a palavra de Deus, o pastor simplesmente esculhambava a cobertura do carnaval, que por acaso era feita na mesma emissora em que ele estava falando.
O mínimo que dizia no ar era que a gente atuava como mensageiros do diabo. E, ao final do programa, ainda sugeria que as pessoas desligassem o rádio.
Eram cinco noites de carnaval, cinco noites de cobertura, detonando hectolítros de Fogo Paulista, uma mistura horrenda de pinga vagabunda com groselha, que era o que a nossa grana curta dava pra beber..
Na terceira noite, deu um problema no equipamento e fui até a sede da emissora fazer a substituição. Eis que, ao me dirigir à sala da técnica, que ficava nos fundos do prédio, deparo com o tal pastor encostado no muro, fazendo uma oração, digamos, mais íntima com uma de suas fiéis. Quase a tradução literal do “crescei-vos e multiplicai-vos”.
Uma chance daquelas, caída dos céus (ops!) não era para ser desperdiçada. E eu não desperdicei:
-Pastor, se nós somos mensageiros do diabo o senhor é o que, devorador de ovelhas?
Nos dias seguintes, se não fez elogios à nossa equipe pela brilhante cobertura da maior festa popular do Brasil (radialista adora uma frase pomposa!), o pastor pelo menos nos deixou em paz.
E certamente passou a ter mais cuidado em suas pegações, perdão, pregações para as ovelhinhas dadivosas.

Rádio Clube, o comentarista, o repórter e a reencarnação de Garrincha

Daniel Thame

Início de 1987. Recém chegado a Itabuna e já trabalhando no jornal A Região, contratado após uma frase típica da Manuel Leal ao saber de onde eu vinha (“se é  de São Paulo começa amanhã”, sem me pedir pra rabiscar um papel de embrulhar pão; como se vê sou de um tempo em que se embrulhava pão com papel).

 

Dito isto, e posto que em Osasco (SP) eu trabalhava como jornalista e radialista, bati às portas da Rádio Clube (depois Nacional) onde me apresentei e, ao contrário de Manuel Leal, fui recebido com desconfiança  por Son Gomes, filho do lendário Daniel Gomes, dono da emissora:

 

-Quem garante que você não vai usar o nome da rádio, dar uns golpes no comércio e se mandar?

 

Hoje parece grosseria, mas na época era quase praxe. O sujeito vinha atraído pela fama de cidade rica por conta do  cacau, conseguia emprego nas rádios e dava golpe mesmo.

 

Respondi com todo jeito possível:

 

-Son eu não vim  pra aventurar, vim pra fincar raízes aqui (como de fato finquei, grapiúna que me tornei)

Consegui o emprego na briosa equipe de esportes, que mesmo enfrentando a concorrência da estrelada Rádio Jornal, vinha dando conta do recado e conquistando audiência. Se em Osasco  eu era repórter de campo, em Itabuna fui contratado como comentarista.

 

Apesar do sotaque do interior paulista, carregado de erres que  mantenho até hoje,  ainda que falando um autêntico baianês, acabei escalado para os cobrir os jogos do Itabuna, que então tinha um time capaz de encarar Bahia e Vitória.

 

E chegamos aos finalmente, os motivos dessa croniqueta.

 

Num  dos primeiros jogos em que trabalhei, Itabuna x Leônico, se não me engano, com dez minutos de jogo o repórter tasca a pergunta:

 

-Daniel, o técnico não deveria ter escalado o Adailton  na ponta direita?

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O pintor de paredes que lia livros…

 

Daniel Thame

 

Recém saído do seminário (recém saído é um puta eufemismo para “expulso do seminário”), em 1977,  vivia eu sem eira nem beira lá pelas quebradas de Osasco. Tempos difíceis, até que um anjo chamado João Macedo de Oliveira me abrisse as portas, não do céu,  mas do jornalismo.

Num  período de três meses, trabalhei como feirante e pintor de paredes. Serviço duro mas fodido como eu estava (dispensemos o eufemismo),  era pegar ou largar,  numa fase em que pão com mortadela com tubaína era equivalente a caviar, que a bem da verdade, até hoje   nunca vi nem comi só ouço falar.

Deixemos o bolodório de lado  e vamos ao ponto: trabalhando como pintor numa fábrica chamada Brown Boveri (puta que pariu, e não é que a memória as vezes funciona!) vivi uma situação digna do realismo mágico (ou seria realismo trágico?) digna de um certo Gabo.

Num momento de folga, lia eu um livro quando o chefe chega e pergunta:

-Rapaz você gosta de  ler?

E eu, bobalhão que era, pensando numa promoção, respondi:

-Gosto sim, não abro mão de um bom livro. Leio muito.

A tréplica foi uma pincelada de ignorância:

-Quem lê livros é muito perigoso, pode colocar coisas na cabeça dos outros trabalhadores.

Uma semana depois eu fui promovido a desempregado!

O que por linhas (olha Gabo aí de novo!) me fez cruzar com João Macedo e fazer do jornalismo minha profissão de fé, de luta e de vida.

Quase 50 anos depois, continuo um leitor compulsivo e me tornei autor de cinco livros.

Continuo sendo um sujeito muito perigoso…

De Osasco para ninguém

 Daniel Thame

Rádio Iguatemi, Osasco (SP), 1980. A emissora operava em Ondas Tropicais, podia ser ouvida na Amazônia, nos rincões da América do Sul, mas em Osasco mesmo só era captada em aparelhos de rádio especiais. Ou seja, era “falando para o mundo e cochichando para ninguém”.

Ainda assim, eu, Cláudio Cruz (um dos amigos que preservei por  quase 30 anos depois de ter trocado São Paulo pela Bahia e que faleceu prematuramente) e Chico Motta (que depois se elegeria vereador) fazíamos com galhardia um programa esportivo diário.

Acho que só o operador de áudio  da emissora  ou algum visitante eventual que estivesse no estúdio (ou então algum índio amazônico, um cocalero boliviano, um peruano perdido lá pelos altos de Machu Pichu) ouvia aquele programa; mas era como se falássemos para Osasco inteira e para boa parte de Carapicuíba, Barueri, Jandira, Itapevi e outras cidades da Região Oeste da Grande São Paulo.

Para nós não bastava apresentar um programa esportivo na única emissora de rádio de Osasco. O pioneirismo nos convocava, atiçava.

Pois eu, Chico e Cláudio decidimos que seríamos os primeiros a transmitir ao vivo um jogo entre dois times de futebol profissional de Osasco.

“Profissional” é um pouco de exagero. Rochdale e Montenegro disputavam o equivalente à 5ª. Divisão do futebol de São Paulo e teriam certa dificuldade em vencer o Itabuna e o Colo Colo, times do Sul da Bahia cujos jogadores tinham  sérios problemas  de relacionamento com uma dama chamada bola de futebol.

“Transmissão ao vivo” também é um pouco de exagero. O que a gente iria fazer era gravar o jogo, com narração, comentários e reportagens e depois correr pra rádio e colocar no ar. Um gravador pré-histórico foi colocado à beira do campo e fizemos o nosso trabalho, cobrindo aquela partida mulambenta como se fosse uma final de Copa do Mundo. Chico se esgoelava na narração, Cláudio caprichava nos comentários e eu fazia as reportagens de campo. Sintonia total e perfeita.

 

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Radio Difusora Oeste, plantão de polícia e a hora de sair do ar

Daniel Thame

 

Rádio Difusora Oeste, Osasco, anos 1980. O rádio sempre foi a verdadeira escola de jornalismo e para os novatos na área  a porta de entrada era o noticiário esportivo ou a cobertura policial.

 

Ou no meu caso, as duas coisas juntas.

 

Recém saído do seminário (recém saído é eufemismo para recém-expulso, mas isso é outra história), já militando no Diário de Osasco, aventurei me pelas ondas da Rádio Difusora Oeste.

 

Fazia o plantão na Delegacia de Polícia de Osasco pela manhã e participava do programa de esportes ao meio-dia.

 

Isso quando não colocava uma mochila nas costas, uma única calça velha azul e desbotada, uma camisa branca igualmente velha e saia sem destino pelas quebradas de Nuestra América, mas isso também é outra história…

 

Voltemos às ondas do rádio.

 

Se no esporte, era duro cobrir times mulambentos que disputavam a 3466513ª. Divisão do Futebol Paulista e ter que encher espaço até com torneios de cuspe a distância, bocha e palitinho, na cobertura policial era, digamos, um banquete…

 

Afinal, Osasco era conhecida à época como a Capital do Crime, fonte inesgotável para o antológico jornal Noticias Populares, o que dispensa maiores apresentações.

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Uma noite de homenagens em Osasco e a Rádio Alan Kardec

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Rádio Difusora Oeste, Osasco (SP), início da década de 80. Nossa briosa equipe estava fazendo a cobertura da festa “Destaques do Esporte”, dessas que acontecem até hoje e que têm troféus pra todo mundo, do “Craque do Ano”, do futebol ao ´cuspe à distância`, até aquele empresário amigo que, coincidência é claro, patrocina o evento ou a equipe de esportes.

Ou as duas coisas.

O fato é que naquele dia tinha troféu demais e, pra todo mundo que era anunciado, eu dizia “daqui a pouco vamos ouvir o homenageado”.

E lá ia eu ouvir o homenageado, que invariavelmente dizia chavões do tipo “estou feliz por essa homenagem”, “vou guardar o troféu com carinho”, “não esperava esse prêmio” (se não esperava, aquele cheque de ontem foi o que? Contribuição para alguma obra social?) e outras frases feitas.

kardecEu estava achando aquilo tudo uma baboseira interminável, ainda mais que como o sujeito da antológica música Trem das Onze (“não posso ficar nem mais um minuto com você…”), tinha que pegar o ônibus das 11 da noite, ou encarar a pé o caminho para onde morava, num bairro distante da periferia.

Pobre, pero feliz e cumpridor.

De saco cheio ou preocupado com ônibus das 11, nem me toquei quando (glória a Deus nas alturas!) anunciaram o último homenageado:

-E agora o troféu Destaque do Esporte vai para Jair Ongaro.

 

Prontamente, eu perpetrei:

-Daqui a pouco vamos ouvir o homenageado…

 

Antonio Júlio  Baltazar, o Batata, chefe da equipe de esportes, que comandava a transmissão, hoje num lugar chamado Eternidade,  podia perder o amigo, mas não perderia a piada, dada de bandeja e ao vivo nos microfones da nossa Difusora.

-Ô garoto, só se for ouvi-lo no Centro Espírita. Jair Ongaro morreu há mais de 20 anos.

Era homenagem póstuma e eu não havia prestado atenção.

Desliguei o microfone e sai de fininho. No ônibus lotado e cheio de gente sonolenta, ninguém riu de mim. Aliás, ninguém me notou, “famoso quem?” que eu era.

E continuo sendo.

Apesar de minhas esporádicas incursões pelo espiritismo, doutrina que admiro e onde tenho amigos que prezo, nunca me atrevi a seguir o conselho do velho Batata.

Naquele lugar chamado eternidade e sem a necessidade terrena de fazer média, Jair Ongaro, sangue italiano, poderia dar uma resposta que chocasse até os ouvintes da Radio Difusora.

"vai a farti fottere,ragazzo!" 

Imagina, então, os da Rádio Kardec.

Jogar pra perder…

Daniel Thame

 

Radio Difusora Oeste, Osasco, anos 80 do século passado. O Palmeiras jogava no Pacaembu contra um time do interior (XV de Jaú, Ferroviária, algo assim, a memória é de dinossauro, mas falha).

 

Times em campo, lá vai esse bravo repórter entrevistar o goleiro Leão. Idolo do Palmeiras, três Copas do Mundo no currículo,

 

Jogador famoso sempre olhou pra rádio modesta (a nossa era briosa, mas obviamente  modesta) com desdém e Leão nunca foi propriamente um exemplo de simpatia.  Ainda mais diante da pergunta -vá lá, eu reconheço- idiota que perpetrei:

-Leão, o Palmeiras entrou em campo pra ganhar o jogo?

O goleiro poderia ter feito o que quase todo jogador faz: responder o óbvio, e ir pro jogo, mas Leão optou pelo estilo ´zagueiro de roça`:

-Não, a gente entrou em campo pra perder…

E, sem mais delongas, virou as costas, seguiu pro gol, enquanto meus eventuais ouvintes certamente estavam rindo deste que na época vos falava e agora vos escreve.

 

Ah, sim. O Palmeiras perdeu pro XV de Jaú, Ferroviária, um time desses aí.

 

Praga de repórter de rádio pequena também pega.

E a História  nos esqueceu…

 

 dt

 

Rádio Iguatemi, Osasco (SP), 1980. A emissora operava em Ondas Tropicais, podia ser ouvida na Amazônia, nos rincões da América do Sul, mas em Osasco mesmo era captada em aparelhos de rádio especiais. Ou seja, era “falando para o mundo e cochichando para ninguém”.

Ainda assim, eu, Cláudio Cruz (um dos amigos que preservei mesmoe quase   30 anos depois de ter trocado São Paulo pela Bahia falecido prematuramente ) e Chico Motta (que depois se elegeria vereador), fazíamos com galhardia um programa esportivo diário.

gravador antigoAcho que só o operador de áudio ou algum visitante eventual que estivesse no estúdio (ou então algum índio amazônico, um cocalero boliviano, um peruano perdido lá pelos altos de Machu Pichu) ouvia aquele programa; mas era como se falássemos para Osasco inteira e para boa parte de Carapicuíba, Barueri, Jandira, Itapevi e outras cidades da Região Oeste da Grande São Paulo.

Para nós não bastava apresentar um programa esportivo na única emissora de rádio de Osasco. O pioneirismo nos convocava, atiçava.

Pois eu, Chico e Cláudio decidimos que seríamos os primeiros a transmitir ao vivo um jogo entre dois times de futebol profissional de Osasco,
“Profissional” é um pouco de exagero. Rochdale e Montenegro disputavam o equivalente à 5ª. Divisão do futebol de São Paulo e teriam certa dificuldade em vencer o Itabuna e o Colo Colo, times do Sul da Bahia cujos jogadores tinham/tem  sérias dificuldades de relacionamento com uma dama chamada bola de futebol.

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Onze contra dois (e o Evo  Morales nem jogou…)

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Rádio Difusora Oeste, Osasco (SP), 1985. Para quem trabalha em rádio pequena, cobrir uma partida da Seleção Brasileira é a glória. Assim, até um jogo mulambento entre Brasil e Bolívia no Estádio do Morumbi, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1986, no México, ganhava ares de decisão.

O Brasil, dirigido pelo saudoso Telê Santana, já estava classificado e o time era recheado de jogadores do São Paulo, como Oscar, Silas, Careca, Muller, Sidney e um Falcão já em fase outonal. Enfim, a velha e boa média com a sempre exigente torcida paulista.

Para nós da aguerrida Difusora Oeste, era a chance rara de um dia poder contar (como estou contando aqui) que cobrimos um jogo da Seleção Brasileira. Grande m…, dirão alguns, diante da maneira como o nosso time nacional foi banalizado e transformado em mercadoria pelas  cbfs da vida. Mas, naquele tempo a Seleção ainda era uma instituição quase sagrada.

A equipe da rádio para o jogo em questão tinha Alceu de Castro na narração, Carlos Roberto nos comentários e eu como repórter de campo.

evoAlceu  era um sujeito simplório, vindo do interior, de São Paulo que adorava imitar o Fiori Giglioti (o grande narrador do ´abrem-se as cortinas, começa o espetáculo…`). Quando cismava com uma palavra bonita usava toda hora, mesmo que ela não fizesse o menor sentido na transmissão. A gente se aguentava pra não rir, porque  com aquele seu jeitão caipira, Alceu tinha dotes de boxeador e levar as coisas no bom humor não era seu forte.

O fato é que ao receber a escalação da Bolívia, com aqueles nomes todos em espanhol, parecia que Alceu havia se deparado com a escalação de um time grego, chinês ou polonês, com seus nomes impronunciáveis.

Vendo a dificuldade do narrador, Carlos Roberto passou dica:

-Ô Alceu, pega uns cinco ou seis nomes mais fáceis e toca a transmissão numa boa.

E eu completei:

-Esquece os nomes com “j” ou dois “l”, porque a pronuncia é diferente.

Alceu acatou as sugestões, mas talvez empolgado por estar narrando um jogo da Seleção Brasileira, em vez de cinco ou seis, ele só guardou o nome de dois jogadores da Bolívia: Garcia e Vaca.

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Memórias de um Dinossauro

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 ´Mensajero del Diablo´

 

1981, Radio Difusora Oeste, Osasco. Nas emissoras do interior, a Equipe de Esportes é uma espécie de faz tudo. Cobre de eleição a velório. Carnaval, então, é quase uma obrigação.

E lá estávamos nós cobrindo o Carnaval, que em São Paulo  era realizado mais nos  clubes e não ao ar livre, como na Bahia.

Se já é um porre cobrir carnaval de rua, imagine-se nos clubes fechados, transmitindo aquela barulheira insuportável e entrevistando bêbados que não dizem nada com nada.

A transmissão começava as 10 da noite, parava as 11 e retornava meia-noite, avançando pela madrugada.

A parada de uma hora nada tinha a ver com descanso. Naquela época, as igrejas evangélicas já viam no rádio um excelente veículo para difundir a fé cristã e aumentar o rebanho. E aquele horário era comprado por uma dessas igrejas.

Ocorre que, não contente em divulgar a palavra de Deus, o pastor simplesmente esculhambava a cobertura do carnaval, que por acaso era feita na mesma emissora em que ele estava falando.

O mínimo que ele dizia no ar era que a gente atuava como mensageiros do diabo. E, ao final do programa, ainda sugeria que as pessoas desligassem o rádio.

Eram cinco noites de carnaval, cinco noites de cobertura.

mensajeroNa terceira noite, deu um problema no equipamento e fui até a sede da emissora fazer a substituição. Eis que, ao me dirigir à sala da técnica, que ficava nos fundos do prédio, deparo com o tal pastor encostado no muro, fazendo uma oração, digamos, mais íntima com uma de suas fiéis. Quase a tradução literal do “crescei-vos e multiplicai-vos”.
Uma chance daquelas, caída dos céus (ops!) não era para ser desperdiçada. E eu não desperdicei:

-Pastor, se nós somos mensageiros do diabo o senhor é o que, devorador de ovelhas?

Nos dias seguintes, se não fez elogios à nossa equipe pela brilhante cobertura da maior festa popular do Brasil (radialista adora uma frase pomposa!), o pastor pelo menos nos deixou em paz.

E certamente passou a ter mais cuidado em suas pegações, perdão, pregações para as ovelhinhas dadivosas.





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