gabriel-nascimento(do site Boas Notícias)- Gabriel Nascimento nasceu em Itabuna e foi criado em Ilhéus. É formado em Letras pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília – UNB e doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo – USP. Gabriel escreve desde os 12 anos. Seu primeiro texto foi lírico, mas já escreveu também peças teatrais como “Quem matou Gabriela” e “O mistério da ópera perdida”. Na segunda semana de novembro o escritor lança, em Itabuna, pela Editora Multifoco, “O maníaco das onze e meia”. Um romance policial que discute violência, machismo e racismo na região Sul da Bahia, em uma trama que, segundo ele, além de policial se tornou político-policialesca.

Conforme explica Gabriel, o cotidiano itabunense está imerso na trama. A política local, as ruas, os espaços, os bairros, tudo é citado no livro e ele destaca que na prática Itabuna nunca foi cena de um grande romance. Nem mesmo os de Jorge Amado, filho de Ferradas. “Eu resolvi colocar Itabuna porque é nessa cidade que a ex-elite cacaueira conseguiu, como está no próprio romance, se transformar a partir da crise do cacau; daí resultam as narrativas”, justificou.

gabriel-livroGabriel evidencia que o livro fala muito de violência, mas não só da violência de um “maníaco das onze e meia”. “Ele é pretexto. Fala da violência policial contra Fabrício, um menino negro do São Pedro que é traficante, fala de uma mulher pobre que casa com um vereador e passa a ser explorada pela sociedade patriarcal e a ter que aguentar suas traições e fala também da relação homossexual reprimida naquela sociedade. Tudo isso é violência. Muita gente não vai entender que o maníaco é só um pretexto pra trazer à tona muita violência que tanto está no interior quanto na universalidade”, adiantou o escritor acrescentando que gosta de estudar a violência como pesquisador, mas como não tem especialidade nessa área se aproximou por meio da literatura.

O livro retrata também o machismo. Para o escritor, o machismo está totalmente naturalizado em nossa vida cotidiana. A relação de pai e mãe, o privilégio dos filhos homens e no romance ele aparece em quase todo o texto. “Manoela, que é loira e mulher de um empresário dono de postos de gasolina, ex-deputado estadual e branco, é sempre “coisa” no livro. Gea é uma mulher altamente conservadora e fiel ao marido até a hora da morte, inclusive reproduzindo que o homem pode tudo mesmo”, apontou.

Ao contrário do maníaco, que é pretexto pra falar da violência, essas mulheres são vistas na trama como “prato principal”, um severo destino comumente dado às mulheres pelos machistas da vida real e denunciado também na trama por meio da empregada da casa de Gea, dona Ana, uma velha negra que é vista como prato principal, mãe e mãe-preta, pobre e escravizada na casa dos patrões. Uma personagem que sabe do peso da chibata e do racismo. Gabriel narra que o racismo é algo que sentiu na pele a vida inteira. Ele lembra que são 400 anos nas costas diariamente. “Racismo é violência, é processo. Não é subproduto, discriminação, é processo”, reforçou ele.

O escritor pontua ainda a discussão sobre direitos humanos ao lembrar que muitos que defendem desde a pena de morte até a tipificação mais dura do aborto são os mesmos que condenam movimentos sociais, que perseguem o corpo da mulher e que são contra a criminalização da homofobia porque acham que homofobia é direito de expressão. “A defesa dos direitos humanos, desde os primeiros acordos internacionais, é sempre maior, inclusive pelos países, do que foi de fato uma prática. Ou seja, sempre se defendeu direitos humanos e pouco se praticou”, disse.

O livro “O maníaco das onze e meia”, que toca nessas questões delicadas e importantes da nossa sociedade, existe há pelo menos dois anos, mas segundo o autor mudou várias vezes. Agora ele pode ser adquirido, antes mesmo do lançamento em novembro, naloja online. Ainda esse ano Gabriel Nascimento planeja lançar mais um livro: “Este fingimento e outros poemas”, pela Editora García. Em 2017 ele vai lançar uma coletânea de contos sobre a guerrilha do Araguaia, projeto vencedor de um edital da Fundação de Cultura do Estado da Bahia (FUNCEB).

Confira a sinopse de “O maníaco das onze e meia” e detalhes sobre o autor em http://www.estegabriel.com/.