Na Copa do Mundo de 1974, a então Alemanha Ocidental entregou o jogo para a sua irmã Alemanha Oriental, que a Guerra Fria separou por um muro. Perdeu de 1×0, numa marmelada monumental.

O objetivo era fugir do confronto com o Brasil e a Holanda na fase seguinte, e encarar adversários mais fáceis para chegar a final.

Chegou e no embalo acabou derrotando a própria Holanda por 2×1, conquistando o bicampeonato.

Na Copa de 1990, a mesma Alemanha fez um jogo de compadres contra a Áustria, a partida terminou empatada, os alemães “fugiram” da dona da casa, a Itália, e de novo chegaram a final, desta vez contra uma remendada Argentina.

Alemanha tricampeã do mundo.

Entregar uma partida ou fazer jogo de compadres para escolher adversários teoricamente mais fáceis na fase seguinte não é bem o espírito do futebol e dá botinadas no fair-play, mas não condena ninguém ao desterro ou ao fogo do inferno, quando a meta é achar um caminho mais fácil para chegar ao maior dos objetivos, a conquista do título.

A estratégia alemã vem a propósito diante da situação do Brasil na Copa.

Prevalecesse a lógica e o Brasil, primeiro do grupo G, enfrentaria o Chile ou a Suíça, que brigariam pela segunda vaga do grupo H, que tinha a Espanha como favorita.

No grupo G, a lógica prevaleceu e o Brasil, mesmo sem jogar um grande futebol, passou pela Coréia do Norte e pela Costa do Marfim.

Ocorre que a Espanha não seguiu a lógica, perdeu da Suíça, ganhou na bacia das almas de Honduras e vai lutar pelo segundo lugar do grupo H, neste caso, para enfrentar o Brasil.

Óbvio que, mesmo com a Espanha cambaleando, em tese é muito melhor pegar o Chile, nosso velho freguês, e avançar para as quartas de final.

O problema é que não temos o pragmatismo alemão, já que para o brasileiro o futebol é essencialmente paixão (embora o time atual seja racional até demais) e fica difícil imaginar Dunga pedindo para os jogadores entregarem a partida para os portugueses.

Não faz parte da nossa cultura esse tipo de atitude. Ou de falta de atitude.

Resumo da ópera: o Brasil joga para vencer os portugueses e confirmar o primeiro lugar do grupo. Depois, que venha Chile, Suíça ou Espanha.

Porque esse Brasil pragmático, sem graça e com um técnico que é o supra-sumo do mau humor e da grosseria, está com uma cara de hexacampeão…