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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

maio 2024
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:: ‘caminho sem volta’

Parece ficção, mas é dolorosamente real

(e, apesar da pedra no meio do caminho, também não é poesia)


 

Fosse a vida de Ana Paula Conceição, 32 anos, conhecida como Kelly,   apresentada como um filme e o espectador diria ao final da exibição: “ora, mas isso só acontece no cinema!”.

Mas, a história de Ana Paula, ou Kelly, embora rendesse um filme, não tem nada de ficção.

É a história, sem rodeios, da vida real de Ana Paula e de milhares, talvez milhões, de pessoas que desceram ao mais baixo degrau da degradação humana por conta de uma pedra que momentaneamente oferece o céu, mas que passado o prazer fortuito, entrega o inferno.

No meio do caminho de Ana Paula havia uma pedra. Se não é filme, a história de Ana Paula também não é um poema de Drummond de Andrade.

A pedra que cruzou o meio do caminho de Ana Paula atende pelo nome de crack. E aqui se tropeça no mundo dolorosamente real, sem películas edulcoradas, sem poemas adocicados.

Ana Paula, Kelly vá lá que seja, foi apresentada ao crack pelo marido, que havia sido apresentado ao crack pela irmã caçula de Ana Paula/Kelly. Estabeleceu-se aí um circulo vicioso que levou junto quatro dos oito filhos do casal. Dois deles foram presos por furto, sofreram ameaças de traficantes e incendiaram a modesta casa da família, na também modesta Itapitanga, no Sul da Bahia.

O crack, como se sabe, há muito rompeu o miserável centro velho da capital paulista e rasgou o Brasil, espalhando-se para as grandes metrópoles e por cidadezinhas perdidas no mapa. Há muito, também, deixou de ser caso de polícia, para ser caso de saúde pública.

Deixemos as perorações e voltemos a Ana Paula. De pedra em pedra, perdeu o marido (igualmente fulminado pela droga), perdeu os filhos, perdeu a casa. De tropeço em tropeço, chegou à prostituição.

Não dessas prostitutas de luxo, que habitam  sites na internet e vez por outra fisgam um empresário bilionário e vivem um conto de fadas até produzirem uma tragédia midiática, mas uma prostituta de míseros dez reais a trepada, dinheiro suado e prontamente “queimado” na pedra.

Aos 32 anos, aparência de 40 ou mais, Ana Paula, menina grapiuna das terras do cacau, que por azar ou destino nasceu num tempo em que o ouro do cacau se revelou uma pedra barata (conceda-se a desculpa, a tentação do trocadilho falou mais alto), é um retrato em preto e branco, com tons de tragédia, do abismo que é o mergulho na droga.

Tragédia. Talvez não seja esse o epitáfio  adequado a Ana Paula. Primeiro porque ela é uma sobrevivente numa estrada em que, colocados os pés, boa parte dos caminhantes não sobrevive.

Segundo, porque, Ana Paula está lutando para encontrar o caminho de volta. Internou-se voluntariamente num centro de recuperação mantido por uma igreja evangélica em Itabuna.

Há um mês está “limpa”. Parece pouco, mas é uma eternidade, em se tratando de uma droga que pede sempre mais, mais, mais e mais.

Ana Paula alimenta sonhos simples: uma casinha, a família reunida, um trabalho modesto e decente. E distância da droga que a mergulhou no abismo do qual tenta sair.

É, nesse ponto, que a história de Ana Paula pode e deve ser observada.  Se tiver apoio, se encontrar forças, se não tiver a clássica e fatal recaída, Ana Paula reescreverá uma história que estava fadada a um final  breve e  infeliz.

Reescreverá a história de sua própria vida.

Talvez não renda um filme.

Mas, até como exemplo para tantos otários que se afundam na droga, bem que merecia.





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