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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

maio 2024
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:: ‘Notícias’

FERREIRINHA, VIAGRA E SUCO DE CACAU


Faleceu na manhã do último domingo (4), aos 99 anos, o produtor rural José Ferreira Vieira, o Ferreirinha. Em meados da década de 1990, então com 85 anos de idade, ele ganhou fama ao se casar com a estudante Iolanda Rodrigues, de 16 anos, com quem logo em seguida teve uma filha, Carol. O romance ganhou repercussão nacional e internacional e Ferreirinha foi convidado a dar uma entrevista ao programa Jô Soares, no SBT. O programa fez tanto sucesso que foi repetido durante a reapresentação das melhores entrevistas do ano.

Diante de um Jô Soares surpreso com tanta desenvoltura e de uma platéia encantada com aquele senhor com jeito de menino sapeca, Ferreirinha falou de seu romance com Iolanda e de seu aparentemente insaciável apetite sexual. A ser questionado por Jô Soares sobre o segredo de tamanha vitalidade, Ferreirinha seguiu à risca aquilo que fora combinado com Manuel Leal, diretor do jornal A Região, na véspera da viagem a São Paulo e respondeu que tomava muito suco de cacau.

Foi o suficiente para Jô Soares pedir: “atenção meus amigos do Sul da Bahia, me mandem vários pacotes de suco de cacau!”. A platéia veio abaixo e Ferreirinha ficou conhecido como “O Garanhão de Itabuna”, título do qual se orgulhava e procurava manter, sempre se vangloriando de seus “dotes garanhísticos”.

Aos 90 anos, questionado sobre o que achava do surgimento do Viagra, respondeu com ironia: “eu nem sei o que é isso, moço, comigo é ao natural mesmo e é todo dia”. Iolanda, a companheira que permaneceu com ele até o ultimo suspiro, numa comovente demonstração de afeto (ela que no início foi acusada de se casar por interesse, o que posteriormente se revelou uma terrível injustiça), apenas sorria diante a tagarelice de Ferreirinha.

Ferreirinha é também autor de outra frase impagável, ao justificar porque fazia tanta questão de divulgar sua paixão por Iolanda. “Na minha idade, casar com uma moça linda dessas e ninguém ficar sabendo, que graça tem?”. Nos últimos meses, Ferreirinha lutava contra os problemas de saúde e ainda assim fazia planos para comemorar seus 100 anos, no dia 8 de janeiro de 2010. “Não vejo a hora de sair do hospital, ficar em casa com Iolanda (ô, apetite!) e receber meus amigos”, dizia.

Não deu tempo. Um infarto fulminante transferiu a festa dos 100 anos para o céu ou outra dimensão, onde ele certamente está espalhando a luz e a alegria de quem passou pela vida terrena e deixou saudades. As anjinhas que tratem de bater suas asinhas para bem longe, por que o espírito do eterno menino Ferreirinha está nas nuvens!

LUIZ INÁCIO DO BRASIL


Na década de 50 do século passado, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues cunhou uma expressão para explicar porque, a despeito do talento de nossos jogadores, o futebol brasileiro sempre fracassava em Copas do Mundo, sucumbindo diante dos fortes mas duros de cintura europeus e até mesmo dos apenas raçudos uruguaios.
Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro sofria de “complexo de vira-latas”, algo similar a uma incurável sensação de inferioridade.
Na Copa de 58, na Suécia, Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos e Cia. trataram de mostrar que vira-latas que late, também morde. Daí em diante, o Brasil se tornou o maior vencedor de Mundiais, com cinco conquistas.
Vencemos o nosso complexo de vira-latas?
Que nada!
Pelo menos para parte de nossas “cabeças pensantes”, continuamos sendo um povinho pé de chinelo, a abanar o rabo para as chamadas nações desenvolvidas.
O último exemplo dessa lógica ilógica, típica dos que acham que quanto pior melhor, foi a disputa pela indicação da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
A se depreender do que se lia e se ouvia em grande parte da mídia, que chance teriam o Rio de Janeiro terceiro-mundista diante da norte-americana Chicago, da européia Madri e da japonesa Tóquio, todas as capitais de primeiro mundo?
Nenhuma.
A comitiva brasileira na Dinamarca, onde se decidiu a escolha da cidade-sede, comandada pelo presidente Lula e que tinha entre seus integrantes um mito planetário chamado Pelé, quase foi comparada uma trupe de circo mambembe.
Quem era aquele ex-retirante, operário metalúrgico, que a perseverança e o destino transformaram em presidente do Brasil, para enfrentar Barak Obama, o presidente da maior potência do mundo, que foi à Dinamarca fazer lobby em prol de Chicago?
Pois foi esse presidente dono de uma biografia única quem se transformou numa espécie de porta-bandeira da auto-estima brasileira.
Lula, na contramão do complexo de vira-latas, se notabilizou em enaltecer a grandeza do Brasil e dos brasileiros. Um país fadado a ser um dos grandes do mundo, habitado por um povo criativo, empreendedor, capaz de superar (ou seria driblar?) todas as dificuldades.
Um presidente que quando o mundo mergulhou numa das piores crises econômicas de sua história (e quando muitos previram o apocalipse), disse que o Brasil iria atravessar a tormenta e sair ainda mais forte dela.
Saiu.
Um presidente vindo da pobreza e que como nenhum outro tirou tantos brasileiros da pobreza; um presidente com pouca escolaridade, mas que como nenhum outro colocou tanta gente na escola e abriu as portas da universidade para os estudantes carentes.
Um presidente que se parece com cada um de nós, porque essencialmente é isso mesmo: um de nós.
O Brasil, que vai sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 após 54 anos e que traz pela primeira vez uma Olimpíada para um país da América do Sul, caminha para ser a quinta potência econômica do planeta, mas acima de tudo é o pais que descobriu a sua auto-estima.
Evidente que não é o paraíso na terra e há muito que avançar em termos de educação, saúde, segurança pública, infra-estrutura e combate às desigualdades sociais.
Mas também não a casinha de cachorro do mundo.
Aos que ainda tentam nos impingir o complexo de vira-latas recomenda-se colocar o rabo entre as pernas.
Vão continuar latindo, enquanto a caravana passa e o Brasil de Luiz Inácio e de milhões se brasileiros que não desistem nunca seguem em frente.

"TIA, ME DÁ O LÁPIS AÍ"

Lá pelos idos de 1995, durante uma viagem à Cuba, país que nas décadas de 60 e 70 do século passado alimentou a fantasia revolucionária e socialista de uma geração oprimida pela ditadura militar brasileira, deparei-me com vários estudantes que, em vez de pedir dinheiro, apontavam para o bolso da camisa e pediam lápis e canetas.

Isso mesmo, lápis e canetas!

À época, com a derrocada da União Soviética e do esfacelamento do bloco socialista na Europa, Cuba vivia o chamado “período especial”, com racionamento de alimentos, energia elétrica e de combustíveis. Produtos banais como sabonetes, absorventes, pasta de dentes, lápis, canetas e cadernos se transformaram em “artigos de luxo” para os cubanos.

Era de cortar o coração observar meninos e meninas que, graças ao eficiente e gratuito sistema educacional cubano, já falavam dois ou três idiomas e que seriam futuros médicos, engenheiros, arquitetos, físicos, etc., abordarem os turistas para pedir material escolar.

De volta ao Brasil, consegui com a Petrobrás dezenas de caixas de cadernos, lápis, canetas e borrachas, que enviei a uma associação de amizade e solidariedade entre os povos latino-americanos, para serem entregues a estudantes de Havana.

Não salvei o mundo e nem resolvi o problema da falta de material escolar de Cuba, mas fiz a minha parte, pingo d´água naquele oceano de escassez e dificuldade, enfrentados com uma dignidade e altivez que raramente vi neste pais de dimensões e desigualdades continentais chamado Brasil.

As lembranças daquele ano de 1995 em Havana vieram à tona, diante de um depoimento enviado pela professora Sandra Abreu, da Universidade Estadual de Santa Cruz, que coordena um projeto de educação e multiculturalismo.

A professora conta que participava de uma apresentação teatral, reunindo estudantes de três escolas de Itabuna. Ali estavam estudantes com idade entre 7 e 14 anos.

Deixemos o relato para a própria professora:

– Após a apresentação da peça teatral, solicitamos aos alunos que apresentassem, em forma de texto, desenho ou frase, o que aprenderam sobre a peça… É claro, distribuímos lápis grafite para os alunos e em seguida eles deveriam devolver para que utilizássemos com os outros cidadãos e cidadãs das escolas que aderiram ao Projeto de Extensão em parceria com a UESC…

E aí entra a parte que resume as contradições do sistema educacional brasileiro e, porque não?, do próprio Brasil. Voltemos ao depoimento da professora:

– Observei um menino, com olhar ávido e ao final ele mantinha o lápis na mão! Ele veio me falar: “Me dê este lápis”! Segurava o lápis com as duas mãos… E eu disse: e os outros meninos e meninas que virão à tarde? Ele respondeu: “você tem muitos lápis e eu não tenho nenhum, tenho um pequeninho lá na escola e é da professora, todos os dias eu devolvo e em casa eu quero escrever e não tenho lápis”.

Conclui a educadora:

-Meu Deus, eu quase morri. Na escola há computadores e na casa do menino, em pleno século XXI, não há lápis para que um menino registre e dissemine o mundo por meio das letras, palavras e frases. A desigualdade está aí, viva, pulsante.

——-o——-

Em Ilhéus, numa escola da rede municipal, sem material escolar, sem água, sem merenda e sem energia elétrica, a direção foi obrigada a recorrer a uma ligação clandestina, o popular “gato”, para que os estudantes não ficassem no escuro.

Um sistema de ensino onde faltam lápis, merenda, água e energia elétrica é, literalmente, a treva

LEITURA CANINA

Essa é Delly, a cachorrinha poodle lá de casa, “lendo” uma apostila sobre Medicina Veterinária.

Pode não entender nada, mas presta uma atenção…

DE BIDA PARA NANDA…


De “herança maldita” convencionou-se chamar aquela situação em que um presidente, governador ou prefeito que assume o cargo e se depara com dívidas monumentais e o patrimônio público sucateado, o que praticamente impede a realização de obras e outros investimentos.

Serve tanto para mostrar o quão irresponsáveis são alguns de nossos administradores, como também como uma bela desculpa para não trabalhar, desviar dinheiro e, num moto-contínuo da politicalha, deixar uma nova herança maldita para o sucessor.

A expressão “de pai para filho” nos remete aos empreendimentos de tradição familiar, geralmente bem sucedidos, que passam de geração a geração e em que o sobrenome tem o mesmo peso da marca da empresa.

Serve para mostrar a solidez de uma família e de uma empresa, que graças a esse lastro, é capaz tanto de resistir às crises eventuais, como se adaptar os novos modelos empresariais, de competição feroz e mercados globais.

Pois, num bairro da periferia de Itabuna, o paupérrimo e esquecido Novo Horizonte (cujo horizonte dos sofridos moradores é quase nenhum), os conceitos conhecidos de “herança maldita” e “de pai para filho”, foram subvertidos de forma trágica.

Troque-se apenas o “de pai para filho” para o “de irmão para irmã” e temos o que se pode chamar, no sentido literal da palavra, de herança maldita.

Como nas melhores casas do ramo, Maria Fernanda dos Santos, a Nanda, de 27 anos, herdou o negócio, bastante rentável ao que parece, do irmão José Fernandes dos Santos, o Bida, de 30 anos, assassinado no ano passado num entrevero com a polícia.

O infortúnio do irmão fez com que a jovem Nanda se apossasse do negócio do irmão, na verdade um empreendimento nada ortodoxo, um concorrido ponto de venda de drogas.

No jargão da reportagem policial, Nanda virou a “Rainha do Tráfico” no Novo Horizonte, uma rainha sem trono e sem coroa, sentada sobre um barril de pólvora.

Que, como não é raro nesse negócio lucrativo, mas extremamente disputado, explodiu.

Seguindo a sina do irmão, Nanda também foi assassinada, não pela polícia, mas provavelmente numa disputa entre traficantes.
Seu corpo foi encontrado num campinho de futebol no São Lourenço, outro bairro onde, na ausência do poder público, o crime impõe o terror aos moradores, gente de bem e trabalhadora obrigada a conviver com o medo e a violência.

Nessa tragédia familiar e ao mesmo tempo coletiva que é o mundo das drogas, a herança maldita de Bida para Nanda, que passou de irmão para irmã, se resumiu a uns poucos palmos de terra num túmulo mulambento de um cemitério qualquer, sem direito a choro nem vela.

Esse é um mundo em que reis e rainhas, que na verdade não passam de peões pobres coitados, vêem à majestade virar pó ou fumaça num piscar de olhos.

Ou num apertar do gatilho!

ELA TOPOU


Que a educação é principal, senão a única, ferramenta para a inclusão social e a cidadania, não há nenhuma dúvida.

As nações mais desenvolvidas do planeta, algumas delas envolvidas em guerras devastadoras há pouco mais de meio século, atingiram esse estágio graças a investimentos maciços na universalização e na qualidade do ensino.

No Brasil, o eterno país do futuro que parece não chegar nunca, o ensino público é, salvo as raras e honrosas exceções, deficiente.

Fruto das desigualdades típicas de um país com ilhotas de riqueza de nível europeu e norte-americano e bolsões de miséria similares aos países paupérrimos da África, o Brasil possuiu colégios de excelência no rico Sul/Sudeste e escolas onde faltam até lápis e cadernos e os professores são obrigados a dar aulas para várias séries ao mesmo tempo.

Nesse sistema educacional que nem sempre educa, o analfabetismo é certamente o pior e mais danoso dos subprodutos.

São milhões de pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos que não sabem ler ou escrever, ou são os chamados analfabetos funcionais, que freqüentaram a escola, não foram sequer alfabetizados de forma satisfatória.

A boa noticia é que existem iniciativas governamentais efetivas que estão contribuindo para combater o analfabetismo.

Na Bahia, o programa Todos pela Alfabetização, que atende pelo sugestivo nome de TOPA, tem como meta fazer com que cerca de dois milhões de baianos aprendam a ler e escrever, contribuindo para que o estado deixe de ostentar os maiores índices de analfabetismo do Brasil.

Para simbolizar a real dimensão do TOPA, nada melhor do que a história da aposentada Enedina Pereira da Silva, que está completando 100 anos de vida e é uma das alunas do programa de alfabetização em Ilhéus, no Sul da Bahia.

Rompendo a barreira de um século existência, uma vida sofrida, mas digna, dona Enedina está deixando de integrar a vergonhosa estatística do analfabetismo, para entrar no grupo de cidadãos que sabem ler e escrever.

Na sua fase outonal, ela descortina as portas de um novo mundo: o mundo da leitura, do saber, da educação.

O exemplo de dona Enedina irradiou-se para a família. Seguindo o exemplo da mãe, o filho Lourival Rodrigues, de 61 anos, também está participando do TOPA.
Mãe e filho freqüentam a mesma sala de aula e compartilham as descobertas que só a alfabetização proporciona.

Juntos, percorrem o caminho do conhecimento, cujo primeiro passo é justamente saber ler e escrever.

Em seus 100 anos de vida, dona Enedina oferece o exemplo de que nunca é tarde para aprender a ler e escrever.

Dona Enedina faz aniversário nesta quarta-feira, dia 30 de setembro. Talvez não saiba, mas sua perseverança e força de vontade são verdadeiros presentes para quem acredita na Educação.

Aos 100 anos, ela escreve com suas letras ainda tímidas e inseguras, uma história capaz de mudar para melhor os destinos de um estado e de um país.

AS MENINAS DO VIADUTO PAULO SOUTO


Uma foto, às vezes, “fala” mais do que mil, milhões de palavras.

Em sendo assim, o que acrescentar à foto do repórter Oziel Aragão, que mostra duas adolescentes, de 14 e 16 anos, se prostituindo no viaduto Paulo Souto, no trevo entre a BR 101 e a BA 415?

Tirando essa maldita mania bajulatória de se dar nome de políticos vivos pontes, viadutos, prédios públicos e quetais, verdadeira praga nacional, a foto revela justamente a ausência do poder público, a histórica inoperância dos nossos governantes para combater essa outra praga: a exclusão social.

Pode parecer ingênuo ou piegas, mas se houvesse menos investimentos em viadutos, pontes e prédios faraônicos que alimentam a vaidade de quem lhes empresta o nome e, não raro, engorda dos bolsos de quem patrocina a obra; e fossem injetados mais recursos em educação, saúde, esporte e geração de empregos, muito provavelmente essas duas jovenzinhas não estariam ali, sob o viaduto, comercializando o corpo e a alma.

As duas meninas captadas pelas lentes de Oziel Aragão, se prostituindo em troco de 5 ou 10 reais, submetidas a humilhações, constrangimentos e muitas vezes agressões físicas; se multiplicam em viadutos, postos de gasolina e restaurantes ao longo da BR 101 e em outras rodovias brasileiras.

São centenas, milhares delas, num desfile de corpos desde cedo marcados pela brutalidade. Meninas-moças precocemente transformadas em mulheres sofridas, sem presente e sem perspectiva de futuro.

Jovenzinhas que deveriam estar na escola ou em atividades de esporte e lazer, lançadas à incerteza das estradas da vida.

Empurradas para a prostituição pela fome, pela desestrutura familiar e, conseqüência natural, pela necessidade de manter o vício das drogas.

As duas meninas sob o viaduto Paulo Souto vendem o corpo não apenas para saciar a fome, comprar roupas e perfumes baratos e eventualmente ajudar no sustento de famílias paupérrimas.

Elas oferecem ao primeiro que aparece por uma quantia irrisória também para comprar crack, essa bomba-relógio de efeito devastador.

É como se a uma tragédia pessoal se acrescentasse outra, mais outra e mais uma outra, compondo a tragédia coletiva da prostituição infanto-juvenil.

Pena que fotos que falam por mil palavras e palavras que tentam acrescentar o que as fotos falam, por mais que despertem compaixão e/ou indignação, não sirvam para mudar a vida das duas garotas do viaduto.

Por que isso não depende de compaixão ou indignação, mas de ação.

Na prática, sempre haverá gente interessada em construir mais viadutos, mais pontes, mais prédios suntuosos.

Quanto às meninas do viaduto e suas colegas de infortúnio, bem, elas que se fodam!

MANCHA VERMELHA NO PARAÍSO


Descoberta/ocupada pelos portugueses em 1500, redescoberta pelos hippies no final da década de 1970 e ocupada pelos ricos e famosos de todo o mundo a partir da década de 1990, Porto Seguro sempre foi cantada em prosa e verso como a versão terrena do paraíso divino prometido por Deus, depois que Seu Magnífico Esforço de Seis Dias, a criação da Terra, apresentou, digamos, falhas de projeto por conta daquela que parecia ser sua obra-prima: o ser humano.

Terra mágica, de belezas naturais estonteantes e de um astral capaz de relaxar o mais renhido dos estressados, Porto Seguro se transformou num dos principais pólos turísticos do país e ganhou até um aeroporto de padrão internacional, privilégio reservado a poucas cidades de seu porte e que dá bem uma idéia de sua importância.

De pousadas baratas a hotéis ultra-estrelados, Porto Seguro virou uma espécie de Meca do turismo de todos os níveis sócio-econômicos e onde todos convivem na mais perfeita harmonia, seja nas praias sempre lotadas, nos shows que parecem não acabar nunca e nos carnavais que rompem as datas oficiais e duram quase duas semanas.

Porto Seguro de todos os sotaques, todos os idiomas, das lojinhas de artesanato e das lojas de grife, dos restaurantes das comidas simples e baratas e dos estabelecimentos de cozinha internacional e preços na estratosférica.

Enfim, Porto Seguro que é sinônimo de alegria.

Pois é essa cidadã-paraíso (pelo menos para quem a visita e não necessariamente para quem reside lá) que foi manchada de sangue pelo brutal assassinato de Álvaro Henrique Santos, de 28 anos.

Álvaro era presidente do Sindicato dos Professores de Porto Seguro e foi vítima de uma emboscada. Levou um tiro na cabeça, chegou a ser transferido para Salvador, mas não resistiu aos ferimentos.

Na mesma emboscada, morreu outro professor, Elisney Pereira, de 31 anos.

O líder sindical foi atacado num sítio pertencente à sua mãe, feita refém pelos bandidos. A polícia descarta a hipótese de tentativa de assalto e trabalha com a possibilidade de atentado.

Álvaro Henrique Santos comandava uma campanha salarial em Porto Seguro, com ampla mobilização da categoria, que pela primeira vez conseguiu se organizar para reivindicar melhores salários e condições dignas de trabalho.

O presidente do Sindicato dos Professores foi vítima de uma violência inaceitável que se torna ainda mais absurda se for comprovado que ele morreu por conta de sua militância em defesa dos companheiros de profissão.

Não é o caso de transformar o professor Álvaro num mártir, porque é preferível mil vezes o batalhador vivo do que o herói morto.

É o caso, isso sim, de apurar esse crime com rigor e punir não apenas os assassinos, mas também e principalmente os mandantes.

A cidade que tanta gente que aprendeu a gostar não pode se transformar num paraíso de impunidade, um faroeste sem lei.

Que se faça justiça, pois!

UM FILME SOBRE INSEGURANÇA


Imagens colhidas pelo sistema de câmeras de um supermercado de Itabuna e exibido na internet mostram uma mulher sendo roubada enquanto fazia compras.

Ao contrário do que possa parecer, não tem nada a ver com os preços extorsivos cobrados em boa parte dos estabelecimentos do gênero.

Foi roubo no sentido literal, mesmo.

As imagens, feitas de diversos ângulos, focam uma cliente percorrendo as gôndolas do supermercado e enchendo o carrinho de compras.

Mostram também outras clientes circulando, sem despertar qualquer suspeita.

Aos poucos, as imagens vão deixando claro que três mulheres estão menos interessadas nas mercadorias e mais em aproveitar um descuido de alguma cliente para cometer o delito.

E o descuido acontece.

Uma cliente para o carrinho de compras no corredor central e vai até uma prateleira num dos corredores laterais. Desafortunadamente, deixa a bolsa dentro do carrinho.

Em questão de segundos, uma das ladras pega a bolsa, se livra do carrinho que carregava para disfarçar, passa a bolsa para outra ladra, e ambas deixam o supermercado com a cobertura da terceira envolvida no roubo.

As imagens, agora da área externa, mostram as três mulheres no estacionamento do supermercado, caminhando na maior tranqüilidade.

Tudo registrado em detalhes pelas câmeras.

É de se supor, portanto, que o final das imagens mostre as três mulheres sendo detidas pelos seguranças do supermercado e entregues à polícia.

Fiquemos na suposição.

Filmadas à exaustão, numa espécie de big brother do crime, as mulheres fugiram tranquilamente e devem estar aplicando o mesmo golpe em outros supermercados ou até mesmo no próprio local.

Inacreditável que, diante de um roubo filmado com tanta clareza, ninguém tenha se dado ao trabalho de acionar a segurança. Não é para isso que, entre outras coisas, o sistema de vigilância por imagens existe?

É tentador perguntar: se em vez da bolsa de uma cliente indefesa, as mulheres tivessem roubado um quilo de feijão, um pacote de açúcar ou uma lata de leite teriam saído com a mesma tranqüilidade?

Ou teriam sido imediatamente barradas pela segurança?

O fato é que houve uma falha e falhas devem ser corrigidas.

Já não basta a insegurança nas ruas, onde a qualquer momento o cidadão pode ser vítima de um bandido. Até o simples ato de fazer compras se tornou arriscado.

Não dá para ficar tranqüilo nem num ambiente exageradamente vigiado, com câmeras acompanhando cada movimento.

O que se materializou no supermercado em questão, que certamente vai ressarcir a cliente e tomar mais cuidado com a vigilância, foi um filme sobre insegurança produzido por um sistema de segurança.

Você está sendo filmado.

Mas não há porque sorrir.

PROFISSÃO PERIGO


Do site Radar 64:

Morreu na tarde desta quarta-feira, no Hospital São Rafael, em Salvador, o presidente do Sindicato dos Professores de Porto Seguro, Álvaro Henrique Santos, 28 anos.

Ele foi submtido a uma ciruriga para retirada de uma bala na cabeça na sexta-feira passada, depois de sofrer um atentado no dia anterior,
em Porto Seguro, quando quatro homens invadiram o sítio de sua mãe.

Os bandidos mantiveram reféns a mãe e o irmão do sindicalista e os obrigaram a ligar para Álvaro Henrique. Quando ele chegou ao local, acompanhado do amigo Elisney Pereira, 31, que acabou morto pelos bandidos.





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