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Uma estrada sem placas de retorno
A cada dia que passa, jovens vem sendo assassinados em escala industrial na guerra do tráfico em Itabuna.
Os crimes são motivados por disputas de pontos de venda, rusgas entre traficantes e mesmo dívidas, algumas delas irrisórias, de dependentes com os fornecedores.
É impressionante a precocidade com que nossas crianças entram para o mundo das drogas, um praga que rompeu as fronteiras das grandes metrópoles e se espalhou por todos os cantos do país.
É um mundo onde se começa cedo e onde também se morre cedo.
Poucos conseguem ultrapassar a barreira dos 20 anos.
Nos últimos anos, cidades como Itabuna e Ilhéus passaram a conviver com essa guerra cotidiana, alimentada pelo tráfico de drogas e que gera uma explosão de violência.
Algumas das “bocas” são conhecidas, fora a ação acintosa dos traficantes na porta das escolas, aliciando alunos que mal entraram na pré-adolescência para o vicio.
Se não temos aqui os grandes chefões da droga, temos traficantes que controlam pontos de venda e muitas vezes cobram com a vida uma divida de drogas.
A droga destrói, desestrutura qualquer família, arrebenta os lares mais sólidos.
Quem vive ou viveu essa drama, sabe o que é ter um irmão, um filho ou um amigo envolvido com as drogas.
Em casos extremos, viciados roubam a própria família para comprar droga.
O pior é que apesar de todas as campanhas de prevenção, algumas delas bastante duras, o consumo de drogas não para de aumentar.
Há quem consiga sair, mas em muitos casos é um caminho sem volta.
Um caminho onde não se deve dar o primeiro passo, já que na maioria das vezes não existe placa indicando o caminho de volta.
Uma solução para um problema insolúvel
Que o município de Itabuna não reúne condições de gerir de forma satisfatória o Hospital de Base Luiz Eduardo Magalhães, é fato que pode ser facilmente constatado.
E isso independe do prefeito ser o Capitão Azevedo, Zé da Silva ou João das Botas. O problema é que o poder público municipal é absolutamente incapaz de administrar uma unidade médico-hospitalar que atende (ou deveria atender) pacientes de mais de 100 cidades e cuja demanda não para de aumentar.
Some-se a essa absoluta falta de capacidade de gestão, a incontrolável vocação que alguns dirigentes do hospital têm para desviar recursos que deveriam ser aplicados exclusivamente na saúde pública. Os recursos já não são suficientes e o quadro se agrava quando parte deles escorre pelo ralo insaciável da corrupção.
O processo de sucateamento do Hospital de Base atinge principalmente o cidadão mais humilde, aquele que não dispõe de planos de saúde e depende do SUS.
E são esses cidadãos que estão recebendo um tratamento desumano, ineficiente e que não raro ceifa vidas que poderiam ser preservadas caso o atendimento fosse correto.
O modelo de gestão do Hospital de Base está, inquestionavelmente, falido. É um sistema que não deu, não dá e não dará certo, mantidos os moldes atuais.
Daí que, é extremamente salutar que o poder público municipal e os diversos segmentos da sociedade civil organizada avaliem com zelo a proposta feita pelo Governo do Estado, que aceita assumir a gestão do Hospital de Base, promovendo a sua revitalização e oferecendo um atendimento digno à população.
E não se venha afirmar que a proposta traz embutida alguma conotação político-eleitoral, posto que ela já foi feita há dois anos, no meio do mandato do atual governador, e solenemente ignorada pela administração municipal.
O que há, sim, é a necessidade de estancar um problema que se agrava a cada dia. O que o Governo do Estado oferece é a possibilidade de transformar o Hospital de Base numa unidade médico-hospitalar que justifique o seu nome e não num monstrengo que nos momentos de maior movimentação se assemelha a um circo de horrores.
Não é preciso ir longe para constatar que a proposta é viável: o Hospital Regional de Ilhéus estava tão ou mais sucateado do que o Hospital de Base de Itabuna.
A partir de um novo modelo de gestão implantado em 2007 pela Secretaria de Saúde da Bahia, que inclui a melhoria da estrutura, ampliação e qualificação do quadro de pessoal e aquisição de novos equipamentos, tornou-se uma unidade de referência na região.
Havendo bom senso, está aí uma oferta que não deve ser desprezada, pelo menos por aqueles que têm compromisso com a saúde pública, o que, espera-se, seja o caso das autoridades municipais que ora nos governam.
A batalha nas telas da tevê e nas ondas do rádio
A pesquisa Ibope, divulgada às vésperas do início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, acendeu não apenas a luz vermelha, mas todas as luzes possíveis e imagináveis na campanha de José Serra, candidato dos demo-tucanos à presidência da República.
O Ibope mostrou Dilma Roussef, a candidata do PT (e principalmente de Lula) com 11 pontos à frente de José Serra, confirmando uma tendência que já se observava nas medições do Vox Populi, Sensus e até do reticente DataFolha.
A novidade do Ibope é que Dilma aparece, matematicamente, com chances de liquidar a fatura já no primeiro turno.
Por mais que ainda haja muita água para rolar por debaixo da ponte e muito voto para cair dentro da urna, é um cenário de sonho para Dilma e de pesadelo para Serra.
A eleição, obviamente, não está decidida e pesquisa é apenas um retrato do momento.
E o retrato do momento é Dilma crescendo e Serra caindo.
O tucano já chegou a ter 30 pontos de vantagens sobre a petista, num estágio em que a eleição parecia mera formalidade.
Dilma foi tirando a diferença, encostou e ultrapassou Serra, escudada na estratosférica popularidade do presidente Lula.
Era algo que os tucanos previam que iria acontecer. Escudada por Lula, Dilma seria na pior nas hipóteses uma candidata competitiva.
O que não se previu –ou não se quis enxergar- era a capacidade de Lula de transferir votos para Dilma, numa proporção como nunca se viu antes na história desse país.
E eis que o horário eleitoral gratuito, uma batalha considerada decisiva para vencer a guerra da sucessão presidencial, começa com Serra precisando estancar o crescimento de Dilma e reconquistar boa parte dos eleitores que o abandonaram.
Isso sem poder atacar Lula e sem poder exibir FHC, porque se cair no jogo da eleição plebiscitária, ansiada pelos petistas, já pode encomendar as velas para o cotejo fúnebre do início de outubro.
A Serra resta a comparação de biografias com Dilma e a alardeada maior experiência em cargos públicos.
É talvez a sua principal ficha, além da saraivada de “denuncias” e “escândalos” contra Dilma e o PT, que os barões da mídia (Globo, Folha, Estadão e Veja) vão providenciar com devoção neste mês e meio que resta para a eleição.
Até agora, não colou.
Enquanto isso, Dilma terá Lula a seu lado, pedindo votos e apontando-a como seguidora de seu legado, aprovado por cerca de 80% dos brasileiros.
O enredo só não se chama “Missão Impossível” porque em eleição pode acontecer de tudo. Ou quase tudo.
O menino que soltava fogos
No best-seller “O Caçador de Pipas”, o pequeno Amir, menino rico, vive, ao lado do amigo pobre Hassan (que na verdade é seu irmão), as desventuras de um Afeganistão que de país próspero e rico se transforma num lugar miserável, conseqüência de uma guerra tribal que primeiro jogou a nação nas mãos de déspotas comunistas e depois nos braços de talibãs ultra-radicais e lunáticos dos pés ao turbante.
Amir e Hassan têm como principal atividade de lazer soltar pipas e depois caçá-las quando são abatidas em competições que mobilizam a comunidade e dão a seu vencedor status de craque do futebol.
Com a guerra, o Afeganistão e as pipas são abatidos pelo terror. Hassan é assassinado e Amir imigra para os Estados Unidos.
Nunca vai encontrar a paz interior, porque o Afeganistão da infância perdida e a perda de Hassan corroem-lhe a alma, como uma chama que não se apaga.
No romance da vida real, a Favela do Bode, lugarejo de nome quase obsceno na abandonada periferia de Itabuna, onde a riqueza, o conforto e o acesso aos serviços públicos são quase uma abstração, meninos não soltam pipas, inocente brincadeira planetária, nem jogam futebol.
Ali, trava-se outro tipo de guerra, sem as contradições do comunismo que vira repressão e sem o fundamentalismo amalucado.
Trava-se, isso sim, a guerra em que a força motriz é o tráfico e em que os traficantes, na quase total ausência do poder público, impõe a lei e a ordem, o que na prática implica impor o terror e o medo.
Uma guerra onde um Amir, que por aqui pode se chamar José, João, Pedro ou Paulo, é arrancado das pipas ou do futebol num campinho improvisado, para ser engajado, meio à força, meio por falta de opções, como soldadinho do tráfico.
É o caso de um menor, abordado no último domingo por policiais militares que passavam pelas proximidades da Favela do Bode, que tem o pomposo e ignorado nome de Jardim Grapiuna.
Era um menino de 10 anos de idade, que soltava fogos como se comemorasse o gol de seu time de coração ou homenageasse tardiamente os santos juninos.
Nada disso: o que o garoto fazia, numa prática comum, era alertar os traficantes para a presença dos policiais na área, provocando temporariamente a suspensão do funcionamento do lucrativo negócio.
Função subalterna, primeiro degrau na escada no tráfico, onde chegar vivo aos 20 anos de idade é quase um milagre.
Crianças e jovens descartáveis, vítimas potenciais dessa guerra urbana, disponíveis em abundância no oceano de exclusão social em que estamos mergulhados.
10 anos de idade.
Uma criança.
Nem caçador de pipas, nem jogador de futebol, provavelmente nem estudante.
Soltador de fogos a serviço do tráfico.
O futuro?
Uma cela fétida e superlotada na cadeia ou uma cova rasa e mulambenta nas bordas de um cemitério qualquer.
E o que nós temos a ver com isso?
Tudo.
Candidatos de faz de conta
Para que servem os debates eleitorais com a presença de todos os candidatos?
Para que se possa conhecer as propostas e as contradições de cada candidato sem as maquiagens dos programas eleitorais e ao mesmo tempo concedendo o mesmo espaço aos que terão uma imensidão de tempo no horário gratuito e aos que ficarão imprensados em poucos segundos.
Certo?
Em tese, está certo, mas na prática, errado.
Tomem-se como exemplos os debates com os candidatos a presidente da República e a governador da Bahia, ambos promovidos pela Rede Bandeirantes.
No debate nacional, os três candidatos que disputam a eleição para valer, Dilma Roussef e José Serra, passaram o tempo todo medindo as palavras, evitaram o confronto direto e se preocuparam mais em não perder do que ganhar votos.
Marina Silva, que pode surpreender, ficou no meio termo, com seu jeito frágil e discurso messiânico. Arriscou menos do que deveria, mesmo podendo se colocar claramente como contraponto aos modelos de governo do PSDB e do PT.
E Plínio de Arruda Sampaio, que não tem chance nenhuma na eleição, fez o papel de franco atirador. Disparou seus petardos para todo lado e prometeu coisas que não precisará cumprir, visto que não vai se eleger mesmo.
Seu precioso tempo na tevê teria sido gasto melhor por Dilma e Serra, que afinal de contas são os que estão nesse negócio para ganhar e não para fazer figuração.
O mesmo raciocínio se aplica ao debate dos candidatos ao governo da Bahia, que pelo menos foi menos morno (e não não quer dizer necessariamente mais quente) do que o debate dos presidenciáveis.
Jaques Wagner, Paulo Souto e Geddel Vieira Lima, que disputam a eleição de verdade, se enfrentaram no limite do respeito. Souto e Geddel até ensaiaram umas “tabelinhas” para estocar Wagner, mas faz parte do jogo, afinal o adversário a ser derrotado por eles é mesmo o atual governador.
Era natural que o demo-tucano e o peemedebista tocassem nos pontos nevrálgicos do petista, como a segurança pública.
Mas, o que dizer de Bassuma, candidato do PV e até dias atrás um petista fervoroso, que mais parecia um pregador, com seu olhar santificado e pose de redentor, a desfilar soluções para tudo?
E o que dizer, então, do rapaz do Psol, metralhadora giratória e discurso de candidato a vereador em Salvador, que atingiu o clímax circense com sua “água benta” que fez lembrar um certo óleo de peroba num debate nas eleições municipais em Itabuna?
Eleição é coisa séria e democracia é fundamental.
Mas, um pouco de bom senso na hora da realização desses debates não faria mal.
Ao contrário, faria um bem danado.
A “TERRORISTA” E O LAMBE-BOTAS DOS MILITARES
Nada a estranhar na capa da revista Época, destacando o “passado terrorista” de Dilma Roussef, numa clara tentativa de assustar o eleitor menos esclarecido.
Com a possibilidade de vitória de Dilma já no primeiro turno, bateu o desespero na mídia golpista.
O festival de baixaria está apenas começando e nisso Época terá a parceria dos demais veículos das Organizações Globo, da Veja (argh!), da Folha (argh de novo) e do Estadão (argh de novo e de novo).
De mais a mais, enquanto Dilma combatia a Ditadura Militar, que seqüestrou, matou, torturou e calou voz dos brasileiros, o “jornalista” Roberto Marinho, fundador das Organizações Globo, construía seu império de comunicação bajulando os militares e manipulando a opinião pública.
A Globo ainda acha que sim, mas o povo não é mais bobo.
SEXTA-FEIRA, 13
Cada vez que saia uma pesquisa do Vox Populi, do Sensus ou mesmo do Ibope apontando Dilma na frente de Serra, os demo-tucanos trombeteavam:
-O que vale é o DataFolha, o que vale é o DataFolha…
Pois bem, depois de segurar o empate o quanto pode, o DataFolha sucumbiu. Os números da pesquisa sobre sucessão presidencial divulgados nesta sexta feira apontam Dilma com 41% e Serra com 33%. Oito pontos de vantagem de Dilma sobre Serra.
Será que o DataFolha não vale mais?
ANÃO DE PIRATA
Quem assistiu a reportagem sobre a visita de José Serra à Bahia no Jornal Nacional desta sexta-feira pode notar a presença de Paulo Souto atrás do tucano, enquanto ele concedia uma entrevista à imprensa. Um autêntico papagaio de pirata.
O que pouca gente percebeu foi que atrás de Serra também estava o deputado ACM Neto, completamente escondido pelos microfones.
Neste caso, um legítimo anão de pirata.