Vania Fagundes

 

Seus passos eram firmes. Parecia estar fugindo de algo. Dos seus cabelos escorriam gotas da chuva que desabava de um céu cinzento, pesado. Seus ombros se curvaram mais ainda. Nuvens cada vez mais escuras se formavam.

 

O sobretudo que lhe cobria o corpo frágil, não impedia que seus ossos tremessem. Um vento gelado assobiava fazendo rodopios. Fazia muito tempo que não via algo igual. Apressou o ritmo das passadas. Precisava chegar logo ao seu destino. Seus pés esmagavam as folhas que jaziam no chão.

 

A noite se fez presente antes mesmo de o dia acabar. Pensara que tudo poderia terminar diferente, quando deparou-se com a velha porta verde escuro. Parou.

 

Pareceu hesitar, embora soubesse que o caminho escolhido não permitia voltar. Então, com a não trêmula tateou o bolso esquerdo e alcançou a chave. Um cheiro de ferro velho lhe subiu às narinas.

 

 

A fechadura rangeu quando sentiu as duas voltas se completarem. Um frio percorreu-lhe a espinha. Entrou no cômodo úmido, procurou o lampião e, acendendo-o, iluminando o ambiente.

 

Então, seus olhos puderam enxergar, e viu que tinha percorrido o caminho certo.