Walmir Rosário

Tinha prometido a mim mesmo que não mais escreveria sobre o futebol da atualidade.
Motivos não faltam: não acompanhar o dia a dia dos times, especialmente o Itabuna
Esporte Clube, em campo e extracampo; as ações da diretoria; o apoio recebido de
instituições públicas e privadas; a convivência com sua apaixonada torcida. Por si só essas
alegações bastariam e poderia cometer pecados pelo simples desconhecimento.

O certo é que a má fase fez com que o “time lascasse em bandas”, como se diz, e voltasse
à Série B do Campeonato Baiano. Já sua ascensão à Copa do Brasil e à Série D do
Campeonato Brasileiro, foi e deverá ser efêmera, respectivamente. E o que é pior: todo o
planejamento é desmontado e um novo deverá ser elaborado, para que possa cair nas
boas graças para os investimentos da iniciativa privada, que sabe uma SAF.

O itabunense é um apaixonado por futebol, e esse centenário amor passa de geração em
geração, mesmo quando a cidade não tem uma equipe para tornar feliz os torcedores. E
Itabuna já colocou duas equipes profissionais no Campeonato Baiano, para atender às
predileções e preferência dos esportistas. Mas por pouco tempo. O Estádio Luiz Viana
Filho, que hoje atende por Fernando Gomes, se transformou num elefante branco.

É triste para a apaixonada torcida itabunense passar o fim de semana sem futebol no
Itabunão. E essa privação, carência, emudece parte da cidade, deixando caladas as
equipes esportivas das emissoras de rádio, TV, jornais e as chamadas mídias sociais.

Quando mudas, sem voz, deixam cabisbaixa a torcida, sem as discussões nos bares, nas
praças, nos locais de trabalho. Tristeza absoluta na sociedade.

Essa escrita não irá, jamais, explicar os motivos que levaram e levam, costumeiramente, o
entra e sai das nossas equipes dos campeonatos, com longos intervalos, como se fossem
propositais para que os itabunenses entrassem num período letárgico, resultando no
desinteresse pelo futebol. Podem os especialistas apontarem as causas que quiserem,
mas, essa apatia afastará nosso torcedor do futebol. Isto está provado.

Nos mostra a história mais antiga que o futebol de Itabuna era mantido por abnegados,
que dedicavam parte do seu tempo e seus recursos financeiros na manutenção da equipe
amadora, como se profissional fosse. Não sei se o que falta é altruísmo, dinheiro nos
cofres, bons projetos, desinteresse de uma parte da sociedade bem aquinhoada com o
velho esporte bretão, que continua encantando de crianças aos anciãos.

Nessa conta também cabe colocar a parcela que cabe ao poder público, a exemplo do
incentivo ao esporte nas dezenas de bairros de Itabuna, formando craques que poderiam
abastecer as equipes locais. Faltam projetos abrangentes em execução na formação da
meninada, iniciando na escola com os esportes coletivos como prática nas aulas
ministradas na disciplina educação física. E essa ausência torna mais difícil e cara a
formação de um time profissional.

Se não temos, ainda, a capacidade de formar os atletas, também nos falta um estádio em
perfeitas condições para sediar jogos da equipe profissional. Entra ano e sai ano, somos  informados que nossa praça esportiva será reformada e voltará a rivalizar com o “Gigante
do Itabunão”, que chamava a atenção dos cronistas esportivos das grandes emissoras do
Brasil pelo gramado suspenso e uma drenagem eficiente. As chuvas não tiravam o
controle da bola do bom jogador para as poças de água.

Mas voltando à “vaca fria”, não podemos esquecer o esforço da direção do Itabuna
Esporte Clube para voltar a brilhar nos campos de futebol da Bahia e do Brasil. Não
conheço o projeto empreendido, bem como os apoios recebidos, especialmente na área
financeira. O certo é que voltamos à Série B do Campeonato Baiano, nos sagramos
campeão e entramos na Série A pela porta da frente.

E o que pensa a torcida, o que ela viu desse trabalho de preparação, dos jogos
vencedores? Nada, ou quase nada, pois o Itabuna Esporte Clube, o “Meu Time de Fé”, o
Dragão do Sul”, simplesmente não se apresentava à sua torcida. Seus jogadores não
ouviam a animação da charanga (saudades de Moncorvo), os gritos de incentivo nos
ataques, as festas nos gols marcados. Futebol sem estádio lotado não é futebol.

É que, por falta de um estádio pronto e aceito pela Federação Bahiana de Futebol, o
Itabuna passou à condição de “caixeiro viajante”, se apresentando em outras praças,
treinando em outras cidades. Parabéns às cidades que abrigaram o Itabuna, embora o
torcedor tenha sofrido mais decepções com sua ausência. Não fossem os esforços das
emissoras de rádio e TV, sequer teríamos notícias instantâneas dos resultados dos jogos.

Faltam-me informações sobre os próximos passos que serão tomados pelo Itabuna. Por
certo a diretoria apresentará, muito em breve um novo planejamento. Esperamos que
consigam bons contratos de apoio, como o Itabuna merece. Por outro lado, o torcedor
quer ver o Itabuna Esporte Clube jogando no “Gigante do Itabunão”, e não em Camacan,
Ilhéus ou outras cidades que gentilmente nos receberam.

E o pior de tudo foi ter que aturar a gozação dos ilheenses, com um torcedor do Barcelona
exibindo um cartaz em que dizia: “Eu já sabia, time da roça descendo com as baronesas”
(do rio Cachoeira). Mas o itabunense não se zanga com isso, afinal, a rivalidade entre
Itabuna e Ilhéus tem mais de 100 anos e os ilheenses não perdoam o itabunense pelas
acachapantes vitórias nos jogos ao longo desse tempo. É a mágica do futebol.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado