:: ‘Walmir Rosário’
Quem é mesmo esse tal de Doutor?
Walmir Rosário
O título de doutor enobrece aos que são distinguidos por essa forma de tratamento, não resta a menor dúvida. Entretanto não há legislação pertinente no Brasil que destine essa honraria aos diplomados (existem dúvidas). Mas no Império, a forma de tratamento de doutor aos advogados, estava na forma da lei, melhor, do Decreto Imperial de 1º de agosto de 1825, de Dom Pedro I.
E para reforçar, dois anos depois, em 11 de agosto de 1827, uma nova Lei Imperial cria os cursos de Ciências Jurídicas e Sociais em São Paulo e Olinda e introduz regulamento, estatuto para o curso jurídico; dispõe sobre o título (grau) de doutor para o advogado. Vale dizer que até hoje a validade dessa legislação é questionada, embora não haja revogação explícita ou tácita, inclusive no novo Estatuto da OAB, criado por lei.
E durante todo esse tempo as discursões sobre o título de doutor ao advogado dá o que falar, muitas vezes por ser confundido com os títulos de Doutorados Acadêmicos regidos pela Lei nº 9.394/96 (lei de Diretrizes e Bases da Educação). Sem dúvida, além de diplomado em Ciências Jurídicas (Direito), o doutor precisa estar com o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Panela velha é quem faz comida boa
Walmir Rosário
Imortalizada na voz do cantor paulista Sérgio Reis, a música Panela Velha, composta pelo Celmar de Moraes, o Moraezinho, deu o que falar e ficou famosa como um mote para vários significados. Desde a simples vasilha para preparar a comida, ou a experiência da pessoa em determinada função, muitas das vezes ditas em forma de gracejo.
Não temos como negar que é uma meia verdade se a dissermos na forma figurada, conotativa, do jeito como o povão gosta e entende. E tomo a frase para lembrar os bons tempos da Ceplac, melhor dizendo, do restaurante que a instituição manteve por muitos anos na sede da Coordenaria Regional, na rodovia Ilhéus-Itabuna.
Não tenho qualquer informação fidedigna da quantidade de refeições (almoços) que servia aos seus servidores no dia a dia. Posso assegurar que esse número passava e dos dois mil, incluindo as marmitas para os operários de campo. Alimentação saudável, balanceada, conforme os estudos do pessoal da nutrição, apropriada para todas as idades e regimes de trabalho a preços subsidiados.
Filas enormes eram formadas diariamente e nos admiravam os tamanhos dos pratos servidos para uma turma já conhecida e que pegava pesado. Ali comiam desde os diretores ao mais simples operário, conforme o padrão burocrático. E garanto: a comida era de boa qualidade, com cardápio que não se repetia na mesma semana. Com o sucateamento da Ceplac, o restaurante pereceu.
O fim do futebol do jeito que o povo gosta
Walmir Rosário
Inacreditável! A desastrada Confederação Brasileira de Futebol, mais conhecida como CBF, tenta acabar de vez com o futebol brasileiro, mas não é deixando de realizar os jogos em todo o Brasil. Não, eles escolheram um jeitinho e pretendem tornar o futebol um jogo amorfo, sem espetáculo, sem jogadas bonitas, um jogo praticado por pernas de pau ou autômatos.
Se hoje os jogos de futebol não merecem mais serem chamados de espetáculos, com raríssimas exceções, as frequentes canetadas oficiais o tornarão uma espécie de filme mudo, mas sem a graças dos grandes artistas. E essas proibições vêm sendo implantadas há anos, sob qualquer pretexto, quem sabe até globalistas. Perdoa, Pai, pois eles não sabem o que fazem.
O buraco é mais em baixo e eles sabem, sim, o que querem, e isto está largamente comprovado. De início, foram proibidos os dribles, os olés, as embaixadinhas, eliminando em campo as habilidades individuais. Agora não podem pisar com os dois pés na bola. Isso não pega bem, pois parece histórias de antigamente, quando quem mandava no jogo era o dono da bola. Ou ele jogava ou levava a bola para casa.
A emblemática história da Cachaça Coqueiro
Walmir Rosário
Costumeiramente sou chamado de cachaceiro pelo hábito de apreciar esse fantástico néctar da cana. Não tergiverso e parto para o ataque contra o ingênuo: Alto lá, exijo tratamento correto e adequado! Sou apenas um apreciador da boa cachaça, e provo que conheço os bons e verdadeiros cachaceiros, aqueles que sabem destilar a cana, transformando-a em cachaça de primeira qualidade.
E, na ponta da língua, me recordo das boas cachaças que bebi. Não foram poucas, assim de contar na hora, sem fazer conta dos anos, meses e dias, além de tirar uma média, sem a precisão científica. O melhor cachaceiro que conheci até a presente dada foi Antônio Mello, de Paraty, o alquimista das cachaças Vamos Nessa, Quero Essa e Coqueiro.

Eduardo Mello, alquimista da Coqueiro
E Antônio Mello fez todas elas bem-feitas, com rigor na escolha das canas, plantadas por ele e adubadas com uma mistura que somente ele conhecia. Cortou a cana, tem que moer no mesmo dia, e não tirava o olho do alambique, controlando o fogo, desprezando a cabeça e o rabo. Como ele dizia, “a cachaça não basta ser boa, tem que ter alma, por isso feita com o coração”.
O catingueiro esnoba e fala francês com biquinho
Walmir Rosário
Não se assustem, mas é a mais pura verdade. Foi difícil acreditar até eu constatar que não estava a ver visões, quem sabe por culpa do forte sol da caatinga. Fiz questão de apurar tudo direitinho para não perder a credibilidade. Eu não esperava, mas podes crer, o caatingueiro, com sua vestimenta de couro, incluindo o chapéu, falando francês e fazendo biquinho, sem pedantismo.
E esse fato se deu em Campo Formoso, em meados deste março, onde fui visitar parentes e aproveitei para participar de um Dia de Campo promovido pelo Senar e a Prefeitura, por meio da Secretaria da Agricultura do Município. O tema era o “Manejo Sanitário na Caprinovinocultura”, apresentado pela zootecnista Angélica Sampaio, do Senar.
Até então, pensava eu que seria uma hora de conversa a respeito de como alimentar e tratar caprinos e ovinos, animais por demais conhecidos dos caatingueiros e que desde os anos 1500 fazem parte do cenário do semiárido. A minha surpresa foi o grau de sofisticação da criação desses animais, tratados a pão de ló, como se dizia antigamente.
Nada de soltar os animais em enormes áreas e deixá-los se virar em busca de comida e água. Nada disso, hoje eles são tratados com todos os mimos, desde a alimentação balanceada, água de qualidade, medicamentos dos melhores laboratórios. Comem a pasto e nos cochos, nestes, com suplementações balanceadas e nutrientes altamente escolhidas para suprir a falta de macros, micros e sais minerais. Um luxo!
E não é pra menos, estamos falando de caprinos das raças Saanen e Parda Alpina, e ovinos da raça Dorper, que terão a missão de produzir bastante leite para a população, especialmente os alunos da rede municipal da educação de Campo Formoso. Tudo pensado, planejado para oferecer aos alunos uma alimentação de qualidade, de baixa lactose em relação ao leite bovino.
A sentença contra o prefeito e whisky diário
Walmir Rosário
Recentemente abordei numa crônica um nosso professor de Direito Civil, Érito Francisco Machado (juiz, desembargador e presidente do TRT-BA 5ª Região), e recebi de colegas pedidos de novas histórias sobre ele. Mesmo sem ser preciso, não deixo de falar sobre seus atributos intelectuais, sua formação humanista e a independência em suas decisões.
Antes de Itabuna, aonde veio assumir a Justiça do Trabalho, foi juiz de Direito na Comarca de Irecê (BA), no final da década de 1950. E o Dr. Érito comentava que a prestação da justiça nos processos ia além dos autos, pois dependia da realidade e situação das partes. “Não posso condenar uma pequena empresa a pagar sentença absurda, fechar as portas e deixar outros 10 pais de família desempregados”, dizia.
E o juiz Érito Machado adotava uma linha de conduta rígida, a começar pelo modo de vestir, sempre social, se permitindo a tirar o paletó e arregaçar as mangas da camisa apenas quando ia à praia. Não frequentava qualquer ambiente, tampouco recebia presentes e outros mimos, obedecendo, rigorosamente, a liturgia do cargo e a educação familiar.
E ele nos contava que antes de ingressar na Justiça do Trabalho era juiz de Direito na comarca de Irecê. Reunia-se diariamente – após o expediente forense – na residência do prefeito, para um bate-papo intelectual seleto, com o padre, o diretor do ginásio, um pastor protestante, além do próprio alcaide e esporádicos convidados.
Menos lero e mais ciência na cacauicultura
Walmir Rosário
Não existe qualquer ser vivente que registre hoje um só político visitando a Ceplac e as fazendas de cacau do Sul da Bahia. Faz muito tempo que a cacauicultura baiana começou a ser desprezada por alguns setores da sociedade. E quem inaugurou essa virada foi o segmento bancário, fechando as torneiras para os financiamentos de custeio e investimento.
E esse caso de desamor data do final da década de 1980, com a infestação dos pés de cacau com a vassoura de bruxa, doença que dizimou os cacaueiros e quase mata sem dó nem piedade a principal matriz econômica do Sul da Bahia. Sem recursos para honrar seus compromissos com os trabalhadores, o manejo das roças e, sequer, comprar alimentos para a sua sobrevivência, o cacauicultor foi banido do mundo produtivo, comercial.
Nesta data era comum o desembarque de um monte de políticos no Sul da Bahia, para cumprir um extenso roteiro, a começar pelas instalações da Ceplac, fazendas (principalmente as mais infestadas) e redações de jornais, rádios e TVs. Com o cenho franzido, analisavam a situação de penúria do setor cacaueiro e prometiam reverter a terrível situação junto ao governo federal.
Os políticos de situação semeavam esperança ao garantir as ações salvadoras e os oposicionistas culpavam o governo pela imobilidade que resultou no maior crime de lesa pátria contra a região cacaueira. Como sempre, se autointitulavam representantes da lavoura e cobravam uma votação expressiva para eles (claro), pois assim teriam força para eliminar a crise.
Firmino Rocha, o orgulho da poesia itabunense
Walmir Rosário
Embora nunca tenhamos marcado qualquer encontro, religiosamente nos víamos, e sempre ao cair da tarde. Posso afirmar que nossos hábitos eram bem distintos em variados aspectos. Assim que terminava o expediente, eu o famoso operador de som da antiga Rádio Clube de Itabuna, Eliezer Ribeiro (Corpinho de Leão), nos dirigíamos ao Ita Bar para tomarmos um (uns) aperitivo(s).
Aos poucos, vislumbrávamos a figura do nosso personagem cruzar a rua que separava a praça Olinto Leone, onde morava, e embocar no beco em direção ao Ita Bar. Passava rente ao saudoso castelinho, com sua pasta de couro, daquelas que os vendedores viajantes utilizavam àquela época. No interior da pasta, nada de talões de pedidos ou prospectos de publicidades. Só poesias.
Pelo caminho o ritual diário era o mesmo: cumprimentava a todos com sorrisos, algumas frases de elogios, especialmente flores para as mulheres. Essa distinção era rotineira. As pessoas que ainda não o conheciam geralmente olhavam aquela figura com desconfiança, até serem informados e certificados que se tratava de Firmino Rocha, poeta, pessoa de bem, e para alguns com a cabeça nas nuvens.
A indumentária era a mesma: um terno surrado, voltado para a cor cinza, às vezes com gravata, bem frouxa no pescoço e a cabeça protegida por um chapéu de baeta. Sempre com um sorriso nos lábios. Se houvesse oportunidade, abriria a maleta e pegaria os papéis soltos ou o caderno e os mostraria, declamando uma das dezenas de poesias.
Ao chegar ao Ita, sentava-se num banco junto ao balcão ou à mesa diante dos convites. Luzia, a garçonete com anos de experiência e conhecimento dos fregueses, lhe servia uma cachacinha pura ou o famoso “leite de onça”, aperitivo da casa. Engrenava a conversa, apresentava seus novos trabalhos, desfiava versos de seus novos poemas.
É um erro o comunicador ser metido a besta

Orlando Cardoso
Walmir Rosário
Sem sombras de dúvida, o radialista Orlando Cardoso é um ícone da comunicação radiofônica de Itabuna. Não apenas pelos 64 anos ininterruptos à frente do microfone, mas pelo conceito adquirido junto aos ouvintes da região cacaueira. É preciso competência, carisma e credibilidade junto ao público – cativo – por longos anos.
E uma das marcas de Orlando Cardoso é ter responsabilidade em tudo que leva ao ouvinte, com o apoio de boa música e os comentários dos fatos no dia a dia de seus programas. E não é pra menos, pois a credibilidade do comunicador garante uma audiência cativa, com reflexos positivos na área comercial, com anúncios nos programas.
E a simplicidade de Orlando Cardoso não permite que ele fale sobre a publicidade no seu programa diário (matinal) Panorama 640 (meia quatro zero), sem espaços vazios na grade de comerciais. E cheios de orgulho, alguns colegas e amigos dizem que é o único programa a recusar novas publicidades, por um fator inédito: não existe espaço disponível.
Com toda a tranquilidade Orlando revela que o rádio lhe deu muita experiência de vida, a chance de conhecer parte do país, o que jamais teria em outras profissões. E não economiza elogios ao dizer que o rádio sempre foi tudo pra ele, depois de Deus e a família. E em seguida emenda que nunca foi metido a besta, o que lhe ajudou também na política.
Orlando Cardoso trabalhou nas três emissoras AMs de Itabuna – Difusora, Clube e Jornal – sempre disputando o primeiro lugar em audiência, com a mesma tranquilidade, focando sempre na sua comunicação. Numa conversa nossa há algum tempo ele disse que tem muita gente boa de audiência no rádio, mas que não conseguiu se eleger na política por não ser popular, simpático, e que a política não perdoa.
Mas os ouvintes não têm a menor ideia da trabalheira que é ser líder de audiência. E pra começo de conversa, exige um projeto que caia no gosto do ouvinte, acompanhado de músicas e boas informações. No esporte não é diferente e ele mesmo já passou muitos dissabores em estádios onde transmitia jogos da Seleção de Itabuna, a Hexacampeã Baiana de Amadores.
1952- a maior vitória do futebol tricolor
Walmir Rosário
Um livro para ficar na história dos torcedores do Fluminense carioca, ou das Laranjeiras, como queiram, estará à disposição dos tricolores de todo o Brasil, contando a história da 2ª Copa Rio, conquistada pelo Fluminense, em 1952, data do seu cinquentenário. E a obra do escritor Tasso Castro – 1952, A maior conquista do futebol tricolor – será lançada nesta segunda-feira (10 de fevereiro), às 18h30min, no Shopping Jequitibá, em Itabuna.
De pronto, vale avisar aos tricolores mais moços, que a Copa Rio foi o primeiro Campeonato Mundial de Clubes, realizado pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), a CBF da época, com licença da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Os jogos eram realizados no Rio de Janeiro e São Paulo, por equipes da Europa e da América Latina, duas delas brasileiras.
E o texto cirúrgico e preciso é o resultado de pesquisa realizada por Tasso Castro, que conta em detalhes o futebol da época, ressaltando o grande feito do Fluminense, desde a participação do Campeonato Carioca de 1951, considerado um timinho pela mídia. Além de faturar o Carioca de 51, os dirigentes ainda convenceram a CBD e a Fifa a realizarem a Copa Rio um ano antes, já que seria realizada de dois em dois anos, portanto, em 1953.
No livro, o Autor também mostra que o Fluminense foi o primeiro time brasileiro a vingar a nossa derrota de 1950 para a Seleção do Uruguai, que ficou conhecida como o “Maracanazo”. Isto porque o Fluminense jogou contra o Peñarol e aplicou um “chocolate” de 3X0, e nem tomou conhecimento dos carrascos Ghiggia, Schiaffino, dentre outros. Obdúlio Varela não jogou por estar contundido.