Antônio Carlos Magnavita Maia

 

 

Vivemos um momento auspicioso no cenário da cacauicultora. A Rede Globo com a novela renascer, vem demonstrando para todo o país a importância dessa planta, matéria prima que origina o apetitoso chocolate e mostra como as fazendas da região praticam um diferenciado modelo de agricultura em simbiose com proteção da biodiversidade ambiental, ecológica e sustentável. Essa forma de cultivo, como se sabe, foi legada por nossos antepassados pioneiros, e continua sendo preservada por todos nós. Vale ressaltar que, ainda hoje com aquecimento global, continuamos prestando um grande serviço ao clima do planeta, ao efetuarmos diuturnamente a descarbonização atmosférica promovida por esta lavoura e suas matas e grotas.

Após um hiato de 40 anos, temos sim um momento favorável no cenário econômico, com aumento do consumo mundial, enquanto a oferta não tem acompanhado o crescimento da demanda.

 

Considerando-se esse cenário, vale salientar que, mais do que nunca é fundamental fortalecermos nossa entidade de classe, que é a Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC). Somente com a nossa coesão e organização, teremos legitimidade e soberania necessária para podermos interagir, a fim de enfrentar o perverso monopólio do cartel oligopsônico, poderosíssimo instrumento que controla todo mercado internacional nos dias atuais.

 

 

Esse verdadeiro cartel age como uma gulosa máquina de acumulação de riqueza e poder, auferindo lucros exponenciais, deixando para os protagonistas que trabalham e produzem, menos de 7%de todo resultado dos recursos gerados pelo negócio.

 

A pauta principal da nossa agenda deve ser o fim da importação(drawback)que vem sendo praticada pelas 3 irmãs moageiras. Estas, aproveitando-se da manipulação de dados de produção e estoques, (números estes completamente distintos do que apresenta nosso órgão federal, o IBGE), usufruem ao bel-prazer das facilidades de isenções fiscais do país, em detrimento do produtor brasileiro que, além de ficar vulnerável, correndo riscos de infecções por pragas exógenas: “cacau besourado”, também sofre com as consequências da diminuição dos preços internos.

 

Esta concorrência desleal, alimentado por um cacau estranho, perigoso e de péssima qualidade, é, ainda por cima, oriundo de mão- de- obra escrava infantil dos cacauais da África Subsaariana.

 

O Brasil age, ao praticar o famigerado drawback, de forma conivente com a violação dos direitos humanos. O governo Brasileiro deveria ser notificado sobre isso.

Este cacau de origem, ressalte-se criminosa, é aproveitado aqui apenas para fazer mistura (blend) com nosso cacau Brasileiro. Atento a este quadro entendo que, mais do que nunca, a ANPC deve ser fortalecida, como voz de contraponto e diálogo para acessar as instâncias de poder. É ela quem deve conduzir nossas demandas no sentido de mitigar o abismo financeiro existente, entre a indústria moageira/chocolateira e os produtores/trabalhadores.

 

É preciso criar caminhos alternativos para que, contemple-se com justiça e equidade todos os elos dessa cadeia cacaueira, especialmente para aqueles da base: o produtor e o parceiro trabalhador rural, molas propulsoras de toda riqueza.

 

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Antônio Carlos Magnavita Maia  é médico e cacauicultor.