A saúde mental e emocional é um tema cada vez mais essencial para a busca pela qualidade de vida e pelo bem-estar coletivo e individual de crianças, adolescentes e jovens, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O aumento de casos de bullying, ansiedade e depressão, principalmente na população jovem, deve ser uma preocupação de toda a sociedade, incluindo governo e organizações da sociedade civil. É a partir desta perspectiva que diretores, vice-diretores e coordenadores pedagógicos da rede estadual de ensino participaram do seminário “Saúde mental e emocional na escola”, nesta terça-feira (11), presencialmente, no Instituto Anísio Teixeira (IAT), em Salvador, e em formato on-line.

Promovido pela Secretaria da Educação do Estado (SEC) em parceria com a Fundação Mapfre, a ação formativa visa o compartilhamento de conceitos básicos sobre saúde e transtornos mentais no ambiente escolar, bem como busca levantar as percepções de como o tema se relaciona com a escola e os educadores. Abordar a questão da promoção da saúde pela ótica da Educação – a partir da construção de hábitos e valores que permitam que as crianças e jovens tenham, desde cedo, consciência das suas escolhas e oportunidades de terem uma vida plena e saudável – é uma iniciativa, vale ressaltar, já validada pelas agências internacionais da área.

O seminário foi aberto pela secretária estadual da Educação, Adélia Pinheiro, que falou sobre o Programa Viver com Saúde – Saúde Mental e Emocional na Escola”. A proposta da SEC consiste em um novo modelo de ação pedagógica, incentivando a reflexão conjunta de especialistas e profissionais de Educação sobre a adoção de condutas saudáveis e promotoras da melhoria do clima da comunidade escola.

“O tema da saúde mental e emocional é muito importante para nós, da rede estadual, e este projeto de capacitação dos nossos educadores é uma das ações que estamos desenvolvendo para que eles possam se posicionar frente aos desafios que nossas comunidades escolares vêm enfrentando. Juntos nesta parceria com o IAT, a Fundação Mapfre, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e a NeuroConecte, a SEC promove este diálogo que visa qualificar a escola, para que ela se consolide como um ambiente seguro e de bem-estar. Sob a liderança do nosso governador Jerônimo Rodrigues, estamos empenhados em ações estruturadas para o fortalecimento da escola e a garantia da Educação como um bem público e um direito de todos para o processo formativo, com um olhar atencioso e inclusivo”.

*Meditação e relaxamento –* Também participaram o doutor em Ciências Anderson da Silva Rosa, da Unifesp, e a mestre em Ciências Alcione Marques, da NeuroConect que dialogaram com os participantes o tema saúde mental nas escolas, inclusive através de práticas de meditação e relaxamento. Entre as atividades realizadas pelos especialistas, destaque para a prática de mindfulness, traduzida como “atenção plena”, ou seja, uma prática para se concentrar completamente no presente, como recurso para manejo do estresse. Eles também abordaram temas como “Qual a relação da escola com a saúde mental? ” e “O que é saúde mental e transtorno mental”.

“Tratar da saúde mental é uma demanda urgente no ambiente escolar e estamos confiantes nesta parceria com a SEC na condução desse processo. Levar essa discussão para as escolas está sendo desafiador para lidarmos com essa complexa situação. Acreditamos que podemos oferecer ferramentas para que os educadores desenvolvam ações positivas de uma forma mais consciente, tendo como foco o processo de aprendizagem”, relata Anderson Rosa, ressaltando que a escola é o “principal equipamento social em uma comunidade e, por isso, o seu potencial para promover saúde mental.

A professora Alcione reforça que o projeto busca validar ações que já estão sendo desenvolvidas nas escolas, contribuindo para que o estudante se reconstrua com uma referência positiva. “Conversar sobre saúde mental e emocional na escola deixou de ser um tabu do passado e, hoje, há uma abertura para falarmos sobre o tema para que os dirigentes escolares se capacitem para lidar melhor com essas questões. Inclusive, há estudos mostrando que, ao encontrar um ambiente escolar acolhedor, ele pode estar diante de um farol na vida dele”.

O seminário prossegue com outras atividades até novembro deste ano, de forma virtual, em link disponibilizado para público-alvo no canal do IAT no YouTube (youtube.com/InstitutoAnisioTeixeiraIAT), é presencial.

*Colégio estadual quilombola cria clube de leitura dedicado a escritores negros*

No Colégio Estadual Doutor Milton Santos, instituição de ensino quilombola localizada no município de Jequié, distante 365 quilômetros de Salvador, a literatura tem sido utilizada como forma de combate ao racismo. Há um ano, foi criado o espaço “Leitura Preta no Quilombo”, um clube do livro, cujo diferencial é um acervo exclusivamente formado por escritores negros brasileiros e estrangeiros. A proposta é aprofundar a discussão sobre o tema e, ao mesmo tempo, fortalecer a identidade negra e quilombola.

O clube é uma iniciativa da escritora e professora de Língua Portuguesa Jéssika Oliveira, que leciona no colégio estadual e é também residente do curso de Letras da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). “O projeto nasceu como forma de confrontar o racismo e a evasão escolar. Com a leitura, é possível observar e entender vários contextos, inclusive identificar situações de racismo e injúria racial. No primeiro momento, por exemplo, os estudantes nem sabiam que existiam escritores negros, a exemplo de Machado de Assis. Hoje, eles se sentem representados, compartilham com seus pais, familiares e amigos a experiência, se identificando e valorizando sua história e a contribuição importante dos povos africanos e afro-brasileiros na construção do país”, explica.

A professora ressalta, ainda, que o projeto só está sendo possível graças ao apoio da direção do colégio, que abraçou a ideia e vem viabilizando sua realização, três vezes por semana, no ambiente escolar, nos turnos vespertino e noturno, para os alunos do Fundamental 2 e Ensino Médio. “Percebemos que a iniciativa já se reflete de forma positiva, como uma porta que se abriu para o aluno tomar consciência sobre sua ancestralidade e a importância do resgate da sua identidade e, assim, estar incluído dentro da sociedade”, afirma o vice-diretor da instituição, Jefferson Rosa.

*Primeiro aniversário* – Nesta semana, em comemoração ao primeiro aniversário da iniciativa, estão programadas rodas de conversas e um bate-papo, que será no formato remoto, com a coordenadora executiva do Juventudes do Agora e conselheira nacional da Juventude pelo Ministério da Educação (MEC), Wesla Monteiro. “Ao trabalhar a temática do combate ao racismo e todo tipo de preconceito no ambiente escolar, por meio da leitura de autores negros, criamos uma conexão com nossas origens e passamos a entender e valorizar quem somos”, ressalta Jessika Oliveira.

Para Sofia Neves Silva, 14 anos, da 9ª série e vice-presidente do Clube de Leitura, de todos os livros, o que mais a marcou foi o “Becos da Memória”, de Conceição Evaristo. A obra relata a realidade dos negros do Brasil, moradores da favela, suas dores, lutas e sonhos, pelos olhos de quem realmente a vivenciou. “Eu me identifiquei muito com o livro e me emocionei demais com os problemas relatados em suas páginas, porque não estão distantes de nós”, declara.

Já para a presidente do clube, a aluna Ana Luísa Santana, também da 9ª série, “O Que é Racismo Estrutural”, de Sílvio Almeida, que traz uma discussão sobre raça, racismo e a estrutura das relações sociais, ao longo de cinco capítulos, foi, dentre as diversas obras vista no clube, a que mais a impactou. Para ela, são discutidas no livro pautas variadas, muitas das quais que nem eram do seu conhecimento, nem de seus colegas. “Acredito que, a partir da leitura desses livros espetaculares, poderemos evoluir bastante”, revela.

“O clube mudou a minha vida”. O relato forte e emocionado do estudante Maicon Salomão Almeida, da 9ª série, traduz o sentimento de todos os integrantes do clube. A partir da leitura de “Quando me Descobri Negra”, de Bianca Santana, o jovem, que é um dos fundadores do clube e seu grande entusiasta, declara que deu para entender melhor sobre sua identidade e ressignificar as suas experiências enquanto pessoa preta. A obra apresenta uma série de relatos de mulheres e homens negros, ao romper imposições sobre a negritude e desconstruções de muros que impedem um olhar positivo sobre si mesmo.

Em novembro do ano passado, mês dedicado à Consciência Negra, foi realizado o 1º Concurso Literário do Quilombo, em que, além dos 25 alunos que frequentam três vezes por semana o clube de leitura, toda a comunidade escolar participou, totalizando 1.500 trabalhos inscritos. “Estamos, agora, trabalhando em uma proposta de criação de uma plataforma digital para catalogar autores negros de toda a região Sudoeste da Bahia. Uma forma de conhecer, apoiar e, também, dar mais visibilidade à produção literária desses escritores”, adianta a professora.