Profissionais Covid

Ailton Silva

Hoje completa um ano da luta diária dos profissionais da saúde da Santa Casa de Itabuna para salvar vidas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e nos leitos clínicos exclusivos para pacientes positivados para o novo coronavírus. O primeiro paciente no sul da Bahia com quadro grave de saúde chegou ao Hospital Calixto Midlej Filho (HCMF) exatamente no dia 25 de março e permaneceu na unidade por longos 45 dias, sendo 40 deles em um leito de UTI.

Desde aquele 25 de março de 2020 que o número de internações de pacientes infectados pelo novo coronavírus só cresceu não somente no HCMF, mas também no Hospital Manoel Novaes, referência no interior da Bahia para atendimento a crianças e adolescentes. Desde o início da pandemia até hoje já são 5.298 pessoas – de quase todas as regiões do estado – atendidas nos dois hospitais, sendo que 1.614 precisaram ficar internadas.

Entre os profissionais de saúde que acompanham de perto essa batalha diária pela vida está a coordenadora de enfermagem da UTI Covid-19 do HCMF, Larissa Cavalcante. A enfermeira afirma que as equipes ainda não se acostumaram com o quadro de gravidade dos pacientes e sofrem muito. “Estávamos acostumados a receber pacientes na UTI com perspectiva de melhoras. Mas eles estão chegando tão graves que, por mais esforço e recursos utilizados, o desfecho nem sempre é o esperado. Isso nos machuca muito”, conta.

Larissa relata que outro dia foi dada alta a um paciente que chegou com muito medo porque já tinha perdido um filho para a Covid-19. “Ele, como pai e avô, sentia na responsabilidade de sobreviver para cuidar da família, principalmente dos netos que perderam o pai. Ele falou que, embora estejamos o tempo todo usando máscaras, conseguiu receber, através dos nossos olhos e sorrisos, o oxigênio que precisava para sobreviver. Isso nos impactou muito, nos deixou muito felizes”.

UMA NOVA REALIDADE

Quem também acompanha o dia a dia nos leitos Covid-19 no Calixto Midlej é a técnica de enfermagem Jacigley Euclides (Jacy), que no início levou um susto por ter de conviver com um número alto de pacientes intubados, em estado grave. “Era uma realidade nova. Um cenário um pouco assustador. Mas hoje saio de casa muito disposta porque venho ajudar o próximo. Ainda tenho medo de me infectar e transmitir a doença para a minha família, mas estou um pouco mais tranquila”, relata.

O técnico de enfermagem Elvis Andrade dos Santos, que atua na UTI Covid do Hospital Manoel Novaes, destaca que os desafios aumentaram neste ano por causa do número maior de crianças e adolescentes que estão precisando ser internados por causa da doença, o que quase não ocorria no ano passado. “Como trabalhamos com crianças, a nossa responsabilidade é ainda maior. O momento mais feliz é quando o paciente recebe alta e volta para casa com a família”, conta.

O hospital pediátrico confirmou o primeiro caso de Covid-19 em 26 de fevereiro de 2020. O paciente, era morador de Itabuna, que havia chegado de uma viagem internacional com os pais, sendo o segundo caso em criança notificado no Brasil. “Muita coisa mudou nesse um ano de pandemia e estamos ainda mais preocupados e atentos porque essas crianças têm chegado em estado grave. O que não mudaram nesse período foram a nossa dedicação e esperança de sempre devolvermos os pacientes recuperados para as famílias”, afirma a diretora técnica do HMN, a médica Fabiane Chávez.

SURPREENDIDOS PELO VÍRUS

O novo coronavírus ainda surpreende negativamente os profissionais de saúde, confirma o coordenador da UTI Covid-19 do Hospital Calixto, o médico intensivista Eric Júnior. “Seguimos com pouco embasamento científico para o tratamento dos pacientes positivados, mas perfil dos doentes mudou. Eles estão chegando com o quadro de saúde muito grave. A realidade é que somos surpreendidos a cada dia por esse vírus. Ainda hoje o tratamento continua sendo o suporte da terapia intensiva”.

Eric Jínior acrescenta que o tratamento da Covid-19 na unidade hospitalar requer um esforço muito grande das equipes e que, depois de um ano de muito trabalho, os profissionais estão cansados, esgotados. “E uma das coisas que temos conversado é que, infelizmente, não existe um prazo para isso acabar. Ainda estamos buscando alternativas para aliviar toda essa pressão”.